Desenvolvimento cognitivo a partir da catequese

Souza Everton Aparecido de

Ribeiro Fábio Trajano

Lima Marcos Escoton de

Lima Pedro de Toledo

Pasini Rodolfo Inácio

"A educação é para a alma o que é a escultura para o bloco de mármore."
(Joseph Addison)

Metodologia

Prática realizada nas seguintes paróquias: Paróquia Nossa senhora Aparecida na cidade de Amparo; Paróquia Nossa senhora Auxiliadora na cidade de Americana; Paróquia Santo Antonio na cidade de Pedreira e Paróquia Santo Antonio na cidade de Santo Antonio de Posse. Todas essas cidades estão situadas no estado de São Paulo, mais precisamente na região de Campinas. Em sua maioria, paróquias estão situadas na diocese de Amparo, salvo a paróquia Nossa Senhora Auxiliadora que pertence à diocese de Limeira.

O método utilizado foi a observação às aulas de catequese, ministradas em diferentes ambientes das paróquias, bem como conversas informais com as catequistas e com as crianças. Também foram abordadas as teorias estudadas em sala de aula para uma maior e melhor compreensão do processo de ensino aprendizagem.

Introdução

Relata-se neste trabalho algumas condutas educacionais frente a um vasto desafio, a formação humana. Porém, neste trabalho destacamos o papel da catequese diante, muitas vezes, de uma realidade desafiadora em aspectos humano e até mesmo sociais. Sendo assim, observa-se a sua disposição e eficácia. A catequese visa introduzir a criança na vivência do mistério cristão de forma a não se limitar à simples comunhão durante a missa, ou seja, a primeira Eucaristia, mas trabalha a pessoa humana em sua totalidade intelecto-espiritual. Com efeito, o responsável por esse ensino é o catequista que possui princípios éticos e morais baseados no cristianismo, com boa índole para despertar na criança o amor a Cristo frente, muitas vezes, a uma realidade desafiadora em aspectos humanos e até mesmo sociais.

Resultados da prática

"Não há só um método para estudar as coisas." Com as palavras de Aristóteles, percebemos os vários caminhos do estudo. Com a observação da catequese podemos realçar seu valor, que se apoia na tradição eclesiástica, mas não só. Abrange também o mundo social.

A relação entre professor(a) e aluno(a) se dá de modo informal, para que o aluno possa se sentir a vontade em um ambiente comunitário. As aulas são ministradas em diversos lugares. Nas salas, o catequista exorta as crianças a se organizarem em círculos, não necessariamente sentados em cadeiras, mas, quando necessário, no próprio chão. Enquanto utiliza o espaço físico da igreja, o catequista dispõe as crianças de modo a favorecer a interação entre indivíduo e meio físico e espiritual. Muitas vezes, as aulas são ministradas no pátio ou jardim, visando ampliar a dimensão missionária e cultural que a catequese busca, ou seja, interagir com as pessoas que circulam pelo local.

Nesse sentido, outro aspecto importante é o material didático utilizado. Este exerce influência sobre o processo cognitivo baseado na teoria de Vigotski:

Instrumentos e símbolos construídos socialmente definem quais das inúmeras possibilidades de funcionamento cerebral serão efetivamente concretizadas ao longo do desenvolvimento e mobilizadas na realização de diferentes tarefas. (OLIVEIRA, 1992, p. 26)

Através das figuras do livro utilizado, a criança é inserida na vivência do cristianismo. Em uma apostila de formação é possível encontrar símbolos como o triângulo, que remete à Santíssima Trindade, e a figura do peixe, símbolo de Cristo (cf. DUARTE, 2008, p. 18,19). Também através das imagens e dos objetos litúrgicos acontece a mediação simbólica. A partir da vivência com os objetos, a criança se habitua a fatos, como: a vida de Jesus, por meio das figuras do livro; a fonte de inspiração, por meio das imagens dos santos, associando-as à vida daqueles santos representados pelas imagens; a vivência da missa, através dos objetos litúrgicos como o cálice, que remete ao Sangue de Cristo.

No terceiro volume do livro de catequese encontramos:

Nossa experiência cristã é marcada por muitos símbolos, ou seja, sinais sagrados que servem como 'pontes' que nos levam ao encontro com Deus. Para nós cristãos têm um forte significado a cruz, a vela, as imagens, o pão, o vinho, a água, o óleo e tantos outros símbolos que nos colocam em comunhão com Deus. (LOPES, 2008, p. 116)

Um fator negativo evidenciado demonstra que muitos dos catequistas não estão preparados para o trabalho com alunos excepcionais. Pode-se perceber no seguinte exemplo: uma criança que utilizava cadeira de rodas estava disposta a frequentar o ensino religioso, porém isso não foi possível pela falta de disponibilidade e por conta de insensibilidade dos catequistas. Neste exemplo, constata-se a exclusão social evidenciada por Dubet (2003).

A participação na santa missa é imprescindível para a formação integral da criança. Durante a celebração eucarística ocorrem dinâmicas, bem com teatros e apresentações com marionetes. Concomitantemente, participando-se das dinâmicas, há uma participação no sacrifício eucarístico. A criança "reza brincando e brinca rezando". Em relação às dinâmicas, a criança não tem sua motricidade limitada durante a missa, mas é dada a ela certa liberdade de se expressar corporalmente, o que, segundo a teoria Walloniana, auxilia no desenvolvimento cognitivo.

Mas o grande eixo é a questão da motricidade [...] A psicogênese da motricidade (não se estranhe a expressão, porque, em Wallon, 'motor' é sempre sinônimo de 'psicomotor') se confunde com a psicogênese da pessoa, e a patologia do movimento com a patologia da personalidade. (DANTAS, 1992, p. 37)

Para culminar na plena participação, após a missa, a criança recebe uma hóstia não consagrada[1]. Com esse gesto se sente incluída na comunidade, vivenciando o mistério cristão a partir de um símbolo que remete à comunhão do pão consagrado.

Considerações finais

Todas as ações que visam não só a inserção espiritual na Igreja, mas também a evolução no âmbito social e psicogenético, culminam na relação com a família, com os amigos e com a comunidade ao seu redor. Evidenciando a teoria de Piaget, o desenvolvimento catequético é resultado da assimilação e acomodação daquilo com que a criança entra em contato. Vale lembrar que a criança não é "bombardeada com conteúdo teológico, mas o catequista é atento às opiniões e estimula a participação dos alunos. Acontece, assim, certa troca intelectual positiva para o desenvolvimento social da pessoa.

[...] vamos ver como Piaget define em que sentido um adulto é social. Seu critério é a qualidade da 'troca intelectual' entre dois indivíduos a e a'. O grau ótimo de socialização se dá quando tal troca atinge o equilíbrio. (LA TAILLE, 1992, p. 12)

Outro aspecto da catequese é o horizonte escolar, ou seja, a vivência em um ambiente formal de ensino. A partir da vida comunitária, que a catequese tem como escopo, a participação escolar terá um melhor desempenho, visto que as crianças adquirem noções e preceitos relativos à ética cristã. Ética pautada no ideal de caridade e solidariedade.

Obtém ainda, com as dinâmicas e similares, o espírito de vivência coletiva de forma mais familiar, baseada na prática de vida comunitária e nos ideais de Cristo dispostos no Evangelho. Com isso, a criança consegue se adaptar melhor em várias situações e mantém uma relação de proximidade com as outras pessoas.

Em suma, a catequese não é algum preceito cristão, mas modo de formar o cidadão a partir dos moldes éticos da Igreja Católica. Não se limita à primeira Eucaristia, pois expande o potencial de cada um, de modo a ordenar sua vida com o mundo.

Referências bibliográficas

DUARTE, Pe. Luiz Miguel. Formação para coroinhas. 8. ed.vol. 1. São Paulo: Paulus, 2002.

DUBET, François. A escola e a exclusão. Cadernos de pesquisa. São Paulo. n. 119, 2003. ISSN 0100-1574 versão impressa.

LA TAILLE, Ives de; OLIVEIRA, Marta Kohl; DANTAS, Heloysa. Piaget Vigotsky Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

LOPES, Pe. Alexsander Cordeiro et al. Crescer em comunhão: livro do catequista. 25. ed. Vol. 3. Petrópolis: Vozes, 2008.



[1]A hóstia é o pão utilizado na celebração eucarística, esse, após a consagração pelo sacerdote se torna o corpo de Cristo e atualiza o mistério cristão do sacrifício. Este pão é confeccionado exclusivamente para esse fim. Composto de farinha e água a hóstia faz memória ao pão utilizado na santa ceia, na qual Jesus instituiu a celebração eucarística.