Somos todos juízes. Acredito que em nenhum quesito somos mais rápidos do que em julgar os outros e apontar culpados par qualquer coisa que não deu certo. Quando se trata de educação não queremos discutir ou procurar outros meios, já apontamos logo um culpado e encerramos a querela. Mas afinal de quem é a culpa pelo fato de nosso sistema educacional atingir níveis tão baixos?

Vejamos esta informação: Numa lista de 129 países, o Brasil está na posição 76 em um relatório que analisa os esforços das nações para atingir os objetivos estabelecidos pela

A informação consta de um relatório divulgado pela UNESCO, na última quarta-feira, chamado de Educação para Todos. Os objetivos foram definidos e assinados pelos países participantes da Conferência Mundial de Educação em Dacar, capital do Senegal, no ano 2000. Os 129 países se comprometeram a atingir até 2015 uma série de objetivos relacionados à educação, como a expansão do ensino e o cuidado na primeira infância, a universalização da educação elementar gratuita e obrigatória, a aprendizagem de jovens e adultos, a redução das taxas de analfabetismo. A igualdade entre homens e mulheres nas oportunidades educacionais e a qualidade na educação também são objetivos a serem perseguidos pelos países.[1] É uma posição pífia visto que somos a 6ª economia do mundo.

Sou professor da educação básica em escola pública da rede estadual e ouço reclamações e apelos constantes de coordenadores e instrutores de formação continuada no sentido de se empreender um esforço sobre humano para melhorar a educação na nossa cidade. Diante dessa perspectivas posso elencar três coisas para refletirmos sobre o assunto. Primeiro é que dizem que os professores estão sempre defasados em relação ao aluno. Em seguida os próprios professores dizem que os alunos não se interessam por nada porque eles têm direitos demais e dever de menos. Para encerrar professores, alunos e os demais profissionais da educação afirmam que a política do governo para educação está sempre aquém do desejado. Analisaremos estes itens e veremos se eles procedem ou não. Vale ressaltar que minhas reflexões dizem respeito àquilo que vivencio onde trabalho, portanto não espere uma visão global ou um panorama geral sobre problemas na educação e possíveis soluções não são a isso que me proponho.

Como professor de educação básica, participo constantemente de cursos e treinamentos  onde a palavra de ordem é "atualizar". O professor não pode ficar parado senão o aluno o ultrapassa, sua aula tem que ser dinâmica, tem que inovar etc etc... Geralmente quem dá esses cursos não estão trabalhando em sala de aula, na faina diária e pensam que na da faz para melhorar no aspecto profissional. Penso eu que isso é um equivoco. Em um só ano fiz mais de 300 horas de cursos.

Ou que pelo fato do aluno viver quase diariamente acessando Orkut eles já superaram os professores, porque hoje internet é tudo. Mas já pedi para alunos digitarem trabalhos de sala de aula –alunos orkuteiros- e eles não sabiam formatar ou justificar o texto. Veio todo torto a até com os links em outra cor. Logo, não me parecem tão "expert" assim no quesito tecnologia. Sem contar que foi necessário aceitar sua nova forma de escrever o "internetês". É sempre possível o discípulo superar, mas não vejo isso atualmente na educação básica. Então para encontrar o culpado para a falência da educação a defasagem do professor em relação ao aluno não serve como bode expiatório.

Em seguida os professores contra atacam dizendo que o aluno não tem interesse em aprender, que são uns relaxados, não querem nada. Entre suspiros nostálgicos dizem "ah o meu tempo, ali sim a gente aprendia". Como se o tempo dele já houvesse expirado. Gente com data de validade, eu ainda não conhecia. Fica no ar a impressão que a única coisa que o aluno realmente sabe e todos eles sabem, sem exceção é a "pedagogia da resistência. Essa é prática mais comum entre os alunos: resistir a tudo que professor propõe como forma de testar os nervos dos educadores levando-os a contrair a síndrome da desistência. Nesse caso, se o educador sugere um exercício se recusam a fazer porque ainda não se explicou a o conteúdo da matéria. Se tenta explicar o conteúdo se recusa a ouvir porque ele já sabe de antemão que provavelmente não irá entender nada, exatamente porque isso não serve para nada. Não importa a disciplina: matemática, filosofia, biologia. Parece que nada serve para nada. Então se tem inicio as conversas paralelas, solicitações para ir a banheiro ou beber água ou ambos. E o tempo da aula já acabou, sobra a frustração: não fiz nada. Mas é possível contornar os constrangimentos da "pedagogia da resistência" contextualizando o assunto e falando uma linguagem acessível. Se a educação não vai bem não se pode culpar o aluno.

Para finalizar bradamos em coro contra os governantes de plantão que as políticas implantadas por eles no setor são ineficazes e não vão de encontro às reais necessidades do sistema. Reclamamos que o governo não aplica os recursos destinados a educação garantidos pela constituição, por isso é impossível que as coisas andem. Venhamos e convenhamos o professor ganha pouco mesmo e trabalha em condições desfavoráveis, com escolas sucateadas, sem segurança, faltam materiais de expediente, salas superlotadas com 35 a 40 alunos e carga horária exaustiva. Pelo fato de ganhar pouco o professor tem que trabalhar demais para complementar a renda e em decorrência disso tem muitos alunos e não os conhece –há professores que leciona para mais de 800 alunos por ano- e quando entro para sala de aula está demasiado cansado e não produz.

Por essa e outras a 6ª economia do mundo ocupa a modestíssima posição de 76ª no ranking da educação. Como desgraça pouca é bobagem os alunos brilhantes não querem saber do magistério. A revista Veja[2] de 10/02/2010, edição 2151 publicou um artigo com o titulo "prestigio zero" que afirma isso.

Se a culpa é do aluno, do professor ou do governo talvez esta não seja uma boa hora para discutir a questão, mas deveríamos rever nossos conceitos e cumprir cada um a parte que lhe toca. Um país com essas dimensões na merece um lugar ato funesto na educação.



[1] Quando terminei o artigo já circulava na net esta informação: "O Brasil perdeu 12 posições no índice de educação feito pela Unesco, o braço da ONU (Organização das Nações Unidas) para a educação e a cultura. A queda, do 76º para o 88º lugar entre 128 países, ocorreu principalmente em razão da piora no índice de crianças que chegam até a quarta série

[2] www.veja.com.br