DIA DOS PROFESSORES - Se você puder, faça um simples teste: peça para um grupo de jovens, de qualquer idade com mínima consciência de mundo, responder a famosa pergunta "O que você quer ser quando crescer?" Se fôssemos fazer um pequeno ranqueamento de opções, a escolha pela profissão de "professor" é o resto, muitas vezes para os desesperados que se acham incapazes de fazer qualquer outra coisa, ou simplesmente o caminho mais "fácil" para se conquistar um emprego. Tudo isso parece exagero? Isso é cada vez mais uma realidade em nosso meio. Simplesmente "O resto"!

Em qualquer esquina encontramos faculdade para formação de professores, inclusive on-line. A moda é fazer licenciatura, por exemplo, à distância! O desespero para formar "professores" toma conta de muitos, assim como a infelicidade destes terem as aulas também, uma vez que a reclamação da condição de trabalho não acompanha a quantidade extra do seu árduo trabalho. Muitos médicos, engenheiros, administradores etc ao chegarem em casa descansam. Porém o professor continua o seu trabalho em casa. Não se desliga. É bom lembrar que o professor também é um arquiteto de ideias, articulador de um aprendizado e isso exige preparo e pesquisa muitas vezes.

Além disso, o professor na execução do seu trabalho precisa ser também um pai, amigo, psicólogo e linguista para tentar se explicar e se defender a todo instante mostrando a sua real intenção diante da impressão que deixou. Nesse momento o professor fica numa "arena" esperando ser devorado ou simesmente tenta escapar. Ganha reconhecimento? Quase sempre não, mas sim, um estresse hospitalar. Às vezes fatal. E para agravar a situação, hoje, infelizmente, muitos alunos esquecem de dizer "obrigado" e têm um relacionamento com o professor apenas por oportunismo/interesse, artificial e puramente burocrático. Mas nesse contexto todo, o mais desesperado não é o professor formado para a demanda do mercado rápido. O maior desesperado por isso tudo é o professor EDUCADOR, ou seja, aquele que escolheu ser professor como primeiríssima opção; escolheu por dom, criatividade, luta, pesquisa, paciência, articulação de um espírito inovador contra o tradicional modo de passar só informações, e sabedor de que precisa sempre ser valorizado e nunca diz na sua sã consciência "É assim mesmo, né? Fazer o quê?"

O professor educador não é mercantilista (aquele que vive por dinheiro), mas também não desiste de ser recompensado diante de todo seu esforço metodológico. É um sofredor por ser quem é: um didático construtor e articulador, mediador e motivador de um aprendizado sem medo, sem vergonha e é acima de tudo intrépido/ousado. Porém, numa condição falível da educação brasileira em que o aluno questiona o professor todo dia sem dar-lhe crédito; quase nunca o ouve, mas muitas vezes por interesse se acham detentores do saber (rebelde sem causa e menos intelectual); numa sociedade em que a pedagogia e sensibilidade do educador é trocada por quantidade de informações como se isso fosse tudo a ser considerado no ambiente do processo de aprendizagem; num espaço em que há agressão física e verbal ao educador a cada momento, parece que falar de DIA DOS PROFESSORES é apenas um desejo, um almejo dos que ainda acreditam ou têm nessa prática algo essencial em sua vida.

Nesse dia, o professor fica de férias para se desestressar muitas vezes de tanta injustiça e mudança de valores por parte de quem educa, e do outro lado há o aluno que também tem esse dia vago para ter o prazer de pensar em qualquer outra coisa que não seja o motivo dessa reflexão: o professor! Assim, cada vez mais se distancia a relação aluno-professor exatamente no dia dos professores. O dia dos professores deveria ser um dia para consertar um pouco a hipocrisia de esconder a triste relação e respeito que um educador deveria merecer... especialmente por quem precisa dele de verdade TODO O DIA. Japão: o professor é reverenciado até pelo imperador; Brasil: professor e nada parecem ser cada vez mais uma realidade. Raras são as exceções, mas elas só acontecem por quem não se conforma: o professor educador! Só para informar: dia dos professores é TODO DIA! E poucos podem ter um FELIZ dia dos professores, até porque a maioria está talvez neste momento realizando um outro trabalho indesejado mas que lhe dê mais sustentabilidade básica de sobrevivência, e por acaso, são professores acidentalmente!

E por isso tudo voltamos o nosso questionamento inicial com mais uma humilde pergunta: "Quem quer ser professor?" A resposta é: falta professor em todo o Brasil. Ninguém quer assumir mais essa função. Que neste dia (dos professores, né?) possamos refletir e criar a CREDIBILIDADE que todos nós educadores de coração, indiretos ou diretos, (sobreviventes da desilusão) perdemos... mas nunca desistimos; principalmente quando a "arte de ensinar" do educador transforma mentes e corações. E isso está muito acima da simples vontade de passar informações para "matar" um tempo sem construção de sentido. Sentido até mesmo para o que realmente deveria significar, de fato, um "FELIZ DIA DOS PROFESSORES".

                                                                  (Wallas Cabral de Souza)