pra mudar

Dá pra mudar muita coisa que está errada em nossa cidade, no estado e no país. Dá pra mudar o mundo.

Mas então por que é que não mudamos?

Na verdade estamos mudando sempre. As mudanças são constantes. “Tudo muda o tempo todo no mundo” cantou Lulu Santos. “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”, disse Heráclito. Você, que agora está lendo este texto: quando começou a ler você era uma pessoa. Ao terminá-lo já estará sendo outra, pois terá absorvido ou rejeitado novos elementos de reflexão. Houve mudança.

Mas não é dessa mudança que queremos falar.

É de uma mudança de atitude e de postura. Não em nível  pessoal, mas social. Trata-se de mudar atitudes que sejam capazes produzir mudanças nos comportamentos. Comportamentos que sejam capazes de produzir transformações. Veja alguns exemplos:

Várias ruas da cidade tem poste, mas não tem luz. As pessoas ficam indignadas com isso, mas permanecem na indignação e não tomam atitudes que produzam as mudanças necessárias. Enquanto isso, em outras partes da cidade, em loteamentos ainda desabitados os postes estão resplandecentes, iluminando vastas áreas onde futuramente, quem sabe, haverá gente morando. Mas a população indignada não muda a atitude diante do poder publico que cobra taxa de iluminação pública e não ilumina as ruas. Para o poder público, para quem está no poder com poder de mudar algo, se o povo não reclama é porque está satisfeito!!!

Os buracos nas ruas são outro exemplo. Não são poucas as pessoas que sofrem as consequências dos buracos no asfalto ou das crateras e voçorocas que se abrem com a enxurrada. E as pessoas reclamam. E se dizem prejudicadas. Mas permanecem na reclamação sem tomar a atitude de mobilização para pressionar os órgãos responsáveis pela preservação das vias públicas. E, outra vez, se os prejudicado não fazem cobranças efetivas por meio de mobilização popular, o poder público entende que tudo está lindo e maravilhoso!

Os exemplos se avolumam. Nas filas dos hospitais. Na situação caótica em que se encontra o sistema escolar. Conheço escola em que não existe biblioteca e onde os livros estão sendo devorados pelos cupins e o poder público faz “ouvidos moucos” para as solicitações de construção de biblioteca. Mas haveria mudança se pais e mães se mobilizassem...

Vi gente numa fila para pegar uma senha – que é uma preparação para a próxima fila. Essa pessoa fazia piadas sobre as filas que atravancam o Brasil. E o que são as filas se não um atestado de incompetência do órgão ou da repartição que não se torna ágil? A fila é a evidencia da inoperância ou uma demonstração de incompetência. Como exemplo temos os bancos, o DETRAN, os hospitais... Nessas instituições os serviços são informatizados, mas ali se perde a paciência nas filas quilométricas. Nessas instituições o cliente, o cidadão é chamado pela senha ou pelo “agendamento”. Ao invés de agilizar o atendimento as instituições criaram mecanismos para modernizar a fila: as senhas eletrônicas. Tempo, cérebro e dinheiro foram gastos para confessar e evidenciar a incompetência em melhorar o atendimento. Além de nos obrigarem a ouvir aquele sonzinho imbecil. E nós entramos numa fila para pegar uma senha que é a fila moderna que é confissão de incapacidade administrativa.

E agora estou eu, aqui, produzindo este texto que é um pretexto e um protesto silencioso. Só que meu protesto, como o seu descontentamento, morrerão na indignação se não nos mobilizarmos para produzirmos mudanças. Primeiro mudando nossa atitude passiva e depois nos mobiliando para produzirmos as transformações de que nossa sociedade tem necessidade. Lembrando que só reclamar não muda nada.

Dá pra mudar! Mas tem que querer transformar.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO