A serrapilheira, um local onde abriga um ecossistema característico, é composta principalmente por materiais que caem da cobertura vegetal: folhas, flores, frutos, sementes, que são degradados e reciclados por microorganismos importantes na ciclagem de nutrientes. Constitui-se de matéria orgânica de origem animal e vegetal que é depositada sobre o solo que será posteriormente matéria orgânica do solo (BARBOSA & FARIA, 2006), tornando-se um dos locais de ciclagem de elementos químicos inorgânicos e transferência de energia. A serrapilheira apresenta característica própria que promove condições microclimáticas que permitem abrigar determinados tipos de seres vivos. A matéria orgânica controla muitas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (BARBOSA & FARIA, 2006), certamente definindo quais os organismos que ali existirão. Os artrópodes são organismos abundantes em praticamente todos os ecossistemas terrestres e decompõem parte da folhagem que compõe a serrapilheira, contribuindo dessa forma com a manutenção e equilíbrio de ambientes (SAMWAYS 1995, apud PRAXEDES et al 2003). Este trabalho teve por objetivo identificar a diversidade faunística de serrapilheira de um remanescente de Mata Atlântica, fazendo comparações com as áreas coletadas.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado em um remanescente urbano de Mata Atlântica secundária, localizado no 19° Batalhão de Caçadores (19°BC), no bairro do Cabula, Salvador, Bahia.

A área de estudo possui aproximadamente 240 ha e está localizado entre as coordenadas 12º 57' 53" S e 38º 27' 14" W. No dia do experimento, 10 de outubro de 2008, a temperatura mínima estava 22° C e máxima 28° C.
O estudo foi realizado em três pontos da mata: borda da trilha, campo aberto e margem da Represa do Cascão. Em cada área foi definido um transecto de 50 x 50 cm de comprimento, onde foram retirados da superfície do solo de cada ponto amostras de serrapilheira e o material coletado foi acondicionado em sacos plásticos

Os materiais coletados foram depositados em funis de Berlese-Tullgren, por 24 horas, apoiados em potes de vidro contendo álcool a 70%. Após esse período os organismos foram triados e acondicionados em frascos de vidro contendo álcool 70%.

Os organismos foram separados em morfotipos e com o auxílio de literaturas especializadas os organismos foram classificados em nível de Classe e Ordem e posteriormente contabilizados para determinar a sua abundância e diversidade em cada ponto, através do índice ecológico de Shannon-Wianer (log10) e Pielou.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total de 40 indivíduos classificados de acordo com o morfotipo (Tabela 01), as abundâncias encontradas para cada ponto foram: 10 na Borda da Trilha, 12 no Campo Aberto e 18 na Margem da Represa do Cascão, apresentando uma riqueza 04, 06 e 04 respectivamente. A classe mais abundante foi Insecta, representando 73% (n=29) dos indivíduos amostrados, seguida de Aracnida 25% (n=10) e Diplopoda 2% (n=1). Os resultados se assemelham ao trabalho realizado por Cunha na serrapilheira de espécies de palmeiras (Attalea attaleoides e Astrocaryum sciophilum) em uma floresta de mata contínua, onde a classe mais abundante foi Insecta, com 55% dos indivíduos amostrados (n=184), seguida por Arachnida, com 26% (n=90) e por Crustaceae, com 15%(n=50). As classes Chilopoda, Gastropoda, Diplopoda corresponderam juntos a 4% (n=2, n=3, n=9) dos artrópodes coletados. O predomínio da classe Insecta talvez esteja relacionado à sua alta abundância , como obtido por Praxedes et al. (2003), que realizaram uma estimativa da fauna de serrapilheira através de extratores e pitfall em Floresta Amazônica.

A fauna encontrada na serrapilheira está intimamente associada a fatores abióticos como: umidade, luminosidade, micro-clima e profundidade da serrapilheira, contribuindo para a diversidade de artrópodes neste hábitat (LEVINGS & WINDSOR, 1984; ANDERSON, 1975 apud CUNHA).

A margem da Represa do Cascão foi o local onde houve uma maior abundância de indivíduos (n=18), seguida do Campo Aberto (n=12) e Borda da Trilha (n=10). Provavelmente, a margem da Represa do Cascão, apresenta uma maior umidade, que contribui para uma maior diversidade, ao contrário da Borda da trilha, por ser uma área antropizada, certamente favoreceu as modificações microclimáticas do local e assim influenciando na diversidade biológica.

Mesmo o campo aberto sendo um local onde talvez ocorra uma maior variação de temperatura, por esta área estar exposta a luz solar e pelo forte impacto de chuva no solo, apresentou uma maior diversidade (H'=0,69), seguida da margem da Represa do Cascão (H'=0,61) e Borda da trilha (H'=0,57). Certamente a falta de padronização da coleta dos dados favoreceu esse resultado, pois provavelmente o local mais diverso seria a margem da Represa do Cascão ou borda da trilha. Segundo Elton, 1973 apud Ferreira & Marques, as matas e florestas fornecem condições ideais para a existência de maior diversidade, por possuírem uma estratificação vegetal e micro-hábitats que permitem tal diversidade. Mas as bordas de trilhas já é um local onde existe uma vegetação secundária, onde muitos fatores abióticos relacionados a este ambiente são perdidos.

CONCLUSÃO

Os resultados acima indicam que determinados tipos de trabalhos comparativos necessitam de levantamentos e padronização de métodos de amostragem. Talvez se tivéssemos mensurado a quantidade de serrapilheira para cada ponto, os resultados seriam os mais prováveis.