Após os 23 anos dificilmente encontramos tempo para descansar. Alguns, mesmo mais cedo. O curso universitário termina e dedica-se tempo para trabalhar com o intuito de crescer na empresa e na profissão. Acha-se normal neste período se esforçar ao máximo, trabalhar mais mesmo sendo estagiário ou trainee para crescer rapidamente na organização (nesta etapa começam as práticas que acompanharão os profissionais pelo resto de sua vida profissional). Finalmente, corre-se o risco de perder a noção do tempo e do espaço, no sentido de perder o equilíbrio em varias áreas da vida.

Dificilmente as pessoas trabalham 8 horas conforme o discurso apregoado no momento da contratação ou pela legislação trabalhista de nosso país (atualmente, no máximo 44 horas semanais). Além de trabalhar 9 ou 10 horas por dia, a “ética profissional invisível” que funciona nas organizações prega a disponibilidade do funcionário além dos limites do expediente pactuado no momento da contratação. Esta disponibilidade não se encontra vinculada à presença física do funcionário no local de trabalho, mas a um gerenciamento remoto, pelo telefone ou à solução de problemas organizacionais em casa com um computador com acesso à rede empresarial. Esta prática não é estranha, ela permeia o ritmo do trabalho que hoje é considerado “normal” e à qual todos precisam se adaptar de uma forma ou de outra.

O grande problema surge quando o funcionário descobre, por cansaço ou doença, que é também um ser humano, e como ser humano precisa atender suas necessidades sociais, familiares e pessoais fora da organização. É com esta descoberta que o funcionário entra em uma crise de valores (valores organizacionais vs. valores pessoais) influenciando positiva ou negativamente todo seu entorno social e profissional com suas descobertas e finalmente com suas decisões.

Para evitar este tipo de crise tanto nas organizações quanto nas relações pessoais, médicos e especialistas da saúde tem chegado a uma conclusão extremamente importante para a obtenção de maior qualidade de vida: é muito bom descansar.

Cirilo Veloso fez uma ilustração incrível:

“Um arqueiro caminhava pelas redondezas de um mosteiro quando viu alguns monges no jardim bebendo e se divertindo. Não se contendo, o arqueiro disse aos monges:

- Como vocês são cínicos! Dizem que a disciplina é importante e ficam bebendo às escondidas!

Ouvindo isso, o monge mais velho perguntou ao arqueiro:

- Se você disparar cem flechas seguidas, o que acontecerá com o seu arco?

- Meu arco se quebrará – respondeu o arqueiro.

O monge completou:

- Se alguém se esforça além dos próprios limites, também quebra sua vontade. Quem não equilibra trabalho com descanso perde o entusiasmo, esgota as energias e não chega muito longe. Portanto, faz bem, também para nós, nos divertimos um pouco, além de trabalhar!”.

A maioria das pessoas entende o descanso unicamente como o descanso físico. O descanso é muito mais do que simplesmente “dormir”, descansar significa relaxar a mente e o coração. Ficar na cama no sábado e/ou domingo, assistir TV ou fazer esporte enquanto solucionamos problemas organizacionais não é verdadeiro descanso. É importante e necessário descansar mentalmente. Descansar mentalmente significa “mudar o foco”, mudar a atenção, pensar em atividades que estejam longe de seu dia a dia, fora de sua rotina. Visitar a família sem preocupação nenhuma, fazer esporte sabendo que após o almoço você dormirá ou lerá o livro de sua escolha, receber uma ligação sabendo que é um amigo te convidado para um almoço e não um cliente.

Não é fácil encontrar equilíbrio entre vida pessoal e profissional tanto quanto não é fácil descansar realmente no século XXI, mas mesmo com todas as pressões que esta vida nos impõe, ninguém pode retirar das pessoas sua liberdade de escolher. Assim, o verdadeiro descanso esta relacionado com uma escolha individual. Por conseguinte, a influência que você projetará em sua família, em seus círculos sociais e em sua vida profissional esta diretamente relacionada com a sua capacidade de fazer escolhas. Ou seja, você descansará ou não descansará unicamente se você quiser ou não quiser fazê-lo. Seu descanso não é de responsabilidade de ninguém, mas sua.

Nos últimos anos tenho pensado que descansar é perda de tempo e que poderia fazer atividades muito mais úteis do que simplesmente descansar. Graças a Deus, este pensamento pouco a pouco esta mudando. Pela primeira vez em muitos meses posso dizer com 100% de certeza que no último final de semana eu descansei, e sabem o que descobri, que quando você tem um propósito para o descanso, descansar é muito bom!

Mas afinal, o descanso é para todos? Sim, é para todos! Basta fazer uma escolha.