Quando jovem, eu tinha um amigo extremamente zeloso quanto aos passos de uma nova dança que surgia. Era considerado um verdadeiro pé-de-valsa. Assim, quando convidado para uma festa no final de semana, ele procurava ensaiar sozinho no quarto, pensando em fazer bonito na pista de dança para atrair a atenção das garotas. Pensando em não perder o rebolado, ele estava sempre muito preocupado com os passos ensaiados, que se configuravam em uma seqüência de movimentos repetidos sem qualquer criatividade. Enquanto isso, haviam outros que não ligavam a mínima para esse tipo de preparação e, na hora da verdade, iam mandando seus passos e gingados na base do improviso: combinando erros grosseiros e acertos criativos. Até hoje não sei quem saiu ganhando nessa disputa.

O frenético som da competitividade está cada vez mais complicado para as empresas, em plena pista de dança, dispostas a aprender a dançar conforme a música. Algumas planejam seus ensaios, outras preferem arriscar, no calor do baile, os passos mais ousados. Aquelas que planejam, se preparam para entrar no salão, podem correr menores riscos do que as demais. No entanto, o mercado tem mostrado que isto não é regra, pois estamos sempre deparando com organizações onde o ato de planejar não é prioridade, e que a ousadia de seus executivos é uma necessidade latente.

No cenário atual, considerando a importância do planejamento dentro das organizações, tornam-se necessárias a apresentação, a descrição e a análise das características desejáveis no processo de planejamento. No conjunto dessas características pode-se destacar a rapidez, a simplicidade, o comprometimento, a intuição, a criatividade e a promoção de mudanças.

Quando realizada de forma rápida, é importante que a tarefa de planejar seja capaz de produzir resultados ligeiros e eficazes. É sabido que determinadas empresas ganharam notoriedade por suas habilidades em responder depressa às demandas do mercado, dominando tecnologias emergentes, criando novos segmentos de atuação e desenvolvendo rapidamente produtos inovadores.

Como na pista de dança, onde os estilos musicais se sucedem, sem aviso prévio, em setores altamente competitivos o ambiente pode se apresentar inteiramente novo de um dia para o outro. As mudanças repentinas e radicais são decisivas para que a agilidade nas organizações ocorra, caso contrário não há planejamento que seja capaz de salvar os negócios. Não temos nenhuma dúvida quanto à necessidade das mudanças. Todavia, a questão é quando ela acontece em meio a turbulências, mesmo sendo positiva para a empresa, pois exige que as decisões sejam rápidas. O desafio é reconhecer, motivar e reagir com maior velocidade, antes que o baile acabe, evitando que a  falta de motivação faça com que todos recuem e tirem a empresa da festa.

Uma empresa que se encontra na passividade, sem o contato com as evidências de novas oportunidades, com novas informações, contextos e paradigmas, sua taxa de aprendizado será baixa e se manterá assim até que seja articulada alguma transformação em seu estado. Porém, a partir do momento em que ela se prepara para receber novas informações e processá-las corretamente, a sua qualidade de aprendiz aumenta significativamente. A ameaça, portanto, estimula o aprendizado rápido e faz com que a organização  demonstre competência, capacidade de reflexão e de transformação.

Para que as empresas aprendam a dançar os ritmos do mercado é preciso mais do que um ensaio planejado. É necessário que haja grande envolvimento por parte de todos os membros da organização, e para que isso aconteça, as companhias precisam de profissionais que se preocupem e que tenham um vínculo emocional forte com a organização. O problema está justamente na maneira como isto ocorre. É preciso criar uma obsessão competitiva e uma vontade de vencer. Durante o baile a empresa pode passar por diversos desafios operacionais, ocasionando uma "miopia estratégica" e uma inflexibilidade, ou seja, constrange ao invés de liberar e preparar para uma nova música. Dessa forma, empresa deve dar liberdade aos seus funcionários para interpretar criativamente seus objetivos.

Liberar para o improviso pode ser uma grande alternativa quando o planejamento não funciona, ou não existe. Segundo o professor Peter Senge, do MIT, a racionalidade excessiva e sozinha não tem alcançado grandes resultados. A intuição, atualmente, tem tido grande aceitação no campo administrativo. Diante de problemas complexos, gerentes têm aderido à resolução intuitiva. De acordo com o autor, na maioria dos casos é preciso integrar a razão e a intuição.

Nessa mesma linha de raciocínio, Gary Hamel, da Universidade de Harvard defende a criatividade como algo imprescindível às organizações. Qualquer organização deve ser capaz de produzir bens funcionais, e mais do que isso, criar produtos que atendam às necessidades dos clientes e que, ao mesmo tempo, sejam inéditos. O fato é que as empresas que desejam competir pra valer não podem temer os novos ritmos, pois serão jogados para fora da pista de dança. De forma planejada, ou não, é preciso ir se ajustando ao som.

E quanto ao conceito de planejamento, de maneira geral, é importante ressaltar sua evolução e transformação ao longo do tempo. Sua necessidade se deve às contribuições e às facilidades proporcionadas no contexto empresarial, possibilitando às empresas um maior desenvolvimento, através da definição clara e objetiva e do estabelecimento de linhas de ação eficientes. A transformação dos conceitos de planejamento, caracteriza-se pelo aprimoramento positivo do próprio conceito.

Para o mercado e  o cenário competitivo aí instalados, o planejamento desempenha um papel relevante. Ainda que se considere as críticas, não se pode deixar de avaliar sua importância, quando adequadamente pensado e aplicado. No entanto, em meio a um ambiente turbulento como este que estamos vivendo, não é mais possível a concepção do planejamento estratégico convencional. O planejamento estratégico puramente racional por si só já não é mais capaz de apresentar sustentabilidade, e, assim, é preciso encontrar uma nova maneira de encarar a música frenética que embala a competição, sem deixar de lado a relevância da criatividade de um novo passo, da improvisação, da intuição e da participação dos diversos segmentos internos e externos da organização.