Rubens Pessoa de Barros.

O consumo desequilibrado dos recursos naturais, sem a preocupação com as futuras gerações faz com que cada país lute pela sua sobrevivência e pela prosperidade quase sem levar em consideração o impacto que causa sobre os demais. Alguns consomem os recursos da Terra a um tal ritmo que provavelmente pouco sobrará para as gerações futuras. Outros em número muito maior, consomem pouco demais e vivem na perspectiva da fome, da miséria, da doença e da morte prematura.

É possível chegar a uma nova era de crescimento econômico, fundamentada em políticas que mantenham e ampliem a base de recursos da Terra; o progresso que alguns desfrutaram no século passado pode ser vivido por todos nos próximos anos. Mas, para que isso aconteça, temos que compreender melhor os sintomas de desgaste que estão diante de nós, identificar suas causas e conceber novos métodos de administrar os recursos ambientais e manter o desenvolvimento humano.

Para nossa surpresa, a própria pobreza polui o meio ambiente também, criando outro tipo de desgaste ambiental. Para sobreviver, os pobres e os famintos muitas vezes destroem seu próprio meio ambiente: derrubam florestas, permitem o pastoreio excessivo, exaurem as terras marginais e acorrem em número cada vez maior para as cidades já congestionadas. O efeito cumulativo dessas mudanças chega a ponto de fazer da própria pobreza um dos maiores flagelos do mundo.

Dentro de alguns países em desenvolvimento, a pobreza foi exacerbada pela distribuição desigual da terra e de outros bens. O rápido crescimento populacional prejudicou a capacidade de melhorar o padrão de vida. Esses fatores, aliados a uma necessidade cada vez maior de explorar comercialmente terras boas, levaram muitos agricultores de subsistência a se transferirem para terras ruins, tirando-lhes assim qualquer esperança de participarem da vida econômica de seus países. O cultivo extensivo em encostas íngremes está aumentando a erosão do solo em muitas regiões montanhosas de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em muitos vales fluviais, cultivam-se agora áreas onde as inundações sempre foram comuns.

A maioria da vítimas dessas catástrofes é constituídas pelos pobres das nações pobres, onde os agricultores de subsistência tornam suas terras mais sujeitas a secas e inundações porque matam as áreas marginais, e onde os pobres se tornam mais vulneráveis a todas as catástrofes porque vivem em encostas íngremes ou em regiões ribeirinhas sem proteção, as únicas áreas que lhes restam para construírem seus barracos. Não dispondo de alimentos nem de divisas, os governos economicamente vulneráveis desses países têm poucas condições de enfrentar tais catástrofes.

Os vínculos entre desgaste ambiental e catástrofes que impedem o desenvolvimento evidenciam-se melhor na África subsaariana. A produção de alimentos per capita, que vem declinando desde os anos 60, entrou em colapso durante a seca dos anos 80 e, no momento em que os alimentos eram mais necessários, cerca de 35 milhões de pessoas ficaram em risco. O uso excessivo de terra e a seca prolongada ameaçam transformar em deserto os prados do Sahel africano. Nenhuma região sofre de modo mais trágico com o círculo vicioso da pobreza que leva à deterioração do meio ambiente, que por sua vez à deterioração do meio ambiente, que por sua vez leva a uma pobreza maior.

Uma vez que aumenta o padrão de vida, aumenta também o desenvolvimento econômico, que por sua vez aumenta o impacto ambiental. O homem atua na natureza como se não fosse existir uma geração vindoura. Tudo o que interessa é o capitalismo, o crescimento econômico. Porém, há uma ameaça iminente, pois se destrói a natureza destrói também a vida.

O "efeito estufa", e a destruição da camada de ozônio da atmosfera, devido a gases liberados na atmosfera, são ameaças aos sistemas que sustentam a vida, e derivam diretamente do maior uso dos recursos. A queima de combustíveis fósseis e também a derrubada e a queima de florestas liberam dióxido de carbono (CO2). O acúmulo de CO2 e de outros gases na atmosfera retém a radiação solar nas proximidades da superfície terrestre, provocando o aquecimento do planeta. Isto pode fazer com que o nível do mar, nos próximos 45 anos, se eleve a ponto de inundar muitas cidades situadas em litorais e deltas de rios. Também pode causar enormes transtornos à produção agrícola nacional e internacional e aos sistemas comerciais. Atualmente cada metro quadrado do solo da Europa Central está recebendo mais de um grama de enxofre por ano. A destruição da floresta pode acarretar erosão, formação de depósitos sedimentares, inundações e alterações climáticas localizadas.

A desertificação, o processo pelo qual as terras áridas e semi-áridas se tornam improdutivas do ponto de vista econômico, e o desflorestamento em grande escala são também ameaças à integridade de ecossistemas regionais. A desertificação envolve interações complexas de seres humanos, terra e clima.

A destruição das florestas e de outras áreas agrestes causa a extinção de espécies vegetais e animais e reduz drasticamente a diversidade genética e ecossistemas do mundo. Esse processo priva as gerações atuais e futuras de material genético para aperfeiçoar variedades de cultivos, tornando-as menos vulneráveis ao desgaste provocado pelo clima, às pragas e às doenças. O desaparecimento de espécies e subespécies, muitas delas ainda não estudadas pela ciência, priva-nos de importantes fontes potenciais de remédios e produtos químicos industriais. Destrói para sempre seres de grande beleza e partes de nosso patrimônio cultural; e empobrece a biosfera.

Todos nós corremos riscos, ricos e pobres, tanto para os que se beneficiam de atividades que agridem a natureza quanto os que não se beneficiam dela. A busca de um futuro mais viável só tem sentido se houver esforços mais vigorosos para deter o desenvolvimento dos meios de aniquilação.

Meio ambiente e desenvolvimento não constituem desafios separados; estão inevitavelmente interligados. O desenvolvimento não se mantém se a base de recursos ambientais se deteriora; o meio ambiente não pode ser protegido se o crescimento não leva em conta as conseqüências da destruição ambiental. Esses problemas não podem ser tratados separadamente por instituições e políticas fragmentadas. Eles fazem parte de um sistema complexo de causa e efeito.

Os desgastes do meio ambiente estão interligados. Os desgastes ambientais e os padrões de desenvolvimento econômico se interligam. Os problemas ambientais e econômicos ligam-se e vários fatores sociais e políticos.

Muitos dos vínculos entre o meio ambiente e a economia também atuam em nível global. Por exemplo, a agricultura das economias industriais de mercado, que recebe muitos subsídios e incentivos, gera excedentes que baixam os preços e tornam menos viáveis as agriculturas dos países em desenvolvimento, com freqüência negligenciadas. Em ambas os sistemas, os solos e outros recursos ambientais sofrem. Cada país deve criar políticas agrícolas nacionais para assegurar os ganhos econômicos e políticos a curto prazo, mas nenhuma nação pode, sozinha, criar políticas que lidem eficientemente com os custos financeiros, econômicos e ecológicos das políticas agrícolas e comerciais adotadas pelas demais nações.

A busca do desenvolvimento sustentável exige mudanças nas políticas internas e internacionais de todas as nações. O desenvolvimento sustentávell procura atender às necessidades e aspirações do presente sem comprometer a possibilidade de atendê-las no futuro.

Portanto, sempre existe o risco de que o crescimento econômico prejudique o meio ambiente, uma vez que ele aumenta a pressão sobre os recursos ambientais. É fundamental que todas as nações se unam para esatabelecer políticas públicas que levem para um desenvolvimento sustentável. A unificação das necessidades humanas requer um sistema multilateral que respeite o princípio do consenso democrático e reconheça que há não apenas uma Terra, mas também um só mundo,

Referências:

Lehmhaus, J. et.al. Calculated and observed data for 1980 compared at Emep measurement stations. Norwegian Meteorological Institute, Emep/MSC-W Report 1 1-86, 1986.

Nosso Futuro Comum/CMMAD. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1991.

United Nations, General Assembly. The critical economic situation in Africa: report of the Secretary General. A/S-13/z. New York, 20 May 1986.