Antes de realizar uma fotografia, o profissional procura um foco. Quando se está treinando tiro ao alvo, procura-se um foco. Quando se toma um táxi, o motorista pergunta qual é a direção, que pode ser o foco da viagem. Nos exercícios de Tai Chi Chuan, também se procura um foco para direcionar o olhar a fim de manter o equilíbrio. Focar, parece ser um verbo importante em nosso cotidiano.

Será possível identificar um foco para a metodologia de ensino? Ou será possível vislumbrar alguma saída para os problemas da sala de aula, se podermos focalizar melhor a metodologia de ensino? (LIBÂNEO, p. 152). Bem, vamos pensar juntos: indisciplina, repetência, evasão escolar, notas baixas, falta de interesse dos alunos, dentre outros problemas, podem ter alguma solução em comum?

E se recordarmos que vivemos numa sociedade tecnocientífica (Marcos Leodoro), um mundo tecnológico (PRETTO, 2002), sensível e ecológico? (CAPRA, 1999). Será que estes paradigmas estão presentes em nossas aulas? Nossas aulas estão moldadas no século XXI ou no século XV?

As crianças estão nascendo no contexto onde os recursos das telecomunicações trazem o mundo para dentro de suas casas. Na sala de jantar, cozinha, quarto, ou para o celular. Toda esta parafernália de equipamentos e aparelhos perfazem o contexto hodierno (SAMPAIO, p. 34-35). É um mundo digital e dos controles remotos, um mundo sem fios!!!

As crianças se preparam para sair de suas casas na direção da escola, porém antes de saírem: checam e-mails, verificam os novos convites para o orkut; certificam se as músicas foram baixadas; escrevem algo no blog do ídolo; transferem arquivos para o pen-drive; verificam as últimas notícias ou informações de seu interesse (eis que surge uma infinidade de sites específicos com jogos, modas, filmes, músicas, direcionados para cada gosto); tudo isso enquanto tomam um copo de iogurte, e finalmente escutam o pai: "Filho, vamos, está na hora...".

Esta criança chega na escola e vai para o seu grupo. Cada criança possui seu grupo de crescimento pessoal. Nestes eles atualizam informações, partilham os níveis de jogos conseguidos, mostram as novas músicas ou vídeos baixados da internet, e quando estão num clímax dialogal: toca o sinal. E ele(a) sai do mundo real, para entrar num mundo desconhecido[1]: um mundo autoritário, de via única, monótono, fechado, separado (WEIL, 1997). Internamente, o seu organismo reage – pois ele(a) sabe que será tudo como no dia anterior: nada de novidades, de atualidades, ou desafios. Seu cérebro sente que a conexão de 750 bkps, vai passar para 10 bkps. Recorda que toda a sua criatividade estará bloqueada nas próximas horas (ANTUNES, 2001); que suas emoções não poderão ser manifestadas, pois perturbará a ordem estabelecida; e o pior de tudo isto: terá que escrever algo – tem sido um dos momentos difíceis da sala de aula, uma vez que o mundo digital não exige caligrafia. Tenta reagir a tudo isto, mas da memória "chega" a voz do seu pai dizendo: "Filho, você precisa estudar para ser alguém...". Aí ele(a) se recorda de tantas pessoas que sem estudos, se tornaram alguém[2]. E que foram morar noutros países, ganhando altos salários.

Será que nossas metodologias de ensino estão conseguindo atingir uma criança com estas características? Talvez, observando melhor este contexto apresentado, possamos identificar o por quê da inquietação das crianças, uma vez que chega num espaço onde apenas uma pequena parte do seu cérebro é explorada – e por sinal, mal explorada. Um espaço no qual ela precisa obedecer sem questionar, sem negociar ou poder sugerir algo, como faz nos jogos interativos ou com seus colegas (presenciais ou virtuais). Será que se os combinados das séries iniciais, permanecessem ao longo dos anos escolares, algo poderia estar melhor? Será que pode-se fazer uma trabalho participativo?

Outro aspecto é a desvinculação natural do seu grupo de crescimento pessoal: as crianças que pensam, gostam e fazem coisas semelhantes, e cuja atração se dá pelos interesses intrínsecos de cada um e não por uma hierarquia de estereotipada. Se as salas pudessem ser montadas pelas afinidades, será poderíamos ter melhores resultados da nas questões afetivas?

Uma sala que ao invés de estar tratando de conteúdos, cujas vinculações com seus cotidianos são nulas, apresente uma proposta problematizadora, poderá contribuir para uma melhoria na disciplina interna da escola? (REBELO, 2003).

Se fosse possível - de segunda a sexta - permitir que as crianças construíssem seus roteiros de estudos, mediante demandas de necessidades pessoais, será que os interesse pelos estudos poderiam sofrer uma inversão significativa?

Além de exposições pessoais e personalistas, os alunos pudessem pesquisar, organizar, produzir e apresentar suas conquistas, suas notas poderiam ter algum grau de inversão no sentido crescente? Alguns professores realizam experiências semelhantes, porém, foi uma única vez. Questões de variadas ordens impediram a continuidade do projeto.

Onde estão as gincanas, nas quais as séries, turmas, turnos e até entre escolas eram realizadas? Será que estas competições podem conter elementos de organização pessoal e coletiva; de gestão; noções elementares de gerenciamento de pessoal; exercício e controle das emoções; elementos da poiese[3] (CAPRA, 1999, p. 136); exploração dos aspectos criativos, e recordar as crianças que elas fazem parte de um todo orgânico?

E se as crianças pudessem manifestar suas produções e conquistas na sala de aula, através de produções como: cartazes, colagens de gravuras, músicas preferidas. E se o seu mundo artístico pudesse ser explorado, isto poderá trazer contribuições ao seu interesse pela escola: um local onde ele(a) pode se manifestar sabendo que não será repreendida, punida, podada por nenhuma pessoa presente.

Então, estamos diante de algumas possibilidades e saídas. A questão é: como viabiliza-las? Que está faltando nos Cursos de Pedagogia para que os pedagogos possam interagir melhor com as crianças do século XXI? E onde estão as pesquisas stricto sensu que poderiam estar refletindo estas questões? Como podemos nos organizar nacionalmente para criarmos um fórum permanente de debates de permuta de conhecimentos no sentido de juntos, identificarmos saídas para partilha-las? Ou nos integramos aos já existentes? Penso que se algo verdadeiramente sério, profundo e sistemático não for feito, estamos correndo sérios riscos. O rico mundo dos games, dos blogs, e todas as interatividades propostas na sociedade hodierna poderão ganhar o raund final.

RFERÊNCIAS

1.A informática no ensino fundamental.Produção de Soffner Rosemary. São Paulo : ATTA Mídia e educação. (s.d.). 1 videocassete. (35 min), VHS, son, color.

2.ANTUNES, Celso.O lado direito do cérebro e sua exploração em aula.3. ed.Petrópolis: Vozes, 2001. (Fascículo 5).

3.CAPRA, Fritjof.A teia da vida.3. ed.São Paulo : Cultrix, 1999.

4.LÉVY, Pierre.A conexão planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência.São Paulo : Ed 34, 2001.

5.MORAES, Maria Cândida.O paradigma educacional emergente.2. ed.Campinas : Papirus, 1998.

6.Oficina de ciência e tecnologia. Produção de Marcos Pires Leodoro.São Paulo : ATTA Mídia e educação. (s.d.).1 videocasssete (49 min), VHS, son., color.

7.PRETTO, Nelson De Luca.Uma escola sem/com futuro: educação e multimídia.4. ed.São Paulo : Papirus, 2002.

8.REBELO, Rosana Aparecida Argento.Indisciplina escolar: causas e sujeitos.2. ed.Petrópolis : Vozes, 2003.(Coleção temas sociais).

9.RYDLEWSKI, Carlos. Um mundo sem fio...Revista Veja.São Paulo, out2004.

10.SAMPAIO, Marisa Narciso e LEITE, Lígia Silva.Alfabetização tecnológica do professor.Petrópolis : Vozes, 1999.

11.WEIL, Pierre.A ilusão da separatividade. In: _____.A Neurose do Paraíso Perdido.3. ed.Rio de Janeiro : Espaço e Tempo, 1987.



[1] Em função deste negligenciar os avanços e estudos, não só tecnológicos, mas também das neurociências.

[2] Alguém de fama e dinheiro: modelos, jogadores de futebol, cantores, capoeiristas.

[3] Autoregulação, autocriação em rede. (Humberto Maturana e Francisco Varela)