Diálogo – Um contexto de motivação e aprendizagem 

Jeovane Soares Rodrigues

     Partindo dos tópicos abordados nas aulas da disciplina Psicologia da Educação e do Desenvolvimento, a motivação dos professores e dos alunos da Escola Municipal em Tempo Integral Professor Ayrton Viana Silva na cidade de Brumado Bahia é motivo para essas poucas linhas.  A problemática que tantos professores enfrentam estão sempre relacionada ao diálogo entre os alunos,a motivação e a aprendizagem. Assim a motivação para a aprendizagem e os fatores associados a um bom desempenho escolar muitas vezes são atropelados por variáveis psicológicas. Torna-se bem claro que não é suficiente apenas ser inteligente e ter uma boa capacidade intelectual para ser bem sucedido na escola.

     Variáveis psicológicas como expectativas, sentimentos e frustrações podem interferir decisivamente no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. Dentre essas variáveis umas podem nascer da dificuldade ou falta de relacionamento entre professor - aluno. O conceito de aprendizagem não é tão simples assim. Há diversas possibilidades de aprendizagem, ou seja, há diversos fatores que nos leva a aprender um comportamento que anteriormente não apresentávamos um crescimento físico, descobertas, tentativas e erros, ensino, etc. (BOCK, 1999, p. 114)

     Um ponto que gera grandes impasses em sala de aula é a falta de comunicação adequada. Quando esta não se desenvolve da forma positiva, há uma permissividade para que ocorra variados tipos de comportamento. Nessa lacuna aparecem os que manifestam o desentendimento do diálogo por meio de palhaçadas, brigas, conversas paralelas e ainda os que optam pelo silêncio.

     Estes últimos serão o meu futuro objeto de estudo, pois estes parecem que são os que mais se angustiam pela falta de comunicação. Salienta Bakhtim(1995, apud SOUZA) que no processo de compreensão, a cada palavra do outro fazemos compreender uma série de palavras nossas, formando uma réplica, mais profunda e real é a nossa compreensão. Compreender é, portanto, opor à palavra.Se o diálogo não ocorre inviabiliza então, que se construa a conhecimento”.

     É pois de uma importância fundamental que se estabeleça em sala de aula uma boa comunicação.Não se deve desprezar a fala do aluno, pois ela está ligada ao pensamento e não há como separá-la.

Quando um aluno se cala em sala de aula a palavra do professor torna finita, pois não existe a réplica de quem ouve. Bakhtim(1995, apud SOUZA) afirma que não existe nem a primeira nem a última palavra, e não existem fronteiras para um contexto dialógico.  Para Burochovitch & Bzuneck (2004, p. 37) a motivação intrínseca proporciona a sensibilidade no aluno de que “a participação na tarefa é a principal recompensa, não sendo necessárias pressões externas, internas ou prêmios por seu cumprimento”.

     Todos nós, crianças ou adultos, temos uma aspiração fundamental ao diálogo, à partilha e à amplificação de nossas possibilidades. O verdadeiro diálogo possibilita que exprimamos com maior liberdade possível podendo ser escutados sem julgamentos nem rejeições. E ainda nos permite fazer com que o outro venha exprimir-se com a maior liberdade possível e ser escutado com uma liberdade equivalente.

     Quando há a negação do diálogo em sala de aula propicia-se uma quebra no processo da aprendizagem. Há um impedimento na troca de conhecimentos para facilitar a organização da atividade mental.

     Bakhtim (1995 apud SOUZA)  afirma:

                 “(...) que não é a atividade mental que organiza a expressão, mas ao contrário é a expressão que organiza a atividade mental, que modela e determina sua orientação). Não e tanto a expressão que se adapta ao nosso interior, mas o nosso mundo interior que se adapta às possibilidades de nossa expressão, aos seus caminhos e as suas orientações possíveis”.

     Diante do exposto parece bem verdadeiro que no cotidiano escolar em especifico esta escola, onde a comunicação se torna imprecisa torna-se impossível a construção de um conhecimento verdadeiro.

Aqueles alunos que constantemente permanecem calados em sala de aula parece estar manifestando as suas insatisfações frente a péssima comunicação entre o professor e seus alunos.

É esperado que o professor tenha sensibilidade e percepção para inverter a sua fala em busca do diálogo, pois é através dela que ocorre a compreensão e a construção do conhecimento.

     É importante que o professor evite se tornar o dono da fala, pois isso pode incorrer  na inviabilidade da comunicação. Paulo Freire (1993) afirma que se a professora é coerentemente autoritária, ela é sempre o sujeito da fala, enquanto os alunos são continuamente a incidência do seu discurso (...). Fala de cima para baixo, certa da sua certeza e de sua verdade. E, até quando fala com o educando é como se estivesse fazendo favor (...) sublinhando a importância, e o poder de sua voz”.

                 Diante dessa postura os alunos podem apresentar comportamentos diferentes, e nesse  meio há os que manifestam os seus descontentamentos com o silêncio. Há aí a quebra da comunicação tanto com os que se calam como com os que passam a manifestar desinteresse através de barulho, palhaçadas e brigas.

     Nesse contexto o professor deixa de ser agente de construção ele se torna um impeditivo no processo do ensino-aprendizagem.

Há uma preocupação generalizada no contexto de sala de aula com o péssimo comportamento do aluno. O ponto de mais destaque são as conversas paralelas. Parece o motivo que condiciona tanto ao silêncio quanto ao excesso de conversa é o mesmo. Trata-se da falta de comunicação adequada entre professor x aluno.

     É necessário portanto que a escola perca a imposição do discurso e que facilite o diálogo do discurso e que facilite o diálogo com um ambiente acolhedor favorecendo assim um aprender democrático através do saber ouvir, respeitar, tolerar e acatar. É muito cômodo contemplar aquele aluno que está sempre caladinho. Ele às vezes é até parabenizado pelo seu silêncio porém ele nunca é ouvido para saber a razão por que se cala.

     Sempre ouvimos de professores reclamações que as turmas são barulhentas, mas que alguns são ótimos, pois estão constantemente calados.

É necessário que desvende a razão do silêncio, pois esta pode ser a mesma do barulho e de uma forma construtiva buscar uma comunicação produtiva para todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem.

Por fim, a sociedade contemporânea requer de nós mais agilidade, correr atrás do tempo virou uma constante nos lares brasileiros, seja para cumprir com as obrigações, seja para disputar o mercado de trabalho ou para multiplicar o minguado salário que recebe, desta forma  a ausência dos pais nos lares, independente da classe social, tornou-se rotina. Conseqüentemente a distância entre pais e filhos tende a trazer problemas para as crianças, sendo estes na maioria das vezes de ordem comportamental.  Na tentativa de contornar a situação, suprir a ausência  e ficar em paz com a consciência, os pais assumem determinados comportamentos que prejudicam em vez de ajudar, colocando à disposição do filho tudo que este solicita, realizando todos os desejos sem emitir questionamento. Chegando na escola a criança se confronta com outra realidade, a facilidade em obter o que quer já não existe, suas atitudes e comportamentos passam a ser observados por um conjunto maior de pessoas, dá-se aí o conflito.

A ação conjunta e planejada dos professores para enfrentar o problema, em alguns casos, poderá ser decisivo para uma boa formação da personalidade dos alunos, pois para um universo considerado de crianças que não convivem com uma família estruturada ou mesmo com famílias de difícil compreensão, resta apenas a escola para orientá-los. Contudo, o tratamento  que os professores devem dispensar a estas  crianças não poderá ser de qualquer forma, mas de modo planejado, orientado emotivando paulatinamente, caso contrário, estaremos caminhando para o caos. Preocupar apenas em impor normas rígidas e agir como se estivéssemos à décadas atrás, não levará a lugar algum, pelo contrário, aumentará o número de problemas. Portanto, é preciso saber lidar com os casos individuais sem comprometer o coletivo da sala de aula.

Referências

BOCK, Ana M. Bahia (org). Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. (orgs.). A motivação do aluno: contribuições da psicologia contemporânea. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

Cypel S. O papel das funções executivas nos transtornos da aprendizagem. In: Rotta NT, Ohlwiler L, Riesgo RS, org. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre:ArtMed;2006.

FREIRE, Paulo. Professora sim tia não - Cartas a quem ousa ensinar, 3ª edição. Editora Olho Dagma. 1993.

SOUZA, Solange Jobim. Infância e linguagem. 2ª edição. Papirus Editora. 1995