O culto mariano é muito difundido dentro da Igreja Católica Romana, principalmente na América Latina, onde a Virgem-Mãe recebeu variadas denominações: Nossa Senhora de Copacabana (Bolívia), Nossa Senhora de Luján (Argentina), Nossa Senhora da Conceição Aparecida (Brasil) etc. Este culto tem sido renovado constantemente pela criação de inúmeros grupos de católicos de várias idades voltados para a devoção mariana.

Entretanto, a presença de Maria na Bíblia é voltada à história de Jesus, fazendo com que parte do desconhecimento sobre Maria seja resultado dessa "falta" de narrativa bíblica. A oposição Eva-Maria também não aparece explícita na Bíblia; mesmo no Catecismo da Igreja Católica (1992), tal associação só é mencionada seis vezes. Sabendo da importância dessa oposição, realizaremos de modo simples e objetivo uma abordagem histórica dessa relação.

Em Eva, que significa mãe de todos os viventes (Gn 3,20), encontramos o símbolo do pecado original; em Maria, temos a mãe do Redentor, aquela que vive em função de uma missão da qual não poderia se furtar sem perder o sentindo de sua existência. A missão da mãe-redentora é o ponto de partida e de chegada da mulher que se espelha em Maria. Segundo o Catecismo, foi Maria "que, primeiro e de uma forma única, se beneficiou da vitória sobre o pecado conquistada por Cristo: ela foi preservada de toda mancha do pecado original" (CIC, § 411).

Os primeiros indícios da relação Eva-Maria vêm de Justino, o Mártir (+. Ca. 165); porém, no caso dele, tal paralelo aparece de modo singelo: "na maravilhosa criação de Eva a partir da costela de Adão ele vê prefigurada a conceição virginal do Filho de Deus no poder do Espírito" (MÜLLER, 2000). A ampliação dessa relação só acontecerá com Irineu de Lião (+. 202), dentro da sua teologia da recapitulação, que justapõe o erro de Eva à obediência de Maria e que a salvação perdida no paraíso pelo pecado original é realizada pelo novo Adão sem pecado (Cristo). Em Gregório de Nissa (+ 394) também temos o desenvolvimento desse paralelo, "em virtude do pecado, o parir de Eva está ligado a dores e trabalho, enquanto a pura Virgem Maria dá à luz seu filho com grande alegria" (MÜLLER, 2000).

A partir desse contexto histórico, é necessário situar a relação Eva-Maria num plano ainda mais amplo, ou seja, procurando marcos fundadores e correntes teológicas que tiveram por base essa oposição, buscando ressaltar a divindade modelar de Maria para a construção de um ideal feminino. Conforme ganhava força as idéias que ressaltavam a pureza de uma, a outra era mais marginalizada. Essas idéias foram se inserindo nas práticas religiosas católicas, para que seus fiéis acreditassem e seguissem esses ideais.

O culto à Virgem foi se transformando em dogmas que afirmavam tanto a virgindade, Imaculada Conceição (1854), quanto a sua intimidade com Deus, Assunção de Maria (1950). Esses dogmas confirmaram, então, desejos populares e discussões teológicas que se estendiam desde a Antigüidade até os dias atuais.

Através da simples análise das relações de Maria com Eva, percebemos claramente que a Virgem tem uma história importante que precisa ser aprofundada, pois, sua importância está amplamente difundida tanto na sociedade civil quanto na vida católica, a partir dos ideais de: mulher, mãe, religiosa etc.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000

FIGUEIRA, Felipe Luiz Gomes; POMARI, Luciana Regina. Mãe-Virgem: História de um Dogma. Anais da XIV Semana de História: 1808-2008: 200 Anos da Nação Brasileira. Maringá: UEM, 2008. v. 1. p. 1-1.

SCHNEIDER, Theodor (Org.). Manual de Dogmática. Petrópolis: Vozes, 2000

Virgem Maria como Nova Eva. http://horasaojeronimo.sites.uol.com.br/imagens/Aveeva.gif, consultado em 17/09/2008