INTRODUÇÃO

Este trabalho teve como objetivo analisar a presença intertextualidade na obra cinematográfica. Para isso escolhemos o filme Capitão Sky e  o mundo de amanhã (2004), escolha esta feita com base em dois motivos: o primeiro devido o autor propor-se a produzir um filme com a totalidade do cenário produzido e editado digitalmente, fato inédito na produção cinematográfica mundial; e segundo devido a obra dispor-se a homenagear a produção de cinema do início do século XX, utilizando-se de referências intertextuais para realizar tal feito.

Para dar conta da proposta de analisar a intertextualidade na obra de cinema o presente estudo pautou suas observações buscando a orientação da matriz teórica bakhtiniana, explorando as referências intertextuais presentes na obra.

A INTERTEXTUALIDADE

Os estudos da intertextualidade têm ganhado expressão nos últimos anos. Isso deveu-se à publicação de dois ensaios em francês de Julia Kristeva, sobre Bakhtin.

'Bakhitine, le mot, lê dialogue et le román' (1967) e 'Une poétique ruinée' (1970), apresentou Bakhtin como uma espécie de precursor dos teóricos literários franceses mais sofisticados. Sua tradução do 'dialogismo' de Bakhtin como 'intertextualidade' provocou uma proliferação de estudos sobre intertextualidade, muitos dos quais mantinham uma tênue conexão com o pensamento de Bakhtin. (STAM, 2000, p 10)

Para compreendermos o sentido proposto por Kristeva para a intertextualidade devemos ter em mente o entendimento que Bakhtin atribui a um texto. Para ele o texto não se reduz ao falado ou escrito. A amplitude que ele estabelece para o texto extrapola os limites impostos pela escrita. Assim,

se tomarmos o texto no sentido amplo de conjunto coerente de signos, então também as ciências da arte (a musicologia, a teoria e a história das artes plásticas) se relacionam com textos (produtos da arte). Pensamos sobre pensamentos, uma emoção sobre a emoção, palavra sobre as palavras, textos sobre os textos. (BAKHTIN, 2000, p 329).

Assim, Bakhtin nos ensina que um conjunto coerente de signo é um texto e este, que foi produzido com base em um conhecimento pré-existente, está em diálogo com outros textos. Neste sentido, há uma inter-relação de um texto no seu interior ou ainda a relação para fora deste mesmo texto e isso é que garante a ampliação da obra e esta ampliação apresenta-se como um diálogo que se estabelece entre textos.

Julia Kristeva (1974)  nos mostra que "o texto se constrói como um mosaico de citações" (p 64) e é desta forma que o texto irá dialogar - estabelecer relações intertextuais - com outros textos. Jobin e Souza (2001) nos ensina ainda que "A citação, por sua vez, é uma forma de recuperar, sempre, em um novo texto, a verdade contida na palavra alheia. Portanto, citação é também diálogo, diálogo entre textos, compromisso em fazer convergir e divergir idéias próximas e distantes no espaço e no tempo." (p 335).

Assim, observamos que as categorias bakhtinianas como heteroglossia, polifonia e dialogismo englobam a idéia da intertextualidade proposta por Kristeva. Deste modo, aplicando este entendimento no estudo do texto para o cinema verificamos que ele estabelece uma relação entre o discurso que é apresentado pela fala das personagens, a narrativa da estória e a interpretação da obra pela crítica e pelos expectadores. Assim, todos em um conjunto, estabelecem uma relação dialógica na construção da obra. Este diálogo, quando estabelecido desde a concepção da obra, garante uma maior interação com o público que a aprecia.

Essa concepção ampla de dialogismo, considerada como o modo característico de um universo marcado pela heteroglossia, oferece inúmeras implicações para o estudo sobre cultura. A concepção de 'intertextualidade' (versão de 'dialogismo', segundo Julia Kristeva) permite-nos ver todo texto artístico como estando em diálogo com outros textos artísticos, mas também com seu público. Esse conceito multidimensional e interdisciplinar do dialogismo, se aplicado a um fenômeno cultural como um filme, por exemplo, referir-se-ia não apenas ao diálogo do filme com filmes anteriores, assim como o 'diálogo' de gêneros ou de vozes de classe no interior do filme, ou ao diálogo entre as várias trilhas (entre a música e a imagem, por exemplo). Além disso, poderia referir-se também ao diálogo que conforma o processo de produção específico (entre produtor e diretor, diretor e ator), assim como às maneiras como o discurso fílmico é conformado pelo público,cujas reações são levadas em conta. (STAM, 2000, p 34)

Observando estes preceitos, no estudo do filme Capitão Sky e o mundo de amanhã, as categorias dialogismo e intertextualidade são as que nortearam a nossa análise. Assim, observamos no decorrer deste estudo que a contextualização visual e auditiva proporcionada pelo cinema, que, neste caso, foi facilitada pela utilização da tecnologia digital na construção do cenário, possibilitou evidenciar a relação dialógica no interior da obra, não só com a produção cinematográfica das décadas 30 e 40, mas também com outras expressões da arte do mesmo período.

Neste contexto verificamos que o autor ao utilizar referências às obras da primeira metade do século XX para homenagear a produção de uma época tornou-nos também possível também verificar a relação intertextual presente nesta obra.

A BRICOLAGEM

O termo vem do francês  bricolare e na sua essência consiste em utilizar coisas usadas em um novo arranjo. No conjunto de uma obra ela apresenta-se como um jogo de remissões e o material utilizado em um ponto e outro passa a integrar uma nova obra.

A bricolagem no filme Capitão Sky e o mundo de amanhã é mais uma técnica utilizada pelo autor na construção do cenário. A possibilidade criada pela produção do cenário em meio digital facilitou o emprego de trechos de outros filmes que, agora, aplicados em um novo contexto, cria uma relação entre as obras, ou seja, entre o novo filme e todas as obras referenciadas no interior deste.

O trabalho nesta técnica, que segundo a sua regra utiliza-se o que se tem à mão, compõe-se em dois momentos: o de análise: "identificação dos elementos constituintes de uma substância, conceito, problema, etc." conforme define o dicionário Larousse e um segundo momento que é o de síntese: "operação intelectual pela qual se reúne em um todo coerente, estruturado e homogêneo, conhecimentos referentes a domínio particular.” (Dicionário Larousse). Nesta segunda etapa, o conjunto estará desvinculado do todo de suas obras originais e passa a compor uma nova obra. O sentido da bricolagem está em combinar e recombinar, utilizando-se partes - ou conceitos - que são conseguidos na etapa de análise.

Lévi-Staruss (1997)  compara o trabalho do engenheiro com o do bricoleur diante de um problema e conclui que tanto um quanto o outro "deverá começar inventariando um conjunto predeterminado de conhecimentos teóricos e práticos e de meios técnicos que limitam as soluções possíveis" (p 35). A distinção realizada pelo autor entre o engenheiro e o bricoleur está na opção da utilização dos meios disponíveis,

Poder-se-ia dizer, portanto, que tanto o cientista quanto o bricoleur estão à espreita de mensagens, mas, para o bricoleur, trata-se de mensagens de alguma forma pré-transmitidas e que ele coleciona [...]; já o homem da ciência, engenheiro ou físico, antecipa sempre outra mensagem que poderia se arrancada a um interlocutor, apesar de sua relutância em se pronunciar a respeito de questões cujas respostas não foram dadas anteriormente. (LÉVI-STRAUSS, 1997, p 35, itálico no original)

Deste modo, observando o proposto por Lévi-Strauss, verificamos que podemos identificar, conforme afirmamos acima, a presença da bricolagem como mais uma técnica utilizada por Kerry Conran na construção do cenário de seu filme. Para este feito o diretor desenvolveu as filmagens em frente a uma tela azul e posteriormente cada espaço da fotografia foi preenchido digitalmente construindo assim o cenário e neste processo Conran insere diversas referências às obras da década de 30 e 40. Desta forma, ao trabalhar com fragmentos, dando um jeito com o que se tinha à mão para realizar uma alusão à produção das décadas 30 - 40, Kerry Conran vai construindo uma obra impregnada de outras obras. O cenário vai se construindo de fragmentos que, ao término da obra, ao assisti-la, conseguimos identificar as referências que o autor foi colocando durante a montagem do cenário. Assim, cada fragmento tem um novo uso, seguindo a regra da bricolagem, como nos coloca Lévi-Strauss (1997) "Cada elemento representa um conjunto de relações ao mesmo tempo concretas e virtuais; são operações, porém, utilizáveis em função de quaisquer operações dentro de um tipo". (p 33) .

As alusões realizadas por Conran compõem o pano de fundo da obra e nos são colocadas de uma maneira que nos levam a recordar a produção do período referenciado.

Mesmo assim o autor não se detém a construir na construção do cenário com citações de outras obras, em seu trabalho verificamos que ele utilizou-se de outros gêneros e saberes narrativos externos ao próprio cinema e dos meios técnicos disponíveis para realizar esta tarefa. Assim, palavra, imagem, som, movimento, luz e cor foram trabalhados de um modo que permitiram estabelecer relações da obra com outras obras e ainda outros gêneros artísticos. Desta forma, a construção da narrativa extrapola a estória encenada e constitui-se como um mosaico de citações. Ela é um resultado de seleções e montagens que constituem os nexos que possibilitou uma relação lógica para a homenagem proposta por Kerry Conran.

Assim, cinema apresenta-se, neste caso, como um campo de vários sistemas significantes, um campo intertextual, facilitada pelas transformações da essência da arte, devido às relações com a tecnologia.

CONTEXTUALIZAÇAO DA OBRA

O filme remonta características das grandes obras do cinema. Neste sentido, recupera o estilo comum ao período - os cliffhangers[1] - no qual a estória mostra o herói buscando salvar o mundo de um vilão, e nesta situação o herói vai passando por situações de perigo extremo, mas que o público verificava na cena seguinte que este havia encontrado uma saída no último instante.

Este estilo é recuperado com o Cap Sky (Jim Law) que juntamente com sua companheira na aventura, a repórter Polly Perkins (Gwyneth Paltrow) protagonizam um romance de aventura  buscando salvar o mundo dos planos do anti-herói - o Dr Totenpoft (Lawrence Oliver).

Assim, verificamos a centralidade da estória na ação heróica do Cap Sky que defendendo seus valores irá buscar impedir a destruição do mundo. Bakhtin (2000) nos ensina em Estética da criação verbal a importância  do herói para demonstrar o contexto dos valores de uma época através da obra de arte. Assim nos é ensinado por Bakhtin:

Temos dois tipos biográficos básicos segundo os quais se estabelecem a consciência dos valores e a estruturação do mundo, de acordo com a amplitude do mundo biográfico (a dimensão do contexto dos valores que podem ser percebidos na consciência) e da autoridade que marca a alteridade; diremos do primeiro tipo que ele pertence à aventura-heróica (época do Renascimento, do Sturm und Drang, do nietzscheismo) e, do segundo tipo, que é sócio-doméstico ( sentimentalismo e, em parte, o realismo). (BAKHTIN, 2000, 160 - 170)

No nosso caso, observando o que nos coloca Bakhtin, o herói enquadra-se no primeiro tipo, e identificamos nele os valores que Bakhtin delimita para o primeiro tipo;

Na base dos valores biográficos que assinalam a aventura-heróica, encontram-se: 1) a vontade de ser herói, de ter importância no mundo dos outros, 2) a vontade de ser amado, e, finalmente, 3) a vontade de viver o acontecer romanesco, a diversidade da vida interior e exterior. Esses três valores que organizam a vida e os atos do herói biográfico são valores estéticos para ele mesmo e podem ser também os valores que organizam a representação artística de sua vida pelo autor. (BAKHTIN, 2000, 160 - 170).

Do mesmo modo que identificamos no Cap Sky o herói do primeiro tipo, também o fizemos aos heróis que estrelaram os seriados cliffhangers das décadas de 30 - 50. Nestes heróis verificamos os mesmos valores identificados por Bakhtin presentes no Cap Sky.

Ainda comparando o nosso herói com os que protagonizaram as produções do inicio do século passado, verificamos que, na década de 30, as séries de aviação eram populares, a exemplo de Phantom of the air (Universal, 1932), estrelada por Tom Tyler e ainda The mistery squadron (Mascot, 1933), estrelada por Bob Steele. Em ambas as séries o herói aviador luta contra um vilão que deseja destruir o mundo. Estas duas séries são exemplos do estilo cliffhanger e com elas verificamos que este estilo é recuperado na produção do filme Capitão Sky e o mundo de amanhã.

Desta forma, em nosso entendimento, o caso analisado remonta a construção do estilo de uma época e, neste caso, podemos reconhecer na produção da época referenciada uma identidade que também é encontrada no nosso caso. Assim, observando a relação do gênero e do tipo da narrativa, identificamos aqui uma relação intertextual entre as duas produções.

EXPLORANDO A INTERTEXTUALIDADE NO FILME CAPITÃO SKY

Robert Stam (2000) nos ensina em seu livro Bakhtin da teoria literária à cultura de massa como devemos estar atentos ao analisarmos uma obra com base nos conceitos bakhtinianos. O autor chama nossa atenção para a existência do discurso "pseudopolifônico", situação na qual  a polifonia, dialogismo e intertextualidade não se materializam. Neste sentido o autor além de nos alertar, ele exemplifica a "pseudopolifinia" para que não nos enganemos e defendamos erroneamente este caso. Seu exemplo é o seguinte:

O filme ou comercial de televisão nos quais entre cada oito rostos que aparecem um é negro, por exemplo,e sta mais relacionado à demografia da pesquisa de mercado do que a uma autêntica polifonia, já que a voz negra, nesses casos, em geral é despojada de sua alma, privada de sua cor e entonação. A polifonia não consiste na mera aparição de um representante de um grupo dado, mas na criação de uma conjuntura textual onde a voz daquele grupo possa ser ouvida com força e ressonância totais. (STAM, 2000, p 99)

 Agora, atentos aos ensinamentos de Robert Stam, seguimos nossa análise.

Em nosso entendimento, o autor, ao "recriar" uma estória com base no estilo  de cinema de uma época vai além da contextualização em um período histórico. Ele não se deteve em desenvolver uma narrativa com base nos acontecimentos do início do século XX, ele nos traz a produção da época para constituir a paisagem de sua obra através de diversas alusões que serão tratadas mais adiante.

Assim, a narrativa, as alusões e o estilo do figurino tem a intenção de fazer-nos reconhecer o estilo do cinema de um período e assim o autor colocou em jogo as obras que marcaram esta época, dentro e fora do cinema.

O jogo proposto por Kerry Conran aflora também a relação d produção cinematográfica com o desenvolvimento tecnológico. A produção do cinema evoluiu e à medida que os recursos informáticos passaram a estar à disposição dos cineastas podemos verificar que os efeitos especiais, as montagens e seqüências tornaram-se mais elaboradas. Neste sentido, verificamos também que há um resgate por parte do cinema de outras contribuições artísticas, que vão desde os desenhos até produções da atualidade, o que configura uma nova realidade no cinema, na qual há um resgate de paradigmas anteriores.

Para realizar tal feito verificamos que o cinema precisou "adequar a linguagem" de outros setores da arte para a linguagem cinematográfica, criando assim um hibridismo no interior da produção de cinema. Assim, esta situação de ir buscar em outra expressão artística ou em outra produção cinematográfica possibilita uma relação intertextual interessante que no filme Capitão Sky e o mundo de amanhã está presente.

Este filme tem seu início a cidade de Nova York dos anos 30 como cenário inicial e Robert Stam (2000) nos diz o seguinte sobre esta cidade e sua relação com o cinema: "Em muitos filmes norte-americanos, um cenário nova-iorquino - ele próprio um modelo fervilhante de heteroglossia - detona uma espécie de polifonia textual." (p. 98). Esta observação do autor não afirma que todas as obras que têm Nova York como cenário seja, por este motivo, um exemplo de polifonia.

A seguir fazemos alguns destaques em relação ao filme com o intuito de comprovar a intertextualidade[2]  presente na obra:

a)       o estilo - conforme exposto anteriormente, o estilo do filme remonta aos anos dourados de Hollywood.

b)      As referências a outras obras no interior do filme são muito ricas, destacando trechos de clássicos da época, como por exemplo da cena na qual a personagem Polly Perkins (Gwyneth Paltrow) vai ao cinema assistir o "Mágico de Oz". As alusões seguem apresentando ainda King Kong (1933), em dois momentos, o primeiro quando Nova York está sob ataque de robôs  e ao fundo ele está escalando o The Empire State e em um segundo momento na seqüência submarina, na qual aparece o navio afundado com a gaiola que aprisionou o King Kong.

c)       Os atores também são lembrados e como destaque exemplificamos dois momentos; o primeiro em relação a Orson Welles, uma fala de uma transmissão feita por ele em A Guerra dos Mundos (1938) é repetida por Polly Perkins ao informar que Nova York está sendo invadida por robôs voadores. Segundo verificamos que graças a tecnologia digital pôde-se ter a presença de Lawrence Oliver que protagoniza o vilão Dr Totenkopf. Alem das cenas digitalizadas e inseridas no filme, outra referência em que está ligada a Oliver é quando aparece no filme uma fachada de cinema que exibe o filme O Morro dos Ventos Uivantes (1939), ele trabalhou neste filme. Esta cena aparece na mesma seqüência em que Nova York está sendo atacada por robôs voadores.

d)      Aos quadrinhos. O filme tem sua inspiração nos quadrinhos, este fato pode ser observado desde o figurino, baseado nos trabalhos de Buck Rodgers, e ainda dos robôs voadores que foram tirados dos gibis do super-homem de 1941. Neste ultimo caso também é uma alusão ao trabalho de Max Fleisher.

A montagem nos traz uma situação híbrida na qual verificamos os atores interpretando dentro de um desenho animado em computador, tudo isso conseguido graças à tecnologia digital.

e)   o jogo intertextual possibilitou fazer referência aos estúdios cinematográficos e neste caso a RKO foi a homenageada. Isto ocorre a cena da transmissão do sinal de emergência ao Cap Sky (Jude Law). A seqüência enfatiza o logotipo do estúdio RKO Pictures, possibilitando desta maneira referir-se às empresas que foram responsáveis por grandes clássicos que foram gravados no início do século passado.

f) a trilha musical, escrita por Edward Shearmur, que rememora a idade de ouro de Hollywood. Ainda apresenta a música "Over the Rainbow",  em nova gravação, vencedora do Oscar de melhor música com filme O Mágico de OZ (1939).

Ainda observando o nosso caso, verificamos que o trabalho de Kerry Conran com as cores na película, visando contextualizar a obra à época, deu em efeito de envelhecimento para o filme. Este fato que objetivou passar a sensação ao público de estar assistindo a um filme antigo, em consonância com o estilo e o período em que se desenvolve o enredo do filme.

Com base nas observações acima verificamos que o filme mostra-se como uma malha de citações com o intuito de homenagear  a produção da sétima arte do início do século XX. A narrativa que observamos é resultado de seleções e montagens através das quais se constituem os nexos que dão fluxo lógico à homenagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Distante de buscar uma conclusão ou uma análise aprofundada sobre a obra do cinema, este trabalho que teve como objetivo verificar a presença dos conceitos bakhtinianos de dialogismo e intertextualidade na obra de cinema e, desta forma, o nosso trabalho não buscou enaltecer somente as relações intertextuais presentes no filme Capitão Sky e o mundo de amanhã, mas também explorar outros conceitos bakhtinianos.

Ainda recorremos a Lévi-Strauss e apoiados no seu conceito de bricolagem buscamos entender como utilizar "velhos conceitos" aplicados em novos contextos e na construção de um novo conceito ou obra. Isso se deu devido identificarmos a presença desta técnica nesta obra.

O Conceito de bricolagem nos ajudou a compreender a relação que se estabeleceu  com outras obras e a entender como o autor  buscou rememorar a produção artística do período homenageado. Assim a bricolagem, que conforme nos coloca Lévi-Strauss, cria novas estruturas através de fatos que são "garimpados" no interior de outras obras neste caso serviu-nos para identificar também as relações intertextuais presentes no filme.

Neste sentido, sob   perspectiva bakhtiniana, o filme pode ser visto como uma polifonia que abriu espaço para que diversos gêneros da arte e diversas obras do cinema se apresentassem em um conjunto intertextual  no qual todos têm uma expressão harmônica no todo da obra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, Kikhail Mikhailovitch. Estética da criação verbal. 3ª ed. Tradução Maria Ermantina Galvão, São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BEJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história cultural. 7ª Ed. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet; São Paulo: Brasiliense, 1994. (Obras escolhidas; v. 1)

JOBIN E SOUZA, Solange. Mikhail Bakhtin e Walter Benjamin: polifonia, alegoria e o conceito de verdade no discurso da ciência contemporânea. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. Campinas - SP: Editora da Unicamp, 1997. p. 331 - 346.

KRISTEVA, Julia. Introdução à semanalise. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974.

LAROUSSE CULTURAL. Dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Nova Cultural, 1992.

LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. 2ª Ed. tradução Tânia Pellegrini, Campinas, SP: Papirus, 1997.

LIMA, Luiz Costa. Teoria  da cultura de massa. 6ª ed.São Paulo: Paz e Terra, 2000.

PALOMBINI, Carlos. Idéias para uma musicologia das músicas digitais: notas a uma leitura de Landy. 2001. Disponível em:  <http://www.eunomios.org>. Acesso em: 12 Jan. 2005.

SKY CAPTAIN AND THE WORLD OF TOMORROW. Direção: Kerry Conran. Elenco: Jude Law; Gwyneth Paltrow; Angelina Jolie; Giovanni Ribisi. EUA, Paramount, 2004, DVD (107 min).

STAM, Robert. Bakhtin: da teoria literária à cultura de massa. Tradução Heloísa Jahn. Editora Ática, São Paulo: 2000.

TESCHE, Adayr. Mediações e trocas simbólicas na teledramaturgia brasileira. In: INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos interdisciplinares da Comunicação - XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação - Belo Horizonte, 2 a 6 de set 2003. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/congresso2003/nucleos_np14.shtml. Acesso em: 12 Jan. 2005.



[1] Este assunto é explorado no endereço eletrônico  http://www.imagesjournal.com/issue04/infocus.htm acessado em: 28 Dez 2004.

[2] As referências encontradas em Capitão Sky e o mundo de amanhã foram tratadas por Marcos Petrucelli, comentarista de cinema da Radio CBN, do quadro Sessão de Cinema, em 19/11/04 e que está disponível no site http://radioclick.globo.com/cbn/. Durante o período de realização deste trabalho tivemos a oportunidade de trocar e-mails com o comentarista buscando, desta forma, explorar com maior profundidade o assunto.