Edson Silva

 

Comecei este ano em ritmo meio alucinante de leitura. Acredito que já foram uns dez livros em menos de dois meses e, como alguns deles foram muitos bons, então achei conveniente dividir o prazer de “devorá-los”, sim porque tem livros que a gente lê, mas alguns são tão bons que os “devoramos”. Garanto que este é o caso dos três livros que cito neste artigo, são eles: “A Farsa”, de Christopher Reich; “A Aventura de Miguel Littin, Clandestino no Chile”, de Gabriel Garcia Márquez; e “O Crime do Restaurante Chinês: Carnaval, Futebol e Justiça na São Paulo dos anos 30”, de Boris Fausto.

 

Na “Farsa” ou “Rules of Deception”, o protagonista: Jonathan Ransom é cirurgião da Médicos sem Fronteiras, então acostumado a viajar para os lugares mais árduos do mundo, sempre com a esposa Emma, até que acontece um acidente nos Alpes suíços, provocando a “morte” da mulher. O médico terá a vida completamente mudada após o acidente e sua vida não será mais a mesma depois que ele pega um envelope endereçado à esposa e resgata duas malas em uma estação de trem. Perseguido por policiais, terroristas e “antiterrorista”, Ranson, que já tinha uma vida de aventuras para salvar feridos em guerras e conflitos, agora terá que se virar como fosse agente secreto para salvar a própria pele. É começar ler e não ver a hora que chegar ao final do livro.

 

Cansou da ficção ? Então vamos para fatos e história que parecem até ficção. Isso está no livro reportagem “A Aventura de Miguel Littin, Clandestino no Chile", do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez. Na obra, Márquez dá voz ao cineasta chileno Miguel Littin que, em 1985, entrou clandestino no país. Ele era um dos cinco mil exilados proibidos de entrar no Chile pela ditadura do general Augusto Pinochet, mas desafiou o regime e produzu um filme. Como verdadeiro ator, Littin mudou de personalidade, de aspecto físico, de pronúncia, não sendo reconhecido pela própria mãe. Ele conseguiu fazer o filme e colocar o “rabo de burro na ditadura”. Littin corria risco de ser fuzilado, caso fosse reconhecido, mas desafiou a segurança do palácio presidencial La Moneda e esteve a poucos metros do gabinete de Pinochet.

 

Finalmente, outro livro que devorei e sem trocadilho foi “O Crime do Restaurante Chinês: Carnaval, Futebol e Justiça na São Paulo dos anos 30”, de Boris Fausto. O caso verídico e amplamente documentado pela imprensa se passa em São Paulo. Numa Quarta-Feira de Cinzas de 1938, Ho-Fung e Maria Akiau, donos de um restaurante chinês, aparecem brutalmente assassinados, junto com duas outras vítimas, seus empregados. O suspeito pela chacina que, na época, tornou-se um dos principais crimes da capital paulista e do país, é um jovem negro, as quatro vítimas foram abatidas com terríveis golpes de pilão. O escritor detalha investigações, julgamentos e faz levantamento histórico, que passa pelo Carnaval, Copa de Futebol de 38 e avança ao período que antecede a Segunda Guerra Mundial, indo muito além de uma reportagem policial.

 

Edson Silva, jornalista, 48 anos, Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré

Email: [email protected]