Sigmund Freud, o pensador que deu resposta a muitas das perplexidades humanas, deixou uma pergunta ainda não respondida: afinal, o que querem as mulheres? Nem mesmo as mulheres conseguem elucidar a questão de modo satisfatório. Lutamos pelo direito à igualdade, mas desejamos respeito às diferenças, o que é compreensível.

A situação feminina é objeto de análises nas universidades, organizações não governamentais e unidades de pesquisa, considerando tanto a educação e vida familiar, quanto trabalho, política, saúde reprodutiva, violências sexuais ou domésticas. Disso decorreu o conceito de gênero, sociologicamente construído para diferenciar o papel social e o comportamento feminino da sua caracterização sexual, campo marcado essencialmente pelo estabelecimento das relações de poder, características de cada cultura e época. A complexidade e ambiguidade da sexualidade permeia todo o relacionamento humano e influencia até os perfis epidemiológicos de cada região.

No Brasil, ainda é rara a participação masculina nas tarefas domésticas, mesmo quando a mulher dedica igual tempo ao trabalho fora de casa, mesmo que isso afete a qualidade de vida do casal.

As mulheres lutaram bravamente, até mesmo, em alguns casos, com perda de liberdade e de vidas, para conquistar igualdade de direitos, e sabemos que toda luta ferrenha exige certo nível de radicalização de propostas; não se ganha uma batalha relevando as razões do adversário, mas após a vitória cabe a sabedoria da reflexão e do equilíbrio. Sem considerar a grande parte do mundo que ainda está em trevas, boa maioria das democracias ocidentais já reconhece, pelo menos formalmente, a igualdade de direitos entre homens e mulheres. E grande número de mulheres já usufrui dessa igualdade em termos reais. Mulheres ocupam cargos de direção em grandes corporações, constituem maioria no alunado dos cursos superiores, a presidente de nosso país é mulher e durante a renhida campanha para sua eleição ninguém ousou argumentar que ela não poderia ser eleita por ser mulher. Nesses termos a batalha está ganha, mas não temos visto muita reflexão ou equilíbrio. É como se prevalecessem as condições e a necessidade de pontuar a condição de injustiça, para justificar a injustiça com sinal trocado. Homens e mulheres têm direitos iguais, mas não são, e nem devem ser, iguais.

Evidentemente não se espera que uma mulher renuncie à vida profissional em função da maternidade, os dois aspectos são igualmente importantes, mas é possível ter boa qualidade de vida sem um deles: algumas mulheres renunciam à carreira pela educação dos filhos, e são felizes, outras renunciam a ter filhos, assumindo completamente a vida profissional, e, por absurdo que possa parecer à maioria, são muito felizes também. E, também incrivelmente, é perfeitamente possível conciliar as duas escolhas, havendo equilíbrio, noção de prioridades e boa organização do tempo.

No entanto, hoje algumas mulheres renunciam a vários direitos duramente conquistados, entre eles a licença maternidade em sua integralidade. Agem deste modo por excesso de dedicação ao trabalho, preocupação em perder posição ou desatualização, medo de serem demitidas no final da “folga”, até mesmo para se afastar de obrigações de maternidade que parecem impossíveis de assumir.

Ainda que algumas razões possam ter fundamento, que os riscos sejam concretos, é necessário pensar com cuidado antes de abrir mão de direitos - direitos não usados tomam aparência de privilégio devido à liberalidade e não à correção do empregador. E há o aspecto, muito sério, da influencia que a atenção materna tem no bom desenvolvimento da criança.

À medida que se aprofundam estudos de profissionais de educação e saúde física e mental, mais evidente é a importância da primeira infância para a constituição de uma personalidade equilibrada, estável e saudável. O aleitamento materno por tempo suficiente traz contribuição inegável para a vida sadia, reduzindo, inclusive, sobrecargas futuras nos sistemas estatais ou privados de saúde pública. A criança para quem se conta histórias, e que, por meio delas apreende os primeiros conceitos sobre fatos, pessoas e animais, tenderá a ter comportamento inclusivo, maior facilidade para o letramento e melhor visão de mundo.

A mulher tem o privilégio e a responsabilidade da maternidade e da manutenção da vida e do desenvolvimento físico e emocional da criança, embora a participação do pai seja também essencial para a boa formação. A sociedade que preserva este direito feminino preserva seu próprio futuro.

Wanda Camargo – educadora e presidente da Comissão do Processo Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.