Durante todo esse tempo, o mundo absorveu e curvou-se ? ativa ou passivamente ? ao modelo de vida e democracia imposto pelos norte-americanos. OK, isso todos já sabem. Mas todo esse castelo indestrutível, esse conto de fadas, era mesmo real?
Foi munido dessa questão, de um abrangente e rico arquivo de imagens e um humor sarcástico e feroz que Michael Moore (mesmo diretor de "Tiros em Columbine" ? 2002), cineasta conhecido e aclamado pela sua perspicácia na crítica ácida aos artificialismos e contradições da sociedade considerada inquestionavelmente como "exemplo" para a maioria da população mundial, sempre num tom provocador, toma como principal alvo no filme "Fahrenheit ? 11 de setembro" nada mais nada menos que o ilustríssimo (para evitar palavras mais depreciativas) Sr. George W. Bush, então presidente dos EUA, e a verdadeira oligarquia político-econômica construída desde o final dos anos 1970 e durante a década de 80, época em que seu pai, George Bush, esteve à frente do país. É o Texas falando para o mundo... mesmo que seja por máfias.
O documentário desmascara, durante o seu decorrer, todas as farsas que precederam as eleições de 2000, estas que tinham tudo para ser de Al Gore, mas acabaram empossando o nosso querido Bush filho; e como a má-administração deste "space cowboy", seguido de envolvimentos financeiros às escondidas com líderes de grupos extremistas do Oriente Médio e a própria família Bin Laden, levaram ao atentado às Torres Gêmeas, em 2001, à invasão "injustificável" ao Iraque, em 2003, e à chacina desumana de milhares de pessoas, tanto em solos iraquianos quanto americanos. E mais: Moore e a sua carga de ironia ? até mesmo na trilha sonora ? retrata fielmente as falhas da dialética ianque (dita patriótica) e os desvios de caráter das classes dominantes, os quais aproveitam-se do desejo ingênuo da massa de proteger seu país para lucrarem em cima disso e manterem as discrepâncias não só sociais, como também étnicas e intelectuais.
Corajoso, intrigante, polêmico ? talvez esses três adjetivos sejam insuficientes para descrever a obra cinematográfica de Moore (tamanho foi o sucesso desta que o governo tentou boicotar sua veiculação ? fato que impulsionou a sua incessante procura); esta que vem com o objetivo de quebrar as correntes do mainstream, do "American Way of Life", e dar uma chance aos que assistem de recuperar suas identidades culturais, sem máscaras e vendas, sem segundas intenções, sem farsas de si mesmas.