Maria Larissa Brito Santos*

“Quando lidamos com seres humanos dotados de vontade livre, nossa predição e controle falham. O homem tem liberdade de escolha” (Lundim, 1977).

Democracia Racial

 

Atualmente vemos inúmeros casos de preconceito racial, piadas, injúrias, dentre outros que ferem o negro arduamente e continuamente. Sabe-se que tal situação é um caso ocorrido desde a antiguidade e que muitos dos negros utilizam da “política do embranquecimento” para que seus descendentes não sofram tanto quanto ele (a) sofreu por ser negro; por outro lado temos aqueles que se definem por sua cor escura e assumem essa identidade negra com muito fervor independente de qualquer situação e isso causa certa estranheza como se fosse um termo extremista de ser usado. Essa estranheza deve-se ao fato da indefinição que “temos” em relação à diversidade racial.

     A fenotipia de cada individuo atribuem uma série de distinções sociais existentes no Brasil ou em outro lugar o que traz o que temos como preconceito racial; no entanto; o conceito de que se tem por raça é inconsistente, pois, na parte biológica não somos diferenciados um dos outros. Segue como exemplo o esqueleto humano, ao pegarmos este esqueleto e colocarmos ao lado de outro que seja também de um indivíduo, não vemos diferenças, não dá para identificar se este esqueleto ou outro é de um branco, negro, pardo, azul ou outra definição que se tenha para distinguir raça. Em sumo todo ser humano é igual. O que se pode dizer que nos diferencia um dos outros é uma questão cultural, afinal temos culturas que nos identificam a determinados ambientes que vivemos e não somente uma questão de cor, pois em todo lugar pessoas de “cores” diferentes vivem entre si.

          Desse modo é no passado que podemos discutir sobre como o Brasil lida com a questão racial. A escravidão em solo brasileiro era posta como preceito religioso e inseriu a idéia de que os trabalhos braçais e força bruta para as tarefas domésticas e de campo eram atribuídas ao negro enquanto o branco e civilizado tinha o papel de liderança, ou seja, o branco nasceu para mandar e o negro para obedecer.

  O mito da democracia racial surge a partir da chama miscigenação. A união entre brancos e negros questiona a idéia se somos ou não racistas.

   Em Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre o conceito de democracia racial coloca o negro para fora da área de dominação, nessa obra vemos o negro em situações diferentes do trabalho escravo (vivemos e desfrutando do conforto).

   Hoje em dia vemos com mais clareza que o Brasil é um país racista apesar de ter na nossa constituição a pena inafiançável sobre discriminação racial e ao mesmo temos também temos as “cotas” o que distingue negros de brancos.

   No Brasil existem vários escritores que falam sobre a democracia racial, o desejo de liberdade, da ancestralidade, da vida do negro é retratado em obras como Cadernos Negros, nessa obra Esmeralda Ribeiro que teve sua carreira iniciada em 1982 aponta na escrita a importância do desabafo dos negros.

Me sinto como um ébano que resiste a todas as pressões deste

mundo branco, tentando me burlar das coisas que tenho direito ou

faço ter direito. Procuro, juntamente com todos os negros presentes

neste livro, a oportunidade de expressar de todas as formas com o

                                       uso do jogo das palavras um espaço conquistado com muita labuta,

por profissionais liberais ou não, mas tendo o objetivo de mostrar que

o negro saiu ou está saindo do fundo do quintal para sentar na sala

de estar. (C.N. 5: 20)

     Nessa passagem podemos observar que o desejo de sair da margem deu a literatura negra o poder de colocar o negro no centro e não mais um individuo inferiorizado.

     A variedade temática e o tom de denúncia que a obra C.N. traz consigo uma literatura que difunde-se com a realidade brasileira trazendo um olhar crítico ao que acontece ao nosso redor.

  Jamu Minka natural de Varginha Minas Gerais trás m sua escrita a marca do engajamento político, pelo combate as desigualdades sociais. Segundo ele, um dos pontos fundamentais para estabelecer uma consciência negra é a exaltação dos valores africanos possibilitando o regaste de sua herança cultural.

Brasil e seu pecado original: a ditadura da brancura e vasto repertório de disfarces. Pra quem é visivelmente afro, sobrou este presente cheio de fratura exposta. Nossa resposta: consciência e militância. Ousamos reinventar espaços de comunicação e aqui redefinimo-nos em textos, temas, leituras, personagens e histórias de transformação. (C.N 29)

Nesta passagem Jamu Minka nos revela que a literatura tem uma responsabilidade humanizadora é através dela que ele e entre outros autores podem expor a voz do negro e contribuir contra as represálias em que a discriminação racial apresenta desde a antiguidade.

    Na propaganda enganosa paraíso racial hipocrisia faz mal nosso futuro num saco sem fundo  a gente vê e finge que não vê a ditadura da brancura Negros de alma negra se inscrevem naquilo que escrevem mas o Brasil nega nego que não se nega. ( in C.N)

    Este poema mostra como a sociedade brasileira é difícil para o negro que não se nega negro e como é posta a ditadura da brancura é posta. O negro só tem vez quando nega o que ele é para ser atribuído a uma cultura elitista.

      Podemos concluir a questão da democracia racial é uma faca com dois lados, sempre haverá questões a serem levantadas sobre este assunto rico; no entanto a importância da manifestação cultural capaz de interferir na realidade faz com que possamos entrar em um mundo onde a idéia de multiculturalismo possa ser mais cultivada até porque continuar mascarando a discriminação é dar força para que o preconceito seja perpetuado continuamente.

Referências:

      RIBEIRO, Esmeralda. Malungos e Milongas. São Paulo: Edição da Autora, 1988

(conto).

_______. “5 poemas para a rainha Quielé”, “E agora nossa guerreira”, “Jogo de

luzes”. Cadernos negros 15. (org. Quilombhoje). São Paulo: Edição dos Autores,

1992.

_______. Cadernos negros 16. (org. Quilombhoje). São Paulo: Ed. dos Autores,

1993.

_______. “O que faremos sem você?”. Cadernos negros 18. (org. Quilombhoje).

São Paulo: Quilombhoje: Editora Anita, 1995.