289 - DEPOIS DO NATAL

 

O Natal passou – como tudo passa. 

 

A linda árvore do escritório (que custou uma nota), despida agora de todos os enfeites, parece ter encolhido, ficando miúda, vazia; é apenas um tronco seco, com galhos mirrados e ramagens descoradas; está triste, pronta para morrer.

 

É assim que nos sentimos hoje aqui no escritório.

 

Na euforia do Natal, são abraços, sorrisos, palavras gentis, carinhosas, ditas com uma sinceridade e uma familiaridade difíceis de acreditar.

 

Agora, tudo voltou ao normal.

 

E “normal” significa modos bruscos, meias palavras de reprovação, pequenos gestos de intolerância, uma impaciência contida, mas latente, pronta para explodir. 

 

O que é que, no Natal, consegue tirar-nos da rotina de maltratar os outros?

O que é que nos faz agir como se fôssemos pessoas melhores, compreensivas, tolerantes, nem que seja só por algumas horas?

Que química é essa, que poção mágica?

Talvez seja uma pré disposição coletiva; as canções, a atmosfera, a proximidade do fim do ano. Talvez a redução das atividades, daquele torvelinho apressado que não nos deixa parar para pensar,

Quando uma pessoa fala com você aberta e francamente, sem tentar esconder nada, estimula a atração, a vontade de agir da mesma forma.

Um imita o outro. É só isso?

Não; com certeza não.

Deve ser algo mais.

 

A árvore lá de casa, não é desmontada no dia seguinte ao Natal; só depois que passaram o fim do ano e o dia de Reis, ou até mais tarde.

Ela sobrevive bem, porque a gente rega, fala carinhosamente com ela, põe na sombra quando o sol bate forte. 

Os sentimentos positivos que ela inspira estendem-se por mais tempo, estimulando-nos a repetir o mesmo comportamento do dia de Natal.

 

Será só isso?  Uma arvorezinha faz tanta diferença?

Não, certamente deve haver outras coisas.

 

Não somos basicamente maus; mas é a nossa árvore interior que seca, diante de tantos atritos, desentendimentos, competição estúpida e inconsequente.

 

 Então, aqui vai um conselho: procure alguém, cuja árvore interior precise de cuidados; regue-a, dê-lhe carinho, mantenha acesas as suas luzinhas.

Com certeza, receberá dele – ou dela -  as mesmas atenções.

 

Se conseguirem  este pequeno milagre, vocês dois brilharão o ano inteiro.

Feliz 2010!