É DIFICIL RESISTIR AO CAMPARI E AO DINHEIRO.

A família Guerra é bem numerosa. Existem pessoas espalhadas por todo Brasil e alguns no exterior. Um dos meus tios estava residindo e trabalhando por uns tempos na capital das Minas Gerais. O moço trabalhou em algumas empresas, até mesmo na Rede Globo, não sei fazendo o quê. Vez ou outra ele aparecia em Mantenópolis, de onde partiram muitos dos Guerra, adentrando na cidade pela Rua São Geraldo com um grande toca fitas no ombro. É do tipo que compra um som novo e coloca no ultimo volume para mostrar a potencia do alto-falante. Na bagagem trazia as fitas K-7 do Zé Ramalho, Raul Seixas, Zé Geraldo, Paulinho Pedra Azul, Renato e seus blue caps, dentre tantos. Uma coisa que me marcou profundamente foi quando ele trouxe um mini radio AM, marca Dunga, de presente para um dos meus primos. Estava claro ali a sua predileção por um dos sobrinhos e não era eu. Um dia este meu tio chegou muito atribulado de Belo Horizonte. Ele me relatou que a semana anterior não tinha sido uma das melhores, pois por pouco não perdeu o emprego em um escritório de uma grande firma. Titio é muito popular e naquela época era um guapo. A sua especialidade era a conquista e suas armas era a voz de locutor de FM e seus olhos cor de mel. De repente o irmão do meu pai começou a receber umas ligações telefônicas. As ligações das mulheres eram constantes, entretanto, os contatos repentinos partiam de um homem que se declarava homossexual. O cara enaltecia os atributos daquele Guerra solto em BH e lhe propôs algo mais de que um mero telefonema, quiçá um campari nos arredores da Pampulha. O sexto herdeiro da dinastia Guerra recusou as ofertas aveludadas do seu interlocutor das horas incertas. O rapaz interessado naquele cobiçado homem resolveu pegar pesado. O dinheiro não traz felicidade, mas acalma os nervos. O salário do meu tio não era a altura de sua competência. Eis o ponto fraco: o dinheiro. A pessoa homossexual sabia quem era o titio, até então heterossexual. A reciproca não era verdadeira. E como eu faço para te encontrar? Pronto. O mantenopolitano ausente se entregou com esta resposta. O dinheiro era bem vindo. Você vai me encontrar no ponto de ônibus da Espirito Santo com a Amazonas. Estarei de camisa vermelha e calça azul. Já sei quem você é e te procuro se o avistar primeiro, orientou a contraparte do Guerra. O rapaz interiorano foi para o ponto do ônibus e esperou...esperou...esperou...até o anoitecer. Voltou para casa frustrado, o recurso extra não iria entrar. No outro dia o telefone tocou e a voz era do sujeito que havia dado o bolo em titio. Renasce a esperança. Por certo ele vai justificar o desencontro e remarcar para outro dia e local. Nada. A voz ganhou um tom costumeiro e foi logo reconhecida pelo subordinado. O chefe do hoje galã da menopausa lhe jogou na cara: Meu amigo! Então sair você sai, resta combinar o preço. Os outros funcionários vieram fazer chacota do desiludido conquistador de plantão. A fúria tomou conta do homem de coração partido e ele sacou um cinzeiro de barro, pesando aproximadamente meio quilo e arremessou em direção a cabeça do seu superior. A noticia ruim é que ele errou o alvo. A noticia boa é que este ato de violência não lhe custou o emprego. Naquele dia o Guerra voltou em paz para casa e para dormir tomou um gole de campari.