RESUMO

Influência e contribuição linguística em Mato Grosso

Este trabalho preside a organizações de saberes, aspectos sócio-culturais do povo cuiabano, fator que consideramos imprescindíveis à compreensão de certos traços princípios que singularizam o português falado na região matogrossense. O falar cuiabano pode ser o resultado do contato, bastante estreito, entre o dialeto caipira, recheado de elementos próprios do português arcaico, e as línguas indígenas faladas na região. Trata-se de falares trazidos pelos portugueses e também pelos Bandeirantes, na época da mineração, que ainda se achavam em uso. Muitos desses termos são do tempo de Camões.

Quanto ao CH (TCH), há quem atribua sua origem à influência espanhola, que não nos parece razoável. Houve realmente em Mato Grosso influência do espanhol platino, conforme demonstrou Lenine C. Povoas (2001), mas não de molde a atuar tão profundamente em nossa prosódia, como seria o caso.

Realmente, nossos contatos mais princípios com a fala espanhola ocorreram após a abertura da navegação do Rio da Prata, em 1858, até a inauguração da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em 1914. São apenas 56 anos, tempo insuficiente para uma penetração cultural expressiva. Ao que parece, tais pronúncias, tanto no caso do CH e do X, como no G e J, foram trazidos pelos portugueses e bandeirantes, que as empregavam à maneira então vigente, à semelhança do que aconteceu com o cuiabanês como um todo, ou seja, aquelas pronúncias, como este, permaneceram em nossa cidade, caindo no esquecimento em outras partes.

Expostos ao deboche com o cuiabanês (principalmente nas últimas décadas do Século XX), o cuiabano não resistiu e adaptou-se a outros falares. Não seguiram os nordestinos que mantém sua pronúncia típica, especialmente a abertura do E do pretônicos (significado da palavra). Antônio de Arruda, que registrou o que lhe pareceu mais característico no linguajar dos habitantes da baixada cuiabana. É um trabalho de especialista na matéria, de méritos inegáveis, sobretudo por salvar do esquecimento aspectos culturais preciosos que vão desaparecendo.

Na história da formação do povo brasileiro, contada por Ribeiro (1995, p. 82), a Instituição social que possibilitou a formação do povo foi o cunhadismo. Trata se de um velho costume indígena de incorporar estranho a sua comunidade, e que consistia em dar a um estranho uma moça indígena como esposa, estabelecendo dessa forma, simultaneamente laços que o aparentavam com todos os membros do grupo. Ribeiro (1995, p. 83) considera que, dentre outras, a primeira e principal unidade com essas características foi o núcleo paulista centrado em torno da figura de João Ramalho, provável fundador da paulistanidade caipira.

CONTRIBUIÇÕES INDÍGENAS

Nos primeiros tempos da colonização, houve certo tipo de princípios no Brasil, ao lado da língua geral, uma vez que a língua que se falava nas famílias constituídas de portugueses e índios era a dos índios; a portuguesa, os meninos aprenderiam na escola. Entretanto a língua geral predominaria como a língua de três quartos da população durante os séculos XVI e XVII. Não sabemos, ou não é certo dizer, se houve ou não outras línguas.

Segundo Amaral (1976, p. 66): 

“É que principalmente os substratos indígenas da região matogrossense, somados ao contexto histórico, contribuíram para que ainda hoje encontremos em pleno vigor, no dialeto bem característico da baixada cuiabana, muitos dos traços atribuídos ao dialeto caipira paulista”. 

A região de mata fechada e extensa, que mais tarde seria designada pelo topônimo de Mato Grosso, fazia fronteiras com a Bolívia e com Paraguai. Os rios principais que formam a bacia platina e muitos dos que integram a bacia amazônica tornavam extremamente favorável o contato da região com as colônias espanholas do Paraguai, Argentina e Uruguai. As coordenadas geográficas da região eram perfeitas para o domínio do reino espanhol.

Os índios da região muito frequentemente se insurgiam contra os castelhanos da fronteira. Numerosos, os nativos falavam línguas diversas e pertenciam à nação dos “Carajás, Taquasentes, xixibes, sanites, porudos, araviras, buripocones, arapares, hytapores, laymes, aycurus, bororos, paijagoas, xarás, penacuicas e outros”.

Os guaicurus e os paiaguazes foram as nações indígenas mais proeminentes no cenário geopolítico matogrossense dos dois primeiros séculos a colonização brasileira, período em que Mato Grosso permanecia do quase anonimato. Os guaicurus, reconhecidos como os gentios cavaleiros, eram nômades que viviam nas margens do Rio Paraguai.

Atacavam por terra os acampamentos de pouso em que não houvesse brejo nem vegetação para atrapalhar o movimento dos animais. Os paiaguazes, reconhecidos como os gentios de corso, habitavam os “chacos do pantanal” e por causa da sua grande habilidade de navegação atacavam pelos rios.