Depois da Industrialização, Na Essência Ainda Somos os Mesmos.


Queimamos sutiã em praça pública
Deixamos ser flagradas sem calcinha,
Dançamos com o Deus do vinho,
Fumamos igual atriz de cinema, as femmes fatales,
Compramos a idéia de mulher livre.
Enlouquecemos ao som de Jimi Hendrix e Jame Joplim,
Dançamos nuas e alucinadas de LSD
Conquistamos o melhor lugar ao Sol,
Somos executivas e Representantes Internacionais
Conquistamos a liberdade sexual
E a Presidência da República.
Fomos hippie nos anos sessenta,
Na ditadura militar fomos o pão e o circo do governo
Que liberou a bunda e a pornochanchada
E calou a voz desse povo.
Somos mulheres imitando homem,
E deles pegamos tudo que não presta,
Sua sexualidade desassociada do amor,
Sua bebedeira em portas de bares,
Sua sujeira na linguagem,
Seus desaforos, sua ostentação e orgulhos machistas.
O que não sabemos imitar do homem
É sua famosa cumplicidade masculina,
Eles melhor compreendem seus pensamentos
E sua sordidez na alma, por isso são solidários um com os outros.
Somos a felicidade do Capitalismo,
Somos a alegria da indústria do modismo.
Lutamos e conquistamos nossa emancipação,
Porém, são os homens que se esbaldam de nossa vitória,
E se afundam ainda mais em suas natureza suja.
Esses são homens submissos ao poder feminino,
Ou são simplesmente se esbaldam de nossa liberdade
Que permite sexo casual.
Nossos filhos tem ainda sobre nós o mesmo olhar
Que temos sobre nossa mãe, que deve ser santa.
Repetimos eternamente:
_Mãe é uma só! Pai pode ser qualquer um...
E assim ficamos presas na idéia que mãe é sublime.
Somos vítimas da Industrialização e do Capitalismo,
Porém, somos mais vítimas de nossa condição sublime...
De ser mãe, de ser a portadora da vida, fazedora de luz.
Depois que desestruturamos a família,
Derrubarmos tabus e conceitos
É difícil olhar para nós mesmos e notarmos
Que ainda temos pensamentos arcaicos,
E que no fundo o homem deseja
A sua menina virgem com flores no cabelo
Em quanto seu instinto de porco
Ainda passa as noites nas cabanas e cabarés,
Sonhando com prostitutas que satisfazem seus caprichos sexuais.
E nos mulheres ainda sonhamos com o príncipe encantado
Montado em seu cavalo branco,
Ainda sonhamos ser mãe e dona de casa.
Estes pensamentos e sentimentos parecem em nós uma atrofiada.
Somos tão modernos..., e não sabemos que nosso corpo físico
É o mesmo ou muito pior que o corpo físico de um homem primata.
Esses corpo não está preparado para a fumaça, a fuligem e a poluição
De nossos carros e de nossos industriais.
Este corpo se nega a aceitar as luzes da cidade que não se apaga.
Estamos fazendo malabarismos teóricos para nós explicarmos,
Para nós justificarmos, quando ainda somos apenas os mesmos.
Estamos apenas perdidos dentro dessa noite secular,
Porque no fundo somos os mesmos no corpo e na alma,
E não dá para negar essa paralisia interior.
O que restou de nós foi o que sempre fomos,
Homens e mulheres, especiais porque são peças
Que se encaixam perfeitamente,
O que restou de nós, é que somos apenas
Uma minúscula parte do universo,
Uma extensão dos rios, florestas, dos animais,
Do vento e das coisas invisíveis.
O que restou de mim é esse homem impotente
De ejaculação precoce e instintos desenfreados,
Diante seu sexo casual e de sua liberdade que me oprime.
Tecnicamente sou apenas alguém
Que não consegue atender a demanda.
 
Abílio Santana
J.Nunez

 O IMPARCIALISMO:POESIA PARA UM NOVO CONTEXTO
jose Nunez
Publicado no Recanto das Letras em 07/09/2009
Código do texto: T1796655