DEBITO, LOGO EXISTO

Por: Flávio Alexandre Cavalcante

A "evolução" humana criou novos paradigmas e deles derivaram as modernas divisões sociais, algo que nos remete a um apartheid mercadológico que define quem é financeiramente interessante e, por conseguinte, socializável e quem está excluso.

Somos o que compramos e fazemos isso para nos identificar com a imagem que queremos passar para o restante da sociedade. Os grupos criam regras, selecionam membros e elegem marcas (produtos), transformando-as em ícones de um segmento. O Ser Humano, por ser um animal social, busca inserir-se nos grupos para ser acolhido e defendido. Tal processo deve-se muito, no ultra consumismo, ao que possuímos, o que identifica nossa capacidade produtiva.Muitas vezes tal seleção é escondida sob o pretexto dos modismos e do bom gosto, todavia o que determina o que é de bom tom são os multiplicadores de conceitos que com sua penetração social atuam como formadores de opinião.

Na antiguidade, a prosperidade financeira, que era vista pelo catolicismo com maus olhos por denotar usura, foi brilhantemente distorcida por Calvino e Lutero, adquirindo status de graça divina; assim demonstrar riqueza é sinal de iluminação.

A vida moderna criou um fenômeno interessante, posto que somos escravos de um ciclo interminável de dívidas geradas pelos benefícios do conforto que tendemos a buscar. Novas demandas, novos produtos, inovações tecnológicas e o preço de uma etiqueta famosa, todos esses são fatores que nos definem como Neo Homo Economicus posto que, diferente da visão de Taylor onde os Homens eram definidos pela sua capacidade produtiva, hoje é dado pelo poder de consumo do indivíduo. Assim me pergunto, quando ouço críticas ao sistema capitalista, se percebemos que a força motriz do capitalismo está nas diferenças sociais que motivam as classes menos favorecidas a produzir mais para adquirir mais, se enganando com uma falsa sensação de aproximação das classes sociais mais abastadas.

Confesso-me um apaixonado pelos mecanismos do Capitalismo, uma vez que o conforto proporcionado pela compra se torna espora no lombo do trabalhador que mais rapidamente conduzirá a carruagem guiada pelo burguês, assim como as dívidas adquiridas pelo impulso das belas modelos e das novelas da televisão se transformam em rédeas que aprisionam.Assim, parafraseando Descartes, Adquirendi ergo sum – Debito, logo existo.