De direito à criança gostar de ler

 

Edson Silva

 

Não sei bem ao certo quem eu era , mas sonhei ser um escritor muito famoso, daqueles lidos por milhões e milhões de leitores, que se tornam seguidores e até fanáticos. Por isso mesmo, no sonho eu estava devidamente disfarçado para circular anônimo entre aquela multidão de admiradores. Entre reportagens, artigos, editoriais, crônicas e realeses escrevo e publico profissionalmente textos faz mais de 25 anos; se contar redações escolares, posso dizer que escrevo há mais de 35 anos, por isso o que podia haver de extraordinário num sonho em que eu era um escritor famoso?

 

Tenho visões bem particulares em relação aos assuntos como sucesso e fama. Acho que uma coisa ou outra não é nada se achamos que fomos a chamada “cereja do bolo”, que sabemos tudo, que somos donos da verdade...  Somos eternos aprendizes e também professores, podemos aprender com qualquer pessoa e ensinar qualquer uma também. Mas voltando ao sonho, eu na pele de famoso escritor disfarçado de anônimo estava numa sofisticada Feira Internacional de Literatura, esbarrando em famosos, dando um  “excuse-me”, ou como prefere o amigo Bonil, de Sumaré, um desculpe-me, ao mais recente autor mais lido do New York Times, ou um ‘foi mal” ao nosso caro amigo Chico...

 

Em certo momento, fiquei com pena dos meus colegas de profissão: jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas, que não sabiam qual famoso entrevistariam, fotografariam ou filmariam. A Scamparini (Ilze) estava tão bem quanto nos encontrávamos eventualmente em reportagens, na Campinas, dos anos 80. Tudo corria na normalidade daquele caos, até que ouvi a repórter de uma equipe dizer: “Após tantos famosos, vamos ouvir o que uma pessoa do povo pensa da leitura”. Essa pessoa era eu, em princípio fiquei surpreso, mas envaidecido por ser o que sempre o ser humano deve ser: povo.

 

Disse gosto muito de ler e se pudesse dar um conselho para todos, inclusive para famosos é que dêem aos seus filhos o direito de gostar de leitura. Sei que TVs, Games e Filmes são muito atraentes, mas contem histórias, ouçam músicas que tenham conteúdo com seus filhos, incentivem a criatividade deles... Antes de desligar o microfone, a moça disse: “Obrigado seu Gabriel!” e saiu apressada. Fiquei pensando: “Gabriel ? Meu nome é Edson, tenho os netinhos João Gabriel e Rian, acho que ela me confundiu...” Era sonho, acordei e na cabeceira da cama estava o livro “Cheiro de Goiaba”, do Gabriel Garcia Marquez.

 

Edson Silva, 48 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré

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