DOUTRINA, HISTÓRIA E PRÁTICAS DA UMBANDA

 

LIVRO-BASE:

“Código de Umbanda”, escrito por Rubens Saraceni – psicografado a partir da inspiração de Senhor Ogum Beira-Mar, pai Benedito de Aruanda, Li Mahi Am Seri Yê, Seiman Hamiser Yê  e Mestre Anaanda.

Editora Madras – São Paulo, 2012. 4ª edição.

SOBRE OS ESPÍRITOS INSPIRADORES DO LIVRO:

Senhor Ogum Beira-Mar é um dos Orixás intermediários regidos pelo Sagrado Orixá Ogum.

Benedito de Aruanda se identifica no livro como tendo sido um escravo angolano que chegou ao Recife (Pernambuco) em 1610, falecendo em 1637, aos 50 anos de idade. O próprio espírito declara no livro que ele foi Dante Alighieri em uma das anteriores encarnações.

OUTRAS FONTES:

Sobre o idioma quimbundo: https://pt.wikipedia.org/wiki/Kimbundu

Sobre a origem da Umbanda: texto A origem da Umbanda na Revista Cristã de Espiritismo –  http://www.rcespiritismo.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=192:a-origem-da-umbanda&catid=34:artigos&Itemid=54

Sobre os encostos: http://espadadeogum.blogspot.com.br/2013/02/espiritos-obsessores-ou-encostos.html

Sobre os Caboclos: https://povodearuanda.wordpress.com/2007/06/15/caboclos-de-umbanda/

Sobre os Pretos-velhos: https://estudodaumbanda.wordpress.com/2012/05/12/a-magia-dos-pretos-velhos/

Sobre os Exus: http://www.genuinaumbanda.com.br/exu_e_pomba_gira.htm

Sobre as Crianças: http://www.genuinaumbanda.com.br/temas_variados/a_linha_das_criancas_na_umbanda.htm

Sobre a palavra “macumba”: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-e-macumba

ORIGENS DA UMBANDA:

A palavra “umbanda” vem do quimbundo m’banda, que significa “sacerdote”, “curador”. O quimbundo é uma língua originária de Angola e que tem várias palavras adotadas na língua portuguesa, por causa do intenso contato entre colonizadores e escravos nos séculos XVI a XIX.

A partir de 1888, são relatados, no Rio de Janeiro e em São Paulo, casos de negros que, em rituais de origem africana, incorporavam espíritos que diziam ser de “caboclos” (nome dado a espíritos indígenas) e “preto-velhos” (nome dado a espíritos de africanos). Estes espíritos, ao incorporarem, diziam ter a missão de trazer a Umbanda para o plano material.

No dia 15 de novembro de 1908, um adolescente chamado Zélio Fernandino de Morais foi levado a um centro espírita e ali incorporou um espírito, sendo porém repreendido pelo dirigente do centro. O espírito, então, declarou que, a partir do dia seguinte, ele iria incorporar sempre no menino Zélio, em sua casa, e com isso iniciaria a Umbanda no plano material. o espírito ainda se identificou como “Caboclo das Sete Encruzilhadas”, alegando que tinha este nome porque para ele não haveria caminhos fechados. Esta data (15 de novembro de 1908) é considerada a fundação da Umbanda como movimento religioso no Brasil. Zélio Fernandino de Morais faleceu em 1975, aos 84 anos.

DOUTRINA UMBANDISTA:

Para começar, vamos para o princípio básico da Umbanda, segundo Saraceni: “Acelerar o processo evolucionista de espíritos encarnados e desencarnados que se encontram estacionados nas diversas ‘encruzilhadas’ da vida” (“Código de Umbanda”, p. 21).

Sobre a origem da religião, os espíritos que inspiraram Saraceni dizem que não é útil ficar procurando um fato ou uma data que estabeleça a religião umbandista, pois o mais importante é saber que “a origem da Umbanda está nos Sagrados Orixás que, por amor a humanidade, manifestam-se em locais humildes, desprovidos da pompa e do luxo, pois assim falam mais intimamente com seus filhos de Umbanda”. (op. cit., p. 22).

Preconceitos sofridos ao longo do tempo

A obra “Código de Umbanda” insiste para que os médiuns conheçam cada vez mais os fundamentos da Umbanda a fim de oferecer respostas à sociedade, principalmente diante de tantos ataques que a religião vem sofrendo desde que nasceu. As críticas umbandistas se dirigem especialmente a lideranças cristãs que, segundo Saraceni, espalham mentiras sobre os rituais de Umbanda.

Sistematização da doutrina umbandista

Uma proposta feita no livro é a sistematização de toda a doutrina umbandista e sua codificação para que todos os fiéis tenham um mesmo padrão doutrinário a seguir. Esta seria uma das principais saídas para combater os ataques perpetrados por outras religiões contra a Umbanda. Uma outra saída para combater os ataques é a ocorrência de prodígios. Para Saraceni, assim como no início do cristianismo, também no início da Umbanda os prodígios são necessários para a semeadura religiosa.

Inclusive, o início do cristianismo é evocado como exemplo da necessidade de se organizar o corpo doutrinário da religião para que todos falem a mesma língua e possam desenvolver uma consciência religiosa. O livro faz uma crítica àqueles médiuns que acolhem pessoas necessitadas (seja material ou espiritualmente) mas não as ajudam a ter uma consciência religiosa umbandista, fazendo assim com que a Umbanda se torne apenas um paliativo ou um lugar para onde as pessoas só vão quando precisam e com o qual não criam vínculo.

A sistematização da doutrina umbandista e o desenvolvimento de uma consciência religiosa umbandista se fazem ainda mais necessários quando se tem, explicitamente, uma perseguição contra a Umbanda. Comparando com a perseguição e matança de cristãos nas arenas romanas, Saraceni expõe a perseguição aos umbandistas pelos “neocristãos” que os expõem na TV, principalmente os “mercadores da fé” que exploram a pobreza dos umbandistas (e das pessoas em geral) com promessas de enriquecimento rápido em nome de Deus. Acrescente-se aí também práticas de igrejas neopentecostais que fazem “shows” com pessoas que dizem estar com “encostos” (muitas vezes estes supostos “encostos”, ou obsessores espirituais, dizem ser ligados a ritos afro-brasileiros).

Mesmo alertando para a necessidade de uma unificação da doutrina umbandista, Saraceni destaca que a Umbanda não pode ser como outras religiões que têm um pastor a conduzir um rebanho com dogmas e práticas religiosas aprisionadoras. “Na banda do ‘Um’, o rebanho é composto só de pastores, pois Umbanda é sacerdócio” (op. cit., p. 39). Esta afirmação reforça a ideia umbandista de qualquer pessoas pode ser médium e atuar em comunicação com os espíritos para o bem dos outros, descartando, portanto, a ideia de um sacerdócio praticado apenas por poucos “ungidos” ou “escolhidos”.

Um dos caminhos propostos para a sistematização e formação de consciência religiosa umbandista é a criação e divulgação de uma literatura umbandista que dê bases morais e éticas à religião. De acordo com Saraceni, só a valorização dos dons mediúnicos e das curas dos doentes não é suficiente porque os médiuns desencarnam e assim vão embora com eles todos os dons e conhecimentos; já a literatura umbandista, pelo contrário, perpetuaria estes dons e conhecimentos para muito além do período de cada médium no plano material.

Postura da Umbanda frente a outras religiões e com relação a ideia de Deus

A Umbanda não aceita dogmas como condutores da religião porque, segundo a própria Umbanda, busca a evolução dos espíritos e também não aceita o ocultismo porque, sendo este de ordens fechadas e seletivas, não combina com o caráter universalista e aberto da Umbanda. Sobre as religiões, a Umbanda entende que são imperativos divinos a cumprir uma missão sobre a terra. Elas já estariam no plano espiritual antes de se abrirem no plano material, e ao cumprirem sua missão se recolhem de volta ao plano espiritual, deixando seus maiores líderes e membros mais evoluídos na condição de espíritos que auxiliam os humanos em sua caminhada espiritual e evolutiva. Por entender as religiões sob este prisma, a Umbanda não aceita que seus membros critiquem nenhuma religião; a Umbanda orienta apenas que seus membros se coloquem em “combate” contra uma religião somente quando forem atacados pelos líderes desta religião. Mesmo assim, Rubens Saraceni faz uma crítica a algumas pessoas que esbravejam contra a Umbanda:

Muitos daqueles que hoje ocupam púlpitos e esbravejam contra a Umbanda, ontem frequentaram os terreiros, onde só sabiam pedir por bens materiais, tais como: carro novo, nova namorada, afastar do caminho um concorrente, etc. Mas como viram neles meros mercadores da fé, as hierarquias os afastaram e só restou a eles o obscurantismo das seitas neocristãs, pois até o Catolicismo de antes não atendia aos seus anseios imediatistas e materialistas” (op. cit., p. 65)

A Umbanda entende ainda que as religiões cumprem um desígnio divino ao obscurecer o ser humano (colocando os Orixás como demônios), pois assim evita que os “espíritos incapazes” que se associam a estas religiões venham a conviver com os “espíritos ancestrais” e a influenciar negativamente o universo natural. Além disto, a Umbanda explica a variedade de religiões como sendo obra de divindades maiores que possuem várias hierarquias e as utilizam para atender a um povo ou a um grupo formado por espíritos afins. A hierarquia escolhida recolhe em torno de si espíritos intermediadores e assim abre ao plano material o seu mistério, atraindo os espíritos afins (encarnados ou desencarnados) e formando uma nova religião.

É comum na Umbanda a aceitação de imagens e símbolos de todas as religiões, além de reconhecer as divindades de todas elas como espíritos ascensos ou santificados que ultrapassaram os limites de sua própria religião para se universalizarem e atenderem a todos os que as invocam como intercessoras junto a Deus.

Falando nisto, a Umbanda diferencia Deus e divindades. Para a Umbanda, Deus (que é chamado de Olorum, o Criador de tudo) é apenas um, o que qualificaria a Umbanda como monoteísta. Já as divindades são, para a Umbanda, os próprios mistérios de Deus, “pais de coletividades de espíritos afins ou em um mesmo grau de evolução espiritual. E é às divindades que Deus recorre para falar de frente, e no mesmo nível, com Seus filhos” (Saraceni, op. cit., p. 53). As divindades seriam individualizações de Deus para reger aquilo que é próprio da natureza de Deus: a Fé, o Amor, a Lei, a Justiça, o Conhecimento, a Evolução e a Geração. “Divindade significa um ser superior irradiador de qualidades divinas” (Saraceni, op. cit., p. 60). Há, inclusive, individualizações de Deus que regem cada planeta; no caso do nosso planeta Terra, a individualização divina que sustenta os elementos, espíritos e matérias se chama Trono das sete Encruzilhadas, tendo este nome porque nele se entrecruzam as sete vibrações divinas regidas pelas irradiações de Deus, denominadas “Orixás essenciais” ou “Sete mistérios religiosos de Deus”:

Orixá essencial da Fé – essência cristalina

Orixá essencial do Amor – essência mineral

Orixá essencial do Conhecimento – essência vegetal

Orixá essencial da Justiça – essência ígnea

Orixá essencial da Lei – essência eólica ou aérea

Orixá essencial da Evolução – essência telúrica (da terra)

Orixá essencial da Geração – essência aquática

Em Umbanda, explica-se que a essência da divindade ou do Orixá é materializada no planeta terra, por isso, por exemplo, temos a essência que caracteriza o Orixá da Geração materializada na água (por esta razão, Iemanjá, que é associada à Geração, tem a água como essência e como matéria irradiadora de suas vibrações energéticas).

A hierarquia divina em Umbanda caracteriza-se por:

Orixás Essenciais­ que se manifestam através de Orixás Ancestrais; estes se manifestam através de Orixás Naturais; estes se manifestam através de divindades intermediárias (que são as que se humanizaram para auxiliar os espíritos em evolução).

Outros seres e espíritos de acordo com a Umbanda

A religião umbandista admite a existência de seres paralelos à realidade humana, que evoluem sem o uso de corpos carnais e vivem nas chamadas “dimensões naturais”, inclusive nos ajudando com “suas irradiações de fé, amor e estímulo”. (Saraceni, op. cit., p. 59).

Além destes seres, há também a existência de espíritos que incorporam nos médiuns para auxiliar aqueles que buscam ajuda nos templos umbandistas. Estes espíritos (além dos Orixás) se manifestam porque o corpo do médium é Templo Vivo de Deus. Tais espíritos são, principalmente: Caboclos, Pretos-velhos, Exus e Crianças.

Caboclos: Segundo o site Povo de Aruanda, os Caboclos são espíritos desencarnados que simbolizam o elemento indígena da formação do povo brasileiro, estando ligados a Simplicidade e a Fortaleza. Os caboclos podem se apresentar sob vários nomes simbólicos, que são formas de não revelar seus verdadeiros nomes. Assim, há o Caboclo Sete Flechas, o Caboclo Ventania e a Cabocla Jacyra, por exemplo (os três caboclos citados têm Oxossi como Orixá regente).

Pretos-velhos: Segundo o site Estudo da Umbanda, os pretos-velhos são espíritos cuja última encarnação foi em corpos de escravos africanos. Eles estão ligados a transmissão de amor, fé e esperança àqueles que os vão consultar nos templos umbandistas. Nos trabalhos dos templos, os pretos-velhos aconselham os consulentes em suas necessidades físicas e psíquicas, como se fossem médicos ou psicólogos.

Exus: Segundo o site Genuína Umbanda, os Exus são confundidos com demônios por aqueles que não são umbandistas, mas na verdade são espíritos que, mesmo desencarnados, continuam em evolução e, neste processo evolutivo, auxiliam as pessoas na luta contra influências malignas, além de serem executores da Justiça Cármica.

Crianças: Segundo o site Genuína Umbanda, são espíritos puros e inocentes que são regidas pelo Orixá Ibeji, ligado a tudo o que nasce (pessoas, plantas, etc). Em suas incorporações nos templos, as Crianças orientam os consulentes sobre coisas sumidas e dão conselhos para a evolução espiritual. Normalmente, utilizam-se imagens de São Cosme e São Damião para simbolizar os espíritos das Crianças e tais espíritos são lembrados com festas no dia 27 de setembro (um dia após a celebração católica em memória aos irmãos Cosme e Damião).

Os Mistérios

Em Umbanda, “mistério” é associado às próprias divindades, ou seja, “mistério e divindade são sinônimos de algo que pertence a Deus e é indissociável d’Ele, pois só d’Ele encontra sua origem, sustentação e finalidade” (Saraceni, op. cit., p. 72). Os mistérios, portanto, são as próprias divindades às quais o ser humano tem acesso. Assim, pode-se falar em Mistério do Amor, Mistério da Fé, etc.

Estes mistérios podem ser encontrados em divindades diferentes:

Mistério da Fé – Oxalá, Buda, Aton, Jesus, etc.

Mistério do Amor – Oxum, Ísis, Afrodite, etc.

E assim por diante.

Estes mistérios são ativados através de oferendas de alimentos, que segundo a Umbanda facilitam a elevação vibratória e o acesso mental às irradiações do mistério de Deus.

E pensando na questão dos mistérios, a Umbanda ensina que somos “imagem e semelhança de Deus” justamente porque podemos irradiar seus mistérios de amor, fé, justiça, ordem e conhecimento, além de podermos também gerar (novos seres, inventos, ideias, etc) tal como Deus. Ainda é possível que seres humanos evoluam tanto que se tornem seres ascensos e se transformem em mistérios de Deus para se consagrarem a evolução da humanidade.

Nos templos, estes mistérios de Deus (pensando neles como os próprios Orixás) normalmente se manifestam com nomes simbólicos para preservarem a sacralidade de seus verdadeiros nomes. E seus nomes simbólicos podem nos remeter a seus Orixás regentes. Por exemplo: se um espírito se apresenta com o nome flechas, sabemos que é irradiação de Oxossi (conhecimento); se tem o nome espadas, é irradiação de Ogum (lei); se tem o nome montanhas, é irradiação de Xangô (justiça); e assim por diante.

Segundo a Umbanda, os mistérios de vários povos ao longo da História na verdade eram Orixás que eram ocultados por rituais religiosos fechados e sacerdotes que escondiam tais mistérios para impressionar o povo e dominar os fiéis.

A cor branca em Umbanda

“O branco é a cor de Oxalá, o regente da Fé no Ritual de Umbanda Sagrada. Logo, como a fé é o mistério religioso por excelência, o astral tem estimulado o uso dos paramentos brancos”. (Saraceni, op. cit., p. 79)

Cultos praticados em Umbanda

A Deus, em primeiro lugar;

aos ancestrais ou antepassados;

aos mortos ou às almas;

aos Orixás ou divindades;

aos espíritos ascensionados ou santificados;

aos espíritos luminares ou mentores;

aos elementos da natureza e aos encantados;

às forças da natureza.

O médium, o campo magnético e os rituais

Segundo a Umbanda, qualquer pessoa pode ser médium ao alinhar suas energias e vibrações com algum Orixá. Além disso, todo ser humano tem um campo mediúnico ou eletromagnético que se expande ao seu redor por entre 30 a 70 cm, tendo sua sede no mental (a “coroa” ou chacra coronário).

Sobre o campo magnético, a Umbanda ensina que temos contato com o plano material, que obedece ao padrão vibratório atômico, mas também com o plano espiritual, que obedece ao padrão vibratório etérico (do éter, da energia sutil a níveis suprafísicos). A mediunidade permite este contato com o plano espiritual. No entanto, este contato também dá brecha para a obsessão espiritual, que é explicada como sendo o alojamento de um ser não afim em nosso campo magnético.

As funções dos médiuns são: imposição das mãos, passes magnéticos, curas espirituais, desobsessões, magias, incorporações e emissão de oráculos. O médium é responsável pelos rituais; em Umbanda, ritual é definido como “ordenamento emocional, o direcionamento mental e a vibração consciente que nos colocam em sintonia direta com as divindades maiores” (Saraceni, op. cit., p. 95).

Um ritual tem sub-rituais direcionados a um fim que se queira alcançar. Mesmo tendo essência única, sub-rituais têm modos e ritualísticas diferentes, podendo ser votivos, consagratórios, propiciatórios, etc.

Simbologia na Umbanda

A estrela de cinco pontas simboliza o estágio da evolução regido pela linha de forças Oxalá – Iemanjá (essência cristalina e aquática). Outros símbolos, segundo a Umbanda, guardam em si os mistérios da criação: cruz gamada (suástica), serpente do arco-íris, pirâmide equilátera, triângulo equilátero, círculo quadriculado, cobra-coral, serpente dourada e sete luas. Estes símbolos remetem a renovação da vida, evolução espiritual, irradiação de energias, etc.

Céu e inferno em Umbanda

Em Umbanda, admite-se a ideia de céu como sendo o lugar dos espíritos virtuosos, consciencialmente racionais, em quem predominam as vontades, o equilíbrio mental, o magnetismo positivo e a irradiação de energias. Já o inferno seria o lugar dos espíritos viciados, consciencialmente emocionais, em quem predominam os desejos, o desequilíbrio mental, o magnetismo negativo e a absorção de energias.

No entanto, admite-se também em Umbanda que um espírito que se encontra no inferno possa atingir o céu e vice-versa. Na verdade, os espíritos viciados são atraídos, após a morte corporal, para polos negativos regidos por Orixás que os tutelarão em seu desenvolvimento até que se apague toda negatividade espiritual e enfim o espírito atinja evolução suficiente para chegar aos polos positivos (o céu). Da mesma forma, espíritos desencarnados e virtuosos podem ter sua evolução espiritual prejudicada em outros níveis se eles se deixarem dominar pela negatividade, podendo cair aos polos negativos (o inferno) e ali terem que ser tutelados por Orixás que os ajudarão a voltar aos padrões positivos.

A magia

Em Umbanda, magia é definida como “ato consciente de ativar e direcionar energias elementares positivas ou negativas, universais ou cósmicas” (Saraceni, op. cit., p. 131). Há uma hierarquia com relação a magia:

1 – o Orixá é doador do poder;

2 – o guia é o manipulador das energias;

3 – o médium é o ativador do processo mágico, que abre comunicação energética com o ponto onde consagrou o objeto portador de poderes mágicos.

Além disso, há um princípio básico para os médiuns que praticam magia: “Ser ungido com um mistério não dá a ninguém o direito de usá-lo contra seus semelhantes” (Saraceni, op. cit., p. 137).

O autor de Código de Umbanda tece críticas a quem usa a magia como forma de prejudicar alguém, pois em seu entendimento a magia integra o ser com a criação em harmonia e equilíbrio, portanto não admitindo quaisquer formas de uso da magia para fins negativos ou maus. Além disso, faz um alerta aos médiuns que querem trabalhar com a magia: “Um mago precisa, antes de ser iniciado, renunciar ao seu livre-arbítrio e depositá-lo (devolvê-lo) nas mãos do Criador. Depois, precisa aquietar-se e ficar no aguardo das instruções de seu mestre pessoal, que sempre será um ser já Ascenso, ou seja, que já ultrapassou o ciclo reencarnatório” (Saraceni, op. cit., p. 141). O mencionado “mestre pessoal” é sempre um Orixá intermediário (e não um guia espiritual).

Sobre os meios mágicos, estes podem ser:

Horas mágicas: 6, 9, 12, 18, 21 e 24h;

Campos ativos: ar, água, terra, fogo, cristais, minerais, vegetais, etc.;

Meios mentais: cantos, mantras, encantamentos sonoros, rezas e orações;

Meios recorrentes: pontos riscados, oferendas, etc.

“Umbandistas, todos podem vir a ser; filhos de Fé, quase todos podem vir a ser; pais e mães no Santo, muitos podem vir a ser; mestres de Umbanda, uns poucos serão; agora, magos de Umbanda Sagrada, só alguns, e com muito esforço, resignação, humildade, perseverança, dedicação, fidelidade, e se ungidos pelos Orixás sagrados, conseguirão ser” (Saraceni, op. cit., p. 149).

As pedras são elementos importantes na magia, tanto como irradiadoras quanto como concentradoras de energias. Elas também ajudam o Exu Guardião dos médiuns a resistir às investidas energéticas do baixo astral. Cada Orixá tem sua pedra mágica e a imanta com seu axé (força vital).

Os Sagrados Orixás

Para a Umbanda, “os Orixás são divindades naturais, são eternos e adaptam-se a todas as épocas, raças, culturas e concepções religiosas [...] e em civilizações antiquíssimas já eram cultuados por milhões de pessoas. E, embora respondessem por outros nomes, no entanto são sempre os mesmos regentes planetários que foram humanizados para sustentar os estágios evolutivos de então” (Saraceni, op. cit., p. 175).

Há uma hierarquia de Orixás, começando pelos Essenciais ou Ancestrais, que são individualizações do Trono das sete Encruzilhadas. São eles: Oxalá, Oxum, Oxossi, Xangô, Ogum, Obaluaiê e Iemanjá. Estes nomes são simbólicos, ou seja, os que se apresentam ao plano material; na verdade, os Orixás têm nomes mantrânicos que só são conhecidos no plano espiritual. Os espíritos que não precisam mais reencarnar chamam os Orixás por seus nomes mantrânicos, formados por sílabas e cada qual com seu tom e fonética, formando um canto ou mantra.

Os Orixás regem os espíritos que incorporam nos médiuns. Estes espíritos também têm nomes simbólicos, que indicam o Orixá regente. Exemplos:

Sete Cachoeiras e Sete Pedras – regidos por Oxum

Sete Pedreiras – regido por Iansã

Sete Penas – regido por Oxalá

Sete Folhas e Sete Flechas – regidos por Oxossi

Sete Raios e Sete Montanhas – regidos por Xangô

Sete Cobras – regido por Oxumaré

Sete Espadas – regido por Ogum

Sete Cruzes – regido por Obaluaiê

Estes Orixás Essenciais regem Orixás Naturais, que regem Orixás intermediários, que regem vários espíritos. Cada Orixá irradia energias que se propagam com dois polos: um positivo e outro negativo. Os sete Orixás Essenciais mencionados acima regem os polos positivos de suas vibrações energéticas, ao passo que outros Orixás regem os polos negativos. Estes polos negativos concentram e recolhem excessos de energias vibradas e irradiadas pelos polos positivos e pelos espíritos que não sabem utilizar estas energias a favor de seus semelhantes. Abaixo, teremos uma descrição mais detalhada destes Orixás:

Orixá

Trono Natural

Atuação preferencial

Polo

Essência

Outras informações

Oxalá

Religiosidade dos seres

Positivo

Cristalina

As oferendas a Oxalá são: velas brancas, frutas, coco verde, mel e flores. Locais de oferendas: bosques, campinas, praias limpas, jardins floridos, etc.

Oxum

Amor Divino e Concepção da Vida

Amor entre os seres e concepção da vida

Positivo

Mineral

Ampara a gestação humana. Favorece a riqueza espiritual e a abundância material. Oferendas: velas brancas, azuis e amarelas; flores e essência de rosas; champanhe e licor de cereja. Local: cachoeiras.

Oxossi

Conhecimento

Alimento da fé e fonte de saber aos espíritos

Positivo

Vegetal

Oferendas: velas brancas, verdes e rosas; cerveja, vinho doce e licor de caju; flores do campo e frutas. Locais: bosques e matas.

Xangô

Justiça

Senso de equilíbrio e equidade

Positivo

Ígnea

Oferendas: velas brancas, vermelhas e marrons; cerveja escura, vinho tinto doce e licor de ambrosia; flores diversas. Locais: cachoeiras, montanhas ou pedreiras.

Ogum

Lei

Milícias celestes que guardam os procedimentos dos seres

Positivo

Eólica

Chamado “Senhor dos Caminhos” porque direciona os rumos de cada ser para que não tome direção errada. Oferendas: velas brancas, azuis e vermelhas; cerveja e vinho tinto licoroso; flores e cravos. Locais: caminhos, campos, encruzilhadas, etc.

Obaluaiê

Evolução

Processo evolutivo dos seres e reencarnação dos espíritos

Positivo

Telúrica

Infunde o espírito sobre o feto (normalmente, de acordo com a Umbanda, um bebê recebe o espírito entre o 5º e o 7º mês de gestação). Oferendas: velas brancas; vinho rose licoroso e água potável; coco fatiado com mel e pipocas; rosas, margaridas e crisântemos. Locais: cruzeiro do cemitério, beira mar e beira de lago.

Iemanjá

Geração

Amparo à maternidade

Positivo

Aquática

Sustenta o nascimento dos seres humanos. Oferendas: velas brancas, azuis e rosas; champanhe, calda de ameixa ou de pêssego, manjar, arroz-doce e melão; rosas e palmas brancas. Local: beira mar.

Omolu

Morte

Negativo (oposto a Iemanjá)

Guardião dos espíritos caídos. Ampara aqueles que vão contra os princípios da vida. É o “excelso curador divino”, acolhendo a todos os que buscaram ferir seus semelhantes. Atuou em toda a história das religiões, sendo chamado de “Anjo da Morte”, “Senhor dos Mortos”, etc. Não se deve oferecer animais em sacrifício de oferenda a Omolu (assim como a Umbanda proíbe sacrifícios animais a quaisquer Orixás); quem fizer isto e com intenções de prejudicar alguém irá, ao morrer, para os “infernos naturais”, ou seja, a esferas cósmicas onde irão purgar os espíritos de suas más inclinações e práticas.

Nahe-Iim-Tempo

Tempo

Negativo (oposto a Oxalá)

Ordenadora do caos religioso. Também chamada de Oyá.

Obá

Esgotamento dos conhecimentos desvirtuados

Negativo (oposto a Oxossi)

Seu culto teria começado há 4000 anos e se espalhado pelo mundo (tendo, por exemplo, o nome de Minerva). Paralisa quem ensina falsas verdades religiosas e quem ensina o mau uso das magias. Atua sobre quem comete excesso aproveitando-se do conhecimento religioso. Pune aqueles que são sátiros e sarcásticos em relação às coisas sagradas e aqueles que brincam com as divindades.

Oxumaré

Sexualidade

Negativo (oposto a Oxum)

Atua na renovação dos seres. No campo religioso, faz com que uma pessoa que não esteja evoluindo em sua religião vá buscar outra onde possa retomar o caminho da evolução e da religiosidade. Dilui a paixão e o ciúme quando estes tomam o lugar do amor. Sutiliza e dilui as energias de seres não afins que se unem. Atua sobre o magnetismo sexual negativado, sobrecarregado e desequilibrado. Rege a energia “kundaliní” e a ele se associa a figura da cobra (por causa das irradiações ondulantes de Oxumaré).

Egunitá

Aplicação da Justiça Divina

Negativo (oposto a Xangô)

Purifica os excessos emocionais dos seres desequilibrados, desvirtuados e viciados.

Iansã

Aplicação da Lei

Negativo (oposto a Ogum)

Esgota e redireciona o emocional dos seres quando este emocional é afetado por vícios (entenda-se vícios como tudo o que atrapalha a evolução). Chamada de “Senhora dos Ventos”.

Nanã

Racional dos seres

Negativo (oposto a Obaluaiê)

Rege sobre a maturidade. Decanta os seres e prepara-os para uma nova “vida”. Ela é responsável por “adormecer” os espíritos antes que reencarnem. É associada à velhice, pois atua sobre a memória dos espíritos. Ela também atua na paralisação da sexualidade e da geração de filhos (menopausa, por exemplo).

A salvação segundo a Umbanda

“Todo aquele que crer será salvo. A todo aquele que souber como foi salvo e entender sua própria salvação, Deus lhe concederá a oportunidade de assentar-se junto de Seus Tronos Divinos, para que possa tornar-se mais um salvador” (Saraceni, op. cit., p. 192).

Umbanda pode ser associada a macumba?

Em primeiro lugar, é preciso definir o que é macumba. A publicação da revista Mundo Estranho traz uma definição simplificada, dizendo que a palavra macumba refere-se a uma espécie de árvore típica em algumas regiões africanas, além de ser o nome dado a um instrumento musical utilizado em rituais do Candomblé e da Umbanda. Além disso, macumba também se refere a uma variante do Candomblé que só existe no Rio de Janeiro. O uso pejorativo da palavra macumba deve-se a grupos cristãos (principalmente neopentecostais) que passaram a utilizar o termo em seus discursos contra o Candomblé e a Umbanda.