RUBEMAR ALVES

Num certo momento de instabilidade política, há algumas décadas, dirigentes militares receberam bilhetes em que alguém anunciava cianureto (fala-se modernamente cianeto) a ser colocado em grande quantidade no reservatório de água que abastecia toda a Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Comandos se reuniram daqui e dali, pensa-repensa, tentativa de impedir o ataque seria vi-gi-ar!!! Mas como? Vigiar um a um os carros e ônibus com fácil acesso à ilha pela ponte? Revistar como suspeitos quaisquer pacotes grandes que estivessem chegando? Trouxas de lavadeiras profissionais, malas de camelôs ou de viajantes? Mochilas de escolares e bolsas de mulheres?? Garrafas térmicas e marmitas??? Terra, mar e ar... Como fazer? No mínimo, vigiar praias durante a noite. “Tá bom...” - resolveu-se. Revezamento semanal entre os militares do Ar e os do Mar.

Várias equipes em diferentes locais, sempre. Em determinada noite, antepassado meu ficou de plantão com seu grupo de marujos. Mais parecia trote, porém tendo que ficar atentos! Viram uma luz se aproximando, era de verdade um barco de pescadores voltando para casa e logo se identificaram. Avante! Viram um segundo barco, mesma coisa, companheiros dos anteriores. Vigiar “boatos”? Muita calmaria, radinho de pilha em música suave, alguns começaram a cochilar. Nisto (porque em toda estória o limite é 1-2-3), surgiu uma terceira luz. Não muito rente à água, como se fosse invisível barco bem alto, a luz lá em cima. Os atentos acordaram os companheiros. Juntos, analisaram o que poderia ser... ou não ser... (Nenhum deles se chamava HAMLET.) Num grupo de 10 homens, vencendo a maioria, 7 viram e 3 negaram estar vendo. Nossa Senhora dos Navegantes em vigília noturna? Iemanjá? Netuno? Alma do outro mundo? Arrepio geral quando um deles imaginou disco-voador. E como seriam os habitantes de outro planeta? Descartada esta idéia como irrealidade, dois medalhudos de natação ficaram somente de sunga e se atiraram na água: para disfarçar o medo, fizeram apostas sobre o tempo do percurso. A luz pareceu andar para trás e logo se apagou. Voltaram sãos e salvos, não tragados por sereia ou sequestrados para o espaço sideral.

Pior seria fazer o relatório logo cedo, retornando ao quartel. Na verdade, nada concreto, melhor não dizer nada e resumir o relatório em duas palavras: NOITE CALMA. Pouco? Acontece que o mínimo exigido era de 7 palavras: número cabalístico ou conta de mentiroso? Acrescentaram: O DISCO-VOADOR NÃO ERA DISCO-VOADOR.

F I M