Da Roma antiga podemos nos lembrar de inúmeras situações, produções, construções que permaneceram ao longo dos últimos 2000 anos de história.

Suas lendas ainda hoje alimentam a literatura. Suas leis, o Direito Romano, permanece sendo modelo para a legislação do século XXI. Seu modelo político, da mesma forma que o grego, vem sendo aperfeiçoado e reutilizado. Seu costume de representar personagens públicas em monumentos permanece em nossas praças. Suas arenas inspiram nossas atividades esportivas. Até seu modelo de vias de transporte são inspiradoras para nossos engenheiros.

De todas essas influências romanas, tem uma que pode ser duplamente revivida. Estamos falando dos gladiadores. Naquela época eram peças de uma arena macabra: matavam e morriam para a diversão da plateia. Eram escravos que morriam para a alegria de seus senhores. Eram o circo que não faltava quando faltava o pão.

Além dessa dimensão, existe uma face dos gladiadores que nem sempre é lembrada e nem utilizada como estímulo para situações análogas em nossa sociedade. Estamos falando de suas revoltas. Inúmeras vezes os gladiadores criaram movimentos de revolta contra a situação massacrante e degradante de que eram vítimas para diversão de seus senhores.

Mas, por que esses movimentos não são relembrados nem servem como inspiração para nossas problemas e como mobilizadores em nosso cotidiano? Por que não são invocados como exemplo de rebelião contra o sistema de morte?

Talvez por que em nosso mundo se imponha o medo de enfrentar as revoltas populares que poderiam mudar esta sociedade que valoriza o produto e a produção menosprezando os produtores; talvez por que a sociedade do lucro tem medo que a esperança mobilize as vítimas do sistema e os pobres de nosso mundo para o engajamento num grande movimento de revolta.

Mas nunca é tarde para aprendermos algumas lições do tempo dos gladiadores.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO