E agora?

      “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José?”     Drummond.

      Drummond retrata essa situação quando escreve sobre a vida do personagem José e nesse verso o José fica, inclusive, sem nome. Perdeu a identidade. Deixa de ser pessoa.  Deixa de ser cidadão.  

      Tudo acaba. Some. Que situação! – e agora?

      Esta é a pergunta que ocorre quando se fica com um sentimento de estranhamento como se estivesse totalmente perdido. É como se estivesse diante da própria vida à procura de uma resposta que no momento não surgira, pois, a dúvida e o medo reduzem a capacidade de tomar decisões. De um modo geral, isso irá acontecer frente à situação de perda ou ao final de algum evento, seja esse o mais simples. É muito comum ao término de cursos do ensino fundamental, médio, profissionalizante, universitário e pós-graduação, surgir o “e agora?” e, não somente nestas situações, mas, quando também, no término de um relacionamento seja esse de muita ou pouca duração, de partida ou de chegada, de entrada em um trabalho e, esse trabalho inclui o “trabalho de parto”, também no momento de dispensa ou aposentadoria e, essa nos dias atuais está se tornando cada vez mais difícil, pois, não se está tendo estabilidade no trabalho, mas, nada igual quando se passa por uma enfermidade. Receber um diagnóstico que está sendo portador de uma doença maligna parece ser o fim, tudo perde o sentido, perde o sabor, perde a cor e por vezes perde-se a esperança – e agora?

       Vem o medo. Pensa-se na morte. A morte esmigalha o ser, destrói o cérebro, reduz a pó os segredos contidos na memória do córtex cerebral. A morte acaba com o espetáculo da vida.  E morrer, para nós humanos, é coisa que deveria ser tirado do vocabulário, pois, a idéia que temos é a de que nascemos para sermos eternos. Todos os dias vêem os sofrimentos e as marcas da velhice estampadas nas pessoas. Fica-se velho ou velha, são as estações da vida e suas mudanças constantes. São os encaminhamentos naturais do tempo que para muitos e muitas é o fim.

       E agora?

       Começa-se a busca frenética à procura da fonte da juventude. Muitos irão acreditar que esta está nas academias, pois lá, através de exercícios mirabolantes, irão enrijecer os músculos e consequentemente levantar tudo que por vezes já caiu contando, também, com a ajuda dos cremes que a mídia, em especial, a televisiva tenta convencer telespectadores de que é o melhor e, até mesmo os modeladores onde milagrosamente irão perder medidas. Outros irão para as mesas de cirurgia com o pensamento de que o cirurgião plástico fará o milagre, que aparentemente acontece. Aparentemente porque é somente exterior. Muitas dessas pessoas vivem em seus próprios cárceres emocionais. Não se amam. Ser sujeito extrapola os limites da corporeidade, que age, movimenta e cria fatos.

        Um sujeito é um mosaico de desejos, temores, paixões, sentimentos, angústias, sentidos e mistérios. Outrora essa procura era mais acentuada pelas mulheres, na atualidade, eles, os homens, tem tido essa preocupação. Já há tempos esses, após certa idade, já procuram a virilidade, pois, para muitos deixar de ser viril é deixar de ser homem. E agora? Não importa os efeitos colaterais “Eu quero é o Viagra” e pode até ser na versão genérica e, para aqueles que detêm um “poder” aquisitivo buscam a prótese. Vinte e quatro horas viril. E agora? Será que esta pseudo busca do corpo perfeito e da virilidade irá também ajustar o interior? São muitas as pessoas aparentemente saudáveis que sofrem secretamente dentro de si mesmas. Ao nascermos, a natureza nos expulsa do aconchegante útero materno para a vida; choramos e todos se alegram. Ao morrermos, retornamos a um útero, o útero frio de um caixão; não choramos, mas os outros choram por nós. A vida humana é uma gota existencial na perspectiva da eternidade. Num instante somos bebês e noutro instante somos velhos. Não há quem escape do primeiro e do último capítulo da existência.

        Começa-se viver uma crise existencial. Vem a depressão. A dor da depressão pode ser considerada como o último estágio da dor humana e, esta tem estado em alta em todas as sociedades modernas e em todas as camadas sociais. As pessoas idosas e as adultas são mais expostas a ela, mas, infelizmente tem atingido também cada vez mais as crianças, em especial aquelas que sofrem por causa de doenças, maus tratos, experiências de abandono ou vivem em lares onde impera a crise do dialogo e a agressividade. Está se tornando muito difícil observar crianças crescendo em sabedoria nas sociedades modernas, ou seja, aprendendo a pensar antes de reagir, a lidar com as perdas com maturidade, a serem solidarias, tolerantes e a enfrentarem com dignidade suas dificuldades. Crescem aprendendo línguas, usando computadores, praticando esportes, mas não destilando sabedoria. Os adolescentes também estão cada vez mais vulneráveis à depressão. A crise do diálogo, a busca do prazer imediato, a incapacidade de trabalhar estímulos estressantes e o jugo da paranóia da estética tem gerado a necessidade compulsiva de exibir um corpo que siga o modelo estereotipado difundido pela mídia, o que ocasiona nos adolescentes a depressão e outros transtornos psíquicos como a bulimia e a anorexia nervosa.

       Muito difícil não ficar frente a um estado de desapontamento, surpresa, vergonha, insatisfação, frustração, arrependimento e, em fim, em uma crise existencial sem se perguntar – E agora?

       Por vezes procura-se a ou as respostas e que por vezes estão bem próximas, mas, o desespero, o medo traz uma sensação de incapacidade, de cegueira. Fica-se totalmente sem ação, daí a dificuldade de enxergar uma solução e, por vezes, pensa-se ou foca-se exaustivamente no problema ou suposto problema e por conseqüência perde-se muito tempo. Aluga-se parte da mente e aquele problema se transforma em mágoa que muitas vezes irá corroer de formas imperceptíveis outras áreas.

       Só DEUS. Uma resposta que de certa forma se tornou comum. É interessante pensar que se pode perceber o grande número de pessoas lotando templos, sendo muitas vezes exploradas, pois estão em busca de soluções, que depois de esgotados todas as possibilidades – só DEUS.

       E, então quantos e quantas não vivem ou viveram esta mesma situação do José.

       Esta situação não é incomum. Famílias estão sofrendo e, muitas vezes de forma velada, com o filho ou filha que esta vivendo no mundo das drogas, se prostituindo por alguns míseros trocados para satisfazer um vício. Parece que a sociedade esta vivendo uma inversão de valores. O conceito de moral esta se esvaindo. O mediatismo toma conta. Por vezes e por falta da arte de ouvir e de dialogar. A família moderna se tornou um grupo de estranhos que dividem o mesmo espaço, respiram o mesmo ar, mas não penetram no mundo uns dos outros. Vive-se ilhado.

       E agora?

       Todos os dias a mídia escrita, televisiva e falada divulga fatos mais violentos, perversos e assustadores. O drama da morte e da violência está amplamente divulgado, tornando-se banal, mas a sensação de insegurança gera o medo e consequentemente a ansiedade, irritabilidade, angústia e os sintomas psicossomáticos.

       E agora? Há quem diga que a vida é assim.

       Diante do sofrimento, não se tem o direito de dormir. É preciso velar, buscar o caminho, mas não o caminho fácil das fugas, e sim o mais exigente, o mais tenebroso, o mais cruel – o que nos leva a nós mesmos.

       E agora José? José não tem para onde ir, senão para dentro de si mesmo. José não tem a quem procurar, senão por ele mesmo. Não se pode ficar em um estado de letargia paralisante. O agora está aí e é preciso reagir.

       Poder-se-ia pensar no “E agora?” Final? Quando se morre? Para alguns morrer é o fim, para outros morrer não é o fim, mas o inicio para uma nova vida. Algumas pessoas, nada cientifico, irão comentar que assim que o espírito deixa o corpo, carnal, ou seja, des-encarna, ele, o espírito, fica acima do corpo por um determinado tempo observando o corpo, ou talvez fique a contemplar aquele lugar que outrora fora sua morada por algum tempo.

       E agora?

       Nos ensinamentos que a Bíblia traz mostrando Jesus Cristo enquanto caminho, verificar-se-á quando o mestre dos mestres, o mestre da escola da vida, dissera que “Eu sou o caminho e a verdade e a vida”. Jesus não fala de nenhuma religião, seita e doutrina, mas, ele procura mostrar e ensinar a humanidade uma maneira fácil e eficaz de encontrar paz e tranquilidade através de uma vida e vida em abundância. e, vida em abundância não significa ter divisas, mas paz de espírito mesmo frente a tribulações, para que diante da pergunta fatal – e agora? Possa-se vislumbrar uma provável resposta, que sem problema algum venha si mesma ou através de uma busca por ajuda.

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