Definição da Cabala

Segundo o costumes dos autores, parece que tardamos em dar a definição desta Ciência, pois da definição depende seu verdadeiro conhecimento. Contudo, eu podia dizer que por duas razões me achava desobrigado deste uso. A primeira, porque nós não tratamos a Cabala magistralmente, nem a escrevemos, mas só escrevemos dela sem algum ânimo de introduzi-la ou ensiná-la; contra o qual pensamento (quando em nós o houvesse) estava não só a imperícia, mas o escrúpulo; havendo reconhecido ser defeso seu exercício e os livros que o ensinam, conforme ao índice romano. A razão, porque estamos por sua divisão, ela resulta tão diversa por suas partes, que nos inculca ciências diferentes, em tal maneira que mal puderam por uma só definição ser compreendidas.

Mas porque não pareça que esta escusa se encaminha a ignorar a entidade, fim e objeto desta ciência, diremos, segundo os católicos, que a justa Cabala foi uma profunda meditação de mistérios ocultos deduzida de nomes, letras, números e figuras dos livros divinos; e a injusta, uma ficção judiciária, que incertamente prognosticava do futuro por vãs observações, misturando o sagrado e o profano. Mas segundo os rabinos: Est enim Cabala divinae revelationis ad salutiferam Dei, et formarum separatarum contemplationem traditae symbolica receptio, quam qui coelesti afflatur sequuntur recto nomine Cabalici dicuntur. E porque da divisão se tomará o mais formal conhecimento do que seja e a que fins se encaminhe, tratemos de dizer o modo por que se reparte.