DIÁLOGO ENTRE PROFESSOR, MONITOR E AS OFICINAS EDUCATIVAS NA EDUCAÇÃO INTEGRAL

 

Alice da Luz Ferreira Brito

Ana Paula Baptistella Faracini

Márcia Cristina Silva Mendonça

Iolene Mesquita Lobato (Orientadora)

 Resumo: Objetiva-se com este estudo analisar o que falta, o que precisa ser feito para que se estabeleça o diálogo entre professor e monitor do Programa Mais Educação na escola de tempo integral. E ainda, mostrar como essa parceria reflete na aprendizagem discente.  Para isso, realizou-se pesquisa de campo, entre maio e junho de 2015, em uma escola de tempo integral em Brasília/DF. O público pesquisado foi composto por monitores e professores da instituição pesquisada. No término, o estudo revela que sem parceria e/ou diálogo, entre esses dois agentes educativos, todo o processo de formação do aluno fica comprometido, não contemplando, assim, sua formação integral.

 Palavras-chave: Educação integral; Oficinas educativas; Relação professor-monitor.

Introdução

 educação é, por definição, integral  à medida que atende a todas as dimensões do desenvolvimento humano, proporcionando-lhe aprendizado para além da escola, para a vida.

Na primeira metade do século XX, investidas em educação integral (EI) começam a aparecer no Brasil, por intermédio de ações educativas de católicos, integralistas, anarquistas e educadores, como Anísio Teixeira. A ideia, para todos os defensores da EI, é uma formação completa, cidadã, humana.

De acordo com Azevedo (2010), um marco na história da EI brasileira foi o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, em 1932, assinado por 26 educadores que defendiam o acesso à educação por meio de uma escola gratuita e de qualidade. Dentre eles, Anísio Teixeira, educador do Movimento Integralista, defendia um ensino em que, além de conhecimentos científicos apresentados nas disciplinas, estudantes pudessem, através de oficinas, terem acesso à arte, música, dança, saúde, ao esporte, a programas de leitura, de aritmética e de escrita, às ciências, aos desenhos, complementados com boa alimentação. 

Essa proposta se materializou em 1960, com a criação de Brasília, quando Juscelino Kubitschek, então presidente do país, convoca Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e outros educadores para formar a comissão responsável por criar o “Plano Humano”, cujo objetivo era organizar o Sistema Educacional da capital, de modo a ser exemplo para todo o país. Nesse período, o Centro Integrado de Educação Pública, (CIEPs), criado na década de 80 por Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, construiu aproximadamente 500 prédios escolares para abrigar escolas integrais em horários integrais (BRASIL, 2009).

Apesar dessa experiência em educação integral, amparada legalmente pela Constituição Federal (BRASIL, 1988), pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996), a EI se legitima com a ampliação da jornada escolar, por meio da Portaria Normativa Interministerial nº 17 (BRASIL, 2007) que institui o Programa Mais Educação (BRASIL, 2011).

Além de ampliar a jornada escolar, o Programa Mais Educação (PME) articula ações para que as horas a mais da criança e do adolescente na escola sejam significativas. Um dos caminhos propostos para alimentar esse ideal são as oficinas educativas, que possibilitam ao alunado acesso a esporte, teatro, dança, pesquisa científica, dentre outras. Contudo, para que o planejamento e a prática dessas oficinas ocorram satisfatoriamente, é necessária comunicação entre professores e monitores, tanto no planejamento das ações quanto em sua execução.

Portanto, como problema, o estudo busca responder a seguinte pergunta: como promover o diálogo entre professores e monitores na escola de tempo integral? Como objetivo, busca-se analisar os possíveis motivos para a falta desse diálogo entre esses agentes educativos na escola de tempo integral.

Realizado numa escola de tempo integral em Brasília-DF, entre maio e junho de 2015, este estudo qualitativo tem como público pesquisado 8 professores e 4 monitores, que desenvolvem oficinas no contraturno, pelo PME. Os dados foram coletados mediante observação e entrevistas semiestruturada.

A relevância da pesquisa está na análise que abarca a falta de diálogo entre professores e monitores no contexto de educação integral. A pesquisa propõe sugestões para que o diálogo aconteça de forma efetiva, considerando que, nesse modelo de ensino, oficinas educativas diversificadas devem ser ofertadas, todavia, isso nem sempre acontece ou ocorre de maneira insatisfatória devido à falta de parceria entre esses agentes educativos.

 Resultados e Discussão

 Na escola de tempo integral pesquisada, o PME atende 100 alunos com faixa etária entre 7 e 10 anos e também alunos com distorção idade/série, fora dessa faixa etária.

O Programa funciona três dias na semana, entre 8h e 17h. Ao longo do dia, três refeições são servidas - café da manhã, almoço e lanche da tarde. Ao público participante do PME são oferecidas cinco oficinas (acompanhamento pedagógico, teatro, informática, judô, esporte e lazer) desenvolvidas por 4 monitores, sendo um  graduado, dois especialistas e um com Ensino Médio, apenas. 

Além das oficinas, o alunado participa de palestras, passeios, confraternizações e outras atividades.

Durante a pesquisa, observou-se que o diálogo entre professores e monitores é inexistente e as poucas vezes que se estabelece é por meio da coordenadora do PME e se restringe, exclusivamente, ao rendimento do trabalho ou à indisciplina de alunos. Não há diálogo e/ou parceria na realização das oficinas propostas, de modo a haver conexão entre as atividades desenvolvidas por monitores e o conteúdo trabalhado por professores em sala de aula.

É por essa razão que Titton (2008, p.30) esclarece que:

Historicamente, os projetos para a educação no Brasil não têm dado conta das questões educacionais, porquanto são, em geral, descontínuos e dissociados de projetos de outras áreas [...] as ações decorrentes desses outros projetos vêm acontecendo de forma isolada, sem a articulação entre si e sem o diálogo necessário para uma intervenção efetiva na realidade.

Ações estabelecidas dessa forma comprometem, sobremaneira, a formação integral do aluno na escola de tempo integral.

Apesar da ausência de parceria entre monitor e professor, a pesquisa atesta que os docentes pesquisados possuem qualificação e são formados em Pedagogia, Geografia, Enfermagem e Administração. Todos afirmam ter formação continuada. Apesar de ser consenso entre eles que as oficinas ofertadas pelo PME têm contribuído de forma significativa na formação do alunado, nenhum dos educadores soube responder quais oficinas são oferecidas na escola. Indagados se já haviam proposto algum tipo de atividade/oficina aos monitores, esses educadores responderam de forma negativa.

Nesse cenário, a pesquisa revela - além da ausência de diálogo entre monitores e professores e do trabalho isolado de monitores do PME - que não há conexão entre conteúdo programático e oficinas educativas justamente em razão da falta de conversa entre esses agentes escolares; há discrepância entre o discurso do educador e a prática do monitor, ambos não são parceiros.

Essa ausência de parceria tem comprometido o cotidiano da escola que, com a jornada ampliada, foi modificada e precisa ser pensada coletivamente (ÁVILA, 2012). Além disso, essa atitude desconstrói a proposta das oficinas, cuja meta é propiciar vivências e promover o desenvolvimento de valores, como; cooperação, respeito, solidariedade, confiança, senso crítico (LOBATO; SANTOS, 2013).

É papel da escola de tempo integral, mediante suas atividades cotidianas, desenvolver “atitudes positivas em relação ao ambiente escolar e à convivência coletiva, além de incutir noções de saúde, higiene, participação e cidadania” (BRASIL, 2011, p. 50).

Diante da realidade descrita na escola pesquisada, a pesquisa sugere alguns encaminhamentos para orientar a comunidade escolar a diluir e/ou amenizar a ausência de diálogo entre monitor e professor.

O primeiro passo seria estabelecer um grupo de estudo quinzenal, onde professor e monitor dialogassem e, juntos, estudassem e discutissem a educação integral. Após, o grupo apresentaria, pelo menos, dois projetos que articulassem o conteúdo trabalhado em sala, pelos professores, com as oficinas desenvolvidas no contraturno por monitores. A terceira etapa seria a execução dessas ações e, posteriormente, a avaliação, quando seriam pontuados os melhoramentos na aprendizagem dos alunos, tanto em relação ao conteúdo programático trabalhado no turno normal quanto na realização das oficinas propostas pelo PME, na jornada ampliada.

 Considerações Finais

O estudo revelou que apesar da qualificação acadêmica dos professores e monitores do PME e de ambos saberem da importância das oficinas educativas no processo de formação de crianças e adolescentes, há inexistência de diálogo entre esses educadores, apesar de ambos trabalharem para contribuir de forma expressiva para a formação de seus alunos.

Espera-se que a reflexão apontada e a proposta de encaminhamentos para melhoria da relação do trabalho de monitores e professores instiguem a comunidade escolar a repensar sua prática pedagógica, revisando atitudes, a fim de promover ações coletivas e vivências significativas no âmbito escolar, de modo a repercutir na formação cidadã do alunado.

REFERÊNCIAS

ÁVILA, I. S. Por entre olhares, danças, andanças, os alfabetismos, letramentos na perspectiva da educação integral. In: MOLL, J. (Org.). Caminhos da educação integral no Brasil: direito a outros tempos e espaços educativos, Porto Alegre: Penso, 2012, p. 258-266.

AZEVEDO, Fernando de. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e dos Educadores. Recife: Ed. Massangana, 2010.

BRASIL. Ministério da Educação (BR). Educação Integral: Texto Referência para o Debate Nacional. Brasília: Ministério da Educação, 2009. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cadfinal_educ_integral.pdf >. Acesso em: 02 de maio 2015.

______. Tendências para a educação integral. São Paulo: Fundação Itaú Social- CENPEC, 2011.

LOBATO, Iolene M. SANTOS, Cléria N. dos. Novas relações e saberes em uma escola de tempo integral na área rural. Revista Educação: teoria e prática: Rio Claro, SP, 2013, v. 23, n.43, p.93-107.

TITTON, Maria Beatriz Pauperio. Profissionais da educação integral: que atores entram nesse jogo? Cadernos Cenpec: Educação Integral Ano XVIII, Boletim 13 – Agosto/2008. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/projetossociais/Biblioteca/4_TV_Escola_Educacao_Integral.pdf>. Acesso em 19 mai. 2015.