Acadêmica Silvia Regina Silveira Almeida

Co-autora Mestre Maria José de Azevedo Araújo

RESUMO

A pesquisa qualitativa e bibliográfica aborda alguns temas considerados básicos para a sociedade e especialmente para educadores, que é a educação dos surdos, o uso da língua portuguesa na educação dos surdos e o processo de ensino aprendizagem pelo qual esses alunos precisam passar para que possam adquirir esta segunda língua, a língua portuguesa. Mostra os métodos utilizados em sala de aula, para que os alunos surdos interajam com o professor e com os alunos ouvintes para que possam ter acesso a fazer uso da língua portuguesa, considerando que eles têm como primeira língua a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Segundo Vygotsky (1995), os princípios do desenvolvimento humano são os mesmos para todos os sujeitos. Todo ser humano é educável e pode ser educado. Na sua visão, a fragilidade da deficiência é também uma força que move o sujeito para as suas realizações. Partindo-se do principio de que o conhecimento é pouco a pouco construído, a escola deve oferecer desafios que, a todo o momento, mobilizem as potencialidades dos alunos surdos e os façam crescer em busca do saber.

PALAVRAS-CHAVE

Língua, educação, inclusão, surdos, ensino.

ABSTRACT

Qualitative research literature and addresses some issues considered basic to society and especially for educators, which is the education of the deaf, the use of English in deaf education and the teaching-learning process by which these students have to pass so they can acquire this second language, Portuguese. Shows the methods used in the classroom, so that deaf students to interact with the teacher and students to listeners who may have access to use the Portuguese language, given that they have as a first language to Brazilian Sign Language (LBS) . According to Vygotsky (1995), the principles of human development are the same for all subjects. Everyone is teachable and can be educated. In his view, the weakness of disability is also a force that moves the subject for their achievements. Starting from the principle that knowledge is gradually built, the school must offer challenges at any time, mobilize the potential of deaf students and make them grow in search of knowledge

KEYWORDS

Language, education, inclusion, deaf education.

INTRODUÇÃO

Um dos pontos discutidos entre as pessoas na sala de aula e pelas ruas é a grande necessidade de capacitação e especialização dos professores com relação à educação inclusiva e seus progressos. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1996, mais conhecida como LDB, incluiu no seu texto legal as bases da educação especial, dando o direito de educação a todos, mas apesar disso ainda existe muito preconceito quanto a este tema, dentro e fora dos estabelecimentos de ensino.

Sabemos que todos nós somos iguais perante a lei, mas ao mesmo tempo somos todos diferentes perante a sociedade. Ainda são grandes os obstáculos impostos aos auditivos ou qualquer que seja a deficiência exposta

A discussão sobre a educação inclusiva engloba vários movimentos históricos do Brasil. Por exemplo, em 2001 e 2002, ocorreu, o Fórum Social Mundial I e II, em Porto Alegre, ressaltando a questão do grande peso das desigualdades sociais, e a necessidade de reflexões e ações das pessoas para que esse quadro pudesse mudar.
Neste artigo bibliográfico será apontado como a Língua Portuguesa pode ser introduzida na educação de crianças surdas. Considerando que esta seja a segunda língua mais importante na educação dos mesmos, espera-se que a aprendizagem da Língua Portuguesa pelos surdos venha trazer melhorias para suas vidas.
Assim, tem-se como objetivo, abordar o quanto é importante o ensino da língua na educação dos alunos surdos, entender o funcionamento deste ensino e ressaltar as melhorias trazidas aos alunos surdos.

O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA AOS DEFICIENTES AUDITIVOS

O Monge Beneditino Pedro Ponce Léon (1520-1584), foi o primeiro professor de surdos, ele os ensinou a ler escrever, fazer cálculos e falar, sem deixar relatos sobre os seus métodos.

O abade de L'Epée (1755), recolhia os surdos pobres de Paris reconhecendo a necessidade de usar sinais como ponto de partida para o ensino. Primeiro usou gravuras e palavras (Método associacionista); Aprendeu sinais com duas irmãs gêmeas surdas e desenvolveu um método para aproximá-los da língua francesa.

Gallaudet (1815), dá início nos Estados Unidos a implementação da Língua de Sinais na educação dos surdos.

Em 1855 Hernest Huet, professor surdo educado em Paris, veio ao Rio de Janeiro para iniciar o trabalho de educação de surdos e com o apoio de D. Pedro II, fundou o Instituto Imperial de Surdos, denominado hoje como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Nesta época em que a educação dos surdos pendia para o oralismo na França, e Huet trouxe a leitura labial e a articulação da fala.

Em 1878 ocorreu em Paris o Congresso Internacional de Surdos, sem a presença de ouvintes, dando cisão entre surdos e ouvintes.

Em 1940, Myklebust desenvolveu estudos nos quais comparava a percepção, a memória, a personalidade e a maturidade social entre surdos e ouvintes de diferentes idades, encontrando algumas similaridades quantitativas: os surdos apresentam um pensamento de natureza mais concreta do que os ouvintes; personalidade flexível e fraca maturidade social. Considera ainda que estas diferenças devem-se ao fato da ausência de audição que ocasiona alteração física que se projeta e influência negativamente o desenvolvimento do surdo.

Mais recentemente, a necessidade de reflexão sobre a inclusão na sociedade já se manifesta nos idos de hoje em vários locais do Brasil e do mundo, como por exemplo, a Conferência Mundial de Educação para Todos, que ocorreu no ano de 1990 na Tailândia; e a Conferência de Salamanca, que aconteceu em 1994, na Espanha, entre outros, que marcaram o processo de diversidade e de inclusão.

A diversidade nos mostra as diferenças no aspecto físico, psicológico e cultural. A inclusão tem como objetivo enfatizar a igualdade desses aspectos na sociedade.

Na Wikipédia a Inclusão social é um conjunto de meios e ações que combatem a exclusão aos benefícios da vida em sociedade, provocada pela diferença de classe social, origem geográfica, educação, idade, existência de deficiência física ou preconceitos raciais. Inclusão Social é oferecer aos mais necessitados oportunidades de acesso a bens e serviços, dentro de um sistema que beneficie a todos e não apenas aos mais aptos. Inclusão, pela significação de um dicionário, indica uma relação de pertencimento como nós, por exemplo, na sociedade no princípio da igualdade, algo que nos identifica e aproxima das outras pessoas.

A integração tem as deficiências como um problema pessoal atribuído a um cidadão e visa sua manutenção, já a inclusão as considera como um problema social e institucional, a partir dessas teorias, busca-se a interação entre alunos com e sem "deficiências" e professores comuns.

Mesmo o processo sendo lento e haver o perigo de obstáculos, o objetivo é trazer alunos "deficientes" a sala comum da escola comum. Assim adequando a escola a todos e fazendo com que eles pertençam ou façam parte da sociedade como um todo sem restrições ou preconceitos.

A inclusão propõe a modificação da sociedade para torná-la capaz de acolher todas as pessoas. Na educação, as escolas deveriam ser planejadas havendo estruturas direcionadas a essas pessoas, para elas possam desenvolver suas habilidades.

[...] a idéia de integração esteve estreitamente relacionada à utilização do conceito de necessidades educativas especiais. As duas formulações são tributárias dos movimentos sociais de caráter mais global que se consolidaram a parti dos anos de 1960 e que requeriam maior igualdade para todas as minorias que sofrem algum tipo de exclusão. [...] a integração é o processo que permite aos alunos que habitualmente foram escolarizados fora das escolas regulares forem educados nelas. A reflexão situa-se agora nas condições educativas e nas mudanças que é preciso fazer nas escolas regulares e na provisão de recursos para que os alunos com necessidades especiais recebam nelas um ensino satisfatório. Sassaki (1998).

Mesmo sendo mínimas, existem diferenças entre os tipos de "deficiências" e incapacidades. Existem vários conceitos nacionais e internacionais sobre "deficiências". Por exemplo, na definição da Convenção da Guatemala diz que deficiência é: "Restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade exercer uma ou mais atividades da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social".

Segundo Pintner, no início do século XX, os surdos são intelectualmente inferiores aos ouvintes em várias áreas da cognição: inteligência, memória e pensamento abstrato; refere ainda suas dificuldades na compreensão, na comunicação e na inter-relação social.

A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA POR ALUNOS SURDOS

Ao iniciar o processo de escolarização, a criança surda deve ser orientada a prestar atenção ao rosto de quem passa às informações, observando suas expressões faciais e corporais, gestos e sinais. É preciso acompanhar com o olhar determinado objeto ou pessoa indicadapelo professor ou qualquer outra pessoa e retornar ao contato de olho. À proporção que se desenvolve na aprendizagem, espera-se que se comunique com as outras crianças e com adultos usando língua de sinais.

A maior parte das crianças não dispõe de uma língua. Comunica-se por gestos e se fazem compreender com algumas dificuldades. Então a educação infantil deverá criar condições para que elas adquiram a Língua Brasileira de Sinais para daí iniciar sua relação com Língua Portuguesa na modalidade escrita.

Os alunos surdos, visando o aprendizado da Língua Portuguesa, desde cedo devem ser expostos a situações que envolvam a leitura, com o objetivo de desenvolver comportamentos leitores sabendo que a leitura é o modo mais eficaz de se aprender a Língua Portuguesa. Tanto as crianças surdas como as ouvintes devem ter contato direto com livros por conta própria. Para conseguir isso é recomendado a organização de grupos de leitura onde as crianças poderão estar com livros por alguns momentos e escolher algum para levar emprestado.

Além dos livros de história, as crianças surdas, assim como quaisquer outras crianças, devem ter acesso a outros materiais escritos, como revistas em quadrinhos, receitas culinárias e regras de jogo. O professor deverá interpretar o conteúdo dos textos na Língua de Sinais, preocupando-se sempre em atribuir o texto escrito para que as crianças percebam que o que está sendo sinalizado refere-se ao que está escrito.

Macchi e Veinberg apresentam quinze princípios propostos por Schleper (1992) para facilitar o processo de leitura para as crianças surdas, são eles:

1.O leitor surdo traduz a história usando Língua de Sinais. Os sinais, os desenhos e as expressões faciais comunicando o significado da história.

2.O leitor surdo mantém as duas línguas visíveis – as histórias são relatadas na língua de sinais e simultaneamente os leitores surdos fazem referência ao texto escrito.

3.O leitor surdo não se restringe ao texto – ao ler a história, ele expande a informação, isto é, acrescenta detalhes ao que acontece no livro.

4.O leitor surdo conta a história expandindo e vai reduzindo a quantidade de expansões à medida que repete a história. Isto significa que a leitura se realiza num contínuo, que vai do "contar história" para "ler história".

5.É importante seguir a pista da criança – à medida que a leitura da história avança, é importante perceber o interesse da criança e responder a ele, como, por exemplo, apontar palavras correspondentes a sinais específicos.

6.O leitor surdo torna explícito o que está implícito – a informação é ampliada. Ainda que algumas vezes certas palavras não figurem no texto, o leitor pode explicar o conceito.

7.O leitor surdo muda a localização do sinal, podendo realizá-lo sobre a criança ou sobre o livro – modifica-se a localização do sinal para adaptá-la ao campo visual da criança.

8.O leitor surdo varia o estilo de produção dos sinais para adaptar-se à história – os sinais são aumentados, são mais pesados ou mais leves, menores etc.

9.As situações que aparecem no livro se relacionam como situações da vida real da criança – o leitor relaciona conceitos que aparecem na história com o mundo da criança.

10.O leitor surdo usa estratégias para chamar a atenção – é comum que, durante o processo de leitura, a criança olhe para o leitor e depois para a página. O leitor deve continuar sinalizando sem forçar a criança a olhar para ele. Deve deixar que a criança olhe para a página se algo chamar sua atenção, mas, se o leitor deseja explicar alguma coisa, pode tocar suavemente o braço da criança para que ela olhe e continuar a leitura. As crianças surdas sabem usar a visão periférica.

11.O leitor surdo usa contato direto de olho para enfatizar um ponto, deste modo traz a criança para dentro da história.

12.O leitor surdo dramatiza para ampliar os conceitos – às vezes, os simples uso da língua de sinais não é suficiente e é necessário dramatizar parte da história. Se a criança está perdendo interesse, talvez não esteja entendendo a história. A dramatização aumenta o entusiasmo.

13.O leitor surdo usa variação na Língua de Sinais para frases ou palavras repetidas em diferentes contextos – mesmo que algumas palavras se repitam no texto, o leitor surdo pode utilizar diferentes sinais conforme o contexto em que se encontre a palavra.

14.O leitor surdo cria um ambiente positivo para que as crianças surdas aprendam a ler – não localiza os erros das crianças e nem as correções.

15.O leitor surdo espera que a criança se converta em leitor – é importante não forçar a criança a ler só para fins acadêmicos, e sim oferecer-lhe um ambiente de leitura ameno e de acordo com os seus interesses.

As crianças surdas deverão ser inseridas desde cedo em atividades que envolvam a escrita, mesmo que não queiram. O papel do professor é o de intérprete escrevendo na Língua Portuguesa o que as crianças contam em Libras.

As crianças surdas não devem somente fazer atividades de escrita coletiva, devem também ser expostas a atividades diárias de escrita, como elaboração de calendário, de lista de nomes de alunos, de relatos de finais de semana e de outras situações vivenciadas.

As crianças surdas entre 3 e 6 anos aprendem a identificar a escrita do seu próprio nome e também o reconhecem em textos do cotidiano, exemplo, em convites de aniversários, roteiros de atividades do dia e etc. Depois que aprendem a digitar o seu nome, as mesmas passam a relacionar as letras digitadas com a forma escrita.

No final da educação infantil é esperado que as crianças surdas conquistem uma autonomia sobre a escrita do próprio nome e ler e escrever os nomes de seus colegas. Aprendem também a identificar palavras conhecidas escritas pelo professor e localizá-las num texto.

INTRODUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA AOS ALUNOS SURDOS

As três principais abordagens na educação de surdos são:

·Oralismo – visão clínico-terapêutica/proibição da língua de sinais.

·Comunicação total – instauração da nova ordem diante do fracasso do oralismo. A importância de se comunicar seja lá como for.

·Bilinguismo – quebra de paradigma rompendo com o modelo clínico-terapêutico. Enfoque social, cultural e político.

Diferente dos ouvintes, que aprendem a língua portuguesa no dia-a-dia em casa interagindo com familiares e sujeitos do meio em que vive, a maioria das pessoas surdas aprende na escola.Por não ser acessível, a linguagem oral as pessoas surdas são privadas de certas situações das quais os ouvintes podem vivenciar diariamente e que respondem pelo nível de conhecimento, a exemplo de conversas familiares, histórias contadas e etc.

Em decorrência desses pequenos fatos geralmente as crianças surdas chegam às escolas com pouco ou nenhum conhecimento a Língua Portuguesa.

Visando o aprendizado da língua portuguesa oral, o professor faz a exposição das palavras aos surdos e o uso destas palavras em frases completas, as primeiras de uma forma bem simples facilitando assim a compreensão, depois alongando-as e deixando-as mais complexas.

Através de exercícios de substituição e repetição, espera-se que os alunos surdos memorizem as frases trabalhadas e comecem a usá-las.

O mesmo método é usado no ensinamento da língua português escrita. O educador seleciona palavras que contêm as sílabas que querem focar e trabalhar inicialmente a linguagem oral, apoiado do concreto, e depois a linguagem escrita utilizando figuras para ajudar a percepção.

Após o aprendizado de algumas palavras o educador cria atividades que desenvolvam frases, com bases nas palavras e frases já trabalhadas.

Inseridos no ensino da Língua Portuguesa sistematizada e padronizada, apesar de muitos alunos surdos se utilizarem de frases gramaticalmente corretas, na maioria das vezes escreve frases estereotipadas com formas mecânicas e previsíveis, frases desorganizadas ou desestruturadas, faltando elementos de ligação, flexões, acentuação e etc. como se a língua portuguesa fosse aprendida mecanicamente sem entender seu funcionamento.

Os surdos são considerados inaptos pelo fato de não ouvirem e nem entenderem o que lêem, portanto, apresentam dificuldades no uso da língua majoritária. Esta forma de ensino, dando ênfase ao código da língua predominou também nas aulas de línguas estrangeiras.

Martins – Cestaro (1999) apresenta uma retrospectiva das metodologias comumente empregadas no ensino do Francês como língua estrangeira. Nela fica evidente que, até a década de 80, se dava ênfase ao código da língua com algumas variações, todas as metodologias tinham como objetivo que os alunos dominassem a morfologia e a sintaxe da língua.

Para isso, submetia-se os alunos ao ensino gradual de estruturas frasais, por meios de exercícios estruturais. Os alunos repetiam as estruturas apresentadas na sala de aula, visando memorização e uso. Com base nos princípios da teoria comportamental de Skinner, a aquisição de uma língua era considerada um processo mecânico de formação de hábitos, rotinas e automatismos.

Assim como aos alunos surdos, a passagem dos exercícios dirigidos pelo professor ao uso espontâneo pelos aprendizes de língua estrangeira raramente acontecia.

A tarefa do professor não é corrigir o aluno visando à adequação morfossintática, mas ser interlocutor ou mediador entre o texto e a aprendizagem que vai se concretizando nas atividades em sala de aula.

Sua preocupação deve ser a de inserir os alunos em atividades discursivas, como diálogos e textos, e não vocábulos isolados, para que eles possam se constituir como leitores, que atribuem sentido ao que lêem e como escritores, que produzem diferentes gêneros e tipos textuais. A prioridade do professor deve ser inicialmente o uso da língua pelo aluno e não só o conhecimento das regras.

A gramática é trabalhada não com o objetivo de que os alunos memorizem as regras, mas como ferramenta para que compreendam o funcionamento da língua portuguesa, o professor poderá sistematizar a gramática, o que deverá se dar sempre com base no texto.

Geraldi (1996), ao se referir ao ensino da língua português, destaca que ele deveria centrar-se em três práticas: na leitura de texto, na produção de textos e na análise lingüística. Segundo ele, a prática de análise lingüística, inclui tanto o trabalho sobre questões profissionais da gramática quanto sobre questões amplas sobre o texto, que deverá ser feitos tendo como base as produções dos alunos. O objetivo é a revisão do texto pelo próprio aluno.

Assim como no ensino da língua estrangeira, também no ensino da língua portuguesa para os alunos surdos, a meta é o uso da língua e não a repetição e memorização.

Tendo como foco o uso da língua portuguesa, os alunos surdos são submetidos tanto a leitura como a produção de diferentes gêneros e tipos textuais, que devem ser vivenciadas primeiramente na Língua Brasileira de Sinais, sua primeira língua. Mas para que isso ocorra à escola deve proporcionar o ensino de Libras pelo aluno para que, com essa base o conhecimento da língua portuguesa.

A LÍNGUA PORTUGUESA COMO SEGUNDA LÍNGUA PARA SURDOS

O reconhecimento de que a língua de sinais possibilita o desenvolvimento do surdo em todos os aspectos, tem levado nos últimos anos muitas instituições a usarem o modelo bilíngüe na educação dos surdos.

Sabemos que para os surdos, há uma grande dificuldade, pois a grande maioria ao entrar na escola não tem conhecimento de nenhuma língua, uma vez que suas famílias faziam o uso da linguagem oral inacessível à criança surda quando geralmente não conhecem nem a língua de sinais.

Geralmente, é na escola, que as crianças surdas têm acesso a língua brasileira de sinais e a língua portuguesa e sua forma escrita.

Como a língua portuguesa é considerada a segunda língua para os surdos, espera-se que o seu aprendizado seja intermediado pela língua brasileira de sinais.

Segundo Svartholm (1998), a aprendizagem da língua de sinais pelas crianças surdas traduzindo textos e mensagens escritas é uma base muito importante para o aprendizado da língua portuguesa escrita, e diz ainda que, para uma criança surda a melhor forma de fazer com que os alunos tenham uma melhor assimilação é interpretar os mesmos na língua de sinais. O professor deve não só traduzir textos na língua de sinais, mas também explicar e esclarecer sobre a construção dos textos. Deve-se esclarecer o conteúdo dos textos mostrando seu significado nas duas línguas.

Tovar (2000), diz que a leitura como fonte informação é muito importante para que a criança surda adquira a língua majoritária. A ênfase deve estar em ler e não em ensinar a ler. Falar sobre gramática e seu funcionamento só devem ser citados quando a criança solicitar, deixando a sistematização para quando houver um maior conhecimento da criança.

Propõe-se que a criança surda seja apresentada à literatura infantil e outras formas de uso da linguagem escrita no pré-escolar como exemplo podemos citar, escrever listas de compra e cartas ou cartões postais para amigos e parentes.

Pereira (2005) destaca a necessidade dos alunos com deficiência auditiva de lerem muito, sabendo que a leitura é a principal fonte de conhecimento da Língua Portuguesa. É necessária também a companhia do professor para essas leituras, pois o mesmo terá de explicar ao aluno o texto de acordo com a língua brasileira de sinais e também responder questionamentos sobre como funciona a Língua Portuguesa escrita, quando o aluno necessitar.

Essas leituras não servem somente para alunos surdos, servem também para crianças ouvintes e para alunos de línguas estrangeiras, pois eles apesar de estarem aprendendo coisas diferentes necessitam de fazer leituras de textos e não simplesmente trabalhar com palavras isoladas.

Fulgêncio e Liberato (2001) observam que, para a compreensão da leitura, o que interessa não é a identificação do significado isolado de cada palavra, mas sim a depreensão do conteúdo e da significação da palavra naquele contexto. Sem a montagem de um sentido coerente para o texto, o leitor torna-se altamente dependente das informações presentes no texto. É o conhecimento anterior sobre a língua e sobre o mundo que permite ao leitor, à medida que vai montando o sentido do texto, fazer previsões e inferências, bem como reduzir o numero de palavras viáveis em cada contexto e prever o significado, prescindindo da decodificação de cada elemento individual do texto.

Os objetivos da leitura são elementos que devem ser levados em conta quando se trata de ensinar as crianças a ler e a compreender. Assim diz Solé (1998), quando lembra que é tarefa do professor tenham um maior interesse e condições de entender o que lêem.

Embora Fulgêncio, Liberato e Solé citem os alunos ouvintes, as mesmas formas de ensinamentos devem ser aplicadas no ensino da Língua Portuguesa aos alunos surdos.

Lane, Hoffmeister e Bahan (1996) enfatizam a importância dos textos como fonte de conhecimento e dizem que, quanto mais se lê maior é a amplitude e a profundidade do que se pode entender.

PRINCIPIOS BASICOS DO ENSINO DA LINGUA PORTUGUESA PARA ALUNOS SURDOS

O ensino da Língua Portuguesa para alunos surdos deve levar em consideração que a surdez dificulta, mas não impede o aprendizado da Língua Portuguesa pelos mesmos. As dificuldades que os alunos surdos geralmente apresentam na escrita não decorrem da surdez, mas do pouco conhecimento que tem da Língua Portuguesa.

A Língua Portuguesa é considerada a segunda língua dos surdos, por isso existe a necessidade do aprendizado de sua primeira língua, a língua brasileira de sinais. O aprendizado da Língua Portuguesa como segunda língua é um direito do aluno surdo, imposto pelo Decreto Federal nº5626, de 22 de dezembro de 2005.

O ensino da Língua Portuguesa na escola deve contemplar a modalidade de escrita que, por ser acessível à visão, é considerada fonte necessária para que o aluno surdo possa construir seu conhecimento sobre a Língua Portuguesa. O processo de aprendizado da Língua Portuguesa pelos alunos surdos é mais demorado e não chega aos mesmos resultados que os alunos ouvintes.

ORIENTAÇÕES DIDATICAS GERAIS

Oprojeto pedagógico da escola para surdos deve possibilitar o acesso ao mundo pela visão, o que inclui a Língua Brasileira de Sinais, língua portuguesa na modalidade escrita, o uso de imagens e de outros recursos visuais.

A Língua Brasileira de Sinais possibilita as crianças surdas atingirem os objetivos propostos pela escola, inclusive o aprendizado da Língua Portuguesa na modalidade escrita.

É com a leitura que os alunos surdos irão criar suas hipóteses sobre o funcionamento da Língua Portuguesa, essas hipóteses serão testadas à medida que essas crianças tenham acesso às atividades que envolvam a escrita. Primeiro elas terão que aprender aquilo que está expresso na Língua de Sinais e depois usá-lo na Língua Portuguesa escrita.

Na medida em que vão ampliando seu conhecimento da escrita as crianças surdas vão melhorando suas idéias as quais não tem interferência de sons.

Fernandes (2003) observou que as crianças surdas, quando aprendem a escrever, apresentam trocas de letras, espelhamento, formação de palavras por associação, enfim todos os fenômenos observados na escrita de crianças ouvintes. No entanto, observou em seus dados, substituições de "S" por "Z", tão comuns na escrita de crianças ouvintes no início do processo da escrita.

É fundamental que as crianças surdas tenham acesso visual a Língua Portuguesa para aprendê-la, o que significa que a leitura não se restringe a apresentação na Língua de Sinais do conteúdo do texto escrito.

A criança surda precisa ler, pois é através da leitura que ela irá aprender a estrutura e a gramática da Língua Portuguesa. O professor deve propor diariamente atividades de leitura, envolvendo textos de diferentes tipos e gêneros.

Espera-se do aluno surdo que tenha freqüentado a educação infantil o conhecimento sobre a Língua Brasileira de Sinais e o seu uso em diferentes situações comunicativas, na interação com adultos e colegas surdos, e também que seja capaz de relatar acontecimentos vivenciados ou histórias que lhe foram contadas.

Em ralação a Língua Portuguesa, é esperado que os alunos surdos já saibam ler e escrever seu nome, os nomes dos colegas e palavras com as quais estejam mais familiarizados.

Segundo Macchi e Veinberg, desde o início o aluno deverá ter contato com textos que exprimam idéias com as quais possam identificar-se e que encontre mensagens dirigidas a diferentes leitores.

A elaboração de objetivos na Língua Portuguesa para alunos surdos no ensino fundamental não pode desconsiderar que, diferentemente dos alunos ouvintes, os surdos chegam à escola sem conhecimento da Língua Portuguesa no qual possam se basear na constituição da leitura e da escrita. Nesse sentido, pode-se afirmar que, para a maior parte dos alunos surdos que entram no ensino fundamental, aprender a ler e a escrever significa aprender uma língua.

Desde o início do ensino fundamental, os alunos surdos devem ter acesso a materiais escritos de diferentes gêneros e tipos textuais para que ampliem o seu conhecimento lingüístico e textual de forma a poderem compreender e produzir textos na Língua Portuguesa.

Visando o aprendizado da Língua Portuguesa na modalidade escrita a escola deverá, organizar um conjunto de atividades que, progressivamente, assegure ao estudante surdo: Utilizar a linguagem escrita na leitura e na produção de textos escritos de modo a atender às múltiplas demandas sociais e a responder a diferentes propósitos comunicativos e expressivos.

Poder utilizar a linguagem escrita para estruturar a experiência e explicar a realidade, sabendo como proceder para ter acesso às informações contidas nos textos, compreendê-las e fazer uso delas, reconstruindo o modo pelo qual se organizam em sistemas coerentes e sendo capaz de operar sobre o conteúdo representacional dos textos, identificando aspectos relevantes, organizando notas, esquemas etc.

Analisar criticamente os diferentes discursos, inclusive o próprio, desenvolvendo a capacidade de avaliação dos textos: Contrapondo sua interpretação da realidade a diferentes opiniões; Inferindo as possíveis intenções do autor marcadas no texto; Identificando e representando juízos de valor tanto sócio-ideológicos (preconceituosos ou não), quanto histórico-culturais (inclusive estéticos) associados à linguagem e a língua; Reafirmando sua identidade pessoal e social. Refletindo sobre o funcionamento da Língua Portuguesa.

A ampliação nas possibilidades de compreensão e uso deve ser acompanhada, por um aprofundamento na reflexão sobre o funcionamento da Língua Portuguesa, o que vai contribuir para o aprimoramento das habilidades de leitura e da escrita por parte dos alunos surdos.

ORIENTAÇOES METODOLOGICAS E DIDATICAS

Até recentemente (e ainda hoje em muitas escolas), no ensino da Língua Portuguesa, os professores conduziam os alunos surdos no aprendizado selecionando palavras e frases que deveriam ser exercitadas de forma a serem memorizadas. O objetivo era o conhecimento das regras gramaticais da língua.

Assim como se propõe para os alunos ouvintes, ao planejar seu curso, o professor deve levar em conta, primeiro, o perfil de sua classe: quem são os alunos, quais são seus hábitos culturais, interesses e principalmente, as capacidades lingüísticas e discursivas que eles dominam.

A Língua Brasileira de Sinais, como primeira língua dos alunos surdos, tem papel especial no aprendizado da Língua Portuguesa, segunda língua, já que é, por meio dela, que o professor poderá não só avaliar seus conhecimentos prévios, como ampliar este conhecimento, contribuindo para aprimorar suas habilidades.

A avaliação da Língua Portuguesa, no ensino fundamental, deve funcionar como instrumento de investigação do qual o professor lança mão para acompanhar o processo de aprendizagem com finalidade de saber se estratégias utilizadas estão tendo o efeito esperado, observar as dificuldades que os estudantes surdos apresentam e direcionar suas intervenções de modo a dar respostas eficientes às questões que surgem.

Na sala de aula, o professor é um pesquisador que investiga as variáveis que contribuem com o processo de aprendizagem de seus alunos, constrói e testa opções de ensino e avalia a eficácia dos métodos. Por isso, um dos procedimentos mais importantes no trabalho do professor é a observação, e para isso é preciso que o mesmo tenha critérios claros e precisos.

CONSIDERAÇOES GERAIS

As dificuldades enfrentadas pelos alunos no processo de aprendizado da Língua Portuguesa tem sido tão grande e os resultados são insatisfatórios, pois muitas vezes eles desanimam, considerando-se incapazes de aprender. É como se, independentemente da modalidade, a Língua Portuguesa fosse inacessível aos alunos surdos.

O objetivo do ensino da Língua Portuguesa para alunos surdos é formar indivíduos capazes de ler com compreensão e se expressar por escrito de forma a ser compreendido pelo leitor.

Toda criança quando inicia sua aprendizagem necessita de acompanhamento do professor, que vai utilizar diferentes formas de ensino. O professor de Língua Portuguesa, assim como em todas as disciplinas do currículo, deve ter clareza das expectativas de avanços da aprendizagem o que tornará mais fácil o estabelecimento de critérios de avaliação.

A avaliação deve, portanto pesar sobre a compreensão e expressão que estão sendo ensinados aos alunos surdos. Assim como para os alunos ouvintes, não se trata de saber se ele dominou este ou aquele tópico, mas se o conjunto dessas aprendizagens resultou num uso eficaz da sua comunicação. Faz-se necessário que os alunos surdos ampliem o seu conhecimento sobre a Língua Portuguesa escrita de forma que leiam e escrevam, com grau crescente de autonomia, os gêneros e tipos textuais assim como acrescentem novos gêneros textuais em cada uma das esferas de uso da língua. Assim como para os alunos ouvintes, espera-se que os alunos surdos também façam uso dos gêneros textuais que se referem à esfera publica e profissional.

SOBRE AS AUTORAS

Silvia Regina Silveira Almeida é graduanda em Letras Português na Universidade Tiradentes Aracaju/SE, cursando o 2º período, no segundo semestre de 2009. O presente artigo é resultado de uma pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica, sob co-autoria da professora Maria José de Azevedo Araujo e que visa mostrar os avanços e retrocessos no ensino da língua portuguesa para surdos. E-mail [email protected]

REFERENCIAS

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