Nietzsche, anos antes de chegar a conclusão "Deus está morto" possuía uma busca, a busca pelo Deus Desconhecido; expressa em seu poema:
"Ainda uma vez, antes de prosseguir
e deitar o olhar para adiante,
ergo, na minha soledade, as mãos
para Ti, em quem me refugio,
a quem no mais fundo do coração
consagrei solemente altares,
para que em todos os tempos
não cesse de chamar-me a tua voz.

Depois se acende, gravada profundamente,
a palavra: Ao Deus desconhecido!
A Ele pertenço, ainda que entre a turba dos malfeitores
eu tenha até agora permanecido.
A ele pertenço, embora sinta os laços,
que em meio ao combate, me puxam para baixo
e que, embora eu tente subtrair-me,
me arrastam para o seu serviço.

Quero conhecer-te, Ó Desconhecido
que penetras até o centro de minha alma,
que atravessas a minha vida como uma tormenta,
incompreensível, aparentado comigo.
Desejo conhecer-te, e, inclusive, servir-te"

    A mesma necessitada de Nietzche, Agostinho sentiu. Mas diferente do primeiro, que aparentemente não conheceu o Desconhecido, o segundo o fez. Em sua oração, Agostinho diz:
"Tarde vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova, Tarde vos amei!
Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora procurando-vos!
Disforme, lança-me sobre estas formosuras que criastes.
Estáveis comigo, e eu não estava convosco!
Retinha-me longe de Vós aquilo que não existia se não existisse em Vós.
Porém, chamastes-me com uma voz tão forte que rompestes a minha surdez!
Brilhastes, cintilantes, e logo afugentastes a minha cegueira!
Exalastes perfume: respirei-o suspirando por Vós.
Tocastes-me e ardi no desejo de Vossa paz!
Só na grandeza de Vossa misericórdia coloco toda a minha esperança.
Dai-me o que me ordenais, e ordenai-me o que quiserdes"
    Talvez num olhar rápido para os dois textos, não entendamos porque Agostinho terá preenchido o seu vazio e Nietzche não. Contudo se observarmos com atenção às palavras agostinianas, veremos que o tempo todo Deus estava com ele, mas não ele com Deus. Na verdade, ele procurava pela Beleza, mas procurava nos lugares errados, procurava as belezas das criaturas e não a Beleza do Criador.
    Agostinho não era preterido de Deus, o mesmo Deus que estava com ele, também estava com Nietzche "a quem no mais fundo do coração /consagrei solemente altares,". Nietzche entende, assim como Agostinho, que ele estava lutando contra o Desconhecido. Se um diz "Estáveis comigo, e eu não estava convosco! / Retinha-me longe de Vós aquilo que não existia se não existisse em Vós." o outro dirá "A Ele pertenço, ainda que entre a turba dos malfeitores / eu tenha até agora permanecido. [...] e que, embora eu tente subtrair-me, / me arrastam para o seu serviço."
    Se Nietzche conheceu o Deus Desconhecido, nunca saberemos, e certamente não é o que parece. Já de Agostinho podemos afirmar ter conhecido e  mesmo ter sido tocado, em suas palavras "Tocastes-me e ardi no desejo de Vossa paz!". Mas Nietzche também não sentiu esse toque? "que penetras até o centro de minha alma, / que atravessas a minha vida como uma tormenta,". O mesmo Deus que "... rompestes a minha surdez! [...] afugentastes a minha cegueira!" de Agostinho, não é aquele que penetra até o centro da alma?!
    Então lembremo-nos das palavras de Anselmo:
" [...] Suplico-te, ó Senhor, não me deixes insatisfeito após começar a tua procura com tanta fome de ti. Famélico, dirigi-me a ti: não permitas que volte em jejum. Pobre e miserável que sou, fui em busca do rico e misericordioso: não permitas que retorne sem nada, e decepcionado. E se suspiro antes de comer, faze com que eu tenha a comida após os suspiros.
[...]Ensina-me como procurar-te e mostra-te a mim que te procuro. Pois, sequer posso procurar-te se não me ensinares a maneira, nem encontrar-te se não te mostrares. Que eu possa procurar-te desejando-te, e desejar-te ao procurar-te, e encontrar-te amando-te, e amar-te ao te encontrar.
[...]Não tento, ó Senhor, penetrar a tua profundidade. De maneira alguma a minha inteligência amolda-se a ela, mas desejo, ao menos, compreender a tua verdade, que o meu coração crê e ama. Com efeito, não busco compreender para crer, mas creio para compreender. Efetivamente creio, se não cresse, não conseguiria compreender."
    Com Anselmo compreendemos um ponto fundamental de Agostinho: a própria fome de Deus não parte do homem em si, antes é Deus que ao homem torna famélico. Anselmo dirá "E se suspiro antes de comer, faze com que eu tenha a comida após os suspiros."; mas donde advém esses suspiros se não do própio Deus, que em  Agostinho "Exalastes perfume: respirei-o suspirando por Vós.".
    Anselmo, em seus dois últimos parágrafos, explica o caminho a ser percorrido em busca de Deus. Com efeito esse caminho só pode ser aprendido se o próprio Deus o ensinar. Assim como foi com Agostinho que reconhece a aproximação de Deus a ele, o que seria impossível se fosse dele para com Deus. O Deus Desconhecido se torna Conhecido a todos porque assim Ele quer "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo" (Ap 3:20); mas do que apenas ser conhecido Ele quer fazer morada nos corações.
    Paulo em Atenas reconhecerá todas essas coisas "porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração." (At 17: 23-27).
    O apóstolo revela quem é o Deus Desconhecido "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra", o Desconhecido de Nietzsche que "não habita em santuários feitos por mãos humanas"; e reconhece como Agostinho e Anselmo que tudo vem dEle "pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais"; e como os quatro reconhecem "para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós;".
    Fiquemos com aquilo que une Agostinho, Anselmo e Paulo, na esperança que Nietzsche também tenha obtido: a fé! Em Anselmo "Com efeito, não busco compreender para crer, mas creio para compreender. Efetivamente creio, se não cresse, não conseguiria compreender.".