Considerações sobre o estudo de idiomas na infância: pequeno relato de uma idéia que deu certo.

                                                                                                  * Claudia Flores

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O ensino de língua estrangeira (LE) nas escolas é aconselhado pelo MEC, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCNs- a partir da 5ª série do ensino fundamental. Entretanto, vem crescendo o interesse pelo aprendizado de outro idioma além do inglês e do espanhol. Partindo-se deste princípio, em março de 2005 foi organizado um plano-piloto para agregar o ensino do idioma italiano e alemão a partir da 2ª série do ensino fundamental de uma escola particular na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul.A escolha dos idiomas considerou a descendência européia de pais e alunos da referida escola e da manifestação do interesse em aprender os dois idiomas.No ato da matrícula foi feita a escolha do idioma a ser" descoberto" por cada criança, formando-se assim grupos organizados por série e idade.

Enquanto escola, houve a preocupação em buscar, a partir dessa perspectiva, uma reflexão acerca da proposta dos PCNs, levando-se em conta o ensino de línguas relacionado às fases do desenvolvimento infantil, sem abstrair-se da motivação e do contexto em que estavam inseridas as crianças.

Então, se o aprendizado se der dessa maneira, a língua estrangeira se "desestrangeiriza"? Ainda, para assegurar-nos da nossa idéia e da viabilidade de transformar nossa escola em uma escola bilíngüe, buscou-se em Piaget fundamentação sobre as fases do desenvolvimento intantil a fim de determinar nosso público, seus interesses e motivações. Piaget (1999, p.8), divide a linguagem intantil em dois momentos: o período egocêntrico e socializado. A criança até os 7 ou 8 anos encontra-se na fase egocêntrica, quer dizer, pronuncia as frases sem preocupar-se em saber a quem fala nem se é escutada; fala de si mesma sempreocupar-se com o seu interlocutor. Esse período ainda é dividido em três categorias:

Depois do período egocêntrico, a criança passa ao período em que a linguagem já está socializada _ mais ou menos a partir dos 8 anos. Assim, é possível observar: Informação adaptada= existe uma troca real, seja de influência, informação, discussão ou mesmo de colaboração em busca de objetivos comuns. A crítica= são observações mais afetivas que intectuais quea criança pronuncia para afirmar sua superioridade em relação aos outros. As ordens= súplicas e ameaças nas quais uma criança age sobre a outra. As perguntas= a maioria das perguntas de criança exige resposta. As respostas= são as respostas dadas às perguntas e às ordens, e não dadas no decorrer dos diálogos.

Acreditar no potencial do ensino de uma língua estrangeira é creditar no sujeito limites e possibilidades de tornar-se mais preparado para a vida moderna.

Finalmente, devo assinalar que a língua estrangeira ( LE ) deve e pode servir como instrumento de brincadeira e comunicação entre as crianças motivadas a aprender um outro idioma, no caso, o terceiro, visto que o inglês é trabalhado, na maioria das escolas,desde seu ingresso na educação infantil.

Piaget chegava a essas conclusões observando os fatos. Investigava diretamente com as crianças, utilizando um método clínico de revelar novos acontecimentos. Analisava-os exaustivamente e classificava-os, proporcionando um quadro vivo do pensamento infantil. Deve-se ter consciência do período em que se encontra o aprendiz. Segundo as observações na escola em questão, houve um desenvolvimento muitíssimo maior das crianças, não coincidindo com as fases do desenvolvimento propostas por Piaget. No caso em questão, a criança, segundo Piaget, ainda não está no período em que a linguagem já está socializada, e sim no período egocêntrico. Não foi o que constatou-se no grupo de crianças dessa faixa-etária na escola onde foi feita a observação. Houve sim, uma notável interação das crianças e a certeza de que elas estão perfeitamente socializadas. A língua estrangeira serviu como motivador para novas descobertas, por isso a importância do lúdico nessa fase.