Diálogos

*Márcio Issler

 

            A contribuição da filosofia é o diálogo. A internet é lugar de dialogo, bem como lógicas discursivas e não diálogo.

            Filosofia é um fazer, trabalho intelectual, tendo como base o diálogo. A própria filosofia teve seu inicio com o diálogo. Sophia enquanto pensamento se auto-pensando, eu penso e penso como vou falar como vou escrever, não como algo retorico, mas em como atingir a verdade do meu próprio dizer, tenho vontade de dizer isso, portanto digo ou escrevo.

Digamos que o cerne desse pensamento foi os pitagóricos que ninguém sabe o que são, mas que falavam em uma tal Sophia, não prática ou útil que fazemos algo com ela, ou em si mesma uma prática e também não é amor a sabedoria. E a Philia que vemos em manuais, como filosofia sendo amor à sabedoria é mentira, ninguém tem amor à sabedoria. Ideias como estas que se repetem muito viram meio que banais, filosofia como amor a sabedoria é falar sem pensar é um dizer anti-filosofico.

Philia na época significava que as pessoas precisavam fazer o pensamento juntas e essa é a novidade. Filosofia nunca se faz sozinho. Sócrates usava uma palavra “Daimon” que podemos chamar de gênio (romano) enfim é a nossa subjetividade, aquilo dentro de nós, os românticos chamaram de Eu e que nunca entramos em contato por identidade conosco mesmos, sendo sempre um estranhamento.

Pois então o que é a experiência reflexiva? Uma expressão na contramão do pensamento dado. E fazer um pensamento reflexivo significa que eu não vou repetir mais os clichês dados. Por exemplo, deixo de ir para a publicidade e vou para a desconstrução social.

Caracteristicamente é o vazio do pensamento. Aquilo que impossibilita o diálogo, por não ser feito pura e simplesmente de ausência de pensamento, mas por pensamentos prontos que compramos em revistas, jornais, na igreja, pensamento que demanda algo que por vezes não desejamos, compre, faça assim, assado; porém pode ser que eu não queira nada disso.

Mas o que é o diálogo nesse contexto, é uma categoria de prática que implica teoria, ou seja um pensamento ação, um processo de linguagem, mais que um jogo de linguagem uma experiência reflexiva de linguagem, que a gente faz uma coisa muito estranha que é conversar com outra pessoa, ponto de vista, ou outro grupo, ou outra cultura é enfrentar uma alteridade.

Para nós tudo começou com Cristóvão Colombo que para Tristan Todorov,é um idiota, pois não conseguia aprender a língua dos povos que encontrava e jamais se esforçou para entender e os chamou assim de Índio.

Sem esforço nenhum de se encontrar com esse outro, ora o encontro com o outro pode acontecer em dois sentidos: projetar no outro algo que gostaria de tirar de mim, como lugares de uma alteridade rechaçada assimfalamos mal de tudo. Nesse sentido tento mostrar o dialogo como potencialidade de reconhecimento que implica lutar com o outro, saber que ele é meu inimigo, que é chato e imbecil e saber que ele também pode pensar isso tudo de mim, e pensar que minha vida pode ser mais bonita com ele do que sozinho no meu canto.

Isso talvez possa ser chamado de colaboração, como uma ação de fazer alguma coisa juntos, e o como fazer junto é o pensar.

Porem é certo que sempre preciso do outro para poder pensar, mesmo estando sozinho eu trago as demanda do mundo. E o engraçado é que nenhum grande filósofo da história repetiu ideias... E o simples fato de estarmos aqui sentados e percebam que (é algo comum ou incomum, pois o ambiente escolar por vezes não permite que sentemos dessa forma) estamos dialogando, mas para isso é necessário aprendermos que o diálogo implica em um cuidado de si, como demonstrou Michel Foucault, quando escreveu a historia da sexualidade...Não, não é desse tipo de cuidado, mas o descrito por Levinas comunico-me, só se me despossuir. Meu interlocutor é alguém independente de qualquer movimento subjetivo, ele é estranho a mim, mas é alguém que se põe diante de mim.

O objetivo do texto é entender A relação eu-Outro, que segundo Levinas, não pode coincidir apenas com o puro face-a-face do encontro, com a harmoniosa co-presença, com os “olhos nos olhos”, o que reduziria esta relação somente a um jogo de espelhos, simples relações ópticas, esvaziando-se de sua heteronomia, de sua transcendência. Na autêntica relação eu- Outro é preciso mais, tem de haver uma obrigação, ou seja, uma diaconia O laço com Outrem só se aperta como responsabilidade, independente de podermos ou não fazer algo pelo Outro. É o “eis-me aqui”, fazer algo por esse Outro, dar-se a ele, servir (diaconia) antes de qualquer diálogo. Na presença do Outro (rosto), manda-me servi-lo, permanecendo salva a autonomia desse Outro, sua alteridade, que seria, de fato, aquilo que me liberta (LEVINAS, 1993, p. 18).

 

LEVINAS, Emmanuel.Humanismo do Outro Homem. Petropólis: Vozes, 1993.