“DERRUBANDO BARREIRAS, CONSTRUINDO POSSIBILIDADES”: uma análise sobre a realidade dos adolescentes usuários de drogas psicoativas e a atuação do serviço social no programa resgate. 

Aline Dayane Carvalho Ribeiro [1]

Cristiano de Assis Silva²

RESUMO 

O presente pretende fazer uma análise do tratamento dos adolescentes usuários de droga do Programa Resgate no município de Campos dos Goytacazes. Para isso, consideramos de suma importância conhecer não só o Programa - enquanto uma nova proposta de atendimento ambulatorial voltado para a questão da saúde mental - mas principalmente os usuários que lá fazem tratamento. Em processo de pesquisa com os adolescentes que se tratam nesta instituição, buscamos compreender a realidade subjetiva destes jovens: sua relação com as drogas, suas expectativas de vida, seu cotidiano, como vêem a morte, etc. Tudo isto, com o propósito de quebrar alguns “tabus” que existem em nossa sociedade em relação ao usuário de drogas e na perspectiva que temos de que só é possível um tratamento de qualidade em torno desta problemática se os profissionais conhecerem quem estão tratando. Demonstramos na análise, que aquele que usa, abusa ou é um dependente de droga deve receber um tratamento menos decodificado (quando o profissional vê o adolescente somente enquanto usuário de drogas) e sim de forma mais ampla (quando o profissional enxerga neste usuário um ser humano possível de erros e acertos, imbuído de habilidades, sonhos, determinação e também fragilidades). Como proposta de intervenção destacaremos a importância da instrumentalidade do Serviço Social, como conhecimento essencial ao manuseio dos instrumentos e técnicas sociais que movimentam o trabalho do assistente social. Diante disto destacaremos as reuniões de grupo como um dos instrumentos mais utilizados dentro da Instituição. Neste sentido, abordaremos exemplos de algumas técnicas utilizadas nestes encontros, tendo por intuito demonstrar o quanto estas podem ser importantes para o tratamento do adolescente usuário de droga, já que, bem planejadas, podem alcançar como resultado de sua boa execução, resultados surpreendentemente positivos. 

Palavras-chave: adolescente.drogas.programas 

ABSTRACT 

The present article intends to make an analysis of the treatment of the drug users of the Rescue Program in the municipality of Campos dos Goytacazes. To this end, we consider it extremely important to know not only the Program - as a new proposal for outpatient care focused on the issue of mental health - but especially the users who treat it there. In a research process with the adolescents that are treated in this institution, we seek to understand the subjective reality of these young people: their relationship with drugs, their expectations of life, their daily life, how they see death, etc. All this, with the purpose of breaking some taboos that exist in our society in relation to the user of drugs and in the perspective that we have that only a quality treatment around this problem is possible if the professionals know who they are treating. We demonstrated in the analysis that the one who uses, abuses or is a drug dependent should receive a less decoded treatment (when the professional sees the adolescent only as a drug user) but rather more broadly (when the professional sees this user as being Human potential of mistakes and correctness, imbued with abilities, dreams, determination and also fragilities). As a proposal for intervention, we will highlight the importance of the Social Service instrumentality, as essential knowledge to the handling of social instruments and techniques that move the work of the social worker. With this in mind, we will highlight group meetings as one of the most used instruments within the Institution. In this sense, we will approach examples of some techniques used in these meetings, with the purpose of demonstrating how important these may be for the treatment of the adolescent drug user, since, well planned, they can achieve, as a result of their successful execution, surprisingly positive results.

 

Keywords: Teenager/ Drugs/ programs  

INTRODUÇÃO         

As variadas disciplinas das ciências humanas e sociais têm estudado, falado e discutido sobre um tema que atualmente se faz presente em nossa sociedade aliado a outras questões que se articulam com a temática por nós apresentada: o uso de substâncias psicoativas e suas destruições psíquicas e físicas. A droga quando vence, destrói o indivíduo, causa sofrimento para a sua família e de modo geral, acaba por atingir toda a sociedade, já que gera violência nos seus mais amplos sentidos (psicológico e físico), enfim deturpa a vida do sujeito. Quando o indivíduo vence a batalha contra as drogas enfrenta uma outra luta, desta vez com a própria sociedade que muitas vezes age de maneira preconceituosa e acaba o excluindo, não acreditando que um ex-usuário de droga pode se recuperar.

A palavra droga deriva da palavra francesa “drogue” que significa seca, alguma coisa seca. O conceito mais comum que é usado para se referir a alguma droga se denomina a toda substância que pode causar alteração nos sentidos e no organismo humano via inalação química. A droga possui vários sinônimos: substâncias psicoativas, psicotrópicas, dentre outras. Além disso, podemos classificar a droga seguindo dois níveis, que são: as drogas lícitas, estas por sua vez disponíveis legalmente para consumo (álcool, cigarro, medicamentos) e ilícitas, estas não disponíveis para consumo legalmente. Neste caso, podemos apresentar as drogas mais conhecidas pela população em geral, a maconha e a cocaína. A maconha (também conhecida como Cannabis Sativa, é uma planta que cresce nas condições mais adversas). Em muitos países a maconha é ilegal, inclusive no Brasil, mas há lugares onde a droga é legalizada e outros onde ela é utilizada somente com a finalidade de diminuir a dor causada por algumas doenças. O maior problema da maconha é o aumento do tráfico, a dependência que ela gera e os altos índices de criminalidade, pois o usuário sem dinheiro passa a praticar delitos para manter o vício, ocasionando diversos efeitos socioculturais. A cocaína é uma droga sintética, produzida em laboratório, além disso, também é considerada psicotrópica, já que atua no sistema nervoso central do indivíduo, este responsável pelo comando dos pensamentos e ações das pessoas. Descoberta na América do Sul há mais de 1200 anos, a cocaína era usada por muitos índios nativos para ajudar a suportar a fome, a sede e o cansaço. O cientista italiano Angelo Mariani levou a cocaína para a Europa e desenvolveu um vinho baseado na planta, tendo sido apreciado até mesmo pelo Papa Leão XIII. Estaremos enfatizando em nosso trabalho, como as drogas (de modo geral) influenciam na vida dos adolescentes. Além disso, nos preocupamos em destacar o cotidiano destes jovens, como se caracterizam e o modo de pensar dos mesmos. Isto porque consideramos que a intervenção em prol da recuperação destes indivíduos será mais possível de ser objetivada, se os conhecermos de modo mais aprofundado. Pensando nisto, articularemos nossos conhecimentos teóricos em torno da temática aqui a ser apresentada, além de nossas observações e práticas de estágio, com a realidade relatada e apresentada pelos próprios adolescentes. Daí decorre o tema “Quebrando barreiras, construindo possibilidades: uma analise sobre a realidade dos usuários de drogas psicoativas e a atuação do serviço social do Programa Resgate”.

Esta análise toma por base nosso campo de estágio, neste caso, o programa Resgate, que é uma instituição da cidade de Campos dos Goytacazes RJ, que trata de crianças e adolescentes em risco, uso ou abuso de drogas. É interessante observarmos que a realidade que será mostrada em nosso trabalho não é particularidade de nossa cidade. Segundo dados da Secretaria Nacional Antidrogas, no Brasil, levantamentos feitos em 108 cidades com mais de 200 mil habitantes entre 2001 e 2005 indicam que neste primeiro ano, cerca de 19,4% de pessoas já fizeram uso de algum tipo de droga (exceto álcool e tabaco) e no segundo ano este índice sobe para 22,8% (esta porcentagem corresponde o número de 10.746.99 pessoas).

Apesar dos dados mostrarem que o consumo de drogas ilícitas é baixo, não podemos desconsiderar os seus efeitos e as conseqüências que elas podem ocasionar. Sejam as drogas legais ou não, na maioria das vezes atingem gravemente o usuário e já que este é parte de uma sociedade, esta acaba por sua vez, carregando em si as seqüelas como resultado do consumo de tais substâncias. Por isso é um assunto que deve ser estudado, debatido e imbuído de propostas de intervenção que venham minimizar a problemática (droga) da vida do sujeito.

A nossa prática de estágio nos fez crescer enquanto profissionais e enquanto seres humanos e como prova do nosso apreço pelo que foi possível apreender nesta prática, tivemos por interesse, expressar o funcionamento do Programa Resgate, além da realidade dos usuários que lá fazem tratamento (neste caso, os adolescentes que constituem maioria na instituição) neste trabalho monográfico. Para isso, tivemos a pesquisa como norteadora deste processo. Dessa forma à sistematização da aprendizagem profissional e como interesse de expressá-la neste trabalho, foi necessário um intenso estudo exploratório. Para isso fizemos levantamentos teóricos, buscando através da pesquisa de campo, colher dados quantitativos e qualitativos a partir do que estava posto nos prontuários dos usuários do Programa, além de utilizarmo-nos da entrevista semi-estruturada, para qualificar ainda mais a nossa análise. Delimitamos como conceitos centrais para nossa pesquisa as seguintes categorias: Políticas públicas de amparo ao usuário de drogas; a realidade adolescente; instrumentos e técnicas de trabalho com grupos.

Destacamos que nos trabalhos desenvolvidos com os grupos de adolescentes, a observação sistemática do contexto que situa os jovens na instituição, correspondeu a uma das ações da pesquisa qualitativa. A observação sistemática e o diário de campo são estratégias para observar as diferentes percepções e atitudes acerca de determinados fatos. A postura investigativa permitia analisar (através de entrevistas, debates, dinâmicas, etc) o contexto social, político, econômico e cultural onde estes jovens estavam inseridos. É importante enfatizarmos que para qualificar o nosso estudo - acerca da temática aqui colocada - iremos neste trabalho aprofundar a nossa análise em torno do contexto de vida em que os adolescentes do Programa Resgate estão inseridos. Para isso, utilizaremos como recurso a história oral. Articulada a meios eletrônicos, como por exemplo, o gravador (do qual iremos utilizar), a história oral permitirá captar a experiência dos adolescentes dispostos a falar sobre os seus aspectos de vida, sem perder o compromisso com o contexto social.

OBJETIVO GERAL

Analisar o tratamento dos adolescentes usuários de droga do Programa Resgate no município de Campos dos GoytacazesR.J.

OBJETIVO ESPECÍFICOS

Verificar e descrever a fala e resposta de perguntas e abordagem realizadas aos adolescentes usuários de drogas;

Descrever como os adolescentes iniciaram o uso de drogas;

Comparar junto a autores sobre os adolescentes e o uso de drogas;

METODOLOGIA

O Programa não utiliza um método específico. Existe uma construção integradora, ou seja, uma junção dos pontos positivos das diversas metodologias já consagradas nessa área, como Entrevista Motivacional, Comunidade Terapêutica, Redução de Danos, Modelo Minnesota e 12 passos de Alcoólicos Anônimos, dentre outros, tudo isso aliado à experiência do serviço, junto aos usuários. É importante destacarmos que o Programa Resgate atende a população infanto-juvenil de 8 a 18 anos, de varias etnias, varias situações sócio econômicas, com cultura variada e varias outras diversidades, porém, daremos maior importância aos adolescentes, tendo em vista que estes se encontram em maior número dentre os que freqüentam, e além disto, fazem tratamento na instituição decorrente do uso e abuso de drogas; já o atendimento voltado às crianças, se dá na maioria das vezes pelo fato destas se encontrarem em situação de risco de uso, ou seja, o grau de comprometimento com as drogas é bem menor.

BREVE HISTÓRICO DO TRATAMENTO EM SAÚDE MENTAL E A TRAJETÓRIA DO PROGRAMA RESGATE.

Preocupada com o significativo aumento do uso de drogas entre crianças e adolescentes, a Prefeitura de Campos dos Goytacazes notou grande necessidade de implantar no município, programas de prevenção e educação voltados principalmente para este público. Fundado em 1999 pela Associação de Proteção a Infância de Campos (APIC), o Programa Resgate conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Campos, com o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA) e com o Programa de Atendimento Integral a Família (SAIF), para o atendimento de crianças e adolescentes em risco, uso, abuso ou dependência de drogas lícitas e ilícitas e também, suas famílias.

O Programa privilegia o atendimento ambulatorial, buscando preservar (quando é possível) os vínculos afetivos, escolares e comunitários dos adolescentes, ou seja, leva-se em consideração a realidade como um todo do adolescente, estabelecendo uma intermediação entre ele, a família e a sociedade. A instituição tem como objetivos, atender pessoas que buscam informações e/ou orientações que dizem respeito às problemáticas conseqüentes do consumo de drogas; oferecer tratamento ambulatorial, não somente para as crianças e os adolescentes envolvidos com o uso de drogas, mas também às suas famílias, já que os mesmos sofrem perdas diversas; realizar atividades de informação e divulgação de conhecimento sobre drogas e seus efeitos, através de palestras, cursos e panfletagens; buscar a inserção da família no tratamento, promover a reinserção escolar e social do usuário e sua família.

Decorrente do que foi destacado acima, podemos dizer que o Programa considera o que se estabelece no Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 100, que diz: “serão levadas em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários” e ainda, “de auxílio e tratamento a alcoólatras e toxicômanos”. (art. 101 – inciso VI).  Quando existe risco de morte para o indivíduo ou para terceiros (comportamentos graves de risco), grau de dependência muito intenso e perda do controle da quantidade de droga utilizada, a situação é estudada por toda a equipe que compõe o Programa e é feito indicação para uma possível internação. Isto quer dizer, que os casos de alta complexidade e que não são possíveis de serem tratados dentro do Programa, são indicados para instituições que possam oferecer um tratamento mais intensivo a estes usuários.

Em Campos dos Goytacazes não há um centro de internação para usuários de droga, sendo que a maior parte dos usuários indicados para internação, em sua maioria são encaminhados para a cidade de Piuma no Espírito Santo (instituição mais próxima de Campos). Podemos dizer que a indicação para a internação (mesmo sendo uma medida de última instância) é uma tentativa de “Resgate”. O nome do Programa, não foi escolhido por mero acaso, pelo contrário, o nome já diz tudo sobre o principal objetivo da instituição, que é a tentativa de recuperar aquilo que vem sendo extinto por causa das drogas na vida dos usuários: a auto-estima dos adolescentes e de seus familiares e a relação afetiva entre ambos, a expectativa de vida, o respeito a si próprio e ao outro, entre outras perdas. E sendo o Programa, uma instituição que atende crianças e adolescentes com risco, uso e/ou abuso de drogas, a complexidade que estes usuários apresentam em torno desta problemática não é de alto grau, ou seja, as perdas estão ocorrendo, mas ainda não se efetivaram e é isso que ainda motiva toda a equipe que compõe o Programa de trabalhar com a idéia de resgatar aquilo que ainda não foi totalmente perdido.

GOULART (2000, p. 36) faz uma análise muito interessante - a partir de sua própria experiência como dependente químico - no que diz respeito a virtudes e da qual fazemos questão de destacar:

No decorrer da vida do dependente químico, as virtudes acabam por ficar em um estado latente e os defeitos de caráter, super ativos. Para entender melhor, vamos analisar a vida do dependente químico na progressão da doença. Ele acorda pensando em como vai arrumar a droga e/ou beber, manipula, mente, rouba, trapaceia, se vende, faz ‘avião’ (busca drogas para outros), trafica e até mata para poder continuar usando drogas e/ou bebidas. É difícil que virtudes como a humildade, a mente aberta, a boa vontade, a honestidade, a entrega, o amor e outras qualidades se desenvolvam satisfatoriamente. Existem momentos para o dependente em que tais virtudes e sentimentos não existem, porém eles estão esperando que o dependente dê uma chance si mesmo para que eles possam aflorar. A vida do dependente químico torna-se um ciclo vicioso da destruição.

Tiba (2003, p. 87) concorda com as palavras do autor mencionado acima: “A droga faz o usuário mentir, roubar, prostituir-se, disfarçar. Quanto maior a vontade de consumi-la, mais os valores ficam relegados a segundo plano”. O Programa Resgate conta com o trabalho indispensável de uma equipe interdisciplinar[2], composta por 3 Assistentes Sociais, 2 Psicólogas, 1 Terapeuta Ocupacional, 1 Médico Psiquiatra, 1 Técnica em Enfermagem, 1 Pedagoga, 1 Professor de Educação Física, 1 Estagiária em Serviço Social, 1 Estagiaria em Psicologia e 2 monitores.Cabe a toda equipe que compõe a instituição o papel de valorizar a fala dos usuários, dar suporte a demanda que lhe chega na tentativa de transformá-la, produzir efeitos terapêuticos e no caso da recepção, fazer diagnóstico da situação em um primeiro momento e então encaminhar para o tratamento. Neste primeiro momento o indivíduo que busca a instituição passa por uma Triagem para saber se o mesmo se encaixa no perfil trabalhado no Programa. Em geral esta abordagem inicial é feita por três profissionais, sendo estes o médico psiquiatra, a psicóloga e a assistente social e isto, segundo Figueiredo (1997, p.125) “permite que mais de um olhar simultâneo sobre o caso possa contribuir para sua melhor avaliação e encaminhamento, e que as diferenças na escuta possam ter uma apreensão redimensionar da fala do paciente”.

As observações destes profissionais são levadas em questão para as reuniões de equipe que acontece semanalmente (terças-feiras, pela manhã) dentro da Instituição e que por sua vez são analisadas por todos e finalmente determinado se os novos casos (indivíduos que ainda estão em processo de avaliação) farão parte ou não do tratamento oferecido pelo Programa. A reunião de equipe é de extrema importância dentro da instituição, principalmente por se tratar de um instrumento que permite a organização institucional, fazendo com que os objetivos principais não se percam. Não deixando de grifar que, para a organização destas reuniões é preciso planejamento (o que pode ser observado dentro da Instituição).

Diversas são as atividades realizadas pela equipe, tais como: Assembléias mensais, que contam com a presença dos familiares e dos adolescentes, a fim de discutir diversos assuntos relacionados ao tratamento no Programa e também abertura de sugestões para melhoria do mesmo; Cursos de Capacitação oferecido pelo próprio programa para profissionais de várias instituições em diversos âmbitos (educacional, saúde, jurídico, entre outros), a respeito do trabalho desenvolvido no Programa e também desenvolvendo diversos temas a serem discutidos sobre Drogas; Projetos que visam melhoria no atendimento oferecido pela Instituição; Participação da equipe em palestras com temas que remetem a questão drogas, entre outras.

O Programa também conta com o apoio de professores de manicure, cabeleireiro, culinária e trabalhos manuais, todos patrocinados pelo SAIF. Além de um grupo de pagode, o CRIASAMBA, do qual os adolescentes têm a oportunidade de aprender cavaquinho, percussão e se apresentarem em diversos eventos ao mesmo tempo em que divulga o trabalho do Programa. No Ano de 2007, foi aprovada pelo CMDCA a oficina profissionalizante para os adolescentes. Elaborado pelas Assistentes Sociais do “Resgate”, a oficina apresenta curso de cabeleireiro, manicure, artesanato e móveis de vime. Lamentavelmente, ocorreu a dificuldade de iniciação deste projeto, tendo em vista a falta de verba para o pagamento dos professores e para a compra dos materiais (não enviada pelo Conselho Municipal da Criança e do Adolescente). Foi enviado novamente, neste ano de 2008, o mesmo projeto, tendo em vista que o prazo para iniciação e término da oficina (que era de um ano) venceu antes mesmo de começar.

Como se pode notar até o momento, a instituição tem grande preocupação em acompanhar a famílias dos adolescentes e faz isso às inserindo também dentro do Programa. Os familiares participam do Grupo de família, que acontece semanalmente. Atualmente estão funcionando dois grupos, com a capacidade máxima para 15 participantes em cada grupo e contam com a coordenação de uma Assistente Social.  Apesar do horário de atendimento ao grupo de família ocorrer durante o dia, vem sendo crescente o número de participantes, tendo em vista que os que não podem comparecer, tem como motivo o fato de não poder se ausentar do trabalho. O grupo de família tem como objetivo o tratamento desse familiar, dando apoio e informação sobre tudo que envolve dependência química. Tanto o grupo de família quanto as oficinas voltadas para os familiares, possibilitam uma maior integração entre estes participantes (principalmente entre as mães) que vivenciam o mesmo problema. É também um momento de recreação que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades e oportuniza mais um meio de capacitação para complemento da renda familiar.

Foi realizada no ano de 2007, uma pesquisa quantitativa[3], do qual tínhamos por finalidade conhecer a realidade dos usuários da Instituição, para então, compreendermos melhor como se processa o atendimento do Programa em torno destes usuários e também para planejarmos medidas de intervenção, enquanto aprendizes do Serviço Social e outas áreas profissionais. Os dados foram colhidos mediante informações que constavam nos 40 prontuários de adolescentes que fizeram tratamento no Programa neste mesmo ano e que servirão a seguir, como base para destacarmos o perfil destes “protagonistas” da qual destacamos em nosso trabalho e como a sua realidade é articulada com o atendimento oferecido no Programa Resgate. Quanto aos grupos, eles são divididos em três (GI,GII e GIII). Estes por sua vez, se diferem um do outro na medida em que se levam em consideração, as características apresentadas por cada indivíduo e o grau de comprometimento com as substâncias psicoativas de cada um. O grupo permite que a equipe analise o usuário em suas dimensões individuais, sem perder de vista a visão do todo. Quanto aos grupos, entraremos com maiores detalhes em nosso segundo capítulo, mas ilustraremos a seguir como se define cada um deles.

O Grupo I é constituído por usuários não freqüentes ou com risco de uso de drogas e que não apresentam danos físicos, mentais ou sociais muito graves. Geralmente estes usuários estão inseridos nas escolas, possuem um bom vínculo com a família, não ocorre o uso diário da droga ou com freqüência (semanalmente), ou pode existir no grupo usuários que nunca usaram tais substâncias, mas está em risco de usar muitas vezes por estarem sendo atraídos a trabalhar no tráfico de drogas como “aviãozinho” (recebem dinheiro ou objetos de valor em troca do repasse da droga para algum comprador). Neste caso é importante registrar que 65% dos usuários do Programa Resgate moram em área de risco (ponto de droga) e 35% não. Digamos que o Grupo I é caracterizado por iniciantes, ou seja, indivíduos que estão tendo um primeiro contanto com este “mundo das drogas” e estão sendo seduzidos por ele.

TIBA (2003, p. 21), faz uma comparação muito interessante entre o contato do adolescente com as drogas e a relação afetiva entre um homem uma mulher. Destacaremos três tipos de envolvimento: a paquera, o “ficar” e o “rolar”. O autor destaca que a droga começa a ‘paquerar’ a criança e o adolescente antes mesmos deles se interessarem por ela. Neste primeiro caso, ele destaca a mídia como principal causador desta paquera. Ele diz que as propagandas comerciais sobre álcool ou cigarro são sedutoras, transmite a idéia de que tais substâncias permitem o glamour e o prazer e que as imagens sobre tais substâncias além de serem transmitidas dentro do âmbito familiar, permite que o seu conteúdo também seja familiar.

O Grupo II é caracterizado por usuários habituais, abusadores e/ou dependentes das substâncias psicoativas que apresentam danos físicos, mentais e sociais agravados. Destacamos como características comuns aos usuários que compõem o GII os sintomas de intolerância[4]; restrições de repertório social; uso de drogas semanalmente, mas não todos os dias, durante o mesmo mês; uso diário de drogas durante o mesmo mês; uso de drogas de forma freqüente e exagerada, com indícios ou sinais de prejuízo dos vínculos afetivos e sociais, ou seja, o indivíduo não consegue parar quando quer; síndrome de abstinência[5]; forte desejo ou compulsão para consumir; dificuldades em controlar o uso seja em termos de início/fim ou nível de consumo; uso de substâncias psicoativas para atenuar sintomas de abstinência ou desconforto emocional; uso contínuo de drogas, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente; comportamento de risco freqüente.

Como podemos perceber que o GII apresenta níveis de complexidade bem mais amplos que o Primeiro Grupo aqui mencionado. Por conta disto o tratamento deste grupo dever ser diferenciado dos demais. O atendimento com o médico psiquiatra é muito mais intenso para com cada indivíduo deste grupo, tendo em vista sua habilidade de receitar medicamentos e orientar os adolescentes quanto a administração dos mesmos para controlar as sensações físicas e mentais que ocorrem decorrente da abstinência ou do contínuo uso de determinadas drogas.

Além do Grupo I e Grupo II, temos o Grupo III, que é um grupo especial uma conseqüência da recuperação, sendo a etapa final do tratamento. Neste último grupo, os usuários estão em aderência continua ao Programa e apresentam danos físicos, mentais e sociais atenuados ou ausentes e possuem características como: Ampliação do repertório social, não químico; mudança de hábitos (novo estilo de vida); melhoria da parte cognitiva, atenção e concentração, associação de idéias; (re) inserção social; planos para o futuro (perspectiva a médio prazo); resgate da credibilidade social; recuperação dos laços familiares; redução significativa do uso.

É Importante ressaltar que no decorrer deste um ano e meio de estágio, podemos notar que os indivíduos que apresentam características que envolvem o Grupo III tem sido tratado no atendimento específico por motivos como: um número muito pequeno de usuários que se enquadram neste perfil; incompatibilidade de horário, ou seja, dificilmente é possível montar um grupo quando os horários dos atendimentos são diferentes e redução da carga horária de atendimento destes usuários. Neste caso, podemos dizer que no período de experiência em nosso estágio o Grupo III não existiu.

Os critérios montados para formar os grupos foram elaborados pela equipe técnica da instituição, respaldados por estudos de muita leitura, além da experiência adquirida ao longo destes oito anos de Programa.

Cada grupo tem seu dia específico na Instituição, geralmente são duas ou três vezes por semana, de manhã ou à tarde. Com isso, os adolescentes não deixam de freqüentar a escola e não se privam da convivência familiar e comunitária, o que é bom pra o tratamento, tendo em vista que não é necessário afastá-los do convívio social. Ainda nos respaldando na pesquisa feita através dos dados colhidos através dos prontuários dos quarenta usuários que participaram dos grupos no ano de 2007, podemos constatar que o número de adolescentes inserido no Grupo I é maior (57.5%) que os inseridos no Grupo II (42.5%), o que não torna este segundo grupo menos significante em relação ao primeiro. Nestes grupos o número de indivíduos do sexo masculino é bem superior em relação aos indivíduos do sexo feminino. Os meninos totalizam um percentual de 90% a mais dos que freqüentam os grupos, em relação às meninas que aparece com apenas 10%. Em nossa pesquisa, observamos que o número de crianças se reduziu a zero no ano de 2007, já que a pesquisa consta que os adolescentes sem tratamento possuíam faixa etária entre 13 a 17 anos de idade.

Um grande problema que a Instituição enfrenta é a dificuldade que os usuários têm no que diz respeito ao aprendizado (dificuldade de ler, escrever e interpretar texto), isto dificulta muito alguns trabalhos elaborados pelos profissionais durante os grupos, por isso viu-se a necessidade de uma pedagoga no Programa, que tem como principal função complementar ou intensificar o que os usuários aprendem na escola, com o objetivo de ampliar a visão de mundo dos adolescentes, buscando seu interesse em estudar. O que não deve ser uma tarefa fácil, tendo em vista que 77,5% apresentam nível de escolaridade de 5ª a 8ª série sendo alarmante considerar que entre estes apenas 7,5% nunca repetiram de ano. 15% estão entre a1ª e a 4ª série. Os que representam o ensino médio incompleto (7,5%) ou repetiram o ano por mais de duas vezes ou pararam de estudar. O atendimento pedagógico, quando individual, é personalizado, de acordo com a necessidade de cada adolescente, pois como podemos observar na pesquisa, os níveis de escolaridade são variados. Entretanto, o atendimento em grupo é o que prevalece, buscando maior autonomia para os envolvidos. Um dado muito importante que não devemos deixar passar é o fato de que as famílias que são inseridas também no Programa são constituídas de forma diversificada. É grande o número de usuários que moram com pais separados, ou seja, tem como responsável no lar, ou só a mãe ou só o pai (67,5%), a segunda maioria (22,5%) mora com os dois (pai e mãe) e 10% representam os que moram com outras pessoas (tios, avós, entre outras).

MUITO PRAZER SOU UM ADOLESCENTE: A IMPORTANCIA DE CONHECER PARA TRATAR

Não foi por mero acaso a escolha deste título, isto porque desde o início, defendemos a idéia de que um trabalho de qualidade em torno da complexa situação que o usuário do Programa Resgate apresenta (sua íntima relação com as drogas), é ainda mais possível, quando compreendemos a sua realidade da maneira mais aprofundada. Por isso nos perguntamos: como podemos tratar bem, aquilo que não conhecemos?

Diante de tal pergunta, chegamos à conclusão de que ao lidar com o assunto “adolescentes usuários de droga”, nos esbarramos com um tema muito complexo, delicado e ao mesmo tempo instigante, já que se trata de uma análise em torno de seres humanos, que fazem parte de uma sociedade ao mesmo tempo que são alvo dela. Realizamos neste ano (2008), uma abordagem qualitativa à pesquisa iniciada como quantitativa, que foi fundamental para conhecermos de maneira mais profunda a realidade dos usuários, já que através dela podemos valorizar a fala dos adolescentes que fazem tratamento no Programa Resgate e podemos também, a partir daí, analisar a visão que cada um destes jovens tem em torno do seu “próprio mundo” (modo de viver, pensar, agir).

De porte de nosso principal objetivo em mente, demos como nome para nossa pesquisa “Frente a frente com o usuário: Conhecendo para melhor tratar”, a partir de então nossa análise ganhou outros contornos, uma vez que a voz do adolescente passou a direcionar o re-significar de conceitos teóricos sobre o pensar a vida pessoal deste e para nós, os próprios caminhos à pratica profissional, revelados no segundo capitulo do presente trabalho. Tivemos como principal instrumento a entrevista semi-estruturada[6], da qual fizemos utilização do gravador. Nossa entrevista contou com a participação de seis adolescentes, três do grupo I e três do grupo II, todos do sexo masculino (já que como percebemos na pesquisa quantitativa, são maioria no Programa). A escolha destes adolescentes e a quantidade de entrevistados, não se limitam a uma análise individual, mas permite que através desta, possamos observar o perfil e o ponto de vista destes adolescentes em sua totalidade.

Optamos por entrevistar os usuários individualmente e não em grupo, por dois motivos, o primeiro foi à dificuldade de reunir todos os integrantes de cada grupo no mesmo dia (os adolescentes vem faltando com freqüência entre os meses de janeiro e abril), e o segundo motivo é que nossa experiência de estágio nos fez verificar que os adolescentes têm muita dificuldade de expressar o que realmente pensam e o que de fato vivem quando são abordados em grupo. Por isso optamos pela entrevista individual, a fim de nos aproximarmos o mais possível do real destes indivíduos. Não tivemos dificuldade de realizar a abordagem qualitativa da pesquisa. Tínhamos planejado com antecedência as dez perguntas a serem feitas durante as entrevistas e contamos com o consentimento dos profissionais que compõem a instituição sobre a utilização do uso do gravador para a realização das mesmas. Na reunião de equipe todos concordaram para que a entrevista fosse realizada, já que seria interessante para a própria instituição ter acesso ao resultado deste trabalho. Além disto, não só os profissionais, mas principalmente os adolescentes foram comunicados de como seria realizada. Explicamos que se tratava de uma necessidade de compreensão mais profunda da realidade do adolescente do Resgate, fato que iluminaria nossa analise em um trabalho de conclusão de curso. Para ser realizado contávamos com a colaboração de quem se dispusesse. Explicamos que nossa intenção era analisar e compreender suas realidades, para melhor visualizá-los não somente enquanto usuários de droga, mas como seres humanos que assim como todos nós possuem sentimentos, desejos, fraquezas, entre outros adjetivos. Deixamos claro, que o uso do gravador era importante para que não fossem perdidas informações de maior importância e que o resultado da pesquisa seria exposto para toda a comunidade, de modo que a identidade dos entrevistados seria mantida em total sigilo.

Todos os adolescentes abordados se dispuseram a colaborar com a pesquisa e não se intimidaram com o uso do gravador durante as entrevistas, isso foi possível, pois houve uma empatia significante entre entrevistado e entrevistador. Podemos perceber isto na fala de um dos entrevistados: “Nossa, foi tão legal que eu até esqueci que tava gravando”.A descontração durante a entrevista, foi proposital, justamente para que o gravador não fosse motivo de inibição durante o proceder das entrevistas, deixando claro que nos preocupamos a todo o momento em não perder o foco do nosso trabalho.

 Foram feitas perguntas diversas, que dizem respeito ao primeiro contato com as substâncias psicoativas, o contexto familiar destes adolescentes, breve observação sobre as características pessoais de cada um, o incentivo para deixar de usar drogas e sua relação com as mesmas e a expectativa de vida destes adolescentes.

Como já mencionamos, o sigilo é uma de nossas prioridades na exposição deste trabalho pensando nisto, identificaremos os adolescentes entrevistados somente utilizando a primeira letra do nome de cada um, a idade e há quanto tempo cada adolescente freqüenta o grupo.

Grupo I: Relembrando que este grupo é representado por adolescentes que não fazem uso habitual das substâncias psicoativas ou estão em risco de uso e que por este motivo não sofreram danos físicos, mentais e sociais muito graves. Os entrevistados foram:

M 14 anos, freqüenta o grupo ha 4 anos.

L 16 anos, freqüenta o grupo ha 1 ano e meio.

G 17 anos, freqüenta o grupo ha 5 meses.

Grupo II: Destacamos mais uma vez, que este grupo é caracterizado por usuários habituais, abusadores e/ou dependentes das substâncias psicoativas e em geral, apresentam danos físicos, mentais e sociais agravados. Os entrevistados foram:

A 14 anos, freqüenta o grupo a 7 meses.

C 17 anos, freqüenta o grupo a 2 anos.

D 14 anos, freqüenta o grupo a 8 meses.

Neste primeiro momento ilustraremos como se deu o primeiro encontro destes adolescentes com a droga.

Compartilhando a “droga da amizade”.

Ao perguntar aos adolescentes como cada um começou a fazer uso de drogas, boa parte destes atribuiu a influência dos amigos a primeira experiência com as substâncias psicoativas, como observamos nos relatos de (M) que nos diz que:

“Pelos colegas, curiosidade. Minha família sempre me informou sobre os problemas que a droga trás na vida da gente”.

           Podemos observar nos relatos de (L) a mesma motivação para o uso de drogas:

“Eu comecei a usar drogas por que eu vi meus colegas usando, ai eu comecei a fumar também, usei por curiosidade. Eles falaram, fuma ai, fuma ai, eu disse: não, não – fuma ai rapaz! Ai eu fumei, achei maneiro e é isso”.

Como pode ser observado, em todas as entrevistas, os adolescentes entrevistados atribuem a influência de amigos e a curiosidade como fatores determinantes para o primeiro encontro com as substâncias psicoativas. O que nos faz pensar que, o ciclo de amizade pode influenciar para que o rumo a ser tomado por estes adolescentes, seja percorrido por “trilhas perigosas”, podendo efetivar na vida destes indivíduos diversas perdas. Entre estas, a própria vida.

Chama-nos a atenção perceber que a curiosidade é relatada pelos adolescentes também como incentivo ao uso. Isto por que segundo a analise de TIBA (2003, p.65), isto quer dizer que a “a maioria dos jovens dá-se o direito de fazer o que tiver vontade, resultado de uma educação tolerante e permissiva. Não mede as conseqüências porque não tem o hábito de arcar com a responsabilidade de seus atos”. Não podemos apontar apenas um ou outro fator que determina o primeiro contato por parte dos adolescentes com as drogas, eles são diversos e depende de um contexto (seja ele social, econômico ou cultural). TIBA (2003, p.104-105) ao analisar o primeiro contato com a droga, ressalta que:

O relato de (C) nos chama atenção para o convívio familiar não só deste, mas também de todos os adolescentes entrevistados. Neste sentido, se faz necessário perguntar como se estabelece a relação destes usuários com suas famílias. Tal questionamento se revela como interesse de nossa investigação, pois tínhamos como pressuposto que a motivação para usar drogas poderia ser influenciada pela relação usuário/família.

O Convívio familiar e o “Resgate” na afetividade

Ao perguntar aos adolescentes entrevistados como se dá à relação destes com os integrantes de seu contexto familiar boa parte nos diz que o convívio ou é bom ou é legal, como podemos observar nos relatos de (M) “A gente se dá bem, família legal, tem amizade, respeito”.e também no relato de (L) que nos informa que: “Viver com minha família é legal, minha relação dentro de casa é boa, é só eu não vim de ‘onda’ pra dentro de casa, fico de ‘onda’ lá fora. Porque senão a gente fica viajando e eles sentem o cheiro também”.

Nossa surpresa para a revelação dos adolescentes nos fez reconhecer que para esse público é importante ousar ser diferente, mas sua base familiar precisa ser mantida. Tal afirmação se dá pela observação da aparente tranqüilidade dos adolescentes entrevistados, aparente porque ao mesmo tempo se queixam insistentemente da falta de afeto de seus parentes com podemos observar nos relatos de (C): Boa parte dos adolescentes entrevistados diz não manter um bom relacionamento com um ou mais integrantes de seu meio familiar. Diante disto, podemos refletir que muitas vezes é a própria droga a responsável pela emersão de novos problemas, assim como verificamos no caso de (C) - onde a falta de afetividade emergiu após o seu envolvimento com tais substâncias - e também no relato de (D), que nos remete a pensar, que antes mesmo dele entrar em contato direto com as substâncias psicoativas, elas já faziam parte de sua vida indiretamente (através do irmão mais velho):

 Bem, só de vez enquanto mesmo, meu irmão fica querendo da uma de grande pra cima de mim. Ele chega ferrado dentro de casa e querendo botar terror em mim. Ele sempre bebeu muito. A gente quase não conversa, mas não sinto falta não. Carinho tem mais ou menos.

É interessante observar o quanto a ameaça sentida pela falta de afeto familiar pode trazer conseqüências para a vida destes adolescentes, muitos ao não encontrar afeto dentro de casa, ou até mesmo encontrar afeto demais acabam se envolvendo em um mesmo denominador comum, o uso de drogas. Um dos entrevistados (G) relata que sua mãe tinha interesse pelo que este fazia fora de casa: “Minha mãe fazia um monte de pergunta, falava que os outros estavam falando aquilo, aquilo outro, mas ela sempre acreditou em mim, entendeu? Ela me dava de tudo, me dá ainda.”Contudo, visualizando o afeto dado pela mãe de (G) sentimos a necessidade de destacar o último trecho de seu relato “Ela me dava de tudo, me dá ainda.” Esta fala nos atenta para uma questão que merece ser aprofundada em um próximo estudo ou trabalho monográfico; será que afeto demais também não faz mal para estes adolescentes? Será que “dar de tudo”, não representa um risco futuro para os mesmos, já que impor limites também é uma forma de educar? Será que o afeto pode simplesmente transmutar-se em ação? Na abordagem desse trabalho, consideramos a inclusão desses jovens no programa Resgate como a maior prova do afeto familiar- o encaminhamento de um filho à tratamento.

Nesta última questão pensamos na fala de um dos adolescentes (C), que questiona a falta de carinho, relatando que percebeu que o afeto acabou quando a mãe o inseriu no “Programa Resgate”. Em torno desta situação, deixamos a seguinte reflexão: Será que não houve afeto por parte desta mãe, que não vendo mais a possibilidade de lidar sozinha com a problemática em que o filho se encontrava, recorreu ao atendimento público (neste caso, o Programa Resgate), na esperança de ver o seu filho recuperado da dependência das drogas? Neste caso é preciso repensar se há apenas um significado para definir a palavra afeto. Sobre o que estamos falando podemos ilustrar a análise da pedagoga, educadora e psicanalista SIMÕES (2007, p.3) que nos atenta para a seguinte questão:

Os filhos de hoje são ‘vítimas’ de pais despreparados. A liberdade deve ser concedida a partir da confiança nos pequenos atos. Se seu filho não respeita a simples regra de arrumar a sua cama e não a cumpre, como então deixá-lo ter liberdade? Ele deve ser capaz de obedecer regras e limites para conquistar esse mérito, que é conquistado e não chantageado ou dado por dar.

Dando prosseguimento ao nosso trabalho estaremos apresentando de forma breve como estes adolescentes se relacionam com o mundo a sua volta, dando destaque ao lazer, ao futuro profissional, e um último momento, como estes se auto-avaliam e nos informam suas principais qualidades e defeitos e o que mudariam hoje em suas vidas.

Adolescentes em “movimento”

Ao perguntarmos a estes adolescentes sobre o seu ritmo musical e a atividade de lazer favoritos todos elegeram ritmos musicais que movimentam o corpo tais como pagode, funk, raggae como tendências favoritas para se ouvir e o futebol como esporte favorito para se praticar. Observamos que os gostos musicais e o lazer preferido vão de encontro com a nossa cultura brasileira. É interessante sabermos das preferências dos adolescentes para podermos trabalhar com o grupo, de forma que, reconheçamos o objetivo de cada atividade só terá resultado positivo se antes houver por parte dos adolescentes o interesse em participar. Um dado interessante a ser ilustrado é que foi pelo fato dos adolescentes gostarem de pagode é que foi criado o Grupo de pagode CRIASAMBA do Programa Resgate.

Com relação à carreira profissional que estes desejam seguir no futuro, foi observada uma gama de desejos que segundo os adolescentes pode ser impedido pelo uso de drogas. (M) gostaria de ser jogador de futebol, (L) e (D) gostariam de trabalhar na Petrobrás como engenheiros, (A) gostaria de ser motorista de caminhão, (G) gostaria de ser desenhista, mas  quem nos despertou maior  atenção foi (C) que nos informou que seu sonho de infância era ser policial, mas hoje devido ao uso de drogas a dificuldade de seguir este caminho aumenta ainda mais.

É ser uma coisa que hoje eu não tenho a mínima vontade de ser, desde pequeno assim, eu tinha vontade de ser policial. Mas hoje em dia policia tem que botar farda dentro da bolsa, não pode andar fardado. Tipo assim, se ele vê um usuário de droga na rua, pega em flagrante, ainda bate. Mas hoje eu só penso em fazer um curso, me qualificar em alguma coisa. Mas meu sonho mesmo era ser policial e o que me impediu também foi às drogas.

A atenção em torno deste depoimento se faz no sentido em que pensamos na implosão de valores que ocorre na vida deste adolescente. Como podemos ver, a identidade projeto deste indivíduo é ser policial, mas a identidade a ele atribuída é, drogado, marginal, entre outros atributos, ou seja, identidades essas que se divergem em suas ações, se opõem, não se “cruzam”. A identidade movimento se dá na medida em que este jovem se reconhece em um não lugar a ser conquistado, já que se formos analisar sua fala, ele se põe em pé de igualdade com o policial, que assim como ele, também é perseguido. É como se o desejo de ser policial, não o tirasse do lugar onde está.

Com o intuito de verificar como os adolescentes se auto-avaliam, perguntamos aos mesmos qual a maior qualidade e o maior defeito de cada um. Foi observado que boa parte dos entrevistados possui dificuldade em enumerar seus defeitos: (G) “Meu maior defeito: difícil é ver na gente mesmos defeitos. Não consigo ver meus defeitos”. Entre os defeitos enumerados se destacam o aparente nervosismo diante de alguma situação como brigas em casa e o fato de usar drogas, neste caso, os adolescentes apontam como defeito o temperamento, o fato de não suportar que os chame a atenção de forma grosseira, além de pontuarem que o defeito só surge quando sua personalidade é alterada devido o consumo de drogas: (C) “Meu defeito que eu não acho defeito de ser, eu acho que é usar droga, é por que eu acabo ficando doido com essas coisas assim, (...)”. Entre as qualidades enumeramos a vontade de aprender coisas novas, ser agradável, simpático e esforçado, se destacam. Durante as entrevistas os adolescentes sentiram muita dificuldade de pontuar seus defeitos e qualidades.

Ao perguntar o que estes adolescentes mudariam em suas vidas (no passado) a maioria decidiria parar de usar drogas, evitariam o primeiro encontro com as mesmas pois, hoje percebem as perdas que obtiveram no decorrer do uso. (G) é um exemplo disso quando nos diz que: “Eu voltaria o tempo pra trás, que agora eu to atrasado, fiquei quatro anos sem estudar, já era pra eu ter terminado. Agora eu to fazendo o supletivo (5ª e 6 ª série).”

Contudo, existem aqueles que pensam o inverso, em outras palavras, não mudariam nada em suas vidas, nem mesmo evitariam o primeiro encontro com as substâncias psicoativas. Podemos observar isso no relato de (C) que nos diz que não quer parar de usar e que pode ser alguém na vida usando drogas, tendo em vista que seu primo trabalha e mesmo assim é dependente químico. Compreensível, já que na juventude as células estão em ascensão (e destruição pelas drogas), fator relevante, pois um jovem saudável não sente conseqüências imediatas da degeneração física. A característica adolescente é tudo pode!

Eu não quero parar, mas tipo assim, eu quero para arrumar emprego, comprar minhas coisas, minhas roupas, calçados, essas coisas assim.e se eu tiver usando, não tem como eu arrumar um trabalho. Eu tenho um primo que usa, o Pai dele é bombeiro, a mãe dele sabe que ele usa e tipo assim, ele trabalha, tem as coisas, tem tudo.

É Interessante pensarmos através do relato deste adolescente a necessidade de querer pertencer e neste caso, pertencer a uma sociedade caracterizada pela produção e pelo consumo. Em sua fala não ocorre a priore o desejo de parar de usar drogas, mas de arrumar um emprego, de modo que este o permita (assim comopermite a qualquer trabalhador) consumir, satisfazendo suas vontades e necessidades. Observamos até agora o quanto é tortuoso e inseguro o caminho para se ver livre das drogas, principalmente quando o prazer e as perdas que elas proporcionam aparentemente possuem o mesmo “peso na balança” da vida destes adolescentes. Isto é mais um entrave, já que ocorre uma dificuldade de entender que a continuidade do uso, pode fazer com que o lado das perdas pese muito mais. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, percebemos através de nossa análise em torno do que foi apresentado pelos próprios adolescentes, força de vontade para tentar superar toda esta problemática que enfrentam (as drogas), vimos que eles não são meros sujeitos soltos no espaço, possuem sentimentos, vontades, desejos, sonhos e mesmo com algumas dúvidas, um certo anseio de deixar de usar. Mas concordamos que sozinhos estes adolescentes dificilmente conseguiram a liberdade desta prisão tão obscura.

Se prestarmos atenção na confusão que fizemos em nossas vidas devido ao uso de drogas, perceberemos que as substâncias químicas foram apenas reflexos de nossas personalidades fortes e ardentes por liberdade. A ilusão de que as drogas poderiam nos dar asas quase nos matou. Magoamos os que mais nos amam e quase perdemos nossa maior riqueza: nossas vidas. A liberdade que pensávamos ter encontrado no uso de substâncias químicas ocasionou justamente uma prisão física, mental e espiritual. Fomos aprisionados dentro do nosso próprio sonho de liberdade e aventura. (GOULART, 2000, p.19).

Sabemos que sozinhos dificilmente estes usuários conseguem sair desta “prisão”, por isso nos perguntamos: que incentivos estes recebem da sociedade para considerar que é possível mudança? E que entraves esta mesma sociedade impõe para que estes adolescentes possam se ver livres do consumo das substâncias psicoativas? Este é nosso próximo ponto de análise deste trabalho.

Incentivos para tornar meninos “sujos” em meninos “limpos”.

Na fala de muitos usuários ou dependentes de droga, o termo “limpo”, é muito utilizado para quem, já usou ou abusou de tais substâncias, mas tem conseguido ficar sem usá-las por um determinado tempo (abster-se), ou seja, têm-se mantido “limpo”.  Podemos observar que o incentivo para se deixar as drogas é variante. Os adolescentes entrevistados destacaram vários pontos, como por exemplo: a família, o sagrado, a ilegalidade, a ausência da ociosidade e a masculinidade como meios que podem influenciar para a sua recuperação, como podemos notar, por exemplo, no relato de (L): “O que me incentivou a parar de usar droga, foi que tudo começou por causa de uma menina que eu gosto. Por que pega mal você estar namorando e mulher sua fica sabendo que você usa. Ai eu fui lá e peguei e parei”. Apenas um dos entrevistados (A) não se sente, ou não recebe nenhum tipo de estímulo que o leve a parar de usar drogas: “eu não tenho vontade de parar não”.

É muito interessante percebermos que a repressão, que talvez serviria como motivo de revolta e entrega total ao vício para alguns, pode para outros servir como aprendizado para deixar de usar as drogas. Neste sentido a resposta de (G), serve para analisarmos aquela frase que diz que muitas vezes aprendemos pela dor:

Eu parei desde quando eu fui preso, e isso me incentivou a parar. Me deu um susto. Só entrando, ficando lá. Pra ver como é que é. É uma prisão, é um massacre, lá pra respirar tinha que rodar a camisa pra respirar, o lugar não dá pra dois ficar e tinha três menores comigo, ficamos dois dias na delegacia. Lá eles molhavam o chão pra gente não deitar.

Ocorre uma aversão muito grande por parte de muitas pessoas e principalmente do usuário de drogas em falar do sagrado, em se apegar a algo “superior” a ele, mas um dos entrevistados sugeriu para si o sagrado como incentivo para deixar de usar as substâncias psicoativas: (D) Ir na igreja”.      Em nossa experiência de estágio no Programa Resgate, não percebemos nenhum incentivo fortemente trabalhado neste sentido (espiritual), talvez por se tratar de algo muito delicado, que precisa ser trabalhado por um profissional que tenha uma certa experiência em separar espiritualidade de religião, além de ser um atendimento que depende exclusivamente da vontade do usuário em participar.

Quando admitimos nossa impotência perante a dependência química e conseguimos enxergar o descontrole de nossas vidas, a idéia de um Poder Superior soa como uma esperança; mas para que este funcione, precisamos ser rigorosos a respeito de nossas crenças. A liberdade do indivíduo de escolher seu Poder Superior deve ser total. Os dependentes químicos na ativa (progressão da doença) possuem uma falta de fé gigantesca, apenas para admitir que talvez exista algo maior que eles mesmos. O Poder Superior ou Deus, da maneira que o compreendemos, precisa ser real, ou seja, precisa funcionar em nossas vidas. É difícil, em um programa espiritual, deixar de mencionar a palavra ‘Deus’. Nossas experiências demonstram que aqueles que ‘pulam’ este passo enfrentam sérios problemas de continuarem limpos e de seguirem o programa com sucesso. (...) por ser escolha de um Poder Superior livre, a honestidade em relação à crença neste, deve ser grande e fiel, porque ninguém age em cima daquilo que não acredita. (GOULART, 2000, p.38).

Quanto ao convívio social os adolescentes nos informam que a sua condição (usuário de drogas) os impede de conseguir trabalho. Um exemplo disso é (C) que nos relata que durante a noite não usa drogas, pois estuda, mas no horário da manhã, por não ter nada pra fazer, acaba se vendo mergulhado no vício e ainda afirma que se tivesse trabalhando, fazendo alguma coisa, ele talvez pensaria em outra coisa que não fosse as drogas. Como podemos ver a ociosidade aparece como um elemento de regresso no tratamento do usuário, elemento este que muitas vezes é criado pelo seletivo, competitivo e excludente mercado de trabalho. Poucos são os incentivos na tentativa de preparar estes jovens a se tornarem aptos a competir, a serem selecionados e não mais excluídos do mercado de trabalho. É pensando nisto que enfatizamos a importância de relacionar as oficinas profissionalizantes ao tratamento do uso de drogas dentro da Instituição.

São diversos os preconceitos e os estigmas colocados pela sociedade, quando o assunto é em relação a ser usuário de droga. Estes são muitas vezes chamados de maconheiros, vagabundos, traficantes, viciados, mau caráter, sem personalidade, entre outros adjetivos. Estes adolescentes também recebem atributos como, por exemplo: agressivos, rebeldes, irrecuperáveis, perdido, sem projeto de vida. Criam-se então, representações necessárias a sua discriminação e estigmatização, ou seja, atributos profundamente depreciativos, negativos e pejorativos. Na fala de (L) fica claro o que pretendemos dizer sobre as atribuições que são relacionadas ao usuário de drogas:

Já sofri um tipo de preconceito depois que eu parei, dos pais dela, entendeu? Por que depois que eu parei, eles ficaram inventando coisa, entendeu? O pai dela não deixava eu nem falar com ela, entendeu? Também, esse foi o motivo de eu ter parado também. Agora que eu parei eles ficam inventando. Eles acham que quem usa droga é marginal. Tem gente que começa a fumar e fica na dele. Mas há o preconceito.

VIOLANTE (1985, P.24) faz uma análise pertinente sobre o estigma:

O estigma é um efetivo mecanismo de controle social, que exclui o estigmatizado tanto social como psicologicamente, impedindo-o de ser aceito socialmente. A marca estigmatizante impõe-se de tal modo que destrói a possibilidade de atenção social para outros atributos seus.

O estigma para com o usuário de droga muitas vezes é considerado culpa de caráter individual, é preciso lembrar que a dependência química se trata de uma doença e deve ser tratada como tal. Diante disto podemos analisar na fala de (D) - quando perguntamos se ele já sofreu algum tipo de preconceito - a expressão do que queremos dizer: “Ah já, os policial só me espancava, dava soco direto, falando que eu tava traficando. Eles bateu muito. Eu só sou usuário”. Como já foi supramencionada a idéia atribuída pela sociedade de que o usuário de drogas não apresenta nenhum projeto de vida, contrapõe-se ao que podemos observar nos relatos destes adolescentes, do qual podemos observar como exemplo, que boa parte deseja seguir alguma carreira profissional. Com isso, que segue a afirmativa de que tal atribuição é um preconceito e precisa ser quebrado. Como já dissemos logo no início de nosso capítulo, a dependência química é uma doença que atinge o indivíduo de forma bio-psico-social e reconhecida como tal pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas mesmo assim,

Para muitas pessoas portadoras (ou não) desta patologia, ainda é difícil aceitar esta idéia. Se os preconceitos em relação ao problema da farmacodependência não passarem por uma revisão pessoal de cada um de nós, os erros e rótulos continuarão no mundo em que vivemos. Muitos dizem que isto não é problema deles, até passarem por um problema dentro da própria casa. Infelizmente, quando acordam, já é tarde demais. (GOULART, 2000, p.13).

Dando prosseguimento a nossa análise, sentimos a necessidade de ilustrar como estes jovens lidam com a morte, já que mais uma vez, destacamos que o contínuo uso de drogas possui determinação fatal. Para isso, lançamos uma questão para ser respondida por eles que pelo menos uma vez na vida todos nós paramos para pensar: se tivesse à certeza que morreria amanhã, o que você faria hoje? As respostas são em sua maioria relacionadas e isto, veremos no próximo sub-item deste trabalho monográfico.

Me diga quem puder, como será o amanhã: a morte em vida.

(...) num período do desenvolvimento marcado por mudanças no corpo, profundas transformações, novas experiências, conflitos de sentimentos, busca da identidade, questionamentos da família, sociedade etc., o paradoxo vida e morte se mostra fortemente presente. Há uma busca intensa pela vida, expressando-se sentimentos de onipotência e imortalidade e, com isso, podendo ocorrer uma aproximação de perigos e a possibilidade de morte. Jovens relatam que em situações de prazer, normalmente, não pensam na possibilidade de morte: ‘imortais? O adolescente se sente assim na hora que ele está sentindo prazer e ele acha que nada pode dar errado’; ‘quando você está se divertindo, hoje é hoje e já era, o limite é a morte’. (RODRIGUEZ, 2007, s.p.).

Podemos articular a análise da autora em torno desta temática (morte) com o que observamos nos relatos dos adolescentes.  Uma parte dos entrevistados passaria os últimos momentos de vida com a família (G) “Primeira coisa, eu daria um beijo na minha mãe, só isso”. (L) respectivamente nos mostra essa ação quando nos informa: “Se minha família não soubesse eu contaria toda a verdade pra minha família e pediria perdão a Deus e pedir a ele pra nunca mais, entendeu? Ninguém fazer isso, que é errado. Ia pedir perdão pra todo mundo e pra minha família”.

Compreendemos que somente o fato de anunciar que ele vai morrer para alguém, ou tomar atitudes que lhe proporcionam prazer, já faz com que este adolescente se sinta mais vivo. Um exemplo claro do que estamos falando é, além dos relatos anteriores, vem de (D) que nos diz:“ah, saia dessa vida, né? Se recuperar, entrar na igreja. Mas se eu tiver a certeza que eu vou morrer amanhã ai eu bebia a vontade, saia, fumava, cheirava, pegava as mulheres.  Ele mostrou o desejo de mudança no início de seu relato (se recuperar, ir na igreja), coisas estas que necessitam de tempo, mas depois , tendo certeza de que iria morrer aproveitou para relacionar as poucas horas de vida a momentos que lhe proporcionam prazer, sem se preocupar com as conseqüências que elas trazem (fumava, cheirava), já que o prejuízo maior seria a própria morte, como chegada ao fim da caminhada.

Analisando a fala dos adolescentes percebemos o quanto estes se preocupam em anunciar que eles existem, ou seja, fazem parte de um mundo, e se morrem, deixam para os que ficam a sua “marca”. Foi o que observamos no relato de (M): “Falava com todo mundo – amanhã vou morrer, prepara as coisas, prepara meu caixão, faz logo o velório que amanhã eu tô morto”. O mesmo ocorre quando (A) diz: “Curtia mais a vida, ahhh, fazia muito mais do que eu faço. Eu iria usar dobrado, deixar minha marca”.

Não podemos descartar que o usuário de droga tem dificuldades de lidar com o desconhecido, só que neste sentido o desconhecido muitas vezes são eles próprios, é difícil para a maioria reconhecer neles as qualidades e os defeitos, possibilidade de mudança e parecem conseguir se enxergar apenas quando a droga está presente. Na maioria das falas, observamos um apego muito grande aos hábitos que os adolescentes adquiriram a partir do momento em que passaram a usar drogas. Destacamos neste sentido a fala de (C) para melhor explicitar está análise: “Pra falar a verdade? Eu zoaria muito. Usaria muita droga também, maconha, saia pra baile a noite.”

GOULART (2000, p. 70-71) aponta o que estamos discutindo acima, dando destaque ao medo que o dependente químico tem de acreditar em si próprio:

Os padrões mentais criados pelo dependente distorcem o verdadeiro perigo. Costumamos dizer que em alguns casos, medo é falta de fé. Os dependentes têm dificuldade de acreditar em si mesmos, nas pessoas, em um poder superior e na vida. Os complexos e traumas passados podem desencadear este medo de viver. A fé requer prática e, sem ela isolamo-nos em nossa caverna interior, consumindo-nos com medo do desconhecido: nós mesmos. O dependente teme o desconhecido e apega-se ao que lhe é familiar, isto é, as antigas maneiras de ser e pensar que ele mesmo criou como mecanismos de defesa para o mundo, para as pessoas e para o que ele acha de si mesmo.

 

O nosso objetivo central para elaborar esta pesquisa, foi exatamente demonstrar a importância de conhecer a realidade destes adolescentes, destacando o modo de pensar “adolescente”, o estilo de vida, seus desejos e sonhos, suas motivações, suas perspectivas de futuro, entre outras. Isto porque consideramos que trabalhar em prol da recuperação destes usuários exige dos profissionais um olhar para além do que o indivíduo apresenta enquanto principal problemática (o uso de drogas), deve-se valorizar sua fala, sua opinião e não impor instrumentos e técnicas a serem trabalhados, de acordo com o ponto de vista e o modo de pensar somente do profissional, mas articulá-lo à realidade demandada pelos usuários. Por exemplo, se temos pretensão de trabalhar com uma técnica de dinâmica de grupo que exija música, o interessante seria exatamente despertar nos participantes o interesse por escutá-la. Sabendo que a preferência da maioria é pagode e funk, por que iríamos impor aos adolescentes que escutassem rock?

Diante do exposto podemos dizer que as técnicas de dinâmica de grupo devem ser elaboradas de acordo com o perfil dos usuários do “Resgate” e pensando de maneira que todos possam contribuir com sua participação. Por isso a importância de conhecer este usuário.

Como vimos no primeiro capítulo, os grupos no Programa Resgate são divididos em três (GI, GII e GIII), e vimos também que se caracterizam de maneira diferenciada, isto quer dizer que se os grupos são diferentes, as atividades planejadas para se trabalhar com os mesmos devem estar de acordo com o perfil característico de cada um. Por exemplo, se a maioria dos componentes do GII apresentam maior grau de comprometimento com as drogas e desenvolveram ao longo desta relação (indivíduo/droga) maiores perdas (familiares, escolares, entre outras), cabe aos profissionais trabalhar com estes indivíduos de maneira mais específica, intensificada e diferenciada dos demais grupos. Isto não quer dizer, que as mesmas técnicas aplicadas a um não sirva para o outro, mas a finalidade do tratamento -  levando-se em conta a diferente realidade apresentada pelos indivíduos - deve ser respeitada. Se as técnicas trabalhadas nos grupos não se diferenciam um dos outros e os indivíduos são analisados também da mesma forma (como se não possuíssem características próprias) o objetivo que motivou a separação dos mesmos (em GI,GII e GII) pode se perder.

No ano de 2007, em uma das reuniões de equipe, foi muito discutido novas propostas de se trabalhar com os grupos, tendo em vista que o objetivo da intervenção estava se perdendo. Isto porque, não estava mais havendo um planejamento por parte da maioria dos profissionais em torno das temáticas a serem discutidas e movimentadas com os adolescentes. Pensando nisso, foi decido que todos os profissionais trabalhassem com o mesmo tema (família, sexo, drogas, cidadania, entre outros) durante cada semana com cada grupo, porém, a metodologia e a forma de abordagem por parte dos profissionais era livre. A finalidade desta forma de se trabalhar com os grupo era, além de facilitar um planejamento por parte do profissional em torno de cada temática (já que o mesmo já sabia com antecedência o tema a ser desenvolvido), permitir uma maior absorção, reflexão e possibilidade de ação por parte dos usuários em torno do que se discutia durante os grupos em uma semana inteira.

Cabe destacar que os objetivos profissionais a serem alcançados com os grupos se referem a desenvolver nos adolescentes uma consciência crítica, reflexiva, política e democrática de si mesmo e do mundo, partindo de reflexões capazes de transformar a complexidade que o envolve, tais como: pobreza, os diversos tipos de preconceito, sua própria relação com a droga (necessidade de reconhecer perdas decorrente do uso), entre outros. Além de permitir que os componentes do grupo analisem criticamente o movimento histórico em que vivem, de maneira que possam entender a realidade que os cerca, bem como seus direitos e seu papel na construção da história. É importante para que reconheçam suas potencialidades e acreditem em si próprios enquanto seres humanos, possíveis de erros, mas também de acertos e mesmo que em situações de vulnerabilidade, capazes de superação. Defendemos a idéia de que é fundamental que o adolescente participe das discussões de grupo demonstrando interesse pelo tema ali trabalhado. Desta maneira, concordamos que organizar um trabalho em grupo com base nos interesses do Assistente Social não faz o mesmo efeito, do que se planejado com a participação dos adolescentes. Se isso não acontecer, a postura será de autoridade.

CONCLUSÃO             

Verificamos neste trabalho que o assunto drogas, pode nos levar a muitas perguntas e pode ser que dificilmente as respostas sejam como esperamos. Dentre elas, nos perguntamos em um dado momento por que será que as drogas lícitas têm maior aceitação que as ilícitas, se os efeitos no organismo podem causar perdas tão drásticas quanto as que são proibidas para consumo? A resposta que encontramos foi apenas que, a aceitação para o consumo de bebidas e tabaco é maior pela sociedade e que não é levado em consideração os efeitos psicossociais que elas causam. Também nos deparamos com várias perguntas antes de iniciar este trabalho, tais como: Quais as entidades e instituições têm maior número de recuperados no tratamento com o usuário de drogas e por que? Pensamos nas Entidades Anônimas que não tem vínculo religioso, somente espiritual; Pensamos no apoio religioso (e aqui destacamos os usuários recuperados por terem se vinculado a alguma religião) e também pensamos nas clínicas ou Instituições particulares ou públicas voltadas para os usuários de substâncias psicoativas. Porém não nos detemos a seguir este rumo em nosso trabalho monográfico tendo em vista o curto período para a realização de uma pesquisa tão ampla. Enfim, chegamos a conclusão que pelo fato de se tratar de um assunto tão complexo e muito delicado, o tema “Drogas” deve ser constantemente estudado não somente por profissionais que lidam diretamente com o assunto, mas por toda a sociedade, tendo em vista que as drogas (sejam elas lícitas ou ilícitas) estão presentes em todo o lugar, seja direta ou indiretamente e podem atingir não somente os adultos, mas também as crianças e os adolescentes.

Alguns de nossos pressupostos foram atendidos neste trabalho, um deles foi encontrar autores que assim com nós vêem as reuniões de grupo e as técnicas de dinâmica aplicadas a estas, como proposta de qualidade no tratamento para usuários de droga, conseguimos demonstrar isso através da teoria e através de nossa experiência de estágio, do qual obtemos resultados surpreendentemente positivos. Como foi bastante enfatizado a utilização dos instrumentos e técnicas se contrapõem ao método tradicionalista (sem qualidade, decodificado, alienado, sem finalidade) quando ocorre por parte dos profissionais um bom planejamento e uma boa execução, sendo que os resultados podem qualificar o tratamento oferecido, se o tratado for reconhecido enquanto sujeito consciente, imbuído de um contexto social capaz de definir seu modo de pensar, seu modo de agir e seu desejo de modificar sua própria realidade.

Quando elaboramos nossas entrevistas como processo de pesquisa para conhecermos melhor os adolescentes em tratamento no Programa Resgate, associamos o estímulo que estes jovens tiveram para o primeiro contato com a droga com a relação familiar, tivemos em mente que o envolvimento foi reação de um convívio familiar degradado, mas fomos surpreendidos, pois a maioria disse ter sido motivado ao consumo de tais substâncias pelos amigos e pela curiosidade. Isto é um caso que dever ser aprofundado pelos profissionais da área e até pelos próprios pais, que muitas vezes podem não perceber a importância que o grupo de amigos pode ter sobre os seus filhos. Ainda em nossas entrevistas, o pressuposto de que o grau de afetividade (em excesso ou a falta dela) é uma das características destes jovens usuários de droga também foi correspondido. Verificamos que alguns pais “pecam” pelo excesso ou pela falta de afeto que dão aos filhos e isto pode influenciar negativamente na vida destes adolescentes.

Pensando nisso, destacamos que dificilmente o tratamento do usuário é eficaz se seus familiares também não buscarem apoio. Os grupos de família são de suma importância em qualquer Instituição que lida com a dependência química, tendo em vista que a família é um dos grupos de maior importância para vida social do ser humano. Ela pode determinar a recuperação ou não do usuário. Fizemos questão de enfatizar neste trabalho que o preconceito existe em nossa sociedade em relação ao usuário de drogas e que isso verificamos na mídia, nas ruas, no modo que se dirigem aos usuários que fazem tratamento dizendo que estes são (marginais, viciados, sem jeito, entre outros termos verbalmente agressivos). Porém, muitos deles não admitiram sofrer algum tipo de preconceito e de certo modo, tais respostas nos animam, quando estimamos que pode ser que a visão que a sociedade tem sobre os dependentes químicos esteja mudando e que as pessoas estão começando a ver a problemática não como definidora do caráter destes jovens, mas como uma doença possível de recuperação.

Realizar este trabalho nos proporcionou uma visão em torno da temática para além do que nos coube colocar neste trabalho de conclusão de curso. Abordamos insistentemente a questão dos grupos e a importância das reuniões grupais como incentivo a troca de experiências, partilha de pensamentos e com objetivo principal de instigar nos adolescentes o desejo de abster-se das drogas, sabendo que nesta luta eles não estão sozinhos. Diante disso, e como proposta da “prevenção da recaída”, destacaremos a mesma idéia que tivemos no início do ano de 2007 em nosso campo de estágio e que não foi posto em prática por algumas questões que não abordamos neste trabalho, mas em breve palavras destacaremos a seguir. No ano de 2007, a instituição enfrentou o que chamamos de “crise institucional” destacamos aqui e brevemente, algumas situações que dificultaram o andamento de algumas propostas de ação que provavelmente iriam possibilitar uma maior qualificação do tratamento oferecido pelo Programa Resgate se postas em prática, dentre elas, mencionamos:  a falta de pagamento dos funcionário do Programa; a não liberação de vale transporte ou condução para os usuários; a ausência de verba para compra de materiais didáticos pedagógicos e para os cursos profissionalizantes; a rotação freqüente de alguns profissionais, que se vendo sem salários, optaram por sair da Instituição (psicólogos, terapeuta familiar, enfermeira, administradora, coordenadora, etc...), enfim, situações estas que também influenciaram na qualidade do tratamento oferecido pelo Programa e só não influenciou por completo de maneira negativa, pela boa vontade de parte dos funcionários que não desistiram de uma Instituição que é considerada  referência de um tratamento qualificado. Lembrando que apesar do Programa ser uma Organização não governamental, conta principalmente com o apoio da Prefeitura Municipal de Campos, e quando não há negociação entre as instituições, os objetivos passam a se perder, correndo sério risco de acabar. Diante disto, esperamos que ao contrário de algumas instituições, o Programa Resgate continue o seu funcionamento com qualidade e que não se perca aquilo que foi construído com tanto carinho ao longo destes nove anos (a preocupação com as crianças, os adolescentes e seu familiares que vivem a luta diária contra as drogas).

Propomos para a instituição e colocamos como opção para um tratamento eficaz para com o usuário de drogas, que haja medidas de intervenção através de métodos que estimulem a reflexão da criança e do adolescente sobre seu envolvimento com as drogas. Principalmente que sejam capazes de causar nos indivíduos o desejo de superar a dependência que lhe exclui do âmbito familiar, escolar e profissional e que muitas vezes os levam a estarem em conflito com a lei. As medidas de prevenção antidrogas são de suma importância, mas não podemos pensar que quem já está envolvido com as mesmas “não tem mais jeito”. Pensando nisto, acreditamos que seria interessante a elaboração de um Projeto que proponha que mensalmente pessoas que vivem a luta diária contra o uso das substâncias psicoativas, pudessem contar suas experiências e alimentar nestes usuários do Programa Resgate o desejo de lutar contra este mal, e conseqüentemente desperte-os a acreditar na possibilidade de reintegração pessoal. Propomos também que seria de bom proveito para a evolução do tratamento dos adolescentes, se estes fossem acompanhados pelos profissionais e pelos responsáveis a visitar Entidades Anônimas de Apoio a Dependentes Químicos, com o objetivo de estes usuários terem mais uma referência depois que alcançarem a maior idade (já que o Programa Resgate atende apenas crianças e adolescentes de 08 a 17 anos).

Neste sentido, destacamos a prevenção, mas a “prevenção da recaída”. Tendo em vista que um dos procedimentos tomados em algumas instituições é fazer com que as pessoas aprendam métodos efetivos de mudança de hábitos, do qual o objetivo principal seja a abstenção ou moderação, não importando como o problema desenvolveu-se inicialmente. Em poucas palavras, o usuário deixa de buscar o culpado e passa a procurar soluções. Para compreender melhor como funciona este processo, podemos analisar a explicação a seguir:

Aqui a ênfase muda de ‘Porque’ para ‘Como’ – de ‘Porque sou um alcoólico e por que devo abster-me?’ Para ‘Como saio desta armadilha?’ Como posso parar este hábito antigo e controlar sua ocorrência no futuro?”.(MARLATT,p. 11, 1993)

Tendo em vista as dificuldades enfrentadas na Instituição, como já foi colocado acima, a proposta do Projeto de intervenção está sendo estudada pelos assistentes sociais e demais profissionais com perspectivas de ser colocado em prática ainda este ano. Esperamos ter contribuído (com nossas análises e proposta aqui apresentadas) para um maior esclarecimento dos profissionais e acadêmicos (a fim de instigar nestes, o desejo de realizar novas pesquisas e proporcionar aos usuários uma melhor qualidade de vida), esperamos também ter contribuído com os próprios adolescentes que foram os protagonistas deste trabalho e colaboraram para a realização e o resultado desta monografia, bem como a equipe que faz parte do Programa Resgate e também para com aqueles que se interessarem pelo assunto (mesmo que insistamos que o assunto deveria ser do interesse de todos).

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¹ Bacharel em Assistente Social Universidade Federal Fluminense (UFF). Assistente Social Efetiva da Prefeitura de Itapemirim, Profissional atuante no Serviço de Acolhimento da Casa Lar Amanda Souza Alves e CREAS no Município de Itapemirim.

² Bacharel em Nutrição (Faculdade Salesiana de Vitória). Especialista Nutrição Clínica (Universidade Veiga de Almeida). Licenciado em Ciências Biológicas (Fundação Duque de Caxias). Especialista em Docência do Ensino Superior (Faculdade Luso Capixaba). Especialista em Metodologia de Ciências Biológicas (Faculdade Mario Schenberg). Mestre em Ciências da Educação (Unigrendel University).

 

[2] A interdisciplinaridade, seria a participação em grupo de vários profissionais de diferentes áreas que trocam informações e cooperam entre si na construção de um objeto específico.Vasconcelos (2000, p.47).

 

[3] Esta pesquisa foi delineando novas necessidades para pesquisadora. A quantificação de dados dos 40 prontuários despertou-nos outras perguntas que somente foram respondidas com a apreensão de dados qualitativos decorrentes da observação sistemática do real nos espaços da aprendizagem profissional (estagio curricular), dos registros nos diários de campo e especialmente em entrevistas semi estruturadas efetivadas em abril/2008 com alguns jovens criteriosamente escolhidos como representantes de seus grupos constitutivos.

[4] Diminuição da resposta a uma dose de determinada substância que ocorre com o uso contínuo da mesma. Ou seja, ocorre uma necessidade de aumentar progressivamente a dose da droga para alcançar efeitos que eram produzidos anteriormente por doses mais baixas.

 

[5] Conjunto de sinais e sintomas decorrentes da falta de drogas em usuários dependentes. Caracteriza-se por sensações de mal-estar e diferentes gruas de sofrimento mental e físico particulares para cada tipo de droga.

[6] A entrevista semi-estruturada combina perguntas fechadas e abertas, em que entrevistados tem a possibilidades de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada. (MINAYO, 2007, P.64)