É chegada a hora

Quanto mais seguro a vida em mim, mais ela se rebela sob a forma de uma dor intensa... E para mim, a dor é a presença da vida querendo partir e minha carcaça impedindo que ela se vá ao encontro da morte.
É chegada a hora de partir...
Deixem-me morrer em paz, sem fármacos adentrando meu corpo quase morto.
Deixem-me descansar em paz, com o direito de sentir o rito de passagem e dele participar ativamente.
Essa dor que sinto é a saída da vida, a expulsão através de portas fechadas, que teimam em não se abrir.
Para que mais? Esses fármacos todos são para que eu não sofra, ou são "coisas" novas, pouco testadas e eu serei a cobaia?
Difícil a resposta, não? Afinal, somos todos egoístas de fato e de direito.
Por favor, por mim já está decidido. Quero partir, basta de sofrimentos, deixem-me ir... Como se necessário fosse ter que pedir.
Quando chegar a hora, irei como cheguei. Só. Completamente só... Estando ou não assistida.

Heloisa