Dificuldades de Leitura de Alunos do 5ª Ano do Ensino Fundamental I.

As dificuldades de leitura vêm suscitando desde há muito tempo o interesse de psicólogos, psicopedagogos, professores e outros profissionais interessados na investigação dos fatores implicados no sucesso e/ou insucesso escolar.
A psicopedagogia apoiada em outras ciências como pedagogia, psicologia, neurologia, psicolingüística, psicanálise ocupa-se do processo de aprendizagem humana seus padrões de desenvolvimento e a influência do meio nesse processo.
Portanto o aluno que apresenta dificuldade de leitura sente-se desestimulado para prosseguir no aprendizado escolar, à medida que o volume e a complexidade dos textos a serem lidos aumentam.
Portanto, as dificuldades de leitura dos alunos é um dos fatores que mais preocupam professores que atuam no quinto ano do Ensino Fundamental. Tendo em vista essa problemática, nos perguntamos: Quais as dificuldades vivenciadas pelos alunos no processo de leitura? Como é feito o diagnóstico das dificuldades de leitura dos alunos? Que ferramentas metodológicas os professores utilizam para auxiliarem os alunos a superarem essas dificuldades de leitura?
Cientes da relevância dessa problemática, minha pretensão neste trabalho é mostrar como os professores que atuam no 5ª ano do Ensino Fundamental I numa escola da rede pública enfrentam o desafio de diagnosticar e apoiar os alunos na superação de suas dificuldades de leitura.
Compreende-se a leitura como uma atividade que envolve a construção de sentidos e não como uma simples técnica de decodificação de letras em sons da fala. Ler, no sentido pleno da palavra, é construir um sentido para o texto. Consideramos que alguém ler quando compreende o que lê, quando constrói significado com base na informação escrita.
A decodificação, ou seja, o estabelecimento das correspondências entre sons e letras é apenas um dos fatores envolvidos no processo de leitura e em seu aprendizado inicial.
Inúmeros estudos têm revelado a dificuldade do sistema público de ensino de lidar com o desafio de promover uma prática pedagógica que propicie aos alunos vivenciar a leitura como um processo de construção de sentidos intimamente associados às demandas pessoais e sociais de seus contextos de vida. As estatísticas de evasão escolar e os baixos índices de aproveitamento dos alunos detectado pelos testes de avaliação do ensino básico (SAEB) refletem a dificuldade da escola em democratizar o acesso à leitura, sobretudo, a alunos provenientes das camadas populares.
Em geral, na escola, a leitura tem se reduzido a um exercício mecânico de cumprimentos de tarefas e demandas estritamente escolares, que dissocia as atividades de leitura das práticas sociais comunicativas, acabando por produzir um "modelo escolar" de utilização do texto escrito, que escamoteia seus diversos gêneros, suportes e contextos comunicativos. Como resultado, a aprendizagem da leitura ocorrida no espaço escolar não pode ser transferida para a vida cotidiana.
Considero o caráter complexo e multidimensional da leitura, e a dificuldade da escola em propiciar um ensino condizente com a leitura em seu sentido amplo, é de se esperar que os alunos apresentem marcantes dificuldades em seu processo de aprendizagem da leitura ao longo de sua jornada escolar.
Desse modo, quando se fala das dificuldades de leitura é muito importante que sejam consideradas as mais diversas causas que possam estar associadas a elas. Conforme José e Coelho (2004, p.83), essas causas podem ser de natureza:
Orgânicas: cardiopatias, encefalopatias, deficiências sensoriais (visuais e auditivas), deficiências motoras (paralisia infantil, paralisia cerebral, etc.), deficiências intelectuais (retardamento mental ou diminuição intelectual), disfunção cerebral e outras enfermidades de longa duração.
Psicológicas: desajustes emocionais provocados pela dificuldade que a criança tem de aprender, o que gera ansiedade, insegurança e autoconceito negativo.
Pedagógicas: métodos inadequados de ensino; falta de estimulação pela pré-escola dos pré-requisitos necessários à leitura e à escrita; falta de percepção, por parte da escola, do nível de maturidade da criança, iniciando uma alfabetização precoce; relacionamento professor-aluno deficiente; não domínio do conteúdo e do método por parte do professor; atendimento precário das crianças devido à superlotação das classes.
Sócio-culturais: falta de estimulação (criança que não faz a pré-escola e também não é estimulada no lar); desnutrição; privação cultural do meio; marginalização das crianças com dificuldades de aprendizagem pelo sistema de ensino comum.
Dislexia: um tipo de distúrbio de leitura que colocamos como causa porque provoca uma dificuldade específica na aprendizagem da identificação dos símbolos gráficos, embora a criança receba estimulação e ensino adequados.
O estudo das dificuldades de leitura requer, portanto, um olhar multifacetado e profundo que envolva diversos campos de estudos e busque dar conta de fatores de diversas ordens, evitando, a todo custo, responsabilizar os alunos e suas famílias pela dificuldade de acesso à leitura com base em preconceitos quanto à sua origem sócio-cultural ou uma abordagem que se restrinja a fatores estritamente biológicos ou didáticos.
É de suma importância que os professores possam identificar o quanto antes às dificuldades de leitura dos alunos, buscando investigar os fatores envolvidos nessas dificuldades para que possam apoiá-los em seu processo de aprendizagem.
Para tanto, o professor deve trabalhar em cooperação com os alunos que apresentam dificuldades, com a família desses alunos, com os professores desses alunos em anos anteriores, com a equipe técnico-pedagógica e administrativa da escola.
Vale ressaltar que para ter acesso a um diagnóstico cuidadoso e mais preciso das dificuldades de leitura e o conseqüente desenvolvimento de estratégias de intervenção para ajudar os alunos a superá-las, muitas vezes, o professor necessita contar com o apoio de outros profissionais, tais como, fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos.
Mesmo sendo um caminho longo e difícil de ser trilhado, o professor deve encarar o desafio de diagnosticar e intervir satisfatoriamente nas dificuldades envolvidas no processo de aprendizagem da leitura, partindo da premissa que seus alunos são potencialmente capazes de atuar ativamente na construção do conhecimento e na superação dos obstáculos que dificultem o acesso a saberes que são necessários e significativos.
Ao estudar sobre o assunto me deparei com queixas, quanto aos tipos de dificuldades que os alunos apresentavam para ler os textos trabalhados em sala de aula, as professoras e os alunos apontaram como principais as dificuldades típicas do processo inicial de alfabetização, como o não domínio da habilidade de decodificação, um processo de leitura pouco fluente e que não conseguia dar conta da compreensão do texto. Alguns alunos afirmam considerar o livro didático de Português utilizado pela professora como sendo de difícil compreensão por conter textos longos e letra pequena.
Ao analisar as indagações das professoras, observa-se que o trabalho com a leitura dos alunos é difícil e solitário, requer muito esforço, compromisso, paciência e, acima de tudo, a disposição e a formação para assumir o desafio de alfabetizar alunos que já deveriam ter sido alfabetizados nas séries iniciais do ensino fundamental, numa realidade que envolve salas superlotadas, falta de recursos para trabalhar em sala, ausência da família no acompanhamento escolar.
Vale ressaltar que os alunos apontam o empenho por parte das professoras no sentido de apoiá-los na superação de suas dificuldades de leitura, lançando mão de músicas, poesias, histórias infantis, jogos educativos e brincadeiras. Contudo, reclamam que as salas são numerosas e barulhentas, o que acaba dificultando o trabalho das professoras, e uma atenção mais individualizada aos alunos ainda em processo de alfabetização.