Caráter é um termo que designa o aspecto da personalidade humana responsável pela forma habitual e constante de agir, peculiar a cada indivíduo. É a soma de hábitos, virtudes e vícios. É a imagem interior. Essa qualidade diz respeito somente a uma pessoa, a um indivíduo, e não a um grupo, pois é o conjunto de traços particulares, o modo de ser desta; sua índole, natureza e concepção moral; seu gênio, humor, temperamento, sendo este o resultado da progressiva adaptação constitucional do sujeito às condições ambientais, religiosas, familiares, pedagógicas e sociais. Em sua definição mais simples, resumise em ÍNDOLE ou FIRMEZA DE VONTADE.
O caráter de um indivíduo pode ser dramático, religioso, especulativo, desafiador, covarde, inconstante e assim por diante. Tais variações podem ser inúmeras, e todas sofrem influência do meio a que são submetidas.
Nos primeiros dias de sua vida, na fase infantil, o ser humano demonstra algum "tipo de caráter", contudo esta impressão comportamental não passa de uma ilusão residual. O conteúdo que difere as crianças uma das outras é a quantidade de energia que cada uma delas possui, isto é, as mais agitadas diferencem das mais sossegadas.
A formação do caráter sofre influência dessa "imagem residual" na infância, mas tal efeito fica muito abaixo das causadas pelo meio.
Indivíduos muito agitados podem vir a se tornar grandes guerreiros de uma causa, militares entusiásticos e incorruptíveis, mas também traidores, políticos corruptos, criminosos sanguinários e etc. Já as sossegadas podem vir a ser grandes observadores políticos, militares meticulosos, ou ainda maníacos depressivos, criminosos frios e calculistas, e etc.
São os acontecimentos posteriores, somados ao tipo de pensamento desencadeado, e o entendimento sobre si próprio e suas capacidades, que suscitam o caráter e os caminhos traçados adiante.
Tais pensamentos e ações criam na mente uma idéia de como é o mundo e de quem "sou eu", formando o caráter e orientando escolhas futuras.
Quanto mais se apóia uma idéia, mais essa vai fixando-se até se tornar "imutável". Contudo, existem pensamentos simplistas que crêem que o ser humano nasce com o caráter já formado.
Somos sim produto do meio em que vivemos, mas isso não é impedimento para que a pessoa mude sua conduta mental.
O caráter é mudável, mas há de se operar com muita persistência para que isso ocorra, lutando contra o desânimo das dificuldades e resultados ruins, com conhecimento, dedicação e paciência, pois para mudar deve-se agir no âmbito do pensamento, e não apenas na atitude.
Havendo, tão somente, mudança de atitude sem mudar o pensamento, cria-se um diferencial com tendência cada vez maior para o lado que a muito já é praticado. Isto é, a atitude, inicialmente diferente, tenderá a voltar ao estado anterior para se tornar coerente com o pensamento que não foi alterado. Por tanto, a mudança de caráter passa primeiramente pela mudança de pensamento, e esse é absolutamente difícil, pois acarreta em abrir mão de vícios, verdades pré-estabelecidas, de ter energia crescente para buscar idéias e conhecimentos novos, e etc.É natural associarmos caráter ao comportamento social, e a ética ao profissional. Mas essa relação é muito mais íntima. Caráter sempre envolve ética. Um exemplo dessa íntima relação é a palavra grega para "ética" (ETHOS) que é normalmente traduzida por "caráter". Entretanto, alguém que possua princípios éticos, não necessariamente tem caráter. A meta é preferir tornar-se uma pessoa com caráter, em seu sentido mais estrito, a ser uma que apenas tem princípios éticos.
Tão importante quanto aprendermos sobre assuntos relativos ao desenvolvimento científico, econômico e social, enfatizando questões de sustentabilidade, é saber como podemos desenvolver nosso caráter.
Caráter é formado, e certamente inclui informação. Mas é mais do que conhecimento intelectual, é eticamente "construir" uma pessoa.
Para essa "construção", existem sete virtudes básicas: CORAGEM, JUSTIÇA, PRUDÊNCIA, TEMPORIZAÇÃO, AMOR e ESPERANÇA.
A de se determinar agora "quando" o caráter é "construído".
O caráter é assimilado e/ou mudado a todo instante da vida. Potencialmente, todos os encontros, momentos e experiências formam o caráter ou podem causar uma má-formação. Ele também é assimilado formalmente como um componente ético. Todavia, é quase certo que se pedir a um grupo que descreva onde, como e quando aprendeu ética, ele responderá: "com os pais, família, amigos e etc." e nunca "em sala de aula". Normalmente, as pessoas aprendem ética como parte do desenvolvimento ou formação familiar. Mas, se o conteúdo ou conceito ética não mais figura como parte da grade curricular sócio/educativa dos órgãos de ensino, como esperar que uma sociedadeensine um valor já escasso, senão extinto? Muito embora o ser humano possua consciência, e com esta consiga distinguir o certo do errado, o bem do mau, este discernimento fica prejudicado em face de valores deturpados. E como resultado de um aprendizado deficiente, temos indivíduos de caráter duvidoso e comportamento ético apenas em situações onde não haja interesse direto ou quando seu uso não traga quaisquer prejuízos a ele.
O conhecimento de princípios éticos nem sempre leva a um ato de caráter.
Pessoas, de uma maneira geral, são capazes de contar histórias sobre indivíduos éticos e não-éticos, e as razões que levaram a esta formação, mas tendem a ser menos claros quantoàs virtudes. Essa observação indica o ponto inicial do aprendizado de ética.
As sete virtudes básicas citadas anteriormente constituem uma base para o aprendizado de ética, descrevem profundamente um modo de vida e modelam a maneira pelo qual nos relacionamos com quem nos socializamos e trabalhamos.
Coragem é o marco inicial, sem ela nada é feito, e riscos não são assumidos. A palavra tem origem no temo francês COEUR, que significa CORAÇÃO. Pode ser também encontrada no latim COR, que significa MENTE ou ALMA. Esta coragem vai além de ser intrépido, é tomar decisões ainda que sob aparente ou real prejuízo.
Uma determinada corporação multinacional definiu o preço da coragem moral em seu código de ética da seguinte forma: "faça o que é certo, mesmo quando isso nos custar mais do que queremos pagar e mais do que pensamos ser justo. ...devemos demonstrar a coragem de nossas convicções."Fé é a confiança em alguém ou em alguma coisa, ela transcende o indivíduo, nos envolvendo fora do nosso ser. As palavras do latim FIDES e FIDÚCIA demonstram claramente seu papel tanto nos negócios quanto na vida social. Quando nos é confiada uma tarefa ou responsabilidade, significa que somos vistos como garantia de cumprimento, confiáveis. Ter esta confiança é mais do que uma necessidadesocial e profissional, é um ato de caráter.Líderes que demonstram poder somar valores aos seus liderados devem ter, acima de tudo, a confiança deles. Não basta ser um profissional competente, gabaritado e exemplar, é preciso que se tenha a fé daqueles que, de alguma forma, dependem de seu trabalho, seja ele um funcionário ou cliente. Quem gostaria de trabalhar ou investir em uma empresa onde quem lidera não merece confiança? Quando a confiança depositada em algo ou alguém não é honrada, os que se sentem lesados exigem justiça. "Lei e justiça" formam uma entidade legal realmente justa quando ambas são devidamente aplicadas. A justiça é primariamente vista como uma virtude, uma dimensão do caráter. Como virtude, ela desenvolve-se em direções legais, políticas e religiosas. Além disso, a lei derivasse da justiça, melhor ainda, expressa o que ela é. Poderia se concluir que basta apenas termos ferramentas adequadas para a justa aplicação da lei.Mas este conceito não prevê um ponto cego. A lei é tão perfeita quanto quem a aplica.
Sendo assim, a justiça torna-se diretamente proporcional ao caráter e a ética de seu executor.
Dois pontos nos levam à base do sentido de justiça. O primeiro é JUSTO. Justiça diz sempre respeito a "o que é justo". O segundo vem da palavra AEQUUS que significa IGUAL. Igualdade relaciona-se com imparcialidade e igual distribuição. Contudo, ser justo não significa que todos tenhamsempre a mesma porção, mas sim que haja uma distribuição justa para todos.
A quarta virtude do contexto ético é a prudência. Em latim PRUDENS e PRUDENTITIA. Podem ser traduzidas como SENSÍVEL, RAZOÁVEL, COM VISÃO DE FUTURO e BOM SENSO.
Prudência está intimamente ligada à quinta virtude, temporização, que quer dizer equilíbrio, autocontrole. Tem origem no termo latim TEMPUS, que significa TEMPO, ESTAÇÃO, TEMPO CERTO.
A sexta virtude, AMOR, pode parecer assustadora ou irrelevante dependendo de sua aplicação.
Sugeri-se que se entenda amor de uma perspectiva como CUIDADO, COMPAIXÃO, PERDÃO. A palavra em latim para cuidado (CURA) também quer dizer PREOCUPAÇÃO, ATENÇÃO e surpreendentemente SUPERVISÃO. Outra palavra para cuidado é SOLLICITUDO, que significa SOLÍCITO. Cuidado também é DILIGO, que quer dizer DILIGENTE. Uma pessoa virtuosa é cuidadosa. Por fim, COMPAIXÃO e PERDÃO adicionam nuances ao cuidado.
Apropriadamente, esperança é a última virtude. É o que se chama de "a atenção no futuro", "a chamada do potencial". Esperança é expectativa. Muito frequentemente, e de forma natural, temos a tendência de criarmos uma expectativa exagerada sobre a esperança. E essa ansiedade, a espera pelo desejado, pode subjugar outras virtudes como PRUDÊNCIA e TEMPORIZAÇÃO. A esperança paciente traz confiança, e confiança dá equilíbrio à expectativa.
Caráter é um modo de vida e diz respeito mais a "o que fazemos" do que a "o que pensamos". Impedimentos de uma conduta ética incluem "pontos cegos". É mais fácil ver o erro dos outros do que os nossos próprios.
O objetivo de um instrumento de desenvolvimento pessoal, como uma avaliação de 360°, é nos ajudar a ver a nós mesmos como os outros nos vêem. Sócrates diz que "enquanto a meta de vida for o autoconhecimento, a barreira para atingi-la é a autodesilusão."Precisamos de discernimento para combater a autodesilusão, para ver a diferença entre uma rápida satisfação que distorce o significado do sucesso e as virtudes que podem nos sustentar em épocas difíceis.
Decisões éticas devem fluir naturalmente do ser que somos como forma de expressarmos nosso caráter, e não um "modus operandis" de conduta pessoal.