Este documento é o relato de uma intervenção que ocorreu durante o segundo semestre do ano de dois mil e onze na APAE de São Leopoldo. A APAE é constituída e integrada por amigos e pais de uma comunidade significativa de pessoas portadoras de deficiência, contando com a colaboração da sociedade em geral, do comércio, da indústria, dos profissionais liberais, dos políticos, enfim, de todos quantos acreditam, apostam e lutam pela causa da pessoa com deficiência. A instituição conta com recursos vindos de convênios e parcerias do governo federal, estadual e municipal. Também se mantém através de festas e promoções organizadas pela entidade, contribuições de sócios, doações da comunidade, empresas e projetos elaborados pela equipe diretiva da instituição. O movimento Apaeano se caracteriza por ser uma sociedade civil, filantrópica, de caráter cultural, assistencial e educacional com duração indeterminada, congregando como filiada as APAES e outras entidades congêneres. A associação de São Leopoldo atende atualmente 196 pessoas com deficiência. As atividades são realizadas em equipe interdisciplinar clínica e pedagógica.

A proposta de intervenção surgiu das observações realizadas na escola, dentro das salas de aula, das conversas com os professores e com os profissionais da clínica. Notou-se que se fazia necessário para esses profissionais, os professores, um espaço que forneça um suporte para a reflexão de vários assuntos que permeavam uma questão maior, a inclusão escolar, que é tão comentada e estudada atualmente e que, durante as conversas informais que tive com os educadores, foi muito comentada e criticada. Percebi que esses profissionais precisavam de um espaço para que pudessem depositar seus pensamentos, suas dúvidas, críticas, que pudessem ser escutados e que pudessem dividir com seus colegas um pouco dessa ansiedade sobre tudo o que está se falando e acontecendo.

Originalmente o projeto pretendia oferecer aos professores um espaço de escuta sobre a inclusão escolar. Ocorreram alterações devido a mudanças dentro da instituição não previstas anteriormente. O projeto original previa dez encontros com duração de quarenta e cinco minutos ocorrendo quinzenalmente. Para que o projeto fosse realizado, os encontros passaram para trinta minutos e ocorreram apenas seis encontros com as quatro professoras que trabalham diretamente com os alunos, o professor de artesanato, o professor de educação física, duas terapeutas ocupacionais, a coordenadora pedagógica e, a partir da terceira reunião, a assistente social, que é a coordenadora da clínica.

Além dos encontros com os professores, participei do grupo pedagógico coordenado por uma professora, com quatro alunos durante as quintas-feiras; desenvolvi com um grupo de cinco alunos que estão saindo para o mercado de trabalho um momento de reforço sobre questões de informática; participei em encontros mensais, organizados pelo setor de psicologia e pela estimulação precoce, com famílias que possuem um portador com Síndrome de Down, discutindo assuntos diversos como características da síndrome, mas também discutindo assuntos como limites, a importância do brincar para o desenvolvimento da criança, assuntos que permeiam a infância; estive presente nas reuniões de equipe, direcionada à clínica e que ocorrem semanalmente, e nas reuniões gerais, com toda a instituição e acontece bimestralmente; participei de encontros bimestrais com as psicólogas das APAES da região, para trocarmos experiências sobre os trabalhos que são feitos em cada instituição.

PROCESSO DE INTERVENÇÃO

 

1º ENCONTRO: CONHECENDO OS PARTICIPANTES

A chegada foi tranquila. Os professores ficaram entusiasmados quando me encontraram na sala para começar a intervenção. Nesse primeiro contato lancei uma pergunta para eles: O que vocês estão percebendo da inclusão escolar? Para minha surpresa, passei os trinta minutos da minha intervenção sem falar nada, somente ouvindo a discussão que a pergunta gerou.

Todos querem saber como se dará essa transição, porém ninguém sabe ao certo essa resposta. A dúvida maior é se a escola se mantém aberta ou fechará. Primeiro a ordem foi de que as escolas especiais fechariam e todas as crianças seriam incluídas na rede regular, agora o que se tem é que se a escola é regulamentada, como a escola da APAE de São Leopoldo, continua aberta. Se acontecer de as escolas especiais fecharem, elas se tornaram centros de apoio para as escolas regulares, mas não existe lei para o fechamento. Se a escola da APAE fechar, todos os alunos serão matriculados na rede regular, mas a instituição atende muitos adultos e uma das dúvidas é como será procedido com essas pessoas, pois a idade escolar obrigatória é de seis anos até dezessete, o que farão com os alunos que não estão mais nessa faixa etária ainda não se sabe.  A APAE defende o direito de escolha da família, de optar por matricular o filho na escola que quiser.

A inserção no grupo foi boa, tranquila, bem aceita. O fato de um membro da clínica decidir trabalhar com os professores os deixou motivados, e isso ficou expressado em suas falas como “então alguém lá de cima desceu pra cá”, essa fala se deve por uma divisão física da instituição, a escola está localizada no andar térreo e a clínica no andar superior. Porém, eu era a representação do novo, do ameaçador, da inclusão que está batendo na porta pedindo entrada e que não se entende ao certo como isso acontecerá, mas precisa ser conhecido. E conforme Pichon-Rivière (1998, p. 215) “o conhecimento, como situação nova, implica a exigência de uma adaptação ativa à realidade, ou seja, a uma reestruturação dos vínculos do sujeito”. Refletir, questionar, pesquisar sobre a inclusão escolar e tentar trazê-los para uma discussão permeada por suas práticas, para entender que mesmo dentro de uma escola especial é preciso acontecer a inclusão.

 

2º ENCONTRO: A FAMÍLIA

Nesse segundo encontro, a proposta foi entender um pouco como as famílias que tem filhos na escola APAE estão pensando, ouvindo e falando sobre inclusão, através das vozes dos professores. Essa foi um dos encontros mais produtivos, pois através “da fala” dos pais os professores falaram um pouco de si, indiretamente. Alguns alunos de comunicação realizaram um projeto na instituição, onde durante quatro sextas-feiras os alunos levaram pra casa um semanário, com um pequeno texto introdutório e algumas perguntas para serem respondidas e trazidas na semana seguinte, cada semana com um tema. Um desses temas foi a inclusão escolar. A partir dessas respostas, fizemos uma reflexão.

Muitos pais acham que a inclusão é válida, pois desde pequenos as crianças vão conviver com as diferenças, aprenderam a respeitar e não ter, ou diminuir, os preconceitos. Acreditam que todas as crianças tem o mesmo direito, seja ela deficiente ou não. Também há, perante a sociedade, o rotulo por estudar na APAE. Alguns acham que a inclusão depende de com que aluno será feito, pois poderá ou não dar certo.

Outros pais, porém, são contra a inclusão por acreditarem que as escolas não estão preparadas. Eles percebem que as escolas tem muito a se fazer para poder incluir as crianças com necessidades especiais. Precisam de adaptações na estrutura física e profissional. Se não há esse preparos os alunos são excluídos, pois muitos professores não sabem como lidar com as deficiências. A maioria desses pais que se mostraram contra a inclusão são famílias que tentaram colocar os filhos em escolas regulares e por fracasso voltaram para APAE.

De uma coisa, os professores são unanimes: é preciso fazer algo para os pais. Fazer reuniões para acalmar os ânimos e ver como os pais estão. Só que para isso a instituição tem que ter uma posição a respeito, mas ela está com “um pé atrás” com a lei, estão postergando um posição. A diretora acredita que essa lei está fadada ao fracasso, pois foi feita em gabinete sem conhecer as reais condições de ensino, e que isso vai ser visto com o passar dos anos. O medo dela é de que aconteça o mesmo que há anos atrás, quando existiam as classes especiais, onde se depositavam os alunos denominados de difíceis e ali se deixavam. A coordenadora pedagógica acredita que do jeito que estão se levando, uma hora a inclusão será imposta. Ela acredita que primeiro deveria ter sido feito a preparação, equipando as escolas, capacitando os professores que querem trabalhar com a inclusão, depois começar a inclusão de fato.

Percebi que nesse momento, os professores se sentiram a vontade para expressar seus próprios sentimentos, amparados pelo fato de estarmos falando das famílias dos alunos e não deles diretamente. Segundo Barros (2009, p.231) “a implicação não é uma questão de vontade, de decisão consciente. Ela inclui uma análise do sistema de lugares, o assinalamento do lugar que ocupa, que busca ocupar e do que lhe é designado ocupar com os riscos que isso implica”. Assim, falando da aversão que os pais dos alunos tem pela inclusão escolar, indiretamente eles falam da sua própria aversão e de como isso os angustia, não correndo o risco de exporem seus pensamentos, medos e incertezas perante seus colegas, a coordenadora pedagógica e eu.

 

3º ENCONTRO: ATIVIDADES DE INCLUSÃO

Durante esse encontro, uma das terapeutas ocupacionais trouxe varias atividades para inclusão para compartilhar com os colegas. Para meu espanto, esse foi o encontro em que, todos os profissionais, menos falaram. Ela trouxe atividades que trabalham percepção, esquema corporal, movimentos, orientação espacial, olfato, atividades de vida diária (AVD), atividades de inclusão e adaptação escolar. Uma atividade muito interessante apresentada é a bocha adaptada, usada com cadeirantes.

Porém, os professores permaneceram calados. Percebi que isso aconteceu porque as falas atingiam diretamente a eles, no modo como eles trabalham com os alunos em sala de aula. A “ameaça” foi real, pois naquele momento estavam falando do jeito como eles lidam com os alunos, então se fecharam e não permitiram uma troca satisfatória, não se abriram para as sugestões que eram apresentadas. Percebi uma transferência negativa, como se minha presença naquele momento fosse uma ameaça ao modo como eles trabalhavam, como se eu questionasse a prática deles ou estivesse ali para dizer como tinham que proceder com os alunos. Segundo Pichon-Rivière (1998) a transferência precisa ser entendida como a manifestação de sentimentos inconscientes e indicam uma reprodução estereotipada de situações. Segundo o autor “esta reprodução está a serviço da resistência à mudança, da evitação de um reconhecimento doloroso, do controle das ansiedades básicas (medo da perda, medo do ataque)” (p. 215).

 

 

4º ENCONTRO: A LEGISLAÇÃO

Esse encontro foi dedicado a conhecer a Declaração de Salamanca, de 1994, um dos primeiros documentos sobre a educação inclusiva. Algo que gerou discussão foi o que diz “Nós congregamos todos os governos e demandamos que eles: adotem o princípio de educação inclusiva em forma de lei ou de política, matriculando todas as crianças em escolas regulares, a menos que existam fortes razões para agir de outra forma [...]”, pois isso deixa espaço para a interpretação de o que é fortes razões. Fica para cada um entender o que seria uma forte razão para não matricular uma criança na escola regular. As leis nunca são impositivas, não existe legislação que diga que deve, elas sempre servem para orientação. A nossa legislação maior, a Constituição de 1988, trás que não se pode ferir a dignidade de uma pessoa, então até que ponto a inclusão não vai expor essa pessoa. Os termos são sempre amplos, cabe a cada escola definir o que se encaixa nas necessidades especiais. Mesmo que esteja em lei ainda há muita dificuldade na prática em lidar com as deficiências.

Um meio passo muito importante é trabalhar a subjetividade do professor. Varias escolas possuem sala de recursos, para alunos inclusos, mas para ter direito a sala é preciso ter comprovado, com o número do CID, a deficiência da criança. Uma fala interessante, de uma terapeuta ocupacional, foi “se for dar CID pra todos, todos nós teríamos pelo menos um”. A lei da inclusão existe desde 2008, mas na prática ainda está engatinhando. A coordenadora pedagógica acredita que é preciso fiscalização. Como essa é uma lei que mexe com uma cultura implícita, é preciso primeiro a conscientização para depois começar a fiscalização. Como já se passou muito tempo desde a implantação da lei, agora seria o momento de iniciar a segunda parte. As instituições vão se acomodando, quando começarem a fiscalizar, vão começar a correr para fazer as mudanças.

Percebi que apesar de não falarem muito, eles se interessam muito pelo assunto, pois entendendo um pouco da legislação fica mais fácil compreender o que está acontecendo e como está acontecendo. Segundo Barros (2009, p. 207 e 208)

“O trabalho com grupos se dá na superfície, porque está aberto às conexões, porque se põe como catalisador de devires que insistem em se expressar. Não se busca a profundidade no trabalho com grupos, no sentido de uma caça ao tesouro perdido. Busca-se a criação de vastas dimensões onde o desejo possa se expressar, se conectar”.

 

Assim, trabalhando com o grupo na superfície da legislação sobre a inclusão escolar, pude perceber que isso está influenciando o modo como cada um dos componentes lida com esse assunto. Trazendo para o conhecimento coisas que eram apenas dúvidas e medos, é possível prepará-los para melhor enfrentar as situações que acontecerem futuramente.

 

5º ENCONTRO: A LEGISLAÇÃO (CONTINUAÇÃO)

Seguindo com o assunto legislação, nesse encontro vimos recortes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, de 2007 e a posição do movimento Apaeano, também de 2007. Nessa reunião, por motivos de trabalho, a assistente social não participou.

Sobre a Política Nacional de Educação Especial, a grande questão foi de que apesar de estar na legislação, as coisas não acontecem, e se acontecem, são de forma distorcida. Acabamos pegando o caminho da legislação em geral, o que está acontecendo a nossa volta, não precisando ser necessariamente sobre inclusão escolar. Um exemplo que foi dado é das rampas para acesso aos cadeirantes. Muitos fazem só para ganhar a liberação, mas não seguem as normas de inclinação, acontecendo que, mesmo tendo rampa, os cadeirantes não conseguem usá-la por ser muito inclinada. A grande queixa é a falta de fiscalização e as exceções que existem para as leis. Eles se questionam para que existe legislação se é tão fácil contorná-la, fazer mal feito porque é fácil obter regulamentação mesmo estando incorreto, não faz porque suborna um fiscal e ele libera a obra, porque depois que está pronto não podem mexer. Quem conhece “as manhas”, como disseram, da um jeitinho. Foi discutida também a corrupção, como queremos cobrar dos cidadãos que tenham postura ética se elegemos políticos que roubam descaradamente.

Sobre a posição do movimento Apaeano, que defende o direito da família escolher onde matricular seu filho, eles vêem que o mais complicado enquanto instituição é que não se tem uma posição definida sobre o assunto. Há o medo de ir deixando e, se for decretado o fechamento das escolas especiais, terem que fechar e se mobilizar para transformar em centro de apoio, como também tem o medo de ocorrer o contrario, de se mobilizar para a mudança e não ser necessário fechar. Todos estão preocupados com o rumo que essa lei irá seguir, pois eles vêem que a legislação, na prática, não está funcionando.

Nessa reunião, todos trouxeram muitas experiências vividas ou conhecidas. A percepção de que não só a respeito da lei sobre inclusão escolar, mas também sobre toda a legislação. Percebi que nesse momento eles se dispuseram a discutir sobre essas e outras questões, tentando entender mais sobre esse processo. Segundo Pichon-Rivière (1998, p. 134) “as finalidades e propósitos dos grupos operativos podem ser resumidos dizendo-se que sua atividade está centrada na mobilização de estruturas estereotipadas por causa do montante de ansiedade despertada por toda mudança”. Assim, conhecendo mais a proposta da legislação e entendo os métodos, as mudanças que a inclusão escolar implicará não serão mais um mundo obscuro, tão ameaçador e distante desses profissionais.

 

6º ENCONTRO: ENCERRAMENTO

Nesse último encontro não participaram a assistente social, uma das terapeutas ocupacionais e o professor de educação física. Foi realizada uma técnica para finalização do trabalho. Com um papel pardo, pedi que eles escrevessem como foi todo o processo de discussão sobre a inclusão escolar, qual a opinião deles sobre a intervenção que realizei. Durante um tempo todos permaneceram calados, até que a terapeuta ocupacional falou sobre uma frase que ela leu e que achou interessante: “a maior discriminação que existe é tratar as pessoas diferentes como iguais a todo mundo, principalmente nos espaços educativos, o olhar tem que ser diferenciado”, pois mesmo a educação sendo a mesma, os métodos serão diferentes, a atenção será diferenciada, as necessidades serão outras. Os professores falaram que apesar desse assunto estar sempre sendo falado, seja em uma festa, no momento do recreio, em alguma experiência que um colega passou, esse espaço foi importante, pois permitiu que o assunto fosse discutido diretamente. A coordenadora pedagógica acredita que a intervenção foi válida, pois podemos passar por diversos ângulos da inclusão escolar, vendo a posição dos pais, a legislação, coisas que, segundo ela, “na correria do dia-a-dia, das reuniões não se consegue falar”.

O grupo permaneceu muito silencioso durante esse momento. Percebi que durante todos esses encontros, não só nesse último, isso aconteceu. Muito pela ameaça real que a questão da inclusão escolar em seus trabalhos, muito pelo fato de alguém de fora do grupo já instituído se inserir nesse contexto e propor modos novos de ver e refletir esse assunto. Fazê-los refletir sobre algo que para eles é tido como ameaçador e fadado ao fracasso, como foi dito pro eles uma vez, e tentar trazer para o grupo os sentimentos e angústias foi complicado, pois esse processo passa pelas resistências individual e grupal. Segundo Barros (2009, p.231) “a intervenção estará associada à construção e/ou utilização de analisadores [...]. Os analisadores seriam acontecimentos – no sentido daquilo que produz rupturas, que catalisa fluxos, que produz análise, que decompõe”. Um analisador interessante dessa intervenção apareceu a partir da entrada da assistente social, coordenadora da clínica, nas reuniões, momentos em que o grupo se fechou em si e não permitiu acesso para discussões. Foram ocasiões em que as intervenções propostas menos deram resultados, pois a presença dela trouxe a preocupação de que o que fosse discutido seria levado para a diretora da instituição, pois ela é vista como os olhos e ouvidos da diretora na instituição.

ANÁLISE DE IMPLICAÇÃO

             Por ser meu primeiro contato prático com o fazer psicológico, sentimentos como medo, angústia, desconforto frente a situações novas conviveram, durante esses dois semestres, comigo. Sem saber ao certo como seria essa experiência, procurei absorver o máximo de conteúdo de cada momento que passei dentro da instituição. Por isso, a cada situação era preciso parar e analisar minha postura, meus pensamentos, meus sentimentos, meus objetivos e metas.

Sempre tive abertura para expor minhas dúvidas e meus desejos. Pude circular pela instituição para observar e desenvolver meu projeto de intervenção e este foi bem aceito, apesar de nem sempre poder ser desenvolvido conforme o planejado. Mesmo tendo ocorrido mudanças que me fizeram modificar alguns tópicos do meu projeto, os professores nunca rejeitaram a possibilidade de minha inserção nas reuniões pedagógicas. Mesmo lento e pouco visível, essa intervenção trará aos que participaram a visão de diversos ângulos da inclusão escolar. Se fosse possível manter esses momentos, acredito que isso traria mais confiança e menos preconceitos, pois estariam melhores informados. Em seis encontros não foi possível desenvolver o assunto de forma tão densa e detalhada quanto seria preciso, mas todo o processo de mudança precisa ter um início.

Além de meu projeto de estágio básico, participei de diversas atividades que contribuíram para que eu pudesse aprender interdisciplinarmente a fazer psicologia. Dentro das reuniões de equipe, discutindo casos e avaliações, ouvindo através dos diversos profissionais que ali atuam, como promover saúde e bem-estar aos usuários do serviço e seus familiares. Nas reuniões com familiares de síndrome de down, pude desmitificar muitos pré-conceitos que eu tinha e conhecer mais sobre diferenças e semelhanças que envolvem a síndrome. No grupo pedagógico, que no início me trouxe tanto medo e insegurança (pois o grupo é composto por um menino autista clássico, dois meninos que apesar de terem diagnostico de autismo, há dúvidas sobre esse diagnostico e por um menino com uma síndrome rara, cujo nome não sei), pois nenhum dos integrantes fala e que quase não havia interação com os outros , com a professora e com o ambiente, termino meu estágio e minha participação no grupo tendo conseguido interagir com os meninos de forma gradual e continua e pude observar a evolução que eles tiveram através das atividades desenvolvidas pela professora responsável pelo grupo. O grupo dos 5 alunos que estão indo para o mercado de trabalho foi minha maior e melhor surpresa. Fui sugerida, pela minha supervisora, para ajudá-los nas questões de informática, esses momentos foram além do objetivo inicial. Tornaram-se um espaço para o grupo conversar sobre diversos assuntos relacionados ao curso profissionalizante, expectativas em relação ao futuro emprego e outros assuntos pertinentes a adolescência.

Levo da instituição a experiência do convívio em equipe, do trabalho interdisciplinar. O aprendizado que tive através de minhas experiências e através das trocas com minha supervisora e com meus colegas de trabalho. Os momentos de supervisão contribuíram para meu crescimento profissional, para me mostrar caminhos que, às vezes, ficavam difíceis de enxergar. Espero ter deixado na instituição uma experiência de fazer psicológico pautado na ética e no respeito ao próximo, contribuindo com o funcionamento e com bom serviço do local. Aos professores, espero que a intervenção possa ser o início de uma caminhada de reflexão sobre a inclusão escolar, e que eles possam continuar com um espaço que se destine a ouvi-los, acolhendo-os para que suas angústias e aflições possam ser esclarecidas ou pelo menos amenizadas. Aos jovens que estão sendo inseridos no mercado de trabalho, espero ter contribuído não só os auxiliando a desenvolver conhecimentos de informática, mas também que esse espaço de aprendizagem e troca tenha servido como contribuição para os futuros empregos e para suas vidas.

REFERÊNCIAS

 

BARROS, Regina Benevides de. Grupo: a afirmação de um simulacro. 2 ed. Porto Alegre: Sulina/Editora da UFRGS, 2009. 350p.

 

BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2007.

 

PICHON-RIVIÈRE, Enrique. O processo grupal. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 239p.

 

Site da APAE.