DO DESINTERESSE ESCOLAR À APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO EM UM CONTEXTO MOTIVADOR

Resumo

O espaço escolar destina-se ao desenvolvimento do ser humano em sua totalidade devendo abarcar os aspectos físico, psicológico, social e intelectual dos indivíduos. Nesse contexto, não se pode deixar de considerar as transformações, especialmente de cunho tecnológico, pelas quais a sociedade vem passando ao longo dos anos e que afetam a relação entre as pessoas e os ambientes que estas frequentam. No processo de ensino e aprendizagem, as motivações e os interesses que os educandos possuem e recebem são indispensáveis para que aconteça um desenvolvimento educacional de qualidade. É preciso que o professor conheça seus alunos e aprenda a identificar suas reais necessidades, motivações e seu contexto histórico para que busque novas formas de ensinar, despertando neles o interesse e o prazer pelos estudos e pela escola. Esta pesquisa objetiva investigar como os professores estimulam seus alunos à aprendizagem dos conteúdos escolares, além de buscar conhecer os sentimentos desses profissionais perante a situação de desinteresse por parte dos alunos. A metodologia utilizada nesse estudo envolve pesquisa bibliográfica sobre a relação entre o ensino e a aprendizagem significativa, além de Pesquisa de Campo realizada em uma Escola Pública da cidade de Osasco/SP, que conta com a observação de alunos e professores em sua relação durante o processo de aula e, também, aplicação de questionários aos sujeitos desta pesquisa.  A investigação mostrou que para estimular os alunos à aprendizagem, o professor precisa ressignificar o espaço da sala de aula estabelecendo conexões entre os conteúdos curriculares e a vida prática de seus aprendizes.

Palavras-Chave: Espaço Escolar. Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTIC’s). Desinteresse. Aprendizagem e Motivação. Relação Professor-Aluno.

 INTRODUÇÃO

A escola é um ambiente de importante representação na vida dos que a frequentam, pois é um espaço onde os conhecimentos, os valores e a cultura da sociedade são compartilhados. É nesse espaço físico, psicológico, social e cultural que os indivíduos processam o seu desenvolvimento global, mediante as atividades programadas e realizadas em sala de aula e fora dela (REGO, 2003, p.22).

Talvez a mais importante função da escola é permitir que o indivíduo crie condições para sobreviver em um mundo marcado pelos conflitos de uma sociedade onde as mudanças são rápidas e frequentes. Mas, essa não é uma tarefa fácil já que a sociedade vem sofrendo transformações expressivas, especialmente de cunho tecnológico. Como agente integrante da sociedade, a escola poderá perder seu espaço para a mídia informática, pois na visão de Knüppe (2006) os atrativos oferecidos por esta despertam interesses que estão além do simples fato de frequentar uma escola que, muitas vezes, não oferece os mesmos encantos gerando desinteresse e falta de motivação pelos estudos.

As Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTIC’s) evoluem a cada dia e as escolas não as acompanham e, em muitas escolas públicas, o acesso a elas é precário, deixando as escolas, por vezes, sem graça, descontextualizadas e desinteressantes aos alunos. Godoy (2009, p.179) ressalta que: “A escola como instituição social não pode ficar às margens desse processo, pois corre o risco de ficar defasada, alienada, desinteressante e não cumprir assim suas funções sociais[...]”.

Outro fator relevante é que, para alguns estudantes, não há a compreensão prática e significativa do motivo real de se estudar.  Por outro lado, alguns docentes não fazem paralelo entre prática e teoria, entre a vida diária dos alunos e o conteúdo escolar tornando as aulas desarticuladas e comprometendo o desenvolvimento educacional desses educandos na medida em que não se constituem como um ambiente estimulante.

Essas questões são preocupantes já que o desinteresse pelos estudos pode contribuir para o fracasso da aprendizagem escolar e, em alguns casos, pode levar à evasão escolar no ensino médio, conforme demonstrou a pesquisa Motivos da Evasão Escolar feita pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) em 2009, que aponta que 40% dos jovens de 15 a 17 anos deixam de estudar porque acreditam que a escola é desinteressante. Mas afinal, o que fazer para que a escola não perca de vez seu espaço? Como trazer os estudantes de forma alegre à educação formal? Para Zenti (2000) os professores devem mostrar aos seus alunos que estudar pode ser agradável, e mais, estudar pode fazer sentido na vida prática do educando.

Vygotsky (1991) postula que a motivação é um dos fatores principais para o sucesso da aprendizagem e, portanto, não se pode pensar no aluno sem o professor, pois este último irá motivar aquele a aprender, numa relação dialógica, tanto dentro da escola como fora dela. Nesse sentido, vislumbra-se a figura do professor como aquele quem media o processo de ensino e de aprendizagem e, portanto, é sujeito motivador e/ou estimulador à aprendizagem escolar, visto que ele é o maior responsável pelas estratégias de ensino em sala de aula.

Deste modo, vale investigar quais são os sentimentos que os educadores carregam em seu interior em relação à situação de desinteresse por parte dos alunos, bem como suas expectativas em relação à educação. É preciso que os professores sintam-se estimulados e motivados para o ato de ensinar, pois se eles assim não se sentirem, é impossível esperar que estimulem os alunos à aprendizagem. Eis aqui, talvez, a chave para a compreensão do ciclo vicioso do desinteresse escolar, onde um fator leva ao outro e que, continuadamente, torna-se difícil romper.

Assim, este trabalho baseia-se em pesquisas anteriormente desenvolvidas sobre o desinteresse dos alunos em aprenderem os conteúdos escolares – Ungioni (2009), Knüppe (2006) – mas aqui com a preocupação em saber como os professores se sentem perante as claras manifestações de desinteresse de seus alunos em aprender esses conteúdos e quais são os meios que os educadores utilizam para enfrentar este problema. Afinal, como os professores estimulam os alunos à aprendizagem formal?

Essa pesquisa torna-se relevante na medida em que, tendo o conhecimento sobre essa realidade, o próprio professor poderá ajudar-se, compreendendo os problemas da sala de aula, reavaliando sua prática pedagógica e mediando de maneira competente o processo de ensino e de aprendizagem, buscando como resultado final o desenvolvimento das funções psicológicas superiores de seu aprendiz.

Este artigo está organizado em seções. A 1ª seção introduz a pesquisa, a 2ª apresenta os objetivos do referido trabalho e a 3ª relata a metodologia utilizada. O desenvolvimento da pesquisa, a revisão de literatura e a coleta de dados estão na 4ª seção e os resultados e discussões na 5ªseção. Por fim, as considerações finais encerram a 6ª seção.

 OBJETIVO

 Partindo da premissa de que o professor é aquele quem media o processo de ensino e de aprendizagem de seus alunos e é quem ajuda na formação deles, essa pesquisa pretende:

  • Verificar o desinteresse escolar em suas causas e motivos, através da análise dos conceitos de estímulos/motivações dentro do espaço de sala de aula;
  • Investigar em que medida os professores de Ensino Fundamental II percebem o desinteresse dos alunos e o que fazem a respeito;
  • Observar como os professores estimulam seus alunos à aprendizagem dos conteúdos escolares e apontar em que medidas utilizam as TIC’s em suas aulas;
  • Conhecer a dimensão subjetiva dos sentimentos dos professores perante a situação de desinteresse dos educandos em sala de aula.

METODOLOGIA

A construção dessa pesquisa ocorreu, inicialmente, por um levantamento de informações, publicações e metodologias adotadas por pesquisadores que atuam e desenvolvem estudos no campo do ensino e da aprendizagem significativa. Foi realizado um levantamento bibliográfico das principais publicações que tem contribuído para as discussões sobre as motivações para a aprendizagem e o ensino dos conteúdos escolares, incluindo dados sobre Novas Tecnologias na escola e relação professor-aluno em sala de aula.  Na sequência, foi aplicada Pesquisa de Campo, com abordagem qualitativa, em uma Escola Pública considerada de excelência da Cidade de Osasco/SP. Adotou-se como procedimento inicial para a coleta de dados, atividades de observação em sala de aula, pela necessidade de se conhecer melhor o espaço-campo de estudo e de se estabelecer os primeiros contatos com o público alvo da pesquisa antes da aplicação dos questionários. Num segundo momento, quinze questionários foram entregues ao Coordenador Pedagógico da Escola direcionados aos professores que o quisessem responder, e assim, os questionários foram analisados e confrontados com as observações feitas em sala de aula com o apoio do referencial teórico pretendido.

 DESENVOLVIMENTO

Um estudo sobre motivação no contexto educacional

A motivação é considerada por alguns educadores e teóricos da educação – Ungioni (2009), Knüppe (2006), Guimarães (2004), Huertas (2001), Vygotsky (1991) – um dos fatores predominantes no sucesso da aprendizagem, pois é ela quem promove as buscas, as descobertas, o envolvimento e a satisfação na realização das atividades no contexto escolar. De acordo com Guimarães (2004, p. 143): “Um estudante motivado mostra-se ativamente envolvido no processo de aprendizagem [...] Apresenta entusiasmo na execução das tarefas e orgulho acerca dos resultados de seus desempenhos [...]”

Nesse aspecto, a motivação pode ser definida como Motivação Intrínseca. Sob a perspectiva da Teoria da Autodeterminação desenvolvida por Deci e Ryan (1985), a motivação intrínseca pode ser entendida como fator natural ao ser humano que impulsiona suas potencialidades, ou seja, ela é quem mantém o indivíduo em crescimento, desenvolvendo-se para as integrações sociais e psicológicas.

Ainda há outro fator que pode interferir na motivação intrínseca ou natural do ser humano que é a Motivação Extrínseca, isto é, os estímulos externos que o meio ambiente oferece às pessoas e que podem bloquear ou favorecer os comportamentos naturais delas. Esses dois fatores dentro da sala de aula devem ser complementares, pois um atua diretamente no outro. Um ambiente estimulador poderá promover os interesses e motivações internas dos alunos em relação aos estudos.

Para tanto, é necessário analisar quais são os contingentes que escola e professores vêm utilizando como fatores externos para o desenvolvimento educacional e para motivar os alunos em sua aprendizagem. Essa é, sem dúvida, uma tarefa difícil e desafiadora aos educadores visto o contexto sócio-histórico em que a sociedade e a escola se encontram. 

Em meio a esse cenário, está a figura do professor pois é ele quem poderá atuar como mediador no contexto motivador à aprendizagem de seus alunos já que é o maior responsável pelas estratégias de ensino em sala de aula.  Assim, sua prática docente deve estar em constante processo de auto-reflexão e análise, de modo que suas ações poderão influenciar de maneira positiva e/ou negativa na aprendizagem e na motivação interna de seus discentes.

 Coleta de dados: observações de práticas pedagógicas em sala de aula

 As observações em sala de aula foram realizadas em uma turma de 5ª série, duas de 6ª série e uma de 7ª série, durante o período de uma semana no mês de Maio/2011, no turno vespertino, com duração de duas horas e meia diárias, focando as aulas de História, Língua Portuguesa e Matemática. No total, seis professores tiveram suas práticas observadas e analisadas. Essas observações foram balizadas por roteiro previamente elaborado com a intenção de obter dados sobre as possíveis causas do desinteresse escolar dos alunos, sobre a postura docente e a relação professor-aluno que é estabelecida em sala, além dos conceitos de estímulos e motivações no contexto educacional que permeiam esse ambiente. A análise dos resultados apoia-se no referencial teórico de Lev Vygotsky, sobretudo no conceito de que qualquer aprendizagem se dá mediante as interações e trocas que ocorrem entre as relações interpessoais.

 Coleta de dados: aplicação dos questionários

 Foram entregues ao coordenador da escola campo de pesquisa, na última semana do mês de Junho/2011, quinze questionários para que estes fossem respondidos pelos professores.  Oito deles foram devolvidos à aluna-pesquisadora. O Coordenador Pedagógico adotou a aplicação deste instrumento durante o horário de HTPC como atividade não obrigatória.  Os professores tiveram duas semanas para respondê-los. Os docentes participantes desta pesquisa possuem entre 27 a 47 anos de idade, três do sexo masculino e cinco do feminino. Todos têm Graduação, cinco deles são Especialistas e apenas um possui título de Mestre. Sete destes professores estão na área educacional entre três a vinte anos e um deles já está há mais de vinte anos. Atualmente, todos eles trabalham exclusivamente na escola em questão lecionando entre cinco e oito aulas por dia.

 RESULTADOS

 Nesta seção, discutem-se os resultados obtidos a partir da análise sobre o cruzamento feito entre as observações realizadas em sala de aula, as respostas dos questionários aplicados aos professores e o referencial teórico pesquisado durante este estudo, num processo analítico-interpretativo.

 

Os fatores que mais contribuem para o desinteresse escolar dos alunos na visão dos docentes são: falta de estímulos familiar, falta de sentido em estudar, os problemas de casa e a própria subjetividade do aluno. Dos oito professores que responderam ao questionário, seis alegaram que, em função do seu próprio desinteresse, os alunos não conseguem fazer a conexão entre teoria e prática, ou seja, não enxergam a utilidade prática de tal aprendizado.  Conforme a resposta de um professor os alunos chegam a questionar onde irão aplicar determinado conteúdo na sua vida. Assim, nota-se que estes professores não se responsabilizam pelo desinteresse de seus alunos, embora para Perrenoud (2000) cabe ao educador fomentar a vontade de aprender, explicar a relação com o saber e dar o sentido do trabalho escolar.

Entretanto, percebeu-se durante as observações em sala de aula que dos seis professores analisados, três posicionaram-se como centro de todo o processo de ensino e de aprendizagem, não oportunizando descobertas próprias por parte dos alunos e tampouco permitindo a interação destes com as atividades elaboradas contribuindo, também, para o desinteresse dos alunos em sala de aula. Assim, é possível afirmar que agiram dentro de uma prática pedagógica tradicionalista. De acordo com Rego (2009) o ensino em todas as formas desse tipo de abordagem é centrado no professor e a aprendizagem é confundida com memorização de conteúdos desarticulados e repetições de exercícios. Prática esta que vem sendo combatida por alguns educadores, como é o caso de Paulo Freire, pois nesta prática o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na atuação do educador. (FREIRE, 1987, p.34).

Percebe-se também que a relação professor-aluno, no geral, é distante e, muitas vezes, desrespeitosa e violenta de ambos os lados. Isso pode ser considerado como fator desestimulante para professores e alunos conviverem juntos no espaço escolar. Diante das manifestações de desinteresse por parte de seus discentes, os professores relataram sentir-se: um lixo, desmotivados e irritados por não conseguirem manter a atenção, disciplina, boa avaliação e a participação dos alunos nas aulas.

Entretanto, para estimular e/ou motivar os alunos à aprendizagem em sala de aula os docentes procuram: interagir o conteúdo com a realidade, diversificar a abordagem em sala de aula, conversar bastante com alunos, explicar a necessidade de passar alguns conteúdos, aplicar atividades que eles gostam, compactar assuntos de menor interesse e ampliar os de maiores devolutivas, buscar outros recursos para facilitar a aprendizagem e ainda, demonstram estar à disposição deles. Dois professores inferiram que a maneira como o professor aplica o conteúdo e a relação que ele desenvolve com a sala, motiva ou não os alunos.

Partindo dessas assertivas, é possível constatar que quando o aluno, durante as aulas, compreende a utilidade do que está aprendendo, envolve-se mais com as atividades e com sua própria aprendizagem.  Nota-se que os docentes que ouvem seus alunos e dão liberdade para que esses perguntem e interajam durante a aula, despertam maior interesse sobre o tema. Isto é, o envolvimento dos alunos com as aulas pode ser entendido como condição concreta à aprendizagem significativa, já que esses professores souberam fazer conexão entre as perguntas dos alunos e o conteúdo da aula. Dois professores que tiveram suas práticas analisadas agiram como mediadores durante as aulas confrontando as hipóteses dos alunos e fomentando os questionamentos e a reflexão, possibilitando que chegassem a um raciocínio concreto, independentemente se certo ou errado. Esses professores conseguiram atingir a zona de desenvolvimento proximal a que Vygotsky se refere – a distância entre aquilo que o aluno não consegue fazer ainda sozinha, mas que com a ajuda de alguém mais experiente o conseguirá – ou seja, eles foram intermediários ao ajudar os alunos a chegarem a um conhecimento que ainda não o tinham, até o momento, sobre os assuntos trabalhados na aula, através de seus prévios conhecimentos, despertando mais interesse nos educandos e favorecendo a participação ativa deles no desenvolvimento de suas funções psicológicas superiores. Sobre o papel do professor, Rego (2009, p.115) diz que: “[...] a intervenção nas zonas de desenvolvimento proximal dos alunos é de responsabilidade (ainda que não exclusiva) do professor visto como o parceiro privilegiado, justamente porque tem maior experiência, informações [...]”.

Vale ressaltar que durante as observações no espaço sala de aula nenhum dos professores analisados inovaram em relação aos recursos didáticos, inclusive àqueles disponíveis na escola. Ou seja, ainda continuam usando lousa e giz, textos xerocados, mapas e livros. Porém, ao responderem ao questionário, eles relataram utilizar: televisão, vídeo, data-show, rádio, música, material desportivo e computador. Contudo, é importante destacar que todo e qualquer recurso didático deve ser utilizado com propósito; caso contrário, será um instrumento desnecessário à aula já que a simples presença do recurso de ensino na sala de aula não garantirá qualidade e, muito menos, dinamismo à prática docente (GODOY, 2009, p.116).

Pensando que a introdução da informática na educação pode trazer diversos benefícios ao processo de ensino e de aprendizagem, o tema Novas Tecnologias na Educação se fez presente nesta pesquisa. Assim, os professores que responderam ao questionário afirmaram que: elas podem auxiliar no processo de ensino e de aprendizagem e no desenvolvimento do raciocínio lógico, motivar e/ou estimular os alunos, socializar a informação, desenvolver várias habilidades no aluno, permitir o letramento digital, ampliar o conhecimento e melhorar a prática pedagógica. E ainda, para estes docentes o computador só é um recurso importante no processo educacional se os alunos conseguirem vê-lo como ferramenta de pesquisa e desde que não seja utilizado para Jogos, MSN, Orkut. Mas afinal, quem deve orientar a aprendizagem dos conteúdos? Percebe-se aqui que estes docentes não se sentem responsáveis pela orientação quanto ao uso produtivo do computador durante as aulas e nem anunciam a relevância deste recurso para a formação de seus educandos.

Dos oito docentes entrevistados, somente um não acredita no computador como ferramenta importante ao ensino, pois ele é apenas um recurso, muitas vezes traz dispersão e estimula erros ortográficos. O que parece ser a fala de alguém que não está apto a articular os conteúdos aos inúmeros recursos que a informática traz à educação, ou de um professor pouco criativo que se contenta em usar os recursos tradicionais indicados pelo sistema educacional (PERRENOUD, 2000). Apesar da maioria dos professores perceber o computador como recurso pedagógico, somente três deles utilizam o Laboratório de Informática disponível na escola, embora com frequência mínima. Mas, afinal, por que os educadores não incorporam as NTIC’s às suas aulas? Tal pergunta pode ser respondida pela análise dos sentimentos que esses docentes revelaram sobre o uso das Novas Tecnologias na Educação: cautela, medo, despreparo e desmotivação. Isso é preocupante já que, conforme Perrenoud (2000), formar para as novas tecnologias vai desde formar a capacidade de pesquisa, leitura e a análise de textos e de imagens ao pensamento dedutivo e ao senso crítico dos alunos.

Nas observações de aula, os docentes apresentaram sentimentos diversos em sala, como: desânimo, cansaço, descontrole, nervosismo e, até, indiferença. O que coincide aos sentimentos que eles, no questionário, mencionaram ter: insatisfação, cansaço, desrespeito, desvalorização, desmotivação, tristeza, solidão e ansiedade. Apontaram, também, que o que os motiva a dar uma boa aula é perceber o interesse da sala, sentir que os alunos estão motivados e que, pelo menos alguns, participem da aula.  Atendo-se às emoções dos professores em sala de aula, infere-se que qualquer postura que eles tenham afetará sua relação com os alunos, bem como a sua prática pedagógica, pois, segundo Almeida (2009) a emoção se alimenta dos próprios efeitos que ela causa. 

Assim, não se pode atribuir a culpa do desinteresse escolar tão somente aos alunos na medida em que os professores chegam desmotivados para exercerem seu ofício em sala de aula.

 

considerações finais

 

Com base nos dados coletados na presente pesquisa e partindo das análises dos resultados, é possível considerar que para estimular os alunos à aprendizagem o professor necessita dar significação a ela, ou seja, é preciso que ele estabeleça conexões entre os conteúdos curriculares e a vida prática de seus alunos, além de criar condições para que os alunos interajam e participem ativamente da aula no sentido de elaborarem novos conhecimentos.

Os alunos sentem-se mais interessados na aula quando o docente dá ouvidos às perguntas e respostas havidas na sala, confrontando as hipóteses dos alunos e fazendo-os refletir sobre os conceitos e argumentos desenvolvidos. Assim, o educador consegue suscitar a curiosidade no aluno e despertá-lo ao desenvolvimento de suas aptidões cognitivas acerca da realidade e do meio que o cerca. Quando esses estímulos e estratégias de motivações não acontecem, surge o desinteresse pelos estudos.

É possível apontar que os docentes que trabalham com foco na mediação obtém  maior envolvimento dos alunos na aula, além de conseguirem construir um relacionamento equilibrado entre respeito, afeição e confiança, ressignificando o espaço de sala de aula como ambiente de prazer, de construções coletivas e de aprendizagens úteis à vida prática dos educandos.

Parte dos professores não utiliza o computador como recurso pedagógico, deixando assim de contribuir para o exercício da autonomia de seus alunos e da democratização de um instrumento historicamente criado e modificado pela humanidade. É necessário que os docentes conheçam e compreendam as várias teorias educacionais para que possam apoiar-se nelas no sentido de prepararem aulas que estejam de acordo com os níveis de conhecimento dos alunos buscando, assim, as melhores práticas de ensino que possibilitem a aprendizagem significativa desses conteúdos.

O professor precisa ser consciente sobre sua postura e atitudes em sala de aula porque elas refletir-se-ão nas ações de seus alunos, numa relação dialógica e modelar. De nada adiantará inovar em recursos pedagógicos se o professor, antes, já não tiver estabelecido uma relação estável com seus alunos, pois as emoções entre eles independem de qualquer recurso didático.

É necessário que os educadores acreditem na importância de seu ofício e que compreendam sua influência no desenvolvimento integral dos alunos. Eles devem assumir suas responsabilidades de co-partícipes na formação de seus educandos e ainda que esta não seja uma tarefa fácil, isso não os desresponsabilizam de suas funções e propósitos educacionais do exercício da docência.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Laurinda Ramalho. Wallon e a educação. In: MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de (Orgs.). Henri Wallon: Psicologia e Educação.São Paulo: Loyola, 2009.

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 FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido,17ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

 GODOY, A.C. Fundamentos do trabalho pedagógico. Campinas, SP: Alínea, 2009.

 GUIMARÃES, Sueli E. R. O Estilo Motivacional do Professor e a Motivação Intrínseca dos Estudantes: Uma Perspectiva da Teoria da Autodeterminação. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/prc/v17n2/22466.pdf>. Acesso em 24 de junho de 2010.

 HUERTAS, J. A. Motivación: querer aprender. Buenos Aires: Aique, 2001.

 KNÜPPE, L. Motivação e desmotivação: desafio para as professoras do Ensino Fundamental. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-0602006000100017>.  Acesso em 26 de junho de 2010.

 Perrenoud, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.

 REGO, T. C. Memórias de escola: Cultura escolar e constituição de singularidades. Petrópolis: Vozes, 2003.

___________. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Vozes, 2009.

 UGIONI, M.M.O. Investigação do emprego da mídia informática sob a luz de Vygotsky como elemento motivador da aprendizagem. Disponível em: <http://www.sed.sc.gov.br/secretaria/documentos/cat_view/ 271-midias-na-educacao>. Acesso em 29 de junho de 2010.

 VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente, 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

 ZENTI, L. Aulas queseus alunos vão lembrar por muito tempo: motivação é a chave para ensinar a importância do estudo na vida de cada um de nós. Nova Escola, São Paulo: Abril, v. 134, ago. 2000.