Despertar, desertar.

 

Acidentalmente, ao redigir um texto, omiti uma letra ao digitar a palavra despertar. Uma letra apenas, um "p", transformou a idéia em quase o oposto. É intrigante o mistério da língua portuguesa...
A palavra poder, por exemplo, é um anagrama da palavra podre. Com as mesmas letras, pode-se exprimir palavras tão antagônicas...
Não temos o hábito de prestar atenção nas sutilezas da vida e da nossa língua. Seriam meras coincidências?

Quem já teve contato com a Física Quântica, com certeza, não admite mais a palavra coincidência como um fato ao acaso.
Juntando-se a isso a bela teoria de Carl Gustav Jung sobre o inconsciente coletivo e seus sincronismos, podemos crer estar lidando com algo que foge, completamente, ao nosso racionalismo.
Voltando à idéia inicial, o erro de digitação me diz que, em relação à vida, temos duas opções distintas: despertar ou desertar.
Despertar seria uma atitude de assumir a vida plenamente, com todos os riscos pelos quais os nossos atos passam. Traçar – por medida de segurança – metas bem claras a serem alcançadas, e trabalhar por elas. Entender, de uma vez por todas que, queiramos ou não, só nós somos responsáveis por nossa vida, e entregá-la para a administração de outrem é um completo erro.

Desertar, por outro lado, seria uma atitude quase oposta a despertar. Uma fuga, uma entrega ao sono da preguiça, do medo e da dúvida e a uma errônea crença - inconsciente, talvez – na própria incompetência. Assim, deixar a vida passar, não interagir, fugir, omitir-se e anular-se.

Claro que tudo isso é apenas elucubração, idéias esparsas. Momento de pura divagação, em torno de uma coincidência.
Mas não deixa de ser interessante que um simples erro de digitação nos possa levar a tantos pensamentos, tantas idéias do que poderia ser – ou resultar – de uma atenção mais acurada com as coisas simples da vida.
Muitas vezes, a diferença entre sucesso e fracasso pode residir apenas neste fato: quando olhamos para a vida com atenção, as oportunidades se revelam ou podem ser criadas.

E não são oportunidades do que precisamos para vencer?
Quantas pessoas lamentam a falta de oportunidade? Será que as oportunidades faltaram realmente, ou apenas não foram notadas por seus  quase beneficiários?

Quantos desertores involuntários existem por esse mundo afora que, por simples falta de atenção, não conseguiram interpretar os recados da vida, não traçaram sua metas e não delinearam seus objetivos de forma mais cuidadosa e dedicada?

Devemos ter em mente uma coisa: esse maravilhoso processo ao qual chamamos vida possui, não só um incomensurável amor e doação, mas também uma impressionante ironia, somente evitável quando atentos e despertos.