Dinâmica de Grupo – O uso e suas implicações em sala de aula de alunos adultos[1] 

Francisco Bezerra Silva[2]

José Rildo Tavares Feitosa[3]

Mário Correia de Oliveira Júnior[4]

Resumo

O presente artigo pretende demonstrar a “Dinâmica de Grupo” e as implicações do seu uso em sala de aula, por meio do método dedutivo, resultando no reconhecimento da técnica como versátil, podendo ser aplicada por diversas tendências pedagógicas, desde que o aluno participe do processo educacional ativamente.

Abstract

This article aims to demonstrate the "Group Dynamics" and the implications of its use in the classroom, using the deductive method, resulting in the recognition of the technique as versatile and can be applied by various educational trends, provided that the student participates in the educational process actively.

Palavras-chave: Dinâmica. Grupo. Aluno. Adulto. Facilitador. Técnica. 

1. Introdução

Este artigo pretende mostrar a técnica “dinâmica de grupo” no contexto da educação, em seus aspectos políticos e técnicos.

A abordagem enfoca as características e os riscos do uso da dinâmica de grupo na sala de aula de alunos adultos.

Cada etapa evolutiva da humanidade – em sua época e seu contexto – produziu técnicas para utilização pelos homens nos seus afazeres. No árduo mister educacional também surgem recursos os quais serão empregados pelos mestres para cumprirem suas missões. Esta técnica versátil, dinâmica de grupo, é uma importante aliada para o alcance da eficácia instrucional. Conhecê-la é indispensável aos atores desse processo. Isso motivou a presente pesquisa.

Cada vez mais se aplica a dinâmica de grupo nas escolas. Faz-se, normalmente, sem a necessária consciência das potencialidades e riscos decorrentes.

Utilizou-se, primordialmente, da pesquisa bibliográfica aliada à experiência docente dos autores para se chegar ao conteúdo e conclusões que se espera útil aos leitores.

O artigo será desenvolvido em tópicos, encadeados a partir dos conceitos gerais até os específicos, pelo método dedutivo. Inicia-se definindo os termos relacionados à educação; depois se analisam as premissas ideológicas que orientam as políticas educacionais e motivam o surgimento de técnicas para responderem às suas demandas; em seguida, abordam-se as tendências pedagógicas sistematizadas na literatura afim e insere-se a aplicação da técnica ‘dinâmica de grupo’ dentro de cada tendência; e, por fim, retrata-se a importância e os riscos do uso da dinâmica de grupo na sala de aula de alunos adultos.

Espera-se proveitosa a leitura a seguir.   

2. Considerações iniciais:

Este texto[5] sobre ensino e aprendizagem destaca a importância do profissional na educação. É do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard:

Algo a ponderar...

Se desejamos ajudar alguém a alcançar um objetivo temos de descobrir onde ele se encontra no momento e dali partir.

Se não pudermos fazer isso, tudo que nos resta é desistir de acreditar que podemos ajudar os outros.

Antes de poder ajudar alguém, temos de saber mais que ele mas, acima de tudo, temos de entender o que ele entende.

Se não pudermos fazer isso, nosso conhecimento será em vão.

Se, mesmo assim, quisermos mostrar o quanto sabemos, será só por sermos fúteis e arrogantes; nosso verdadeiro objetivo é sermos admirados e não ajudar os outros.

Toda verdadeira vontade de ajudar começa com a humildade diante dos que desejamos ajudar, por isso entendemos que ajudar não é um desejo de dominar, e sim de servir.

Se não pudermos fazer isso também não poderemos ajudar alguém.

Quaisquer instrumentos utilizados, inclusive dinâmicas de grupo, dependem da consciência do que seja a tarefa educativa.

A seguir, serão apresentadas definições correlatas à educação para embasar a compreensão da técnica em estudo.

 3. Definição de termos.

O maior desafio para a produção de conhecimento é a sua expressão. Escrito ou oral, todo o conhecimento deve expressar-se, transmitir-se.  Tarefa dificílima.

A comunidade científica adota a forma escrita. No entanto, as limitações lingüísticas e a superficialidade do conhecimento conduzem a imprecisões, provocando conflitos de entendimento, análises equivocadas dos problemas e decisões inconsequentes. Por isso definiu-se os termos seguintes.

3.1 Educação:

Decorre de duas palavras do latim: e ou ex, que significa de dentro de, para fora; e ducere, que significa tirar, levar. É o processo de tirar duma pessoa ou levar para fora duma pessoa alguma coisa presente nela.

Há pelo menos quatro acepções de educação: ato, instituição social, produto e processo.

Educação-ato: “é o ato ou efeito de educar (-se)”[6]. Ensinar e aprender.

Educação-instituição social: é o “que se ordena no sistema educacional de um país, num determinado momento histórico”[7]. Emanada dos anseios sociais.

Educação-produto: são “os resultados obtidos da ação educativa conforme propósitos sociais e políticos pretendidos”[8]. Há intencionalidade na educação. Não é realizada “inocentemente”.

Educação-processo: “consiste de transformações sucessivas tanto no sentido histórico quanto no de desenvolvimento da personalidade”[9].  O que foi produzido (processo) serve de base para a construção maior (processo majorante).

Libâneo define a educação da seguinte forma:

Educação é um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento onilateral (oni = todo; lateralis = lados – grifo nosso) da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas – físicas, morais, intelectuais, estéticas – tendo em vista a orientação da atividade humana na sua relação com o meio social, num determinado contexto de relações sociais. A educação corresponde, pois, a toda modalidade de influências e inter-relações que convergem para a formação de traços de personalidade social e do caráter, implicando uma concepção de mundo, ideais, valores, modos de agir, que se traduzem em convicções ideológicas, morais, políticas, princípios de ação frente a situações reais e desafios da vida prática[10].

                        A dinâmica de grupo é uma técnica de ensino para viabilizar o propósito educacional. Não é um fim em si mesmo.

3.2. Instrução:

Pode-se instruir sem educar, e educar sem instruir”[11]. Pode-se dizer que a instruçãose refere à formação intelectual, formação e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas mediante o domínio de certo nível de conhecimentos sistematizados”[12].

3.3. Ensino:

Por ensino se entende os “meios, ações e condições” para transmitir a instrução. É o ato de ensinar, de instruir. Aqui identificamos a dinâmica de grupo. É instrumento do ensino, pois transmite instruções visando a um resultado educacional.

3.4. Didática:

É o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela investiga os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino”[13].

Estuda a melhor maneira de realizar a instrução e o ensino, por isso é confundida com as técnicas de ensino. Não são raras as afirmações de que “tal professor tem ou não didática”. Trata-se de uma imprecisão. O profissional dispõe dos conteúdos e das técnicas para executar seu mister.

Libâneo delimita o objeto da Didática nos seguintes termos: “os conteúdos dos programas e dos livros didáticos, os métodos e formas organizativas do ensino, as atividades dos professores e dos alunos e as diretrizes que regulam e orientam esse processo”[14].

3.5. Método, metodologia, técnica e meios de ensino:

Método é palavra de origem grega composta de dois termos: meta que significa “além de, através de, conforme a”; e odos que significa “caminho”. Etimologicamente, método é “o caminho utilizado para atingir o resultado, o fim almejado”[15]. Logo, “método é a maneira de conduzir pensamentos ou ações para atingir o objetivo. É o planejamento geral de ações conforme certos critérios. É a disciplinação do pensamento e das ações, (...) e atuar conforme o planejado”[16]. “O fim” é previamente “determinado”.

                        Por Metodologia se entende “o tratado dos métodos; arte de orientar o espírito na busca da verdade”[17].    Deduz-se que a metodologia é a ciência que estuda os métodos. O que se aplica na prática é o método e não a metodologia. Não se pergunta qual a metodologia empregada, mas qual o método empregado. A metodologia se ocupa em desvendar e aprimorar os métodos.  

                        A Técnica é “um recurso particular que o professor usa para realizar uma parte da aprendizagem a que o método se propõe. Então um método de ensino pode utilizar uma ou mais técnicas diferentes para atingir os objetivos educacionais”[18]. O uso adequado da técnica, planejado, rende bons resultados práticos.

                        Por meios de ensino se entende “todos os meios e recursos materiais utilizados pelo professor e pelos alunos para a organização e condução metódica do processo de ensino e aprendizagem”[19] (mesas, projetores de imagem, quadros para escrever, etc.). Estes servem para aplicação das técnicas e realização do método.

3.6. Dinâmicas de grupo:

A expressão “dinâmicas de grupo” é compreendida em três vertentes: como formação dos grupos (o processo de formação de grupos humanos); como ideologia política (como os grupos humanos são liderados; como os membros participam nas discussões, deliberações e atividades cooperativas); e como conjunto de técnicas (instrumentos profissionais). Nesta se identifica o conteúdo deste trabalho.

                  Este quadro[20] revela a diferença na utilização da técnica:

TREINAMENTO PSICOTERAPIA
Conduzido por técnicos de diversas formações acadêmicas (facilitador). Conduzido por psicólogos, psiquiatras, filósofos especializados em atendimento.
Auxilia no desenvolvimento de competências técnicas e pessoais, objetivando melhoria de performance e de resultados. Auxilia na compreensão e no aprimoramento de características de personalidade, habilidades, potenciais, atitudes e comportamentos, objetivando melhorar a coerência e o “ajuste” do indivíduo à realidade que o cerca.
Investiga e analisa os relacionamentos interpessoais profissionais aqui e agora. Os aspectos pessoais abordados visam ao bem-estar do profissional consigo mesmo e com seu ambiente de trabalho. Analisa e investiga, interpretando ou não, o passado e o presente do indivíduo em todos os seus papéis.
“Podem” emergir conflitos de ordem intra e interpessoal. Emergem conflitos de ordem intra e interpessoal.
Em virtude da necessidade de mudança e/ou adequação atitudinal no trabalho, há a mudança pessoal. As mudanças de comportamento e atitudes decorrem do processo de individuação, ou seja, a busca é pela compreensão e pelo aprimoramento do ser total que exerce vários papéis.
O conhecimento técnico do facilitador é fundamental, porém, o grupo dá a direção dos trabalhos. O facilitador faz a adequação entre a técnica e o ritmo da dinâmica grupal. Ênfase no conhecimento técnico do psicoterapeuta, que direciona o processo considerando o ritmo e as necessidades do(s) indivíduo(s).
O indivíduo é chamado participante, integrante, treinando. O indivíduo é chamado de paciente ou cliente.
Em virtude dos ritmos e ciclos individuais, o processo pode ser terapêutico, no sentido de facilitar a reflexão e o aprimoramento. A continuidade e/ou o aprofundamento do desenvolvimento pessoal requerem investimento do indivíduo no processo psicoterápico. O processo tem clara finalidade psicoterapêutica.
Todo o trabalho tem ênfase no papel profissional. O trabalho enfoca todos os papéis desempenhados pelo indivíduo, incluindo o profissional.
O processo é grupal. O processo pode ser individual ou grupal.
Processo para profissionais. Processo para adultos, adolescentes e crianças (ludoterapia).

                   A Professora Izabel faz uma afirmação grave: “profissionais de psicologia são comumente ‘tentados’ a extrapolar suas atividades profissionais e partir para análises clínicas dos participantes. Esse não é nosso papel organizacional, que exige hora, lugar e preparo específicos”. Todo cuidado é pouco.

3.7. Treinando (aluno, aprendiz, educando, discípulo):

A pessoa que interage na relação educacional aprendendo e ensinando ao mesmo tempo. É o sujeito motivador do ato educacional. O aluno, na dinâmica de grupo, participa do processo de aprendizagem – que é vivencial –, agindo e reagindo.

3.8. Facilitador e professor:

Na sua etimologia, a palavra professor significa algo equívoco: “falar na frente das pessoas”. Isso não diz o conteúdo do que é ensinado.

Modernamente, o professor necessita assumir um papel atualizado de facilitador de conhecimentos e mediador de aprendizagem. A utilização da técnica dinâmica de grupo exige essa competência de professor-facilitador. É uma das poucas técnicas que apresentam esse desafio aos mestres.

Na seqüência, abordar-se-á o aspecto ideológico da educação. Isto se reveste de grande importância, pois a utilização de estratégias e técnicas está a serviço das imposições social, política, e econômica. Será que o desenvolvimento da técnica “dinâmica de grupo” não se deu por necessidades de grupos determinados? Será que identificando esses movimentos chegar-se-á à gênese da técnica?

4. O conteúdo ideológico da Educação e uso das Dinâmicas de Grupo:

 “Todas as sociedades tiveram, duma maneira ou de outra, a sua escola”[21]. A escola é o aparato criado para reproduzir idéias. É a instituição superestrutural imposta, obrigatória e controlada para difundir interesses e ideologias. Não existe, nas idéias, neutralidade. A escola é o espelho do seu tempo. “A escola serve sempre aos interesses dos poderosos. Se a escola puder atrapalhar seus planos, ela é proibida; se ela é necessária como ‘forno de cidadãos dóceis’ e como ‘fábrica de soldados obedientes’, ela é obrigatória durante todo o tempo necessário”, afirma Guareschi[22].

O atual modelo econômico capitalista impõe relações de dominação (alguns donos dos meios de produção) e de exploração (expropriação de parte do trabalho dos demais). A escola atual reproduz e garante as relações de produção.  Desempenha duas funções principais: preparar mão-de-obra para o capital e reproduzir as relações de dominação e de exploração.

Utiliza as seguintes matrizes de aprendizagem:

1) dos condicionamentos ou comportamental: que se processa através de estímulos carregados de “determinados” conteúdos a serem transmitidos aos alunos. É o processo de imitação e repetição. O decidir, pensar, criar, é deixado para uns privilegiados devidamente formados para isso. O homem necessário ao “bom desempenho duma fábrica ou empresa é o que faça as coisas com eficiência e rapidez. Fazer bem e rápido. Que execute”. O saber é quantificável, concreto, objetivo e igual para todos. Uma mercadoria, um produto para um cliente;

2)  da matriz dialogal: engloba a primeira e vai adiante. Piaget diz que a nossa mente introjeta a realidade, assimila a realidade, e ao mesmo tempo acomoda-se a essa realidade externa num processo dialético de assimilação (que vem de fora para dentro) e de acomodação (que vai de dentro para fora), criando e colocando novos elementos, por ela forjados, numa reestruturação de esquema, sendo esse o ato de aprender, ato pessoal, autônomo. O saber é algo subjetivo, individual, único e irrepetível. “Saber” experiencial, no seu sentido etimológico “sentir o gosto, perceber o gosto duma coisa”.

As idéias capitalistas forjadas com as liberais determinam políticas educacionais. Afirmam os liberais que “não há nada que descanse sobre um fundamento mais débil que a afirmação da suposta igualdade de todos os que têm forma humana”[23]. Esta “verdade” fundamenta o argumento de que o equilíbrio da sociedade requer pessoas em níveis desiguais. Isso permite a complementação de funções. Outra premissa dá conta de que o indivíduo é o resultado da sorte que “determina nossos genes e através deles afeta nossa capacidade física e mental. A sorte estabelece o tipo de família e o meio cultural em que nascemos e, como resultado, nossas oportunidades de desenvolver a capacidade física e mental. A sorte fixa os demais recursos que possamos herdar de nossos pais ou de algum benfeitor”[24]. Por isso, as instituições não podem ser mudadas radicalmente, elas são assim porque é natural e “sempre serão assim porque assim foram sempre”[25].

Este pensamento conservador pretende orientar o futuro dito nas palavras de Hayek (in Butler, 1987): “resta-nos apenas esperar, facilitar e auxiliar o funcionamento das forças dessa estrutura na medida em que possamos compreender”[26]. Nesse modelo, a educação jamais será libertária e emancipadora.

As políticas sociais ligadas à educação são promovidas a partir do nível político objetivando um modelo social. Na lógica liberal, buscar a “igualdade nos resultados é contrário à natureza das coisas já que a vida não é equitativa e as diferenças de possibilidades são as que beneficiam alguns homens. (...) portanto, as ações do governo em direção a uma ‘justiça social’ serão arbitrárias e imprevisíveis e... ficam expostas a pressões dos diferentes grupos de interesse”[27] cabendo a estruturação da ordem social às decisões individuais.

Decorre dessas idéias, fundadas no individualismo possessivo de um ser monádico [solitário] e egoísta, a compreensão de um homem possuidor de si e de seus bens, um sujeito econômico apropriador e consumidor. Este homem é o “cliente” da nova escola. Justifica-se, pois, a privatização da educação e a participação financiadora do governo junto à iniciativa privada. A educação segue a lógica do mercado. Torna-se uma “mercadoria na qual a sociedade pode se apropriar livremente, de acordo com as suas possibilidades”. A educação de qualidade é excludente, jamais inclusiva, e medida pela capacidade econômica do pretendente.

Bianchetti afirma:

“Deste ponto de vista, existiria uma espécie de ‘bolsa de valores de cérebros’, onde os empresários investiriam naqueles estudantes que, no desenvolvimento de suas atividades estudantis, demonstrassem ser um investimento lucrativo. Segundo Friedman, esta proposta evitaria que um compromisso de financiamento fixo, assumido por um estudante, fosse logo uma carga pesada, se sua inserção no mercado de trabalho não fosse adequada”[28].

Essa falácia gerou a “Teoria do Capital Humano” na qual “o indivíduo é um consumidor de conhecimentos que o habilita a uma competição produtiva e eficiente no mercado de trabalho”[29], e que não pode existir desenvolvimento econômico sem um conseqüente desenvolvimento do mercado de trabalho.  

Duas outras decorrem: não existe desenvolvimento econômico sustentável [competitivo mundialmente] sem melhorar a educação do trabalhador e ao educar o trabalhador se diminui as desigualdades sociais e econômicas.

O Brasil desmente esses mitos. É o mais dramático exemplo da não correlação entre educação e desenvolvimento econômico. Foi a economia mais dinâmica do planeta na segunda metade do século XX e conviveu com um processo crescente de exclusão social, diminuição da qualidade do ensino com mais gente na escola, abandono das escolas públicas em todos os níveis, concentração de renda, pobreza e aumento das desigualdades sociais.

Também não é o aumento da escolaridade que garante a expansão do mercado de trabalho. O conceito criado para responder a isso, de fato o nega. O desemprego estrutural das economias mundiais criou o mito da “empregabilidade” [antítese do desemprego estrutural] muito difundida pelos donos do capital por intermédio das escolas de capacitação e formação de pessoas. Pablo Gentili afirma:

“o discurso da empregabilidade reconhece explícita ou implicitamente que, nessa competição acirrada pelos poucos empregos que o mercado de trabalho oferece, existe também a possibilidade do fracasso. Isto é, existe a possibilidade de que pessoa que, apesar de terem investido no desenvolvimento de suas capacidades ‘empregatícias’, não terão sucesso na disputa pelo emprego e, conseqüentemente, acabarão sendo desempregados, empregados em condições precárias – ou, como o próprio presidente da República [Fernando Henrique Cardoso] destacou alguns anos atrás: inempregáveis.”. Este conceito “parece traduzir, no seu cinismo, a realidade de um discurso que enfatiza que a educação e a escola, nas suas diferentes formas institucionais, constituem sim uma esfera de formação para o mundo do [30]trabalho. Só que essa inserção depende agora de cada um de nós. Alguns triunfarão, outros fracassarão. (...) O conceito de ‘empregabilidade’ se afasta do direito à educação (...)”.

                        Os pobres latino-americanos são hoje mais pobres e mais “educados” [escolarizados num sistema escolar pulverizado e segmentado]. Essa é a conclusão do relatório da agência norte-americana Inter-American Dialogue e do pró-neoliberal Programa de la Reforma Educativa em América Latina y el Caribe (PREAL), que aponta: “a educação parece que está aumentando a disparidade na distribuição de renda, ao invés de reduzi-la”[31].

                        E o que tem a técnica “dinâmica de grupo” com isso? Não por coincidência foi criada nessa atmosfera, e aplicada, primordialmente, em treinamentos empresariais. É carregada de conteúdos. É dirigida, apesar da contribuição do aluno. Espera-se o retorno “positivo” de sua aplicação. Espera-se uma mudança comportamental. O que se quer, na realidade, é uma mudança atitudinal para o trabalho. Ou seja, é uma técnica de reforço do pensamento capitalista e liberal. Visa adestrar os participantes. O seu objetivo é a “melhoria da performance e dos resultados” no trabalho. Enquadra-se na matriz de aprendizagem comportamental e não na dialogal. Aplica-se como terapia, com o intuito de curar a mazela que dificulta uma melhor produtividade no trabalho.

5. Tendências pedagógicas e dinâmicas de grupo.

5.1 Tendências pedagógicas históricas:

A educação sempre foi bastante influenciada pelas ideologias predominantes do Estado. Não é diferente com referência às tendências pedagógicas.

Nas nomenclaturas encontramos as seguintes tendências pedagógicas:

a) Tendências enquadradas na pedagogia liberal (teoria Não-Crítica de manutenção do status quo): Pedagogia Tradicional (conhecida como Conservadora); Escola Nova (divididaem Escola Nova Diretiva e Não-Diretiva); e a Tendência Tecnicista.

Feiges [32] descreve a pedagogia liberal como: “justificação do sistema capitalista; ênfase na defesa da liberdade e dos direitos e interesses individuais na sociedade; forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção.”

b) Tendências pedagógicas Progressistas de Teoria Crítica (sustentam a finalidade sócio-política da educação e de instrumentos de luta de professores ao lado de outras práticas sociais): Tendência Libertária, Tendência Libertadora e Tendência Histórico-Crítica.

Feiges[33]descreve a pedagogia progressista com: “A escola é condicionada pelos aspectos sociais, políticos e culturais, mas contaditoriamente existe nela um espaço que aponta a possibilidade de transformação social; a educação possibilita a compreensão da realidade histórico-social e explicita o papel do sujeito construtor/transformador dessa realidade.”

5.2 O uso da Dinâmica de Grupo nas tendências pedagógicas:

                        Neste tópico, identificar-se-á o uso da dinâmica de grupo em cada uma das tendências pedagógicas. E seguida, far-se-á a diferenciação do uso e dos respectivos resultados obtidos sob cada tendência pedagógica estudada.

a) Na tendência pedagógica Tradicional ou Conservadora não se pode falar na aplicação de dinâmica de grupo como instrumento do ensino para viabilizar o propósito educacional por ser absolutamente diretiva. A técnica de ensino adotada é a aula expositiva com direcionamento para os exercícios, cópias de leituras (ditados), repetições exaustivas de leituras, conceitos, fórmulas etc. Realça, no educando, individualismo e competição exacerbada. Utiliza o método Herbatiano ou científico, com avaliações por meio de interrogatórios orais (há professores de graduação, que ainda utilizam este método), provas de conteúdos difíceis e trabalhos de casa, os chamados exercícios de casa. O professor apresenta postura autoritária, regras rígidas, tornando o educando um simples receptor. Deve-se acrescentar que o resultado desta pedagogia conservadora é a aprendizagem de conteúdos sistematizados, como afirma MIZUKAMI (1986), in Bonfim.[34]

b) A partir da tendência Escola Nova Diretiva houve abertura para o uso de dinâmicas de grupo na sala de aula. O professor passou a ser um facilitador. Houve maior preocupação com o educando, no que concerne à sua participação na aula. O aluno interessa-se pelo conteúdo e socializa-se o conhecimento compartilhado. O facilitador criou condições para o educando aprender por si, também.  O Estudo dirigido é a tônica nesta tendência pedagógica. Passou-se à utilização de diversas técnicas de ensino e novos recursos didáticos. A avaliação assume uma visão holística, analisando os aspectos da assiduidade, da pontualidade, da responsabilidade para com os estudos, do interesse e desenvoltura do aluno.

c) A Escola Nova Não-Diretiva consolidou a utilização da dinâmica de grupo. O professor torna-se um especialista em relações humanas, quebrando definitivamente as dificuldades psicológicas, o que facilitou a técnica de dinâmica de grupo. Várias técnicas de ensino foram introduzidas: grupos de facilitadores, entrevistas, trabalhos em grupos de pesquisas, jogos, criatividade, observação, experiências, pesquisas e várias dinâmicas de grupo. Na Escola Nova, tanto Diretiva, quanto Não-Diretiva, pelo uso de dinâmicas de grupo, vê-se que o objetivo, de acordo com ROGERS (1978) in Bonfim,[35] é: “a pessoa em pleno funcionamento”  (p.78)...” um modelo ideal, que inclui o funcionamento pleno e livre da pessoa em toda a sua potencialidade organística”.

d) A quarta tendência pedagógica dentro da concepção da pedagogia liberal é a Tecnicista. Objetiva repassar conhecimento técnico para “o fazer”. O professor é o elo entre a verdade científica e o educando. Há pouco espaço para a aplicação de dinâmicas de grupo. O educando é um mero espectador, preparando-se para o mercado de trabalho, para aprender a fazer, sem a preocupação da atitude, a priori. Fazer de acordo com os procedimentos e técnicas, sem debates, reflexões, discussões e questionamentos. Libâneo (1990), in Bonfim,[36]  “diz que a base racional e científica da Pedagogia Tecnicista visa a responder, com precisão, aos objetivos da educação e da sociedade produtiva, mas sem levar em conta as contradições sociais”.

e) A primeira tendência pedagógica dentro da concepção da pedagogia progressista é a Libertária.  Nesta, por ser o professor um orientador em que catalisa as reflexões em comum dos educando, há uma facilidade para o emprego da técnica de dinâmica de grupo. Utilizam-se métodos de pesquisas, ação, observação e “feedback”.  As técnicas de ensino são vivenciadas pelo grupo. A prática em assembléias, reuniões, conselhos, eleições e associações fornecem o cabedal para o educando levar à escola.

f) Na tendência Libertadora o professor é coordenador de debates, estabelecendo uma relação horizontal. O educando é o sujeito participante do grupo e no grupo. Portanto, como técnica de ensino usa diversas dinâmicas de grupo nas discussões, debates e entrevistas. A Tendência Libertadora utiliza o Método Dialógico de ensino. Admite-se a auto-gestão da aprendizagem com conteúdo definido e atividade dinâmica.

g) Na tendência pedagógica Histórico-Crítica há, na prática pedagógica, uma interação entre o conteúdo e a realidade vivida pelo educando, com a finalidade de transformar o contexto social do educando. Em vista disso, utilizam as técnicas de ensino discussões, debates, leituras, aula expositivo-dialogada, trabalhos individuais e em grupo e elaboração de sínteses. Há uma melhor fixação dos conhecimentos quando se utilizam as dinâmicas de grupo.

                        Segundo Bonfim (2004, p.100),[37] quanto às tendências progressistas, o objetivo central (...) é a transformação do processo mental do educando na sua relação homem-mundo e não a transmissão de conteúdos culturais sujeito-objeto.”

6. Dinâmicas de grupo: importância e riscos no uso.

6.1 – Dinâmicas de grupo no contexto do Método:

Feita a explanação das tendências pedagógicas históricas, identificou-se o uso da dinâmica de grupo em cada uma delas. Fez-se, também, a diferenciação do uso e dos diversos resultados obtidos sob seus olhares. Também é importante analisar a relação entre a dinâmica de grupo e o método.

O método visa atingir determinado fim. Para a aprendizagem há quatro objetivos fundamentais que decorrem do processo da assimilação ativa dos conteúdos e do desenvolvimento do educando:

  • Assimilar conhecimentos e métodos como conteúdos socioculturais;
  • Apropriar-se dinâmica e independentemente desses conhecimentos e métodos, por meio da exercitação;
  • Transferir esses conhecimentos e métodos para situações-problema.
  • Produzir novas e criativas visões e interpretações da realidade (reinterpretar).

Para que haja a assimilação, esses conteúdos deverão ser expostos para o educando. Trabalho do professor-facilitador. O exercício fará que o conhecimento seja apropriado de modo que o educando possa transferi-lo para situações novas, porém análogas àquelas com as quais o conhecimento foi produzido e transmitido.

Para atingir esse objetivo, o professor utiliza-se do MASP - Método de Solução de Problemas, criando situações para o aluno, sem o seu auxilio, aplicar aos problemas diversos, dentro dos limites de complexidade e dificuldade dos conhecimentos adquiridos. As habilidades adquiridas deverão ser suficientes para solucionar as situações que lhe forem apresentadas.

A técnica vivencial na escola só faz sentido se objetivar a autonomia dos indivíduos. Isso é importante para a sobrevivência na sociedade atual, um ambiente de riscos, incertezas,  conflitos e mudanças constantes.

A escola nesse contexto não deve ignorar a realidade. A simples memorização de conteúdos sem nenhuma reflexão crítica nega a atual realidade. O desafio é coletivo, especialmente entre professor e aluno:

"... os professores são os produtores dos saberes essenciais, do conhecimento técnico indispensável para o desencadeamento do processo didático-pedagógico. Apesar desta condição, não podem prescindir dos conhecimentos e contribuição dos demais atores (família, alunos e funcionários) sob pena de inibir, despotencializar, frustrar o processo pedagógico e assumir com exclusividade os resultados do fracasso escolar." AZEVEDO, in SILVA, org, (2000, p. 317)[38].

A dinâmica de grupo é uma técnica importante para o desempenho pedagógico e para a construção do cidadão de hoje, como sujeitos capazes de buscar oportunidades de crescimento individual e coletivo, ascendendo social e culturalmente.

A escola precisa semear o futuro, pensar e construir a vida, trabalhar o conhecimento, de modo que todos sejam capazes de ter seus próprios projetos. MACHADO (2000, p.53), faz uma afirmação interessante, quando diz que:

"...como ser humano; não posso ter projetos pelos outros (...) não posso sobrepor meus desejos ou projetos aos de quem quer que seja, sou igual a todos no que tange a minha dignidade como pessoa.”

A sociedade exige, cada vez mais do ser humano, conhecimento, autonomia e iniciativa; a escola não pode abster-se de utilizar técnicas como as dinâmicas de grupo, em métodos que visem a aplicação de conteúdos ativos e a construção da autonomia individual e coletiva.

A vivência do trabalho com dinâmica de grupo na escola oportuniza o trabalho coletivo, assim como o respeito aos valores, aptidões, capacidades e habilidades dos outros. Esses são pontos de partida para a busca de conhecimentos que devam partir daquilo que os alunos já conhecem e do que desejam conhecer. Trata-se da contextualização em que deve estar pautado o processo de ensino-aprendizagem, independente do nível escolar dos alunos. Percebe-se que "no trabalho com dinâmicas de grupo não cabem "alunos esponjas ", que devem absorver conteúdos prontos, dados pelo professor, seja em seu quadro de giz ou em um trabalho de campo.'" MARTINS,(2002).

Só há sentido para o que se conhece quando se compartilha e nessa partilha com outros, as pessoas mudam.

Constitui-se premissa fundamental da escola ensinar ao aluno ‘aprender a conhecer', que garante o aprender a aprender, requisito necessário para a educação permanente. A escola não apronta o aluno para a vida e para o mercado de trabalho, mas ensina a autonomia para adquirir os conhecimentos, desenvolver suas competências e habilidades e para continuar aprendendo ao longo da vida. Aprender a aprender constrói lentamente porque buscar o conhecimento de forma autônoma é hábito difícil, de toda uma vida. Isso é realmente grandioso para a formação da personalidade.

Tanto quanto os alunos, os professores precisam estar continuamente aprendendo, tendo em vista que não dá para aprender a nadar sem se molhar e quando se mergulha nas águas do conhecimento, molha-se definitivamente. Esta metáfora enfatiza a importância de um professor competente e comprometido com a vida dos alunos. Descobre-se o prazer de construir o futuro, que é edificado com os projetos e ações de cada um e da coletividade. Nesse sentido o processo ensino-aprendizagem acontece quando professor/aluno encontram-se comprometidos com o ato de aprender, assim:

"... ganha espaço a prática pedagógica que esteja aberta à experimentação, à navegação, à simulação e à participação, processos que podem levar os educandos a exercerem a criatividade humana e capacidade de ousarem.” BEAUCLAIR, (2003).

A prática pedagógica que acontece com a técnica de dinâmicas de grupo é vivenciada no espaço coletivo de construção dos conhecimentos, onde as ações docentes estejam sintonizadas com as ações discentes. A aprendizagem significativa não acontece no vazio, mas num contexto em que todos se encontram inseridos, comprometidos com o que fazem, o que vivem e o que buscam.

O trabalho com dinâmicas de grupo se concretiza por meio da ação coletiva e começa a dar os primeiros sinais em algumas poucas escolas. Essa é uma realidade recheada de muitas dificuldades. Professores e gestores resistem porque implica num refazer metodológico, um repensar das práticas, uma flexibilidade de horários, uma descentralização da ação didática que reclama disponibilidade e abertura para o novo. Isso exige tempo, trabalho e quebra de paradigmas.

A interdisciplinaridade necessária na prática do trabalho com dinâmicas de grupo constitui-se numa barreira imensa. É um grande desafio pois, como afirma FAZENDA (1999, p. 12), "... para a interdisciplinaridade existem três idéias fundamentais: a espera, a cautela, a humildade." A paciência deve ser uma virtude de todo mestre. Essas três idéias são filhas da paciência e precisam ser combinadas no exercício do trabalho coletivo.

6.2   A Importância das Dinâmicas de Grupo e os riscos associados ao uso:

O prazer da partilha de experiências aproxima professores e alunos, desafiando-os na descoberta do novo, que é descobrir, juntos, práticas educativas que instiguem o fascínio pelo conhecimento. Alves (2001, p. 71) afirma:

“O fascínio e o desafio de explorar e partilhar os nossos bens mais ricos e pessoais — a alegria na descoberta, os conhecimentos que possuímos ou os momentos de aprendizagem que proporcionamos — fazem-nos crescer como educadores mas essencialmente como pessoas ...”

Estuda-se algo que tem significado para si, resultando na efetividade da aprendizagem e no gosto pelos estudos. O ato de estudar deve ser prazeroso, não apenas para atender a demandas curriculares. Como pré-requisito, há que se conhecer a clientela escolar. Isso é possível através da aproximação, do diálogo, do planejamento coletivo, em que as dinâmicas de grupo exerçam um papel significativo na quebra de paradígmas.

A educação é o caminho da emancipação. É direito universal que precisa ser exigido pela coletividade. Essa reflexão demonstra a responsabilidade que cada sujeito tem para consigo e para com os outros.

Percebe-se, nas escolas, um esforço para alcançar os objetivos estabelecidos pelo sistema educacional, sem uma reflexão crítica sobre o cerne de tais propostas. Daí a necessidade de planejamentos e reflexões conjuntas nos ambientes escolares, onde professores, alunos e demais atores da comunidade possam participar, de forma que sejam consideradas as necessidades e os anseios para o estabelecimento de metas e objetivos que atendam às finalidades reais das pessoas.

Quanto aos riscos deve-se ressaltar que as abordagens, quando feitas através de dinâmicas de grupo, devem constituir-se não apenas de um corpo teórico relativamente suficiente para o desenvolvimento de uma prática docente crítica ou de caráter afetivo, porém capaz de despertar o princípio político – “estar interessado em que o educando aprenda e se desenvolva, individual e coletivamente”. Há riscos quanto ao facilitador, ao aluno, à escola e à técnica em si.

Riscos quanto ao facilitador: não dominar a técnica; não conhecer ou distorcer os objetivos de sua aplicação; aplicá-la como terapia em sala de aula; utilizá-la como um fim em si mesma; provocar reações indesejadas pela instituição de ensino; despertar uma consciência no aluno com a qual não saiba lidar depois; não conhecer as necessidades dos alunos; desconhecer o passado e os anseios dos alunos; utilizá-la para um número inadequado de alunos; não preparar o ambiente adequadamente; não dar as instruções precisas antes de sua aplicação; não avaliar continuamente os resultados; expor um aluno perante os outros; não perceber as teias de relações interpessoais dentro do grupo em que será aplicada; falta de conhecimento das ideologias dominantes no seu tempo condicionantes do tipo de homem que se quer formar.

Riscos quanto ao aluno: não colaborar com a dinâmica durante a aplicação da técnica; sabotar o trabalho do facilitador; apresentar experiências que provoquem desequilíbrios emocionais; provocar os outros colegas durante o trabalho; não perceber a necessidade dos demais colegas; não seguir as orientações do facilitador; não perceber a necessidade de mudança própria; apresentar distúrbios de comportamento que serão atingidos pelo conteúdo da técnica; não querer experiências vivenciais; individualismo; egoísmo; não avaliar os resultados vividos na experiência; apresentar problemas de relacionamento no grupo que dificulte sua interação; formação consciente ou inconsciente de “panelas” de relacionamento durante os trabalhos.

Riscos quanto à técnica: conteúdo incompatível; objetivos desfocados; duração inadequada; desconexão ideológica quanto à prática da escola; ambiência imprópria para aplicação.

Riscos quanto à escola: prática e ideologia incompatíveis com os objetivos da dinâmica; postura autoritária que inviabilize a participação dos alunos; ausência de flexibilidade para lidar com as reações dos alunos; contradição entre a prática pedagógica e o discurso; imposição para utilização da técnica sem os devidos cuidados; falta de acompanhamento pedagógico no interior da sala de aula quando se utiliza técnicas vivenciais; ausência de apoio ao facilitador na condução dos trabalhos; indiferença com o que ocorre no interior da sala de aula e na aplicação da dinâmica; liberalidade extrema quanto à prática pedagógica do facilitador, deixando-o inteiramente à vontade para cometer seus abusos; falta de responsabilidade da escola para com os conteúdos aplicados; falta da consciência dos riscos civis e trabalhistas que a escola corre pelos danos causados no seu interior para com os alunos e facilitadores, respectivamente.

Em síntese, poderiamos dizer que a prática docente através de dinâmicas de grupo exige um comprometemento com os objetivos politicos da educação, assim como o exercício profissional docente com competência científica e tecnológica suficente para transformar o objetivo político em resultados específicos.

7. Conclusão

                        A técnica ‘dinâmica de grupo’ é extremamente versátil. Pode ser aplicada pelas diversas tendências pedagógicas, desde que admitam a participação do aluno no processo educacional. Surgiu e é utilizada para atender às necessidades de capacitação de profissionais para o trabalho, embora não se restrinja a isso. É um meio por que o professor aplica a instrução eficientemente. Pode ser utilizada tanto para conservar o pensamento vigente quanto para transformar o universo do aluno. Pode ser uma importante aliada do facilitador para alcançar mais rapidamente a compreensão do aluno de si e do mundo à sua volta. Pode ser utilizada de forma errada, causando prejuízos para o aluno e possíveis conseqüências para as escolas. Apresenta riscos associados ao facilitador, ao aluno, à própria técnica e à escola. Normalmente, é carregada de conteúdos e diretiva, dependendo da orientação do facilitador, mas potencialmente muito eficiente.

                        A ‘dinâmica de grupo’, em si, só apresenta risco técnico. Em tese, é desprovida de ideologia e conteúdo, embora seja forçoso admitir que tanto a gênese quanto a sua aplicação e difusão carregue um aparato de idéias que, sem elas, deixariam de justificar a sua existência. Ela surge no seu tempo, para atender a certos objetivos e o faz com precisão.

                        Se bem empregada pode alavancar a sociedade, as empresas, as escolas, os sindicatos, os grupos de estudo, a saúde das pessoas que necessitam de terapia, enfim, uma excelente técnica de trabalho que reclama uma competente condução. Todos podem ganhar muito com a sua utilização.

                        O que os autores desse ensaio esperam é que ela seja compreendida e empregada para tornar a pessoa mais humana. Para levar à consciência de si e dos outros, para promover o autoconhecimento e a solidariedade, para transformar as famílias, as escolas, as igrejas e o meio-ambiente.

Juazeiro do Norte-CE, 23 de maio de 2009

8. REFERÊNCIAS

BIANCHETTI, Roberto G. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais. Questões de Nossa Época. 3ª ed. Vol. 56.

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FEIGES, Maria Madselva F. Produção Social do Saber e Organização Escola. UFPR, Curitiba: 2003– (Síntese de concepções e tendências da educação e suas manifestações na pedagogia escolar, elaboração alunas do Curso de Especialização em Organização do Trabalho Pedagógico).

FERRERIA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Século XXI: O minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

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GENTILI, Pablo. Capitalismo, trabalho e educação. Estudo três: Três teses sobre a relação trabalho e educação em tempos neoliberais (Orgs. José Claudinei Lombardi, Dermeval Saviani, José Luis Sanfeice). Campinas/SP: Editora Autores Associados, 2002.

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LUCKES, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e proposições. 18ª Ed. São Paulo: Cortez, 2006.

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SIQUEIRA, Marli Aparecida da Silva. Monografias e Teses: das normas técnicas ao projeto de pesquisa – Teoria e Prática. Brasília: Editora Consulex, 2005.

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[1] Texto elaborado para conclusão do curso de Pós-graduação em Docência do Ensino Superior da Faculdade de Ciências Aplicadas Leão Sampaio.
[2] Pós-graduadoem Gestão Escolar pela Universidade Gama Filho do Rio de Janeiro e em Metodologia do Ensino Fundamental e Médio da Universidade Vale do Acaraú – UVA, Licenciado em Biologia pela Universidade Regional do Cariri – URCA.
[3] Pós-graduado em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo – USP, Licenciado em Biologia e Bacharel em Direito pela Universidade Regional do Cariri – URCA.
[4] Pós-graduadoem Direito Privado pela Universidade Estadual do Ceará – UECE, Advogado e Bacharel em Direito pela Universidade Regional do Cariri – URCA.
[5] MELLANDER, Klas. O Poder da aprendizagem. São Paulo: Editora Crutrix, 1993.
[6] FERRERIA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Século XXI: O minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
[7] LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. – (coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor).
[8] Idem.
[9] Idem.
[10] Idem.
[11] Idem.
[12] Idem.
[13] LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. – (coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor).
[14] Idem.
[15] SIQUEIRA, Marli Aparecida da Silva. Monografias e Teses: das normas técnicas ao projeto de pesquisa – Teoria e Prática. Brasília: Editora Consulex, 2005.
[16] Idem.
[17] Novo Dicionário da Língua Portuguesa (eletrônico). Editora Rideel.
[18] Idem.
[19] LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. – (coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor).
[20] FAILDE, Izabel. Manual do facilitador para dinâmicas de grupo. Campinas, SP: Papirus, 2007.
[21] GUARESCHI, Pedrinho Alcides. Sociologia Crítica: alternativas de mudança. Porto Alegre: Mundo Jovem, 1997.
[22] Idem.
[23] VERGARA, Jorge. La contribución de Karl Popper a la teoría neoliberal. Crítica y Utopia. Buenos Aires, nº 12, 1984. apud Roberto G. Biachetti. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais. Questões de Nossa Época. 3ª ed. Vol. 56. p 72.
[24] FRIEDMAN, Milton. Liberdade de escolher. Rio de Janeiro: Record, 1980. apud Roberto G. Biachetti. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais. Questões de Nossa Época. 3ª ed. Vol. 56. p 72.
[25] BIANCHETTI, Roberto G. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais. Questões de Nossa Época. 3ª ed. Vol. 56. p 76.
[26]BUTLER, Eamont. Hayek: as idéias políticas e econômicas de nosso tempo. Rio de Janeiro: Nórdica, 1987. apud Roberto G. Biachetti. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais. Questões de Nossa Época. 3ª ed. Vol 56. p 76.
[27] BIANCHETTI, Roberto G. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais. Questões de Nossa Época. 3ª ed. Vol. 56. p 90.
[28] BIANCHETTI, Roberto G. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais. Questões de Nossa Época. 3ª ed. Vol. 56. p 100.
[29] GENTILI, Pablo. Capitalismo, trabalho e educação. Estudo três: Três teses sobre a relação trabalho e educação em tempos neoliberais (Orgs. José Claudinei Lombardi, Dermeval Saviani, José Luis Sanfeice). Campinas/SP: Editora Autores Associados, 2002. p. 55.
[30] Idem p. 54 e 55.
[31] Idem p. 59.
[32] FEIGES, Maria Madselva F. Produção Social do Saber e Organização Escola. UFPR, Curitiba: 2003– (Síntese de concepções e tendências da educação e suas manifestações na pedagogia escolar, elaboração alunas do Curso de Especialização em Organização do Trabalho Pedagógico).
[33] idem
[34] BONFIM, David, Pedagogia no treinamento: correntes pedagógicas no ambiente de aprendizagem nas organizações-Rio de Janeiro: Qualitymark,2004.
[35] idem
[36] idem, idem.
[37] idem, idem
[38] LUCKES, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e proposições. 18ª Ed. São Paulo: Cortez, 2006.