Boa noite, boa madrugada. Acabo de assistir ao filme nacional Tropa de Elite 02. Muito arrependido. Por que não nos avisam que o filme é de drama? Exato. O drama da vida real carioca, baiana, brasileira. Um filme capaz de arrancar lágrimas, revolta, uma angústia que apenas materializa no aperto do meu coração o sentimento de impotência.

Vivemos em um verdadeiro circo, cujo picadeiro, lugar onde se apresentam os palhaços não é o Congresso Nacional. Lá está o público, aquele que possui a grana, o poder para rir do acontece ao seu redor, regiões norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste. Os palhaços somos nós, a quem se paga o mínimo para um lazer chulo, raso.

O pior de tudo isso é que a vontade de agir logo é sufocada pela constatação de que nada pode ser feito. O povo brasileiro é conivente. Um amigo, certa feita, me disse que o Brasil funciona bem, porque nasceu para funcionar dessa maneira, submerso na corrupção. O que dizer senão que o povo brasileiro é um povo corrupto, que a cada oportunidade, desde o mais miserável até o mais rico se corrompe para levar vantagem sobre aquele igual ou desigual, até mesmo na fila de um supermercado? Triste constatação

Peço desculpas à minoria. Minoria de honestos, que faz de seu trabalho e honra sua única fonte de adquirir os prazeres a que julga ter direito. Mas essa minoria é ínfima. Grande parte dos que estão lendo e se dizendo parte dela, de fato não é. Quantos de nós aproveitamos de um idoso familiar pra não pegar fila? Quantos de nós nunca pedimos um favor a algum influente? Quantos de nós mal utilizamos o poder (por mínimo que tenha sido), quando o tinha nas mãos?

Somos grandes vítimas, mas também os grandes culpados. Culpados por fazermos do nosso trabalho o instrumento de riqueza dos grandes crápulas que administram o Brasil. Por que se acomodar e não pedir investigação ao Ministério público, por exemplo, àquele prefeito que entra na administração municipal com um carro e uma casa e de lá sai milionário? Por que não tem nada no nome dele? Isso não é desculpa! Se quiséssemos indicaríamos os bens e a investigação apuraria como o titular dos milhões adquiriu tanto em tão pouco tempo. Em que mais trabalhou a mulher, filho ou primo do secretário, prefeito, vice, presidente, etc. Somos coniventes e negligentes, porque a corrupção está impregnada em cada um de nós.

Órgãos de polícia (desde a militar até a federal), Poder Executivo, Poder Legislativo, Ministério Público. Todos corrompidos. O sistema é o próprio Brasil, O sistema somos nós. Nós vemos os tributos cobrados em cada produto que consumimos, em cada real de nosso trabalho virar riqueza podre nas mãos dos nossos representantes e nada fazemos, não nos mobilizamos.

Por muito menos os japoneses se suicidam, porque sua maior riqueza, desde os samurais, é a sua honra. E desde que essa mistura aconteceu, com a chegada dos portugueses, mistura maldita, convivemos com o fedor das malfeitorias ao nosso lado e nada fazemos ou podemos fazer.

Enquanto isso, nos resignamos a assistir Tropa de Elite 2 e achar a melhor cena do filme os tiros e o bandido sendo torturado no saco. Enquanto isso, vemos as mazelas acontecendo à nossa sombra, no nosso trabalho, no nosso condomínio e nada fazemos. A culpa é sempre do sistema, mas repito, o sistema somos nós!

Felizmente amanhã, como mais um baiano/brasileiro palhaço, negligente, conivente, envergonhado, mas resignado, acordarei apenas com aquele aperto no coração, mas sem saber por quê. E no fim do dia, após conversar sobre futebol, sacanear os torcedores do Vitória, ver mais um escândalo no jornal, ver o povo comentando e assistindo programas alienadores na TV, trabalhar num emprego público que tanto prezo e me preocupar com contas pra pagar, não me lembrarei mais de tudo que tanto me revolta agora.

Joeraldo Fraga Filho