Despertando a curiosidade do aluno através da problematização e projetos de aprendizagem

[1]Lindivalda Sales de Souza Feitosa

Na verdade, não há eu que se constitua sem um não-eu.

Paulo Freire (2005, p. 81)

É esdrúxulo falar do processo de aprender sem externar a concepção freireana. As pessoas aprendem umas com as outras e em comunhão.Implica-se então dizer que a humanidade que vive em sociedade estar suscetívela aprender independente da classe social pertencente.

A prática educacional, por mais tendenciosa aos processos mecânicos do ato de ensinar no âmbito escolar, há sempre presente o ato de aprender coletivamente antes mesmo de freqüentar a educação (escola) formal. Esta afirmação se faz por acreditar na dinâmica da relação entre indivíduos numa sociedade ativa em que estamos inseridas. Afinal esta é a condição que nos foi imposta ao nascermos. "Ou aprendemos respirar ou morremos" SANTOS (2008 p 11).

Acredita-se então que na educação formal não há espaço para ação individualizada entre os personagens que fazem parte do processo educacional: pais-alunos, alunos-professores, gestores-professores e pais-alunos-gestores-professores. Quão às claras em nossa vida que não se podem desconsiderar os personagens que proporcionam aprendizagem direta ou indireta ao indivíduo em desenvolvimento, tampouco o mundo que o cerca.

Para dar início ao diálogo proposto sobre aprendizagem coletivo-cooperativa ou problematizadora, se faz necessário citar escolha em delinear as concepções de Paulo Freire que defende a educação através da problematização e Júlio Furtado Santos que na mesma linha de idéias, acredita na aprendizagem significativa.

Todo indivíduo por mais passivo que seja, sente-se atraído pelo desafio de aprender algo, mesmo que inconsciente. Desafio este que requer boas estratégias, provocando assim o diálogo na busca da resolução de problemas. A educação problematizadora de acordo com Freire exige o rompimento com a verticalidade no ensino entre professor e aluno educador e educando. A escola precisa ensinar ao aluno a fazer as perguntas e não a respondê-las como de costume. Assim enfatiza Rubens Alves sem suas obras.

Na prática escolar atualmente deve-se priorizar a aprendizagem por projetos ora já existente e praticados em algumas escolas, claro com dificuldade, pois, trabalhar com projetos de aprendizagem, requer do professor outra postura no processo educacional. O que chamo de desvinculamento do ato e prática de ensinar, implicando no profissional um posicionamento neutro quanto ao que se quer aprender, prevalecendo o problema, curiosidade ou a dúvida do aluno, anulando-a do professor.Vale ressaltar que o termo Projeto é bastante recente em nossa cultura, apesar do seu surgimento no século XV.

A aprendizagem por projetos define quem aprende e elimina o mero processo de ensinagem, ou seja, professor e aluno ficam no condicionante de aprender juntos, claro que o professor será sempre o mediador, orientador do processo do aprender, o líder da aprendizagem.Mediar o problema e encaminhar o aluno a solucioná-lo será tarefa primordial, isto denota que o professor deverá sempre estar atualizado e preparado para atender essa demanda, lembrando ainda que, a competência –ato do conhecer - e a habilidade - ato do saber fazer - devem ser os recursos intelectuais do professor.

A técnica defendida nos projetos de aprendizagem refere-se ao tema que é de interesse do educando e não do professor ou da escola. Isto remeterá sempre aos temas que provocam desafios e que estejam relacionados a fatos do cotidiano ou curiosidade, que muitas das vezes parece bizarros, não ter resposta plausível ou possível. Quiçá fossem contemplados no currículo escolar.

[2]"O projeto para aprender deve ser gerado pelos conflitos, pelas perturbações no sistema de significações, que constituem o conhecimento particular do aprendiz. O próprio aluno não tem consciência dele. Por isso a escolha das variáveis que vão ser testada na busca de solução de qualquerproblema, precisando ser sustentada por um levantamento de questões feitas pelo próprio estudante".

Para ilustrar melhor nosso diálogo apontam-se no quadro abaixo[3] alguns exemplos de temas ou situação problema apresentado por alunos de Educação Básica.

Turmas participantes

Situação-Problema provocado pelos alunos

Tema em questão proposto pelo professor e alunos

Alunos de Educação infantil entre 03 a 05 anos

-As borboletas mamam quando pequenas?

- Por que os guardas batiam em Jesus, se ele é nosso pai?

A vida das borboletas

Descobrindo quem foi Jesus

Alunos de Ensino Fundamental 1ª a 4ª séries

- Por que temos preguiça de estudar?

- O mosquito da dengue sempre ataca, mas, tem tempo que ele desaparece, por quê?

O que estudamos e que gostaríamos de estudar

A dengue e suas facetas

Alunos de Ensino Médio 1º aos 3º anos

- O que é homofobia?

- Por que há tantas palestras, campanhas, informações sobre DST/AIDS e a população continua se arriscando não usando camisinha ou se prevenindo?

- Pedofilia uma questão de doença ou safadeza?

Homofobia x respeitando as diferenças

DST/AIDS uma questão de consciência!

Infância roubada

Observa-se então que as problemáticas fogem de forma clássica da rotina conteudista da sala de aula, extrapola o currículo escolar e que as questões registradas partem de indagações, dúvidas, questionamentos e curiosidades, independem também de idade e gênero. Os fatores conceituais, procedimentais, atitudinais e factuais imbuídos neste contexto subsidiarão na formação do indivíduo de forma cognitiva. Quanto os aspectos conceituais científicos, sociológicos e filosóficos contribuirão na formação intelectual pela busca e solução de problemas. Cada problema destacado invoca inexoravelmente a pesquisa acadêmica na busca dos porquês. Todo indivíduo tem a capacidade para investigar e descobrir sobre algo que lhe perturba. É com esse intuito que os projetos devem permear. Daí a importância do papel do professor enquanto mediador e líder da aprendizagem.

Indiscutivelmente a aprendizagem proporcionada por projetos é significativa considerando o aluno como sujeito ativo neste processo, pois o diálogo, a interação, o entrosamento e cumplicidade estarão sempre presentes e propiciarão a construção de novos conhecimentos. Podemos também chamar de aprendizagem significativa, pois, de acordo Júlio Furtado (p 34.2008) as condições requeridas para aprendizagem significativas dos educandos refere-se à motivação, interesse, transferência de experiência, o meio ambiente e mudança da prática do professor em: parar de dar respostas, parar de dar tantas instruções, procurar novas formas de desafiar o aluno, elevar a auto-estima do aluno e promover a interação entre alunos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE, Paulo – Pedagogia da Autonomia; saberes necessários a prática educativa – São Paulo, Paz e Terra 1996.

FURTADO, Julio Cesar - Aprendizagem significativa: modalidades de aprendizagem e o papel do professor - Porto Alegre: Mediação 2008.

PIAGET, J. A linguagem e o pensamento da criança. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1959.

VIGOSTKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.



[1] Mestranda,especialista em educação e Pedagoga.

[2] Prática defendida na Proposta Curricular Municipal de Nove Anos do Município de Boa Vista-RR-2008

[3] Esse quadro foi construído a partir de pesquisa realizada em escolas públicas em Boa Vista-RR na aplicação de projetos de aprendizagem durante curso de capacitação para professores de rede pública.