Numa noite, há muitos anos atrás, quando eu ainda era uma criança, pude, pela primeira vez, ter consciência da presença de Deus em minha vida. Os anos se passaram e, essa percepção sempre me foi muito clara, e isso, independente da situação em que eu me encontrasse diante dEle.

Vez ou outra, surpreendo-me recordando de minhas orações de menina; nessas orações desejava um dia ter minha família constituída, e com esta, em meus sonhos de criança, íamos à igreja adorar a Deus e ouvir Sua Palavra. Imaginava-me ensinando aos meus filhos, sobre o amor de Deus e Sua fidelidade.

Os anos se passaram e, o meu sonho de menina não aconteceu. Na verdade, minha vida tomou rumos, que por um lado foi bom. Mas, apenas por um lado...

Nasci e me criei na igreja e, quando era ainda muito jovem, Deus, por intermédio de experiências maravilhosas que tive com Ele, fez-me saber que tinha um plano em minha vida. Plano, que ao longo dos anos, foi sendo-me confirmado de maneira que nunca pude ter dúvidas.

Por convicção, ingressei-me no Seminário Teológico e, foi lá que passei a pensar na minha fé não apenas do ponto de vista de quem crer, mas, também do ponto de vista de quem racionaliza em cima dela. Isso de certa forma foi bom, pois, pude descobrir que minha fé resiste a francos questionamentos.

Até por que, a mesma Bíblia que diz que "sem fé é impossível agradar a Deus" (Hebreus 11:6), é a mesma que em

1 Pedro 3:15, nos diz: "Antes, santificai ao SENHOR Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós".

Diante disso, eu diria, que o grande problema não está no fato de se usar a razão, para pensar em assuntos concernentes à fé, e sim, quando em detrimento do crescimento na Graça (que se dá por meio da fé), fazemos uso da razão. Ambos precisam andar juntos, entende? Observe que a Bíblia, a todo momento nos alerta nesse sentido. Note que em nenhum momento, ela nos convida a uma fé cega, porquanto, o segredo de uma vida cristã vitoriosa está no equilíbrio entre essas duas forças: fé e razão. Vejo, porém, com tristeza que me faltou esse equilíbrio. Valorizei o conhecimento em detrimento do crescimento na Graça.

Talvez você me pergunte "como isso se deu?", ao que, respondo: "todas as vezes que estive ocupada demais pra orar e pra meditar em Sua Palavra, levaram-me a negligenciar a importância de se buscar esse crescimento na Graça". Fato é, que a nossa fé é fortalecida à medida que nos relacionamentos com Deus e, meditamos em Sua Palavra. A ausência disso, leva-nos a uma fraqueza espiritual tal, que à nossa volta tudo se torna como um grande Golias, que nos parece difícil de vencer.

Quantas vezes, Deus quis que em oração eu falasse com Ele? Não foram poucas as vezes!!! Eu não queria perceber, que acima de qualquer coisa, Ele queria desenvolver comigo um relacionamento pessoal. Eu estava ocupada demais fazendo Sua Obra. Faltou-me, porém, dar do meu tempo ao Dono da Obra. E, assim, com a fé já enfraquecida, minha tendência de olhar para o lado, tornou-se inevitável.

Lembro-me, que quando eu tinha apenas 11 anos de idade, eu não prestava o mínimo de atenção nos cultos da igreja e, conversava e andava durante todo o tempo em que o pastor pregava. Mas, naquele dia, foi como se Deus, de maneira bastante persuasiva estivesse me dizendo: "Olhe pra frente! Preste bem atenção, pois, hoje eu vou falar contigo."; essa experiência se deu em meio à toda minha agitação de criança dentro da igreja. Parei de repente e, pela primeira vez, prestei atenção.

Naquele dia, o pastor pregou sobre quando Pedro andou sobre águas e, mostrou que as águas turbulentas nas quais Pedro andou, representam a igreja no mundo. Enquanto olhou para Cristo, ele conseguiu fazer o que parecia impossível: andar sobre as águas. Mas, quando ele olhou para o lado, viu coisas que fez com que sua fé se enfraquecesse. Isso por que, as águas turbulentas, dizem respeito aos problemas que enfrentamos e às decepções que passamos: Aquele irmão tão abençoado que nos decepcionou; aquele homem de Deus, que por fraqueza caiu; ou, aquele picareta que se fazia passar por ovelha, além, é claro, os problemas em geral que enfrentamos em nossa vida cotidiana. Enfim, "n" coisas que se apresentam diante de nós durante nossa caminhada com Deus. Eu precisaria olhar pra frente... olhar pra Jesus. Essa era a lição que Ele queria me ensinar naquela noite. E, vejo que Ele estava me preparando para o que hoje eu estaria passando.

Contudo, para a minha vergonha, acabei pedindo afastamento do rol de membros da igreja onde eu congregava. Todavia, incomoda-me o fato de estar afastada, visto que, reconheço a Igreja (povo de Deus reunido) como sendo o Corpo de Cristo, do qual, eu nunca deveria ter-me desligado – "Ora, vós sois o corpo de Cristo, e individualmente seus membros" – afirmam as Sagradas Escrituras em relação à Igreja.

É de se ressaltar que os motivos que me levaram a esse afastamento tinham a ver unicamente com o meu descontentamento com a igreja em geral como instituição. Mas, ao olhar para os Evangelhos, em nenhum momento eu vi neles o incentivo neste sentido de afastamento da igreja - muito pelo contrário. Inclusive, não vi incentivo nesse sentido, nem mesmo, quando percebi a visão realista que Jesus tinha de como o mundo reagiria a Ele (Mateus 24:12). E, quando medito na parábola do joio e do trigo vejo quão patente essa realidade da igreja de nossos tempos lhe era, por ocasião de Sua crucificação e, ainda assim, Ele julgou que valia a pena morrer na cruz em meu lugar e no seu.

Erradamente sair e, não há nada que eu possa dizer, que justifique tal atitude. Preciso voltar. Orem por mim nesse sentido. Conto isso, pra que vocês não cometam o mesmo erro que cometi. Lembrem-se: nem mesmo a Obra de Deus pode ocupar lugar mais importante do que o próprio Deus.

Tenho errado diante de Deus e, ainda assim, Ele me faz saber que nunca desistiu de mim e, sei que Ele também não desiste você. A bem da verdade, as minhas muitas inquietações acerca de como seria o meu amanhã, levou-me a uma ansiedade que, por sua vez, impediu-me de confiar totalmente em Deus. Glórias sejam dadas a Ele, porque apesar de nossas imperfeições Ele nunca desiste de nós. Somos nós quem desistimos dEle. Ele jamais desiste.

      "Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto" (Isaías 55:6).

Espero que nem eu nem você sejamos tão tolos a ponto de continuarmos a ignorar o convite que o SENHOR nos faz.

Jeane Kátia

14/01/2007 – às 15:27hs [data que primeira vez postei este artigo na net. De lá para cá, algumas coisas mudaram e, pretendo falar acerca disso em outra oportunidade.

Hoje, entendo as palavras do apóstolo Paulo quando disse: "O amor de Deus nos constrange". Fato é, que somos tão falhos e, ainda assim, Ele não desiste de nós. Mas, é preciso que haja em mim e em você uma mudança de postura.