Introdução

A população é um elemento dinâmico que vem se transformando em todos seus componentes – mortalidade, natalidade e migração – de maneira intensa nos últimos anos. Neste contexto, nosso país não fica de fora de tais transformações que interferem de modo incisivo em vários setores da sociedade.

O presente texto, mesmo em estágio inicial, visa abordar a dinâmica demográfica da Microrregião de Cataguases, pertencente à Mesorregião da Zona da Mata Minera, através de uma breve caracterização de sua população utilizando dados dos Censos Demográficos e da Contagem Populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Um olhar em escala microrregional se faz necessário pela possibilidade de inserção na formulação de políticas públicas e também territoriais.

A Microrregião de Cataguases no Contexto da Zona da Mata Mineira

Microrregião de Cataguases é uma das sete que formam a mesorregião da Zona da Mata Mineira, que é composta por 142 municípios e cuja população é de 2.126.597 habitantes - 11,03% da população do Estado de Minas Gerais (19.273.506 habitantes) - segundo dados da Contagem Populacional do IBGE 2007. As outras microrregiões são: Manhuaçu, Ponte Nova, Muriaé, Viçosa, Ubá e Juiz de Fora.

Na mesorregião, o município de Cataguases é o segundo núcleo urbano polarizador, em primeiro Juiz de Fora, polarizando os 13 municípios da microrregião: Santana de Cataguases, Dona Eusébia, Laranjal Palma, Itamarati de Minas, Recreio, Leopoldina, Argirita, Pirapetinga, Santo António do Aventureiro, Estrela D'Alva, Volta Grande e Além Paraíba.

Para compreendermos a microrregião de Cataguases, faz-se necessário debruçarmos um pouco na história da ocupação da Mesorregião. A ocupação da Zona da Mata se deu ao longo dos vales devido ao relevo fortemente ondulado, deixando os topos de morro e as encostas cobertas pela mata. O povoamento só se deu mais tarde, no início do século XIX, devido aos fatores naturais que dificultavam a presença do homem branco – florestas densas e índios hostis quanto à presença do homem branco – e aos fatores políticos – intenção deliberada de manter as condições desfavoráveis na região para evitar o extravio de ouro das mãos do Império (VALVERDE, 1958).

Valverde destaca um ímpeto posterior de ocupação com o início do declínio da exploração do ouro nas Minas Gerais, pois a Zona da Mata passou a receber pessoas que começaram a plantar o café na região. A mancha de ocupação da região proveio de duas direções principalmente: do oeste e do sul, esta muito mais intensa que aquela.

Assim, o cultivo do café foi o fator primordial para a formação da Zona da Mata Mineira, estabelecendo-se nos vales dos rios Pomba e Paraibuna. A demanda para o produto e a disponibilidade de terras férteis, além dos recursos advindos da atividade mineradora foram os fatores responsáveis pela consolidação do cultivo no século XIX.

O início do século XX representou uma fase de bastante prosperidade para a região, com vários surtos importantes de industrialização, principalmente em Juiz de Fora, Cataguases e Leopoldina. A disponibilidade de transporte, energia, crédito e comunicação foram elementos primordiais para o processo de urbanização, industrialização e enriquecimento da região.

Porém, alguns acontecimentos marcantes na economia, como a crise do café, as dificuldades da indústria têxtil e de outros segmentos trouxeram a estagnação econômica para a região. Atualmente, outros fatores dificultam o desenvolvimento e integração, como a situação da rede viária, que prejudica a circulação de pessoas e mercadorias, e a execução de atividades econômicas (ROCHA, 2006).

Nos anos finais da década de 1960, o estado de Minas Gerais agiu com intenção de promover o desenvolvimento socioeconômico do estado através da industrialização. Assim, Minas Gerais utilizou instrumentos de incentivos ficais para a implantação de indústrias com base no atual ICMS (ROCHA, 2006). Criou também instituições que elaboraram e implementaram melhorias na economia mineira, como o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais- BDMG.

As mudanças no processo de formação e estruturação do espaço na mesorregião da Zona da Mata também foram acompanhadas pelas mudanças no âmbito demográfico. A população ao longo das décadas tem apresentado um caráter concentrador no espaço da região. Os municípios de Cataguases, Juiz de Fora, Leopoldina, Manhuaçú, Muriaé, Ponte Nova, Santos Dumont, Ubá e Viçosa concentravam 31,16% de toda população da mesorregião, em 1950, enquanto que, de acordo com o Censo de 2000, os mesmos detinham 48,6% da população total (981.835 habitantes). Em vista das taxas de fecundidade decrescentes em todo o país, podemos atribuir tal concentração à forte mobilidade intra-regional, com as pessoas saindo das pequenas cidades em direção aos centros microrregionais.

"As maiores cidades desta Mesorregião encontram-se, hoje, justamente onde a população rural é mais rarefeita. Várias delas aumentaram suas populações devido ao afluxo de mão-de-obra do campo. Outras, no entanto, tiveram redução em suas populações, em alguns casos, resultado de emancipações de distritos, outras em virtude do processo migratório" (CASTRO, 2006 p.2).

A análise sobre a composição etária da população da Zona da Mata nos anos 1970 e 2000 nos leva a perceber claramente, comparando estes dois períodos, um estreitamento da base da pirâmide e alargamento de seu topo. Isto significa que houve, pelos dados de 2000, menor participação das pessoas, especialmente aquelas com menos de 15 anos, e aumento da participação de pessoas acima dos 20 anos. A menor participação da população jovem implica em sua maior estabilidade, ao passo que o envelhecimento surge como um resultado da transição demográfica em que os níveis de mortalidade e fecundidade passam de um estágio mais elevado para mais baixo.

Características da população da microrregião

Nesta parte analisaremos as mudanças ocorridas nos componentes demográficos da Microrregião de Cataguases através dos dados dos Censos de 1991, 2000 e, em alguns casos, da Contagem Populacional de 2007.

A estrutura etária

A mudança no padrão da estrutura etária da população é um dos fenômenos que mais traz consequências para o planejamento na área social e econômica, pois afeta diretamente e principalmente as políticas sobre educação, saúde e previdência.

A distribuição etária é influenciada pela fecundidade, mortalidade e também pela migração. Numa população considerada fechada – sem a entrada e ou saída de pessoas - a fecundidade será o fator decisivo pela mudança. Nesta parte, não consideraremos a migração, pois necessitaria uma análise de maior fôlego.

As mudanças demográficas que a Zona da Mata presenciou entre as décadas de 1970 e 2000 foram marcadas pela estabilização da população jovem, e o aumento da participação dos adultos e idosos no total da população acompanhou as mudanças verificadas em nível nacional, o que pode ser comprovado pelos estudos e divulgação de dados por parte dos demógrafos e do IBGE. Porém, podemos verificar também numa escala mais específica, ou seja, através do agrupamento de alguns municípios de uma microrregião.

Entre 1991 e 2000, a microrregião de Cataguases, segundo dados do IBGE, apresentou mudança significativa na estrutura etária. A população verificada pelo Censo de 1991 capta uma maior proporção de jovens, efeito ainda de taxas de fecundidade mais elevadas apresentadas na década de 1980, o que pode ser comprovado pelas taxas de taxas de fecundidade total[1] – TFT. Seria interessante em posterior trabalho mais aprofundado, compararmos tais dados com os do Censo de 1980, pois teríamos a possibilidade de verificarmos uma base mais alargada da pirâmide etária, indicando uma concentração ainda maior de pessoas entre 0 e 4anos, além de percebermos mais facilmente os diferentes padrões de fecundidade.

Já os dados do Censo de 2000 evidenciam menor proporção de crianças entre 0 e 4 anos em relação aos 1991 sendo produto de taxas de fecundidade menores. A redução da fecundidade em nosso país começou na metade da década de 1960 e início da década de 1970, balizado principalmente pelo processo de urbanização e por mudanças na esfera social, como a mudança de comportamento e atitudes (ALVEZ, 1996).

O processo de transformação e mudança da estrutura etária tende se tornar mais intenso já que a taxa de fecundidade total no Brasil alcançou, neste século XXI, o nível de reposição populacional (2,1 filhos por mulher)(CAETANO, 2008). A redução da fecundidade e o aumento da longevidade do brasileiro são elementos que trazem grandes desafios não só para o governo como também para os estudiosos na tentativa de elucidá-los e relacioná-los com as implicâncias na vida da população.

Passando para um olhar focado na distribuição da população em idades com os dados dos Censos de 1980, 1991 e 2000, percebemos que em todos os municípios há uma diminuição da proporção de pessoas entre 0 e 14 anos condizente com a queda da fecundidade na microrregião. Todos os municípios apresentam um aumento da proporção de jovens e adultos e de idosos, o que seria melhor visualizado com os gráficos.

Distribuição e crescimento populacional

A Microrregião de Cataguases apresenta uma distribuição espacial desigual de sua população, com os municípios de Cataguases e Leopoldina concentrando maior parte da população total da região, com 31,47% e 24,28% respectivamente.

No caso de Cataguases, sua maior polarização se deve à sua economia pautada no setor industrial, com destaque para as atividades têxteis, e no setor de serviços e comércio. Mesmo sem dados específicos, percebemos a importância e peso do município na microrregião, apesar da influência cada vez maior de Juiz de Fora como polo regional.

A sequência dos dados dos Censos de 1980, 1991 e 2000 além de evidenciar maior peso de Cataguases e Leopoldina na população total da região destaca também menor crescimento populacional e perda na participação relativa de alguns municípios como os de Argirita, Estrela Dalva e Palma. Por outro lado, devemos destacar o aumento significativo de participação na população total da região de Itamarati de Minas, que vem apresentando certa atração populacional devido, principalmente, à atividade de extrativista de minérios em seu perímetro municipal.

A análise da distribuição espacial da população nos indica maior adensamento no município de Itamarati de Minas, com 29,13 hab./km² em 1991 para 32,02 hab./km² em 2000, provavelmente devido à atração populacional em torno da atividade mineradora. Pirapetinga também se destaca, passado de 46,78 hab./km² em 1991 para 52,21 hab./km² em 2000. O município de Cataguases continuou como sendo o mais denso dentro da microrregião.

É bastante conveniente verificamos a distribuição espacial da população por
suas áreas rurais e urbanas. Alguns municípios possuem concentrações populacionais urbanas mais densas do que outros. Os Censos de 1991 e 2000 apontam o elevado percentual da população urbana no município de Cataguases. Por ter na indústria sua base econômica, fato que tem início no princípio do século XX, e por experimentar também nessa época várias manifestações culturais, o espaço urbano foi aos poucos absorvendo as pessoas que vinham de outros municípios e, principalmente, da zona rural de Cataguases, o que na época já era uma característica bastante diferente do restante da região. A cultura e o poder político do município incutiram o gosto pelo modernismo na população cataguasense, fazendo com que houvesse a disseminação do modo de vida urbano. Já em 1950, o município possuía 26.368 habitantes, com 13.984 na área urbana e 13.384 na área rural (IBGE, 1950 Recenseamento). Em 2000, o município possuía 94,5% de sua população vivendo na área urbana, contra 92% em 1991.

Atualmente a microrregião possui quatro municípios com população rural bastante significativa: Santo Antônio do Aventureiro, com 43,35% da população residindo na zona rural; Estrela Dalva, com 32,65%; Laranjal, 32,44%; e Argirita, 32,18%, de acordo com os dados do Censo de 2000. Pelos dados do Censo de 1991 a situação não era muito diferente, com maior destaque para Santo Antônio do Aventureiro, com 56,65% da população total vivendo na área rural; Estrela Dalva, 43,64%; e Laranjal 41,36%.Um grande volume na área rural se explica pela base da economia ter no setor primário o principal ou segundo elemento de sustentação. Em alguns casos, como Santo Antônio do Aventureiro, a agropecuária é o segundo elemento de sustentação econômica, atrás do setor de serviços, com destaque, inclusive, para o turismo rural.

A população urbana foi incrementada substancialmente entre os dois Censos em Palma e Santana de Cataguases. Em 1991, os dois municípios possuíam 59% e 63% da população total morando na área urbana, respectivamente; e em 2000 tal população era de 74% e 77%, respectivamente. Isso poderia nos levar a concluir que tais cidades têm atraído a população rural, mas tal fato tem de ser analisado com cuidado, já que Palma, por exemplo, tem apresentado um decréscimo populacional em relação ao total populacional da região, o que sugere uma estagnação econômica que impossibilita o município de manter sua população e atrair a mesma do campo.

No geral, o grau de urbanização da região pode ser considerado baixo se comparado com o de outras, pois grande parte dos municípios da região possui menos de 10 mil habitantes no total da população, principalmente em 1991: Argirita, Estrela Dalva, Dona Eusébia, Itamarati de Minas, Laranjal, Palma, Pirapetinga, Santana de Cataguases, Santo Antônio do Aventureiro e Volta Grande.

Considerações Finais

A microrregião de Cataguases é a segunda região pertencente à Mesorregião da Zona da Mata em importância econômica. Analisamos como essa importância foi ganhando corpo devido principalmente ao cultivo de café e o programa de industrialização implementado pelo Estado de Minas Gerais.

Em seguida abordamos a dinâmica demográfica que tem aspectos parecidos ao que verificamos em nível nacional: queda das taxas de fecundidade e, consequentemente, envelhecimento populacional. Outros, como a perda de população de municípios menos dinâmicos economicamente e a polarização de Cataguases no processo de redistribuição populacional são específicos e peculiares.

Vimos também o grau de adensamento populacional, o grau de urbanização e a distribuição da população em grandes grupos etários. Nesses quesitos, a distribuição da população nas áreas urbanas e rurais necessita de um olhar mais cuidadoso para apontar os mais diversos processos sociais e econômicos por detrás do fenômeno.

Referências Bibliográficas

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BERQUÓ, E. CAVENAGHI, S. Mapeamento sócio-econômico e demográfico dos regimes de fecundidade no Brasil e sua variação entre 1991 e 2000. Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

CAETANO, André Junqueira. Fecundidade abaixo da reposição, população estacionária por migração e efeitos sobrea estrutura etária. Revista Brasileira de Estudos Populacionais. v. 25, n.2. São Paulo: jul./dez. 2008. pp.325-334.

CASTRO, L. F. S; Dinâmica Demográfica da Zona da Mata Mineira e a Microrregião Geográfica de Juiz de Fora. Revista Eletrônica Virtú, 3ed. Arquivo disponível em:http://www.virtu.ufjf.br/artigo%203a5.pdf.

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Fundação João Pinheiro e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (1970, 1980, 1991). Condições de Vida nos Municípios de Minas Gerais, Belo Horizonte, FJP/IPEA.

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ROCHA, C. H. B. Geografia da Zona da Mata Mineira com ênfase em Cataguases. In:LANZIERI JR., C.;

VALVERDE, O. Estudo regional da Zona da Mata de Minas Gerais. Revista Brasileira de Geografia. vol. 20, n.1. Rio de Janeiro: IBGE, 1958. p.3-79.


[1]Número médio de filhos nascidos vivos, tidos por mulher ao final do seu período reprodutivo, em determinado espaço geográfico. A taxa é estimada para um ano calendário determinado, a partir de informações retrospectivas obtidas em censos e inquéritos demográficos (DATASUS – www.datasus.gov.br)