DIVERSIDADE NA UNIDADE: UMA PERSPECTIVA SOBRE DIVERSIDADE À LUZ DO SERVIÇO SOCIAL

William Silvano Camargo[1]

Inês Terezinha Pastório[2]

Izaque Pereira de Souza[3]

Thaisy de Paula Dias[4]

Galvão Olirdes Maria [5]

RESUMO

 Este artigo tem por finalidade discorrer sobre a questão da diversidade a partir da perspectiva de Marx e Gramsci, como também, a forma que a interpretação marxiana teve no final do século XX, com os pensadores pós-modernos, sobre a questão da diversidade humana. Busca também compreender a diversidade sob o olhar do Serviço Social frente às demandas da modernidade trazida pelas relações de trabalho no modo de produção capitalista e as transformações das relações sociais ocorridas a partir de então. Nos valeremos da revisão bibliográfica como metodologia e como método, do materialismo histórico dialético uma vez que buscamos, por resultado, repensar a atuação do profissional do Serviço Social frente à diversidade, como um sujeito que precisa repensar-se continuamente,  recriando-se enquanto profissional e apreendendo a diversidade dos sujeitos a partir de suas práticas. 

INTRODUÇÃO

A teoria social crítica, tem como cerne o antagonismo das classes sociais como análise. Porém no âmago das classes sociais, se fizeram pertinentes a análise das subjetividades para a pesquisa marxiana no decorrer de décadas. Nesse sentido os movimentos sociais tiveram que se reinventar no que diz respeito ao, se tornando mais flexíveis em suas constatações teóricas pelo fato de se fazer necessária, além de compreender as mudanças sociais, também incluir as diversas categorias da complexidade humana.

É de suma importância para o Serviço Social a análise da diversidade, pois a população usuária, atendida pela categoria profissional, possui em sua omnilateriedade a diversidade inclusa, sendo ela, de gênero, sexual, religião ou étnica, que deve ser respeitada e garantida pelo direito inviolável do ser humano, que é a vida e a liberdade.

Nesta seara, o presente trabalho busca problematizar a questão trazendo elementos que possibilitem ampliar o olhar acerca da diversidade considerando o entendimento de sujeito que se situa historicamente. Sua metodologia que se baseou exclusivamente na pesquisa bibliográfica buscou autores das diversas áreas das ciências humanas que discutem a relação de classe social e diversidade humana entendendo a complementaridade nessa relação.

Para atingirmos esse objetivo, buscamos dividir o presente artigo em dois títulos. Na primeira sessão buscamos fazer uma relação entre Marx, Gramsci e o pós modernismo com vistas a trabalhar os processos de humanização na contemporaneidade. No segundo título trataremos mais especificamente de nosso objeto, trazendo a discussão para o da teoria social.

Conforme já abordamos, nossa intenção ao abordar a temática busca a priori trazer a problematização para o espaço profissional. É uma caminhada árdua, mas que se faz extremamente necessária. 

  1. MARX, GRAMSCI E PÓS-MODERNISMO: DA REVOLUÇÃO A HUMANIZAÇÃO

Na tradição marxiana[1], todo ser humano tem seu potencial subjetivo voltado para o trabalho, porém, isso não quer dizer que todo ser humano é igual ao outro, existe, portanto uma grande diversidade em cada sujeito, isso se circunscreve na questão de gênero, familiar, religiosa, opção política, feitios culturais, dentre outros. Desta forma, o ser humano é um só ente, mas composto por uma miríade de diversidade[1], todo ser humano tem seu potencial subjetivo voltado para o trabalho, porém, isso não quer dizer que todo ser humano é igual ao outro, existe, portanto uma grande diversidade em cada sujeito, isso se circunscreve na questão de gênero, familiar, religiosa, opção política, feitios culturais, dentre outros. Desta forma, o ser humano é um só ente, mas composto por uma miríade de diversidade[2].

Karl Marx-1813-1883 esclarecia que o momento da vida que une todos os seres humanos, independente de classe social, gênero, etnia e aptidões é o momento da morte, porque é nesse momento que o gênero humano vence o individuo, momento este que todos verão a finitude da vida (MARX, 2008).  Ao elaborar uma metáfora: É nesse momento que peão e rei voltam para o mesmo tabuleiro de xadrez (CALVEZ, 1975).

No século XIX, Karl Marx tinha profundo cuidado para comentar as questões de diversidade humana em seus escritos, pois ele tinha conhecimento que entre a classe trabalhadora e a classe burguesa havia particularidades entre os sujeitos em que nelas coabitavam.  Entretanto, a luta de classe estava vigente, entre os opressores capitalistas e os oprimidos da classe trabalhadora, que apesar das particularidades de cada sujeito, a tensão de classes era acima das individualidades (CALVEZ, 1975).

Nesse sentido, a preocupação da época era promover de forma teórica uma análise do sistema capitalista, destacando suas fragilidades em torno da má distribuição de riqueza, sendo assim, para almejar uma futura sociedade, sem divisão de classe social e exploração econômica de um sobre o outro. Dessa maneira, as questões de pesquisas e estudos das diversidades dos sujeitos da época não tiveram muito êxito, por razão que a preocupação central de Marx era a revolução socialista, algo além do sistema capitalista, isso não quer dizer que Marx não tinha preocupação com a diversidade, mas que tinha relegado a questão da diversidade para um segundo plano de estudo, uma análise a ser feita somente após a derrocada do sistema capitalista, pois segundo Marx, no sistema capitalista há a impossibilidade do ser humano viver de forma plena o seu cotidiano[3], sobre as amarras do capital.

Quando Marx escreveu o capital no final do século XIX, 96% da população inglesa era operária de fábricas os outros 6% eram divididos em profissionais liberais, trabalhadores do Estado e a burguesia. Isto posto, aludia ao pensador que não havia uma diversidade de profissões também, isso ratificava mais ainda sua tese de que cada vez mais os trabalhadores operários iriam expandir de forma miserável e a burguesia iria ficar cada vez mais rica, porém, diminuindo. No entanto, isso não ocorreu, nas décadas de 50 do século XX, o sociólogo americano Daniel Beill, relatava em seu livro “A Sociedade Pós-Industrial”, que o número de trabalhadores nos setores de serviço ultrapassava o número de trabalhadores industriais, trazendo, portanto, uma nova diversidade profissional (MASI, 2000).

Nos anos 30 do século XX, um pensador marxista chamado “Antonio Carlos Gramsci[4]-1891-1937”, vislumbrou que a sociedade havia mudado e muito desde os últimos escritos de Karl Marx, percebeu que o Estado, sindicatos, universidades, escolas, religiões, partidos políticos e dentre outros tinham se diversificado e muito, como também a própria classe trabalhadora estava começando a se diversificar. Nesse sentido, Gramsci entendeu que não podia mais imaginar que todas as instituições eram intransponíveis para a Classe Trabalhadora, como dizia Marx: “O Estado é o comitê da burguesia”, ou como dizia Lênin[4]-1891-1937”, vislumbrou que a sociedade havia mudado e muito desde os últimos escritos de Karl Marx, percebeu que o Estado, sindicatos, universidades, escolas, religiões, partidos políticos e dentre outros tinham se diversificado e muito, como também a própria classe trabalhadora estava começando a se diversificar. Nesse sentido, Gramsci entendeu que não podia mais imaginar que todas as instituições eram intransponíveis para a Classe Trabalhadora, como dizia Marx: “O Estado é o comitê da burguesia”, ou como dizia Lênin[5], ao afirmar que primeiro a revolução deveria ser realizada, para que depois as instituições fossem destruídas (COUTINHO, 2007).

[1] Karl Marx criou a teoria do Materialismo Histórico Dialético, após décadas de estudo em filosofia e em economia política, essa teoria nasceu. Materialismo vem da concepção filosófica do filósofo grego antigo Demócrito e do filósofo alemão Ludwing Fuerbach e o Histórico dialético da concepção filosófica do filósofo alemão Hegel. No início de seus estudos, debateu com a filosofia idealista de Hegel, como também posterior a isso discordou dos pensamentos econômicos liberais de Adam Smith, além de vários filósofos e economistas que Marx discutiu. Todo esse conhecimento acumulado durante décadas culminou em diversas obras, porém a principal é “O Capital”, obras esta que o autor não conseguiu finalizar, por razões de problemas de saúde, após sua morte em 1883, Karl Marx deixou seu legado intelectual como um dos maiores pensadores da história, como também um pensador que deixou uma teoria com uma firme proposta de transformação social. Décadas mais tarde guerras, crises econômicas e revoluções encontrariam respaldos em sua teoria. Denomina-se marxiano, as obras originais de Marx e de marxista os seus comentaristas (CALVEZ, 1975).

[2] Diversidade: substantivo feminino – 1, qualidade daquilo que é diverso, diferente, variado; Conjunto variado; multiplicidade. Diversidade significa variedade, pluralidade, diferença. 

[3] No sistema capitalista o cotidiano é permeado de alienação para a classe trabalhadora (HELLER, 2004).

[4] Foi um dos fundadores do partido comunista italiano, no início dos de 1930 ele é preso sobre o governo fascista de Benito Mussolini, acusado de subversão social, em 1937, falece na prisão. Grande parte de suas obras foram escritas na prisão, obras essas que ganharam o nome de cadernos de cárcere, Gramsci escrevia essas obras por meio do dialogo de visitas de amigo Philips (COUTINHO, 2007).

[5] Vladimir Lênin Teorizou e implementou a Revolução Russa em 1917, grande leitor de Karl Marx, teve como suas obras primas, o livro: Estado e Revolução e Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo ( LOWY, 1987).

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