Um mundo limpo, ecologicamente equilibrado, saudável e eqüitativo. És o discurso proferido pelos adeptos do chamado Desenvolvimento Sustentável. Seria isso realmente possível em nossos dias?

Diante de um modelo econômico incompatível com o equilíbrio dinâmicoecológico, e por conseguinte da resposta dada pela natureza a intervenção abruta do homem a seus componentes (através de catástrofes naturais: enchentes, tsunames, ondas de calor, chuvas ácidas, etc). Autoridades do mundo inteiro reconhecem a necessidade emergencial de reformulação do modelo econômico e ideológico vigente; é assim que surge o conceito de desenvolvimento sustentável, propondo um uso mais racional e/ou consciente dos recursos naturais, como a alternativa mais viável para contenção e/ou minimização dos impactos ambientais até então imperantes. Este "novo modelo" frisa inclusive a necessidade de se levar em consideração na análise e equacionamento de problemáticas aspectos outros, como os fatores sociais, culturais, políticos de cada região... Visto por este ângulo, o modelopropostopoderia até ser descrito como a "panacéia de todos os males", não fosse por um pequeno e importante detalhe: este fora um modelo idealizado junto as grandes potências mundiais (capitalistas, desumanas e exploradoras por natureza).

Não é realmente incoerente que este discurso sustentável surja justamente junto as maiores e mais poluidores nações do mundo? junto aqueles que mais exploram e desperdiçam os recursos naturais hoje? (não só os seus, mas os de outras nações economicamente dependentes e mais pobres). É como se nos dissessem "extrapolamos os limites de nossos recursos, precisamos usar os seus em beneficio de nossos lucros, mas se vocês continuarem agindo de tal forma, nem teremos mais de onde tirar os recursos e as matérias - primas que precisamos, nem tão pouco teremos condições de nos mantermos vivos, afinal os recursos de bem comum (água, ar, florestas, solo...) estão doentes ou escassos".

Assim enquanto os impactos proveniente da ação desenfreada do homem sobre o ambiente atingiam somente os pobres (trabalhadores e operários das grandes fábricas), ninguém jamais tocou no assunto ou se tocou fora de modo muito superficial. Mas, quando os problemas se estendem comprometendo, inclusive o bolso e a saúde dos ricos e poderosos, é questão ganha força e repercute, tornado-se a pauta principal em meio a grandes conferências internacionais. Não digo que estas não sejam importantes, assim como não digo que precisamos realmente cuidar melhor do ambiente em que vivemos, mas a muita hipocrisia e jogos de interesses envolvidos em meio a tudo isso! Se assim não o fosse o que explicaria, portanto, a negativa dos Estados unidos frente ao Protocolo de Kioto? Ou mesmo a atitude de Algor (ex-candidato à presidência dos Estados Unidos da América), ao pregar um discurso visivelmente sustentável em meio as maiores redes de comunicação e publicidade do mundo e, no entanto gastar "rios de dinheiro" (cerca de 200 milhões de dólares anuais) em sistema de ar refrigerado em sua casa? Uma postura no mínimo incongruente!

Em nome de um mundo mais limpo, mais saudável, ecologicamente equilibrado e eqüitativo, o Brasil recentemente assinou um acordo de cooperação tecnológica para produção e comercialização do etanol (substância obtida a partir da fermentação de açucares e utilizada como combustível pela industria automobilística - biocombustivel). Seria esta proposta realmente interessante para nós brasileiros? Será que todos estariam sendo beneficiados com a assinatura deste acordo? E as conseqüências do plantio exacerbado da cana para o solo e as espécies nativas da região? E as populações que vivem nessas áreas para onde serão remanejadas; seriam estas absorvidas em sua totalidade como mão-de-obra? Enfim estaria o desenvolvimento sustentável realmente cumprindo as proposta idealizadas ou difundidas internacionalmente?

Por que em nome do bem comum e da manutenção da vida alguns devem abrir mão de seus recursos e necessidades, enquanto outros apenas ditam regras a serem cumpridas? Por que existem leis e punições severas aqueles que transgridem as normas e padrões estabelecidos (geralmente os mais pobres e despossuidos), enquanto outros ficam impunes, tendo inclusive o apoio e/ou cobertura de grandes órgãos? (criados inclusive para fiscalizar os transgressores das leis ambientais). E mais uma vez nos perguntamos não é o discurso sustentável que prega a justiça e a equidade social? Então o que explicaria situações como estas refletidas no Brasil e no mundo?

A proposta é muito boa, mas não tem funcionado, pelo menos não como deveria! Se todos realmente agissem em prol do bem comum, as coisas poderiam ser até diferentes, mas em nossos dias onde a ganância, a cobiça, a falta de valores éticos imperam; nunca sociedade em que o dinheiro sempre fala mais alto, projeto ou proposta nenhuma funciona! É como já bem dizia G. F Dias em Dimensões humanas das alterações ambientais globais: "Não é que de um lado existam vilões e de outro vítimas. Todos estariam em melhor condição se cada um considerasse os efeitos de seus atos sobre os demais. Mas ninguém está disposto a crer que os outros agirão desse modo, e assim todos continuam a buscar seus próprios interesses".