“DETENÇÃO, FENDA TEMPORAL”

Em tempos de globalização, é difícil de aceitar esta visão social, onde o normal é ser totalmente anormal.

A anomalia se expõe quando encontra questões sem respostas que ditam regras para a nossa compreensão. Abraçado ao maior de todos os temores nos deparamos com o desconhecido, com o sentimento de impotência. Nossos braços, nossas mãos, nossas pernas estão atadas, embora possamos correr, embora possamos espalmar; não o fazemos, essa anormalidade nos atrai tal qual formigas ao mel.

Tenho medo, tenho dúvidas. Porém tenho certeza que não terei respostas suas; mesmo assim as buscarei.

“A sabedoria do homem, e a ignorância social”.

Mil novecentos e cinquenta e seis, governo Jânio da Silva Quadros; um canto da cidade, um afastamento da sociedade; uma posição política, uma necessidade, local, real; irreal, absurda, como o absurdo em que se tornou. A Casa de Detenção “Professor Flaminío Fávero” estava inaugurada. O Primeiro pavilhão (o dois), os primeiros presos ou detentos chegam; são triados, qualificados, higienizados, observados, medicados? Ao término como gado no pasto ou no estábulo, marcados, apenas diferenciados na forma; gado marca-se com ferro em brasa... Estes homens com plaquetas numéricas em forma de registro prisional; isso é o século XX.

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Que surpresa; a primeira ordem recebida, uma sensação de poder ao olhar aquela argola com dezenas de chaves das celas. Sentia por entre minhas mãos um poder tão grande que era absurdamente louco.

O tilintar; o bater; e a chave rompe o cadeado, porém a porta não abre, forço mais e mais, enfim rompe-se algo!  Uma sensação de solidão, abandono, insegurança e medo tomam conta de meu corpo, minhas pernas bambeiam, meu abdômen chega a dar nó e transforma-me em algo que nunca fui algo desconhecido, alguma coisa estava para acontecer. Algum sistema de fecho interno (coisa ilegal), a porta a abre-se mais, ou menos dez ou quinze centímetros, de repente uma súbita agressão...

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A razão da metamorfose, dos sentimentos, aloca-se no mais no íntimo do obscuro cérebro, ou irradia-se por entre reflexos incontroláveis no afã da existência.

Prisão, local de superlotação humana, ou de evasão psíquica. Elo da razão com o absurdo, caminho impiedoso com máculas tão profundas que fazem do homem um ser inumano.

O sentimento, o incompreendido, o irreal, o mal, a sombra na noite e a escuridão no dia claro, ratos, baratas, percevejos, pulgas e mau cheiros.

"ESTRE TRECHO FAZ PARTE DE UMA MATÉRIA ESCRITA NA ÉPOCA DA DESATIVAÇÃO DA EXTINTA 'CASA DE DETENÇÃO PROF. FLAMINIO FÁVERO' _ CONHECIDA COMO CARANDIRÚ.

Estou aguardando verba, parceria e o momento certo pra publicar,,