iversidade sexual na escola: Como lidar com a homofobia no espaço educativo

 

Jaqueline de Andrade Pedagoga pela FCT/ UNESP

(e-mail: [email protected])

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Diversidade sexual na escola: Como lidar com a homofobia no espaço educativo

 

Resumo

 

Tantos avanços tecnológicos não são suficientes para fazer com que a sociedade aprenda a lidar com o “anormal”. Os homossexuais continuam sendo considerados aberrações, má influência para os demais. Eles sofrem com a intolerância e são brutalmente violentados. Este texto busca por meio de revisão bibliográfica trazer reflexões indispensáveis sobre essa temática que é conveniente, porém é ignorado pela sociedade e principalmente pelo âmbito escolar, o preconceito precisa ser minimizado e a escola tem que ter conhecimentos teóricos abrangentes para saber lidar com a homofobia no espaço educativo valorizando o respeito às diversidades. Deve-se respeitar a individualidade e a escolha de cada individuo para poder de fato inseri-lo na sociedade sem estigmatizá-lo. .

Palavras-Chaves: Diversidades sexuais; Educação; Respeito e Tolerância. 

 

 Apesar de haver muitas discussões sobre as diversidades sexuais, infelizmente a heterossexualidade ainda continua sendo idealizada por muitos discursos culturais como a expressão da verdadeirasexualidade.

 A heterossexualidade só ganha sentido na medida em que se inventa a homossexualidade. Então, ela depende da homossexualidade para existir.

O mesmo pode ser dito em relação ao sujeito heterossexual: sua definição carrega a negação de seu oposto. Ao dizer: eu sou heterossexual, um homem ou uma mulher acabam invariavelmente por ter de recorrer a algumas características ou marcas atribuídas ao homossexual, na medida em que ele ou ela precisam afirmar também o que não são. Do outro lado do par, o movimento será o mesmo: a homossexualidade precisa da heterossexualidade para dizer de si. Há uma reciprocidade nesse processo. A dicotomia sustenta-se numa única lógica. (LOURO, 2009, p.89).

 A causa da visão preconceituosa que se tem sobre a homossexualidade da-se pelo fato de que o homossexual na Idade Média (e até os dias de hoje) era considerado como uma ofensa à criação divina, um ser diabólico que tinha o domínio de induzir os demais para o pecado. Sendo assim, a homossexualidade sempre esteve ligada à ideia de desprezo. Quiçá seja por isso, que não conseguimos aceitar, mas sim tolerar essa diversidade sexual. (FOUCAULT, 1985)

Tantos avanços tecnológicos não são suficientes para fazer com que a sociedade aprenda a lidar com o “anormal”. Os homossexuais continuam sendo considerados aberrações, má influência para os demais. Eles sofrem com a intolerância e são brutalmente violentados.

A falta de solidariedade por parte de profissionais, da instituição e da comunidade escolar diante das mais corriqueiras cenas de assédio moral contra estudantes LGBT pode produzir ulteriores efeitos nos agressores e nos seus cúmplices. (JUNQUEIRA, 2009, p.27)

Assim como a sociedade no todo, a escola também reforça a homofobia. Porém, Junqueira (2009) relata que esse espaço educacional deveria inibir a violência homofóbica.

Mesmo diante da dificuldade de dissuadir racionalmente alguém embebido de ódio homofóbico, uma sociedade democrática e suas instituições (inclusive a escola) devem envidar esforços para coibir e impedir que a selvageria intolerante cause ulteriores sofrimentos e para diminuir os efeitos que ela possa ter (até mesmo na alimentação do desprezo e do ódio em relação a outros grupos). (JUNQUEIRA, 2009, p. 29).

 Conforme Abramovay; Castro e Silva (2004) a heterossexualidade é legitimada por padrões culturais e sociais determinando essa opção sexual como a única que deve ser vivenciada e consentida. Desta forma as autoras informam que: “Muitas expressões de preconceitos e discriminações em torno do sexual tendem a ser naturalizadas, até prestigiadas e não entendidas necessariamente como violências.” (p. 278).

É imprescindível que haja reflexões acerca de outras sexualidades e os educadores precisam saber lidar com a homofobia no espaço educativo. Deve-se respeitar a individualidade e a escolha de cada individuo para poder de fato inseri-lo na sociedade sem estigmatizá-lo.

Há escolas que consideram que a responsabilidade de orientar os jovens sobre a questão da sexualidade e suas conseqüências é dos pais, da mesma maneira há pais que atribuem essa responsabilidade a escola, dessa forma entende-se que ambos não sabem como lidar com esse assunto com naturalidade.

Na escola aprendemos à sexualidade por meio da heteronormatividade, isto é, a relação entre heterossexuais, com isso observa-se que a escola trabalha sexualidade na perspectiva heteronormativa, ou seja, os conteúdos trabalhados pelos educadores sobre sexualidade se referem às práticas sexuais dos heterossexuais.

De acordo com Louro (2004) a reflexão sobre outras sexualidades é muito importante para que possamos respeitá-las e saber lidar com essa temática principalmente no âmbito escolar.

Desprezar o sujeito homossexual era (e ainda é), em nossa sociedade, algo “comum”, “compreensivo”, “corriqueiro”. Daí porque vale a pena colocar essa questão em primeiro plano. Parece absolutamente relevante refletir sobre as formas de viver a sexualidade, sobre as muitas formas de ser e de experimentar prazeres e desejos; parece relevante também refletir sobre possíveis formas de intervir, a fim de perturbar ou alterar, de algum modo, um estado de coisas que considero intolerável. ( LOURO,2004, p. 57).

 Paro (2007) nos lembra que o papel da escola é transmitir o conhecimento sistematizado auxiliando seus educandos a terem uma visão crítica e democrática, por meio da transmissão de valores e atitudes formando um sujeito crítico e reflexivo.

Entretanto, no que tange a discussão e reflexão sobre a sexualidade esse espaço tão importante que deveria promover o respeito às diferenças esquiva-se dessa responsabilidade evitando aprofundar e problematizar sobre esse tema em seu meio. (Ribeiro, Soares e Fernandes, 2009).

A escola trabalha com a prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis, AIDS/HIV, gravidez precoce e puberdade, mas a questão da homossexualidade não é cogitada no âmbito escolar, porque esse tema é polêmico e causa desconforto não apenas aos profissionais da educação, mas também em toda a sociedade. Nessa perspectiva Junqueira ( 2009) diz que:

Ao mesmo tempo em que nós, profissionais da educação, estamos conscientes de que nosso trabalho se relaciona com o quadro dos direitos humanos e pode contribuir para ampliar os seus horizontes, precisamos também reter que estamos envolvidos na tessitura de uma trama em que sexismo, homofobia e racismo produzem efeitos e que, apesar de nossas intenções, terminamos muitas vezes por promover sua perpetuação. (Junqueira, 2009, p. 13)

Os educadores precisam reconhecer que há outras sexualidades que não a heterossexual e eles precisam saber lidar com essa dificuldade, toda a sociedade e os professores deveriam promover o respeito entre as diferenças e estabelecer momentos em que os sujeitos LGBTTT pudessemviver sua sexualidade assim como vivem os heterossexuais.

A escola é um espaço delimitado onde separa-se meninos de meninas (Louro, 1997), é na escola que aprendemos que meninas devem brincar com as meninas e os meninos devem brincar com os meninos.

Precisamos fazer com que a escola e a sociedade sejam mais justas e solidárias com a questão da homossexualidade, para juntos enfrentarmos as dificuldades que temos em promover os direitos humanos acerca da problematização da homofobia.

Além de transmitir e construir conhecimento, a escola também reproduz padrões sociais legitimando relações de poder e hierarquias. A heteronormatividade é construída na sociedade.

 

Considerações relevantes

 

Sabe-se que o papel do professor e da escola é muito amplo, mas faz-se necessário elaborar um programa de formação continuada que objetiva-se a debater sobre as diversidades sexuais na escola a fim de orientar professores e gestores sobre essa temática auxiliando-os a lidar com esse assunto no espaço escolar. Desmistificando a homofobia e promovendo a inclusão social de todos, pois homofobia também é uma exclusão social e não se deve negar que ela está presente em todos os lugares inclusive em âmbito escolar.

A sociedade tem preconceito daquilo que nunca teve contato, porém é importante ressaltar que um debate sobre o tema pode ajudar bastante no combate à discriminação contra os homossexuais e contra todos os outros tipos de minorias.

Toda educação deve ter como principal objetivo a formação de um sujeito consciente que preza pela liberdade e pelo respeito aos diferentes. Desta forma a educação deve promover o respeito entre as diferenças, sejam elas quais forem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVAY, M.; CASTRO, M. G.; SILVA, L. B.. Juventude e sexualidade.Brasília: UNESCO, 2004.

FOUCAULT, M. Historia da sexualidade: a vontade de saber. 7a ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985.

LOURO, G.L. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.

_________. Heteronormatividade e Homofobia. In:Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. JUNQUEIRA, R. D. (org.). – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009.

 ______. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

JUNQUEIRA, R. D. Homofobia nas Escolas: um problema de todos. Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. JUNQUEIRA, R. D. (org.). – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009.

PARO, Vitor. O papel da escola. In: PARO, V. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. 3.reimpr. São Paulo: Xamã. 2007, p. 51-64.

 Ribeiro. P. R. C.; Soares G. F.; Fernandes. F. B. M. A Ambientalização de Professores e Professoras Homossexuais no Espaço Escolar. In: Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. JUNQUEIRA, R. D. (org.). – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009.