A Amazônia precisa de um programa de investimento em infra-estrutura, mas este programa precisa tomar o desenvolvimento sustentável como base e não como retórica.

Charles R. Clement

Se não superarmos uma espécie de mentalidade rastaqüeresca, colonial mesmo, no tocante à Amazônia, falar em desenvolvimento sustentável não vai além de nhenhenhém acadêmico-político.

Tudo nesta área é astronômico. Só a floresta cobre cerca de 3.3000.000 Km², ou seja, 40% do território brasileiro. Sua biodiversidade é única no planeta. Em termos de ecossistema, nossa Amazônia Legal apresenta quatro grandes segmentos: florestas densas, florestas não densas, os cerrados e as várzeas. Segundo estudiosos, há entre 5 e 7 mil espécies de animais vertebrados; 15 e 20 mil espécies de plantas superiores, 20 e 100 mil espécies de microorganismos e 1 e 10 milhões de espécies de animais invertebrados.

Numa outra dimensão, nada menos que cerca de 25% da produção de soja nacional saem deste celeiro; o rebanho bovino gira em torno dos 12%; quase 14% da produção mineral, e o Produto Interno Bruto (PIB) está em nível dos 7%.

O que andam fazendo nela, com ela e para ela é a grande questão. Sou daqueles que ainda não descobriram o que o Brasil realmente pretende fazer com tão extraordinário Tesouro. Se pensarmos em termos de Ciência e Tecnologia, chegam a ser piada os investimentos. Aliás, alguns dizem que "a Amazônia paga para outras partes do Brasil".

Não há saída: ou superamos o modelo de desenvolvimento em marcha, alicerçado em políticas predatórias, em extrativismo primitivo, ou nosso fim será a barbárie. Nossa Amazônia virará pó. Urge substituirmos essa pororoca de insensatez por comportamentos inteligentes, sábios, racionais, cujas bases estão no desenvolvimento sustentável.

A escolha consciente por este modelo de desenvolvimento (sustentável) requer novas cabeças, novos leituras de mundo, novas compreensões de categorias importantes como o capital, trabalho, produção e recursos naturais. Não basta pensar, é fundamental pensarmos corretamente. Sustentabilidade, nos termos da Comissão Mundial sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, significa "atender as necessidades da geração atual sem comprometer a habilidade de gerações futuras em atender as suas necessidades".

Não preciso lembrar que o desenvolvimento sustentável da Amazônia passa pela preservação de toda a floresta em pé e viva. Eis, assim, a grande empreitada, eis o nosso maior desafio, eis o enigma. Charles R. Clement é claro: "Não existe um modelo que o Brasil pode seguir para o desenvolvimento sustentável da Amazônia com a floresta de pé. O Brasil vai precisar desenvolver este modelo, vai precisar ousar na busca de novos modelos, de novas concepções".

Convenhamos, se as políticas em ação outra meta não têm senão fazerem da Amazônia um lucrativo corredor agrícola, é lógico que a coisa vai indo muito bem, obrigado. Se o que interessa é a soja, que se dane o resto. O que falta é vergonha na cara para assumir tal postura e se deixar esse cinismo deslavado. Clement está certo: "A diversidade exuberante da floresta amazônica não combina com o atual modelo de desenvolvimento mundial, que é baseado em monocultivos de todos os tipos".

Havendo decisão política para se trabalhar a partir da chamada biodiversidade, o primeiro passo, sem dúvida, é investir pesado em Ciência e Tecnologia. Na seqüência, escolhermos as opções mais viáveis economicamente, tarefa árdua, técnica e imprescindível. Será preciso ousadia, imaginação e presença marcante do Estado. Hélio Jaguaribe defende até a criação de uma grande empresa pública, segundo o mestre, uma empresa que otimize o uso racional e sustentável dos recursos da região.

Consoante estudos de Charles R. Clement e sua equipe, podemos encontrar seis grupos de opções: Agricultura e Pecuária; Madeira; Ecoturismo; Produtos Florestais Não Madeireiros; Carbono e Genes. Vale o alerta: caso persistam os rumos atuais de desenvolvimento, a biodiversidade desaparecerá e o saldo é o que assinalamos acima. Portanto, sabedores que somos da importância da biodiversidade para todos nós, não deveríamos contar com mais pesquisas diretamente ligadas a ela?

De minha parte, estou enojado com essa estratégia posta em prática na qual discursos estão em profundos descompassos com o modelo de desenvolvimento. Fala-se para melhor silenciar. Em fim, estou com Clement: "Se pretendemos o desenvolvimento sustentável com a floresta de pé, como querem os povos da floresta amazônica, muitos brasileiros, os cientistas e pessoas do mundo afora, então é necessário mudar a forma como o governo trata o assunto e iniciar um programa de investimento na Amazônia, como parte integral do Brasil, inclusive e, principalmente, investimentos em C&T para viabilizar um futuro com a floresta de pé".

 
Ary Carlos Moura Cardoso
Mestre em Literatura pela UnB
Pós-Graduado em Filosofia pela UGF
Pós-Graduado em Educação pela UnB
Professor da UFT