E estive em seus braços...

O caminho que desejei seguir aquela noite mudaria minha vida, te encontrei, forte, seguro, sem argumentos, louco, não entendi a principio, achei sem cabimento, não acreditei, pareceu inverdade, não acreditei logo no início... Mas estive em seus braços.
Meus pedidos não funcionavam, minha súplica não adiantou, nada mais funcionou, só suas ordens. Nunca imaginei que isso poderia acontecer, apenas via em filmes ou na televisão, algo que parecia tão distante, tão irreal, não podia acreditar, e me vi, em uma cena de um filme, um filme de drama, dos que temos mais pena das mocinhas, pois suas dificuldades no filme são intensas e elas nunca podem nada ao não ser esperar.
- Lembro que escutei: ?? Cala boca, fica quieta.??
- Por favor não faça isso. ?? Cala a boca, quer morrer ???
Nesse momento vi que era real... O medo... O pânico... O desejo de morte... A agonia. De ver em seus olhos a forma animalesca e sedenta, de ir até o fim do que tinha em mente. O oxigênio que falta a respiração que se vai, uma absurda vontade de não mais existir, que tudo logo acabasse.
Estive em teus braços, ??Cala a boca fique quieta se não morre??,
Palavras que me queimavam a alma, a impotência... Sua força me prendia, sinto sua respiração ofegante me queimando o peito. Estive em seus braços, no momento de fragilidade se aproveitou, me deixando sem alternativa a não ser viver seu delírio insano... Sou mulher e estive em seus braços.
O medo me consumiu em cada segundo, o desespero me tomou ao ver o que estava acontecendo, o que estava sentindo, o desrespeito à violação, a luta.
A cada momento que dizia que era aquilo que eu queria. Na verdade não sabia mais o que queria, se era não ter nascido, ou morrer naquele instante, minhas roupas rasgadas, meu corpo usado. Estive em seus braços, estive em angustia. Estive em seus braços, gritos, calados, internos, meu desespero, minha vida mudando, gritos calados.
Nas vezes que falou eu ??te mato??, meu choro e meu pranto, já tinha me tirado a vida. Termina e me deixa ir. O que é você? Onde é o mundo? Onde estou? Lembro-me de quando era criança que minha mãe me dizia para não andar em becos escuros e não falar com estranhos. Minha mãe, mãe... Alguém... Socorro, eu grito e não sai mais nada.
Meu desespero esta sendo calado, termina e me deixa ir, estou morta. Meu choro, meu corpo, silêncio e lágrimas, lágrimas agora para sempre depois daqui. Não consigo identificar o que esta acontecendo nem mais onde ir, me perdi, meu corpo nu, minhas roupas, rasgadas como minha vida e meu respeito, sempre ouvi que ate com desgraças se aprende, não tenho que aprender mais nada, depois de hoje sou mestre em ter passado por trauma, meu corpo esta feio, sujo e não tenho voz, secaram as minhas lágrimas, só silêncio, ele já foi, não vi mais nada, por um momento fiquei feliz, só silêncio, a velocidade diminuiu o tempo parou, parou sim, ele parou e saiu, meu corpo, solto, de minhas lembranças. Que lembranças devo ter? Se de toda minha vida? Ou de minha vida agora? Não estava mais lá, por um momento fiquei feliz por já ter passado, feliz... Agora o que será ser feliz? Que felicidade eu poderia ter a partir dali? Meu nome esquecido, minha estrutura, minha família, o que aprendi nada valeu para aquele momento, naquele beco, tenho raiva de mim por estar aqui, tenho raiva de cada olhar agora, tenho medo. Tenho medo de viver.
E assim estive em seus braços... Meio morta, meio sem razão. Estive em seus braços sem poder decidir, sem querer, estive a minutos eternos da morte, fui roubada de minha verdade. Estive... E espero que tenha sido a última que estará. Agora sai da minha cabeça, faz tempo já, quero te esquecer e continuar. Estou lutando, vai passar, Agora, que estive em seus braços, sai da minha cabeça, vou seguir e tentar sobreviver.

Texto: Davidson Menezes